Never Be The Same escrita por Yasmin Abreu


Capítulo 3
Teorias Banais


Notas iniciais do capítulo

Eu queria pedir desculpas pela demora. Mas eu queria muito fazer esse capítulo ficar legal, ele é um capítulo que eu considero muito importante, então queria dar o máximo de informação possível nele. Isso acabou tomando um tempo, já que eu fiquei reescrevendo algumas cenas até achar algo bom.

E no final, eu fiz 4 mil palavras, e não consegui chegar no ponto mais importante que eu queria retratar nele, e esse ponto vai ficar pro cap 4 :P Desculpem mesmo.

Aviso: esse capítulo tem umas referências a coisas que vocês talvez não conheçam, mas não se preocupem, eu usei elas só pra criar uma cenário, mas se quiserem saber mais sobre, podem me perguntar, ou até pesquisar.



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Era hora do almoço e Michelle já estava irritada.

Não, não tinha nada a ver com Peter Parker e os sentimentos confusos que ela tinha em relação ele. Dessa vez, era só mais uma das rotinas de bullying do Flash, que toda semana tentava algo diferente contra ela, tentando atingi-la, e como sempre, ele falhava, mas isso apenas o fazia continuar, deixando Michelle com muito ódio.

Essa manhã ela estava desenhando como sempre, e estava num humor até brincalhão, então desenhou um macaco, com um guarda-chuva, num triciclo. Não era nada demais, ela só fazia aquilo para passar o tempo. Enquanto isso, chovia lá fora, e a aula de artes se passava.

Michelle estava tranquila, havia acordado num bom humor e o clima cinza e triste só o a deixava mais relaxada e confortável. E é claro que um dia lindo como aquele precisava ser arruinado.

Flash não precisou de palavras para irrita-la, ele simplesmente avançou em direção ao seu pequeno bloco de desenhos e arranco a primeira folha, perguntando “E aí, Jones, o que temos aqui?”.

Michelle não foi paciente, e logo tomou o desenho do garoto, e o lançou um olhar intimidador e frio, verbalizando-o com “Não é da sua conta, Eugene.”

Era um evento até simples, e que se encerrou por ali mesmo, mas para Michelle foi o suficiente para arruinar seu humor. Odiava ter contato com aquele garoto, e como ele se achava na intimidade com todo mundo. Era estúpido, ela sabia.

Enquanto estava sentada, Michelle checou o horário.

12:40.

Ela tinha tempo para ler algumas páginas de seu livro atual antes das aulas voltarem, e foi o que ela resolveu fazer.

De longe, Peter a observava com uma das mãos apoiando seu queixo. Camuflado pelos colegas ao seu lado, que conversavam sobre algum episódio de Star Wars, o garoto se perguntava qual era o conteúdo do livro que ela lia, pois Michelle sorria levemente enquanto folheava as páginas, e seus olhos tinham certo brilho. Ela parecia tão cativada pela história, mas nem sempre era assim. Peter havia notado que alguns livros faziam Michelle ficar com raiva, ela juntava as sobrancelhas e cerrava os olhos, então ela parava, fechava o livro, e depois abria de novo enquanto respirava fundo, como se dissesse para si mesma “Tudo bem, Michelle, você vai terminar esse livro nem que seja na base do ódio”.

E era fofo. A maneira como ela se imergia em cada obra, suas expressões genuínas sempre aparecendo, sem que ela percebe ou tentasse parar. Era tão lindo ver que ela realmente colocava suas emoções naquilo, e saber que ela tinha algo que era realmente apaixonada por, que podia tirar dela sentimentos que ela não mostrava para ninguém, ao menos, não intencionalmente. Peter sorria com o pensamento, e a medida que ia imergindo mais em seus devaneios diurnos com a garota, mais ele a encarava, só que após algum tempo congelado com os olhos fixos, um de seus amigos, Ned, o notou.

“Peter.” O garoto chamou. Sem resposta.

“Peter.” Tentou novamente.

“PETER!” Aumentou seu tom tentando conseguir alguma reação, e obteve sucesso porque agora Peter o encarava com uma expressão apreensiva e confusa.

“O quê?” Ele perguntou.

“Por que você tava encarando a Michelle? Ela fez alguma coisa de novo?” Ned parecia preocupado. Ele as vezes temia que um dia Michelle resolvesse fazer algo sério contra Peter, ela era assustadora na cabeça dele, ainda mais depois que ele tentou ajudar o amigo em uma de suas pegadinhas de vingança e ela descobriu, e quase- Argh! Ned não gosta nem de lembrar.

“N-Não! Por que você acha isso?” Peter tinha um pequeno vermelho nas bochechas, não que Ned fosse notar, estava aflito demais pra isso. “Então qual o problema?” Indagou.

“N-Nenhum!” Peter gaguejava levemente se lembrando dos pensamentos de momentos antes. Ele realmente precisava parar com esse mau hábito.

“Ok então.” Ned deu de ombros com um pequeno sorriso.

Peter sempre tentava se policiar e parar com essa paixãozinha de criança que ele tinha em Michelle, e por alguns anos, ele até conseguiu, foi quando ele conheceu Gwen, uma garota que havia acabado de entrar para a escola, ela era divertida e inteligente como ele, e eles até que se davam bem, mas logo Gwen precisou se mudar novamente por conta do emprego de seu pai, que havia sido transferido. Peter ficou triste com a sua ida, ela era uma boa amiga e ele tinha até um pequeno crush nela. Os dois tinham desenvolvido técnicas para estudar conteúdos de maneira rápida, que Peter usou por muito tempo, até ele roubar as de Michelle, que eram muito eficientes, não que ela saiba disso. Ele havia a espionado sobre os ombros enquanto passava pelas mesas da biblioteca e viu o método que havia desenvolvido.

Voltando a Gwen, ela era foi uma boa companhia para Peter por um tempo, e ela tinha um pouco de medo de Michelle, e realmente, ela podia ser intimidante, mas ela nunca fez nada com Gwen, diferente do pobre Ned, que sofreu na mão dela, ainda mais depois que ela descobriu sobre a ajuda dele, e- Argh! Peter prefere nem pensar nisso.

Ao passo que Peter se perdia novamente nos seus pensamentos, Ned voltava a conversar com o resto do grupo sobre suas teorias em relação a morte Obi-Wan. Não tinha tempo para os mistérios de Peter.

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Era uma noite fria, às onze da noite. A luz da lua cheia iluminava o quarto através da janela aberta. Michelle estava escorada na parede, enquanto se sentava no chão, ela observava o nada, seus olhos parados e vazios, e sua mente cheia de pensamentos sobre os acontecimentos do dia.

Ela abraçou seus joelhos, e descansou sua cabeça sobre eles.

Naquela tarde, após o horário de saída da escola, Michelle havia sido salva por Peter.

Ela estava atravessando uma das ruas do estacionamento da escola, quando Flash passou com seu carro rapidamente. Ela nem mesmo teve tempo de reagir, pois quando percebeu, Peter a estava puxando pela cintura.

E assim, ela estava com suas costas pressionadas sobre ele, com apenas sua mochila no meio. As mãos dele seguravam firmemente suas laterais. E Michelle não conseguia pensar, enquanto seu coração se acelerava, ela olhou para frente e sem perceber, segurou a respiração. Seus ombros se levantaram automaticamente, mostrando que ela estava tensa. Até Peter, que estava olhando para o lado, mover sua cabeça para ver se ela estava bem.

Quando ele voltou seu olhar para ela, perguntou se estava bem, e Michelle podia sentir o ar dele diretamente no seu pescoço. Ela estava com o cabelo amarrado naquele dia. Com os sentimentos estranhos a incomodando, e o estúpido frio na barriga, ela simplesmente fechou os olhos. Ela não deveria, ela não podia estar gostando daquilo. Mas a maneira que os dedos dele estavam firmes em sua pele, apertando-a levemente, era torturante e viciante, e apesar de saber que ela deveria simplesmente sair de perto dele, e ir embora, ela não conseguia. Como um ato simples como aquele poderia simplesmente acabar com todas as defesas dela?

A sorte (ou má sorte) de Michelle foi que Peter logo percebeu a situação deles, e a soltou, pedindo desculpas.

E Michelle não conseguia nem mesmo o encara-lo. Estava sem palavras, sentia seu rosto ficar quente, e as memória do toque dele estavam frescas em sua mente, o que só piorou seu estado, já que não podia nem ao menos formular uma frase com sentido em sua cabeça.

“Tudo bem?” Peter perguntou inseguro, tentando espiar seu rosto, ao mesmo tempo que ela se mantinha de costa pra ele.

“Tudo.” Ela respondeu friamente, só queria ir embora logo.

“Ok...” Peter dizia lentamente, e Michelle logo segurou as alças de sua mochila, se preparando para ir embora, precisava sair dali, processar o que acabou de acontecer. Era algo pequeno, mas por algum motivo havia a afetado. Talvez porque a última vez que ela tinha tocado Peter havia sido 2 anos antes, numa das aulas de educação física, quando Brad Davis havia chutado a bola tão forte, que acertou Peter e ele acabou caindo em cima de Michelle, que pela primeira vez tinha resolvido tentar praticar com os colegas. Depois daquilo ela nunca mais saiu da arquibancada, e Peter fez o mesmo.

E aí começou o evento que havia tirado o sono de Michelle. Não, não foi o fato de Peter Parker tê-la tocado e feito ela querer mais, não foi o fato de ele se preocupar com seu bem-estar mesmo ela o afastando o tempo todo. Acontece que, no momento que ela começou a caminhar para longe, ele notou que ela tinha bottom com a palavra “Solace” junto a imagem de uma montanha e uma lua branca. Ele conhecia aquele símbolo, era do álbum de artista que ele gostava muito.

Normalmente, Michelle se saia bem em fugir de Peter quando ele tentava se aproximar. E com o tempo, ele parou, consequentemente, ela passou a acreditar que tinha se livrado dele. Mas nesse dia, depois do que aconteceu, e da maneira como a mente dela estava confusa, e a barriga dela parecia fria demais em relação ao resto de seu corpo, ela com certeza não estava no seu comum para poder desviar das investidas de Peter, e fez o que ela definitivamente se arrependeria depois. Ela o respondeu.

“Você também ouve Jake Hill?” Peter perguntou entusiasmado, indo até a direção dela e sorrindo. Ela se virou e observou seus movimentos “Sim...” O encarou, agora que ele estava em frente a ela.

“Que legal! Meu álbum favorito dele é o Save our souls, que ele fez em parceria com o Josh A.” Peter dizia animado, e antes que Michelle pudesse perceber, eles estavam caminhando lado a lado.

Desde a infância, eles sempre estudaram juntos, o que fazia sentido, já que eram vizinhos, a escola mais próxima era a mesma para ambos. Por conta disso, os dois sempre iam e voltavam juntos para casa, e na trajetória, eles conversavam sobre tudo, o que incluía como havia sido o dia para cada um, algo inédito em alguma classe que eles tinham separados, ou sobre desenhos e filmes que eles gostavam. Era sempre um dos pontos mais altos do dia deles. O caminho até em casa era até bonito, a parte dos prédios não era tão boa, havia lixo pelas calçadas e bastante barulho, mas quando chegavam próximos a sua rua, árvores apareciam, deixando a paisagem linda a tarde, e o clima fresco. Geralmente, quando eles chegavam nessa altura do trajeto, Peter já estava super animado, o que fazia ele caminhar para trás e olhar para Michelle com o sorriso que ela sempre amou, e isso só deixava a vista ainda mais bonita para ela.

Agora, aqui estavam eles, depois de 5 anos, caminhando juntos novamente até em casa, sem que Michelle pudesse se dar conta. Eles conversavam sobre seus gostos em comum, eles falaram sobre seus álbuns favoritos, o de Michelle era o “Solace”, do seu bottom. Eles falaram sobre as músicas também, e a que Peter mais ouvia era “Better Days” (O que era mentira, na verdade, ele sempre escutava Crash and Burn porque lembrava ela, mas óbvio que ele nunca diria isso).

Assim eles foram andando e conversando, Michelle até sorriu para Peter algumas vezes enquanto o explicava porque Stay era e sempre vai ser a melhor música que Jake Hill já escreveu.

Quando eles chegaram ao seu destino, e Peter acenou para ela dizendo tchau, foi o momento que ela percebeu o que acabará de acontecer. Ela se permitiu conversar, e rir com Peter. Não, não, não, ela havia prometido a si mesma que não iria mais se aproximar dele, e agora, ela simplesmente conversa com ele assim? O que foi que ela fez?

E aqui está Michelle, pensando em tudo que aconteceu, seu sono havia se perdido entre seus pensamentos, e ela nem mesmo percebeu, porque ela também havia se perdido no meio deles.

Por que ela tinha sido tão afetada pelo toque dele? Por que ela se permitiu estar com ele por tanto tempo? Por que isso estava a deixando assim? Ao mesmo tempo que ela não deveria ter feito isso, ela também não entende porque está tão preocupada com isso. Foi só uma discussão casual sobre música. Não é como se a rixa deles, ou o que Peter fez anos atrás tivessem mudado. Eles não haviam voltado a ser amigos, nem mesmo tocaram nesse assunto, e tudo bem, estiveram em harmonia por algum tempo, mas acabou, o dia seguinte seria como todos os outros, notas altas, indiretas passivo-agressivas, sorrisos irônicos trocados. Porque é assim que eles agem, é assim que eles são, rivais, adversários, oponentes, e todos os outros sinônimos para inimigos possíveis.

Usando esses pensamentos, Michelle se permitiu levantar e andar até seu banheiro. Ela estava usando meias, e o chão era coberto de carpete, logo ela não faria nenhum barulho alto, e era como ela queria se manter, quieta. Havia deixado as luzes desligadas, não queria que ninguém soubesse que ainda estava acordada, principalmente Peter, que tinha o quarto no segundo andar como o dela, e suas janelas eram alinhadas. Se ele soubesse que ela ainda não havia dormido, poderia desconfiar de algo, perceber que ela estava afetada pelos eventos daquela tarde, uma vez que ela sempre dormia cedo, pois havia lido em algumas revistas e artigos que isso fazia bem para a sua saúde e automaticamente, para o seu cérebro, o qual ela tinha muito apreço.

Michelle então abriu a torneira levemente, deixando a água cair sobre o material da pia, tentava fazer o mínimo de som possível. Ela molhou suas mãos, juntou um pouco do líquido nelas e jogou no rosto, esfregando suavemente. Então observou o espelho, vendo seu reflexo. Ela se encarou por algum tempo, deixando mais alguns dos pensamentos anteriores retornarem. Estava tudo bem, aquilo não tinha significado nada. O toque, o diálogo, os sorrisos, tudo seria esquecido e passaria em branco. Sim, ela havia enfraquecido suas defesas, mas foi momentâneo, ela tinha sido afetada, não estava no seu comum. Não iria voltar a acontecer, não mesmo. Peter não iria conseguir quebrar o coração dela de novo.

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Peter estava animado para a primeira aula. Ele sabia que Michelle iria subir seus muros de novo, e fingir que não tinha se aberto para ele no dia anterior. Conhecia ela. Mas mesmo assim, estava ansioso para vê-la.

Depois de terem se despedido, Peter estava contente, ele passou mais tempo do que devia acordado naquela noite, se lembrando dos sorrisos e caretas dela, coisas que sentia tanta falta, e depois de anos, pôde ver novamente. E ele estava feliz, porque depois de tantos anos, conseguiu se aproximar dela. Ele tinha desistido a tanto tempo, e agora, quando já estava conformado, isso acontece. Foi uma boa surpresa.

Michelle chegou a sala de aula, com seu olhar neutro de sempre, ela fez a mesma trajetória que sempre faz, mas Peter podia jurar que dessa vez, ela olhou pra ele, por ao menos alguns milissegundos, o que o deixou com um pouco de esperança de ela não ter simplesmente apagado sua memória como um robô, o que ela fazia normalmente quando tinham algum tipo de aproximação.

Ela se sentou, e Peter a observou, geralmente ela olhava diretamente para a janela, ignorando todos a sua volta, então ele não achou que teria problema em assisti-la, só que dessa vez, quando ela largou sua mochila, ao invés de encarar a paisagem lá fora, ela o encarou, levando a uma troca de olhares estranha, que resultou em um Peter levemente corado, que se virou rapidamente para frente se perguntando porque ela fez aquilo. Enquanto isso, Michelle, que manteve sua cara séria até Peter se virar, soltou um suspiro pesado, e se questionou o motivo que levou Peter a olhar para ela justamente quando ela (sem perceber) fez o mesmo.

E foi aí que ela entrou em pânico. Isso não tava certo, as coisas não eram assim entre eles. Ela fingia que nada tinha acontecido e ele só aceitava, e voltavam para suas competições idiotas. Eles não se afetavam com essas proximidades raras. Não ficavam estranhos um com o outro, e definitivamente, não ficavam com vergonha depois de se encarar. Então por que Peter fez isso? Por que ela fez isso?

Será que dessa vez algo realmente mudou? Michelle estava acostumada em se sentir atraída por ele, mas ela sempre reprimiu esses sentimentos, sabendo que ele nunca sentiria o mesmo. Então o frio na barriga, o nervosismo, o coração acelerado, tudo isso já estava superado pra ela, mesmo que ocorressem as vezes, ela conseguia ignorar.

Michelle decidiu fazer o mesmo sobre o momento, se ela só fingisse que nada estava acontecendo, tudo voltaria ao normal.

Com isso, os dias os dias se passaram, e ela passou a perceber Peter a observando discretamente durante os intervalos, e até no almoço. Ele sempre se virava quando ela olhava de volta. E Michelle continuamente tentava disfarçar, como se ele não estivesse fazendo nada.

Mas é óbvio que ela começou a se questionar porque o garoto tinha tanta curiosidade assim nela. Será que é por que eles tinham um gosto em comum e agora ele queria alguém para conversar?

Não fazia muito sentido. Peter tinha outros amigos, como Ned, seu fiel escudeiro.

Logo, a teoria de Michelle caiu por terra, junto com as outras que ela tentou formular para explicar a atenção estranha que o garoto passou a dar para ela, apesar de tentar disfarçar todo o tempo.

E com tudo isso, só restava uma última e dolorosa hipótese, que fazia o estômago de Michelle dar cambalhotas, ao mesmo tempo que fazia o sangue dela correr mais rápido. Talvez Peter estivesse fazendo aquilo porque ele gostava dela.

Era uma palavra muito forte para ela, gostar. Mas depois de muito pensar, e ainda que a ideia parecesse estúpida, fazia sentido. Afinal, era isso que ela fazia anos atrás, ela sentava e o observava silenciosamente, esperando que apenas isso fosse o suficiente para suprir a necessidade que ela sentia por ele. Sonhava com ele o dia todo, e captava cada segundo na presença dele, sempre tentando aproveitar o máximo do momento, como se fosse o último.

Apesar de relutante, Michelle tinha que admitir que Peter parecia estar constantemente fazendo o mesmo que ela costumava fazer, e isso só a assustava a cada vez mais, porque era tão confuso. Ela fugia dele por medo de quebrar seu coração e ser rejeitada, e agora ele simplesmente começava a dar sinais de que ela poderia estar errada? De que talvez, no final, ele também gostasse dela. Como não rejeitar a ideia? Mas ao mesmo tempo, o que poderia ser, se não isso?

Esses pensamentos tomavam toda a atenção de Michelle sempre que apareciam, fazendo ela parecer estar em uma espécie de transe durante as aulas, olhando fixamente para algum ponto, enquanto fazia uma expressão neutra, como se apenas seu corpo estivesse presente ali, e sua mente em um lugar bem distante. O que não estava errado, ela realmente estava perdida em meio a tanta informação sem explicação.

“Senhorita Jones.” A srta. Ellen tentou chamar sua atenção. Sem sucesso. “Senhorita Jones.” Tentou novamente. Ainda sem resposta. “Senhorita Jones!” Aumentou levemente seu tom.

Michelle apenas voltou seu olhar para a professora, sem muito alarde, mas com uma pequena expressão de surpresa, como se tivesse sido pega fazendo algo errado.

“A aula já acabou, você pode recolher seus materiais, por favor? Outra turma estará aqui em breve.” A mulher pediu educadamente, com um tom doce.

“Ah...” Michelle pensou por um momento, realmente, ela tinha se perdido em suas teorias, e nem viu o tempo passar.

Logo ela pegou sua mochila e caminhou até a porta.

“Se estiver com qualquer problema, procure ajuda. Não precisa lidar com nada sozinha.” A professora disse quando Michelle estava quase saindo. Ela então se virou, e encarou a mulher, agora sentada.

“Obrigada pelo conselho, mas não é algo sério, é banal.” Michelle deu de ombros. Não é como ela estivesse passando por algum problema familiar, ou coisa do tipo. Ela só estava tendo uma luta interna sobre Peter Parker gostar ou não dela, e para a infelicidade dela, o lado que defendia Peter gostar dela estava ganhando. Mas ela iria ficar bem, e não é como se isso realmente a prejudicasse grandemente, era só um crush, um crush estúpido que ela tinha tido anos atrás e ainda voltava para a assombrar.

“Se algo faz você perder noites de sono, dias de aula... Essa coisa é realmente banal?” A srta. Ellen virou apenas sua cabeça, a olhando por cima de seus óculos esféricos com alça.

“Eu não perdi noites de sono...” Ok, a fala da professora tinha a assustado. Michelle com certeza não havia pensado por esse ângulo. Além de que não achou que fosse tão óbvio assim que ela tinha andado dormido mais tarde do que devia nos últimos dias.

“Você mentir, senhorita Jones, mas seu corpo não.” Ela voltou a olhar os papéis em cima da mesa, como se dissesse “É isso". A fala da professora surpreendeu Michelle, ela estava com olheiras?

Michelle ficou parada algum tempo na porta, estática, processando rapidamente os comentários, e então, percebeu que precisava de mais tempo pra isso. Se despediu da professora rapidamente e se virou para o corredor, indo até seu armário.

Michelle sempre tinha visto a ideia como insignificante, corriqueira. E que mesmo pensando nisso repetidamente, não era algo importante e poderia lidar com suas teorias sem problemas, que podia guarda-las para si. Mas e se a srta. Ellen estivesse certa? E se isso não fosse realmente algo banal como ela pensava?

De fato, Michelle havia ido dormir tarde na noite da conversa... e também havia se perdido durante aulas importantes... tudo isso porque estava confusa em relação a um garoto. Agora ela se dava conta de sua situação.

Não, ela não podia deixar Peter prejudicar sua vida, não quando ela já passou por tantas lutas interna por causa dele.

E assim, ela estava em seu armário, que estava aberto. Michelle encarava os livros coloridos espalhados ali. Ela não decorava seu armário por pura preguiça, mas tinha uma pequena figurinha no meio da porta metálica que dizia “Lute como uma garota” em cima, e em baixo, “Leia Organa”. Michelle encarou o adesivo por algum tempo.

Ela sempre admirou Leia por ser corajosa, prestativa, empoderada. Se espelhava nela, e por um momento, Michelle se questionou o que Leia faria no seu lugar, naquela situação tão estúpida que se encontrava.

Elas tinham talvez algo em comum, Leia e Han Solo não se davam muito bem, como ela e Peter, mas mesmo assim, Leia se apaixonou por ele, e quando Solo estava à beira da morte, Leia expôs seus sentimentos a ele, porque não podia mais se conter, e não podia deixa-lo ir sem saber como ela se sentia.

“Eu te amo.” “Eu sei.”

Será que Peter sabia dos sentimentos de Michelle? Será que ela havia deixado eles tão óbvios como ele? Será que Peter percebia quando ela o encarava, quando ela sorria para ele sem motivo aparente, ou como ela sempre o escolhia como sua dupla, ignorando qualquer outra opção?

Tantos serás, todos sem resposta.

Michelle fechou a porta do armário rapidamente, engolindo em seco, tentando pensar em uma solução para aquilo tudo. Fechou seus olhos e respirou fundo, se concentrando e se acalmando.

O sinal soou, outra aula se iniciava.

Ela então deixou seus pensamentos, e caminhou até a sala designada. Peter não era seu colega nessa matéria. Ela respirou aliviada.

Então se sentou no lugar de sempre, observando a visão das árvores que aquela janela a proporcionava. Cada uma delas dava acesso a uma imagem diferente da natureza do campus da escola. E Michelle gostava de apreciar cada uma delas, porque a trazia paz, e isso era o que ela mais precisava no momento.

As palavras da srta. Ellen ainda ecoavam em sua cabeça.

“Se algo faz você perder noites de sono, dias de aula... Essa coisa é realmente banal?”

Talvez não fosse tão estúpido assim. Talvez isso realmente tivesse algo sério, e pudesse prejudica-la em algum ponto. Talvez isso a assombre tanto porque no fundo ela quer acreditar. Talvez ela goste da ideia de Peter estar apaixonado por ela como ela foi (ou é) por ele. Talvez ela queira que isso seja verdade. Talvez ela não o odeie. Talvez, Talvez, Talvez.

E assim, ela se perdeu de novo, com a imagem de Peter Parker em sua cabeça. Ela sorria levemente, sem notar, enquanto se perguntava como seria um mundo onde Peter não odiasse cartas de declaração, e ela tivesse chegado mais cedo naquele dia. Como seria um mundo onde Peter compartilhasse do mesmo sentimento que ela.

Com esses pensamentos, Michelle perdeu mais uma aula. Tudo por causa do maldito Peter Benjamin Parker.


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Notas finais do capítulo

Eu não tive tempo pra revisar o capítulo pra ver se tava tudo ok, porque eu queria postar logo, eu acabei de terminar ele kkkkkk

Sobre Jake Hill e Josh A: São dois trappers que postam suas músicas no youtube, spotify, itunes, etc. Eles são independentes, não tem gravadora nem nada. O motivo para eu colocar eles aqui no capítulo é porque eu achei que muitas músicas combinavam com a personalidade dos personagens, pelo menos do jeito que eu to escrevendo. Mas a minha primeira ideia tinha sido a 21 pilots. De toda forma, se vocês não tiverem gostado, não se preocupem, eu não pretendo fazer isso novamente. (posso mudar de ideia kk), eu só queria criar um pretexto pro peter falar com a Michelle, e eu gostei de como saiu.

Outra coisa: Eu não sou fã de star wars, então se tiver algo errado ai, desculpa :( eu vi os filmes todos, e gostei muito, mas eu não pesquisa afundo sobre nem nada, sou só uma espectadora que ama a leia, o han solo e obi wan XD

Desculpa o textãoooo



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