“Mas quem?” Michelle soltou uma risadinha. “Eu não tenho amigos, lembra?” Ela voltou a olhar para a quadra a frente, dando um pequeno suspiro, enquanto Peter pensava no que dizer.

Ela realmente queria se vingar de Brad, depois do que ele fez, ela finalmente notou ele e o quão baixo ele era, antes disso, Michelle nem se lembrava da existência dele. Agora? Ela só quer fazê-lo sentir a mesma quantidade de raiva que ela sentiu, e gostaria muito de fazer isso com um namoro falso, seria perfeito para humilha-lo indiretamente para todo mundo, acontece que ela não tinha ninguém para acompanha-la nessa.

Michelle até pensou em sugerir que Peter a ajudasse, mas logo descartou a ideia porque pensou em quão idiota seria. Afinal, eles eram rivais, não podiam simplesmente aparecer e dizer “Hey, estamos namorando, chupa Brad”. Além do mais, Peter provavelmente não aceitaria, e ela também não teria coragem de perguntar. Porém Michelle admitia que a ideia a agradava em certo ponto, só que como todas as outras ideias dela que envolviam Peter, essa também foi reprimida.

“Eu” Peter quebrou o silêncio, surpreendendo a garota ao seu lado, que rapidamente voltou seu olhar para ele, com uma cara bastante confusa.

“O quê?” Michelle tinha se perdido nos próprios pensamentos, e agora se perguntava do que ele estava falando. Havia alguma parte da conversa que ela não tinha ouvido?

“Eu posso te ajudar” Peter afirmou com um tom de confiança, que logo sumiu quando ele começou com sua próxima fala. “Eu posso fingir ser seu namorado...” Sua voz ficava mais baixa a cada palavra, enquanto ele encolhia os ombros.

Michelle ficou quieta por um momento, tentando entender tudo. Ela havia falado algo em voz alta? Ele estava realmente se oferecendo em ajuda-la? Logo ela, que é sua inimiga declarada? Por quê?

“Sério?” Ela perguntou, ainda insegura e em dúvida se tinha entendido certo.

“Sim” Ele confirmou, fazendo um movimento de sim com a cabeça.

Michelle não podia acreditar.

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Era tarde da noite, Michelle já não tinha certeza do horário exato, mas podia afirmar que estava há pelo menos duas horas encarando o teto do seu quarto.

A luz da lua era fraca, e fazia frio, mas ainda assim Michelle manteve a janela aberta, o que possibilitava o vento a entrar e balançar as cortinas levemente. O barulho que os movimentos produziam acalmavam a garota deitada na cama, que tinha milhares de pensamentos passando por sua mente. E mesmo ela não podendo descrever todos, podia resumi-los em duas palavras, um nome. Peter Parker.

Não era incrível como nas últimas semanas, no fim do dia, Michelle sempre se encontrava na mesma situação? Pensando no mesmo garoto, e sentindo os mesmos sentimentos de anos atrás. Era um show de nostalgia incrível, e que no começo a assustava, não que tenha deixado, porém agora também a intrigava.

Ele realmente se ofereceu para fingir ser o namorado dela? Michelle sorria com a memória.

Falso. Ela rapidamente se lembrou. Não era real, ele só estava a ajudando com Brad, o garoto que a humilhou, e que na cabeça dele, era por quem ela tinha sentimentos.

Peter era realmente muito gentil, depois de anos brigando, e todo o resto que passaram, ele ainda estendia a mão para ela, e tentava a ajudar. Michelle se sentia mal por tê-lo abandonado, pensando que seria melhor assim.

Talvez ela estivesse errada sobre ele, talvez ele não seja uma pessoa sem consideração, talvez ele queira ser seu amigo, talvez ele realmente goste-

Um som surpreende Michelle, que rapidamente se levanta, e percebe que era seu telefone. Notificações eram coisas raras para ela, uma vez que não era muito chegada em redes sociais, e também silenciava os outros aplicativos, então ela se perguntou o que poderia ser a essa hora.

Ela caminhou até o aparelho, que agora com a tela ligada, iluminava parcialmente o quarto.

Quando leu a mensagem, ela se surpreendeu. Era Peter.

“A gente tem que planejar isso bem, se não, não vai dar certo.” Ele dizia na mensagem.

Michelle inclinou sua cabeça para o lado, com uma expressão de dúvida, enquanto se perguntava se Peter tinha ideia do horário. Mas logo ela deixou o pensamento de lado, pegando o celular, e se pôs a responder o garoto.

“É a mesma coisa de um namoro real, só que a gente sabe que é falso.” Ela começou a digitar, mas as palavras namoro real a incomodavam, então apagou.

“A gente tem que ir devagar. Se aparecermos do nada namorando, vai ser estranho.” Ela enviou.

“É, tem razão.” Peter respondeu prontamente, o que chamou a atenção de Michelle. Ele não tinha mais nada pra fazer?

“Então, como a gente vai fazer amanhã?” Ele perguntou em seguida, e Michelle ficou pensativa por algum momento, tentando criar ideias. “Ah, eu tenho uma ideia.” Peter continuava enviando mensagens.

“O quê?” Ela respondeu.

“Você verá :)” Ele disse e logo ficou off-line, deixando para trás uma Michelle confusa e desconfiada. O que ele podia ter em mente? Ela deveria confiar nele?

Bom, Michelle não quis pensar demais, então colocou seu celular de volta na escrivaninha, e caminhou até sua cama, se deitando rapidamente.

Ela voltou a olhar para o teto, e suspirou, enquanto se sentia um pouco sonolenta.

“Peter... Parker.” Escreveu o nome dele no ar com seus dedos, e então cerrou os olhos, em desconfiança, mas logo sorriu, se virando para dormir.

Enquanto isso, a alguns metros de distância, na casa ao lado, um Peter sorridente se forçava a dormir. Iria colocar seu plano em ação na manhã seguinte.

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Michelle estava curiosa, que até mesmo chegou na escola um pouco mais cedo do que costumava. Ninguém iria notar, era o que ela pensava, mas esse tipo de detalhe jamais passaria despercebido por Peter, que não estava na sala quando ela entrou.

E é claro, pois ele havia decidido esperar ela e deixa-la ir primeiro, sem que ela notasse.

O plano dele não era grande coisa, porém era significativo, ou ao menos chocante, e assim que viu ela, um sorriso de se abriu em seu rosto e ele pós em prática sua ideia.

Quando Michelle se sentou em sua mesa, procurou por Peter entre os colegas, algo que ela não fazia com frequência, entretanto havia estranhamente se tornado um habito nas últimas semanas, e um do tipo que ela queria se livrar.

Ela percebeu que ele não estava na sua mesa, então logo virou seu rosto para observar a paisagem da janela, o céu estava levemente cinza, e o vento balançava as flores lá fora, o que dava a Michelle a sensação de paz que ela tanto gostava, a fazendo relaxar em sua cadeira e sorrir suavemente.

Um barulho rapidamente tirou sua atenção, e calma, fazendo Michelle se virar para ver o que estava acontecendo, e para sua surpresa, era Peter, ainda com sua mochila, e suéter azul-marinho, sorrindo para ela enquanto puxava um assento no fundo da sala, onde se encontravam.

“O que...” Michelle ia perguntar o que ele estava fazendo, mas ele ficou perto dela tão rápido, que ela acabou se calando sem perceber.

Ele estava se sentando ao lado dela. Não literalmente, mas em uma mesa da fileira ao lado que ficava em paralelo a dela. Isso não era algo normal, porque ele sempre se sentava no primeiro lugar.

“Peter...” Michelle tentou novamente, e ele a interrompeu dizendo “Lembra do que eu disse ontem?” Ele perguntou com um pequeno sorriso brincalhão nos lábios.

“Lembro...” Michelle falava desconfiada, e com uma expressão de dúvida, enquanto se apoiava na mesa.

“Então!” Ele riu levemente. “Hoje eu vou sentar ao lado da minha namorada.”

Os olhos de Michelle se abriram rapidamente e ela fez a maior cara de surpresa que podia, totalmente atordoada pelo que Peter disse, e assim que se recuperou do choque, uns 3 segundos depois, ela disse “Não fala isso.” Em um sussurro.

“Por quê?” Peter respondeu, se fazendo de inocente, ou pelo menos é como Michelle descreveria.

“Alguém pode te ouvir.” Ela falava ainda mais baixo, se inclinando em direção a ele, para que o som não se espalhasse demais. Não haviam colegas muito próximos, já que ainda faltavam muito para a aula começar, porém alguns estavam perto da porta conversando.

Ele se aproximou dela em resposta.

“Esse não é o objetivo?” Sussurrou em seu ouvido, e riu em seguida, fazendo Michelle sentir um pouco de ar tocar na pele de sua orelha, o que a causou um arrepio estranho e agradável, mas não a impediu de manter o controle da situação.

“Ok...” Ela disse pensando em tudo. Até fazia sentido. Ela havia dito para irem devagar, e ser sútil é realmente um bom caminho a seguir no momento. Ok, talvez eles devessem seguir o plano de Peter, aliás, qual era?

“É esse o seu plano?” Michelle verbalizou seus pensamentos, falando baixo para Peter, que estava observando os colegas começando a se sentar, enquanto outros chegavam, mas assim que ouviu a voz dela, se virou para encara-la.

“Sim” Ele respondeu naturalmente, dando de ombros. “Se a gente vai ir devagar, como você disse, então temos que começar com coisas simples.” Ele afundava mais na cadeira a cada palavra, virando seu olhar dela, o que não passou despercebido por Michelle, só que ela nunca falaria que notou.

“É... Mas mesmo uma coisa simples como essa pode chamar mais atenção do que o esperado.” Michelle também se aprofundava na cadeira, observando a lousa na frente da sala, e colocando as mãos nos bolsos de sua blusa de frio. Assim que percebeu que Peter estava confuso com o que ela tinha dito, se pôs a explicar melhor.

“A gente vive brigando por causa de nota, aí do nada, você senta aqui? Comigo? Acha que ninguém vai notar? Já até percebi alguns colegas olhando pra cá e desviando o olhar.” Michelle disse num tom explicativo, se virando para vê-lo novamente, e Peter fez uma cara pensativa.

Ela revirou os olhos com a ação de Peter, mas antes que pudesse julga-lo ou pensar sobre isso, Michelle percebeu uma pessoa bem especial no meio dos alunos que conversavam. Brad Davis.

Ótimo, o alvo estava lá, o plano de Peter era muito bom agora. E tudo que Michelle queria era poder ver a reação dele, mas Brad estava de costas, o que fez ela bufar e murchar na cadeira, que decepção.

Será que ele havia notado antes?

O sino logo toca, e o sr. Greg entrou na sala, levando todos os adolescentes presentes a se sentarem rapidamente, enquanto Michelle observava cada passo de Brad para notar alguma expressão de raiva nele, até porque esse era o único objetivo de ela estar fingindo que namora Peter, certo?

Mas ela não conseguiu nada do garoto, ele simplesmente parecia não estar nem aí, ou estava fingindo muito bem, ou de fato não se importava. Ok, Michelle agora estava um pouco decepcionada, se ele apenas os ignorasse, então não havia motivo nenhum em continuar fingindo, e eles mal começaram, ela nem mesmo teve a chance de segurar a mão de Peter e usar o namoro falso de justificativa. Não que ela quisesse fazer isso.

Peter por outro lado, não estava nem um pouco preocupado com Brad, nem havia o notado, estava muito animado em sentar perto de Michelle e com ela conversando com ele normalmente, ao invés de cortá-lo com algum comentário frio a cada tentativa que ele fizesse de iniciar algo, que nem mesmo se lembrou o motivo do namoro falso, e que ele também fazia essa matéria.

A aula então se iniciou, tirando Michelle e Peter de seus pensamentos sobre o namoro falso. Mas logo Michelle não conseguiu mais prestar atenção, porque percebeu que Peter tinha uma mania estranha de morder a tampa da caneta quando estava muito concentrado, e foi tudo que ela podia pensar até o fim da aula. Como ele ficava sexy fazendo aquilo. Deus, esse garoto ia acabar com a reputação dela.

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Era quase hora do almoço e Michelle estava indo até seu armário, ia guardar seus livros da última aula e pegar o livro que estava lendo atualmente, que era bastante entediante, mas queria termina-lo.

Ao chegar em seu destino, ela rapidamente abriu a porta metálica e fez o que pretendia, e estranhamente ela estava distraída com seus pensamentos sobre a história que estava lendo, ou pelo menos é o que ela usaria para explicar porque se surpreendeu com Peter.

Assim que ela fechou seu armário, lá estava ele, escorado, com os braços cruzados e olhando para ela com aqueles olhos fofinhos que ele fazia quando estava animado. Como Michelle podia continuar lembrando de todos os detalhes sobre Peter?

“O que você quer?” Ela perguntou friamente, ficando de frente para ele, e abraçando seu livro.

“Bom...” Ele desfez sua expressão de animação de antes, o que fez Michelle perceber o que tinha feito, e se sentir um pouco mal.

“Acho que é meio óbvio que a gente devia almoçar juntos se vamos continuar com isso...” Peter falou com pouca confiança, e Michelle se repreendeu por ter falado tão duramente antes. Droga.

“Ah, sim” Ela respondeu um pouco mais alegre. “Então vamos.” Forçou um pequeno sorriso, mexendo a cabeça lentamente em afirmação, e apontando para o final do corredor.

“Você quer sentar comigo, o Ned e os garotos, ou...?” Ele gesticulou um pouco, perguntando com insegurança, o que fez Michelle levantar uma sobrancelha em resposta.

“Ou.” Ela respondeu. Ela pode até estar sendo legal com Peter, mas não iria ser com os amigos nerds dele. Ela tinha que manter sua imagem.

“Ah, ok.” Ele sorriu, soltando um pouco de ar que nem tinha percebido que estava segurando. Talvez ele estivesse um pouco nervoso com isso. Talvez.

E então eles caminharam juntos até a cantina, em silêncio constrangedor, porque ambos estavam se perguntando se ainda era muito cedo para darem as mãos, mas nenhum deles iria falar.

Quando chegaram até a mesa que Michelle geralmente se sentava, depois de pegarem o almoço, eles conversaram sobre o livro que ela estava lendo. Peter havia perguntado se ela estava gostando da leitura e se surpreendeu com a resposta, que foi um ríspido não, seguido de um “quero dizer...”.

Era uma conversa um pouco estranha para ambos, mas ao mesmo tempo, estavam se divertindo, mesmo com o clima que pairava sobre eles.

E quando Peter riu de algum comentário de Michelle sobre um livro bem aleatório que ela tinha lido nas férias, ela se lembrou que aquilo era um namoro falso. O que fez ela pensar em focar e se lembrar que tinham um alvo com tudo isso, e então observou ao redor de Peter rapidamente, tentando encontrar Brad em algum lugar dali, e não obteve sucesso.

Peter, por outro lado, viu o garoto, tinha notado que ele olhava sério para os dois, mas quando percebeu Peter, se virou rapidamente, tentando disfarçar, e obvio que Peter tinha percebido mesmo assim.

Foi quando ele se lembrou do plano, e sentiu um pouco de orgulho de si mesmo, e de Michelle, por estarem conseguindo o que queriam. Aquele garoto merecia pagar, e pagar caro, pelo que fez com ela.

“Não tô vendo o Brad.” Michelle disse casualmente, olhando para baixo, e brincando com sua comida. Será que ela ia conseguir ler ao menos um pouco do seu livro hoje? Geralmente fazia isso ao terminar o almoço, mas agora tinha Peter ali, conversando com ela, e ela não podia ignora-lo para ler seu livro, iria deixa-lo triste igual havia feito mais cedo, e isso era ruim... para o plano. Para o plano apenas.

“Ah, é porque ele tá atrás de você.” Peter disse, também olhando para sua comida. E Michelle levantou o olhar rapidamente, surpresa com a última fala do garoto. “Tipo, atrás, atrás?” Era o que ela se perguntava. Mas Peter logo notou a expressão de Michelle e a acalmou.

“Ele tá longe, calma” Riu um pouco, relaxando os ombros e olhando nos olhos dela, o que fez ela encarar qualquer outra coisa menos ele.

“Ah...” Michelle levantou sua mão até o rosto, e colocou a única mecha de cabelo solta atrás de sua orelha, se encolhendo um pouco.

“Acho que tá dando certo, ele parece com raiva.” Peter falava ainda olhando para ela.

“Sério?” Michelle ficou animada repentinamente. É claro que o motivo era porque eles estavam conseguindo chamar a atenção de Brad, não porque eles iam poder continuar fingindo, não.

Os dois ficaram animados, e então voltaram a conversar sobre o livro de Michelle. O qual ela não conseguiu ler naquela hora, porque se distraiu falando dele para Peter.

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Mais tarde naquele dia, Peter se sentou ao lado de Michelle novamente durante a última aula da tarde. Eles brincaram um com o outro antes da aula, e durante algumas explicações, era possível ouvir eles sussurrando baixinho. A professora obviamente notou, e tentou não falar nada para manter o decoro na frente dos alunos, mas estava pasma que as fofocas na sala dos professores eram reais, Peter e Michelle estavam se dando bem. Muitos começaram a se perguntar se isso significava o fim da competição de nota dos dois, ou se poderia fortalece-la, apesar de a primeira opção ser mais provável.

Porém, não foram apenas os professores que perceberam a mudança repentina de comportamento de Peter e Michelle, seus colegas também. Eles até recebiam alguns olhares intrigados, mas nem percebiam porque estavam ocupados ou prestando atenção na aula, ou prestando atenção um no outro.

Mas a pessoa que mais se incomodou com tudo isso não foi Brad, o que era o esperado, mas sim um serzinho bem peculiar chamado Flash Thompson, que vinha observando os dois desde o começo do dia, e só ficando mais curioso com tudo. Michelle e Peter estavam sorrindo um pro outro e agindo como amigos? Flash não podia acreditar. Aquilo, de alguma forma, o irritava.

E após ver Peter cutucar levemente Michelle, arrancando dela uma risadinha, Flash já estava de saco de cheio dos dois.

Ele não se segurou, nem ao menos tentou, então, durante uma explicação sobre os tratados de Sokovia daquela aula chata de geografia, Flash, em alto e bom som, indagou com um olhar raivoso e braços cruzados.

“Vocês tão namorando?”.