Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 6
O Festival da Floresta




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Calista esperava impacientemente, lado a lado com Mirabelle. Ambas resmungavam baixinho em sincronia quase perfeita.

— Foda-se, Gary Carvalho. —  A morena declarou enfim, queimando de raiva. — Vamos lá, Mira, vamos entrar. Aquele garoto idiota!

Mirabelle assentiu, lançando mais um olhar zangado para as ruas.

— Eu acho que isso significa "Foda-se, Umbreon", certo garota?

A pokemon tipo Fada assentiu novamente, bufando com sarcasmo. Calista riu e ambas entraram no festival, as fitas da Sylveon se enrolando ao redor do pulso de sua treinadora em um gesto quase automático.

— Calista?

A morena parou, olhando em volta para ver quem a chamara.

— Calista! — Serena exclamou novamente, correndo ao seu encontro. —  Hey! Achei que você não viria!

— Mudei de ideia. — A mulher respondeu, dando de ombros e tentando não deixar sua raiva transparecer. — E então, o Ash finalmente teve coragem de te convidar para sair?

— Bem que eu queria. — A garota riu. — Vim com o Clem e a Bonnie.

— Relaxe, loirinha. — Calista brincou, passando um braço ao redor dos ombros da menina. — Você está tão fofa hoje que, se Ash não te convidar essa noite, eu mesma convido.

— Obrigada. — Serena riu, se aninhando mais perto de sua amiga e passando um braço pela cintura da morena. — Você está tão linda que eu poderia aceitar.

As duas riram juntas. Poucos segundos depois foram alcançadas por uma garotinha loira.

— Aí está você! — Bonnie exclamou, correndo na direção de Serena — Nós estávamos te procurando!

— Desculpe, Bonnie. — A jovem kalosiana corou de leve, constrangida. — Eu acabei me perdendo.

— Isso sempre acaba acontecendo com você. — A menina mais nova riu. — Nossa, Calista, você está tão linda!

E estava mesmo. Usava um vestido leve, prateado, adornado com estrelas negras na saia e uma fita também negra na cintura. O modelo fazia seus olhos verdes e os cabelos escuros, presos em um coque elegantemente desarrumado, se destacarem.

— Obrigada, Bonnie, você também está linda. — A morena retribuiu amigavelmente. — Então, cadê o Clemont? Ele está com você?

— Estava. — Bonnie respondeu, olhando em volta, parecendo confusa. — 'Pra onde será que ele foi?

— Estou bem aqui. — Clemont respondeu, saindo de um canto entre duas barracas. — Pelo amor de deus, Bonnie, não saia correndo desse jeito!

— Desculpa, irmãozão. — A menina tinha um sorrisinho travesso no rosto. — Mas olhe só, eu encontrei sua namorada.

— Bonnie! — O loiro corou como um tomate. — Ela é só uma amiga, eu já te disse isso!

Bonnie olhou rapidamente para Calista, que disfarçou um sorriso e piscou para a menina. A garotinha retribuiu o gesto, divertida.

— Certo, irmãozão. — Ela disse enfim. — Como quiser. Até porque ... Acho que ela é maneira demais para você.

— Bonnie! — Clemont protestou novamente, com um pouco mais de veemência, fazendo Calista e Bonnie caírem na gargalhada.

— Desculpe, Clemont. — A morena disse, ainda dando risada. — Vamos parar de provocar, prometo.

Clemont não conseguiu deixar de esboçar um sorriso diante do sorriso de Calista. Ele então notou a outra pessoa se aproximando por trás da morena, lhe fazendo sinal para que ficasse em silêncio.

Ash se aproximou sem ser visto e deu um tapinha nas costas de sua irmã, que pulou de susto. O moreno caiu na gargalhada.

— Seu pirralho. — Calista ralhou ao se voltar para ele, tentando acertar a cabeça do irmão mais novo com um tapa e errando o alvo. — Você não cresce nunca, babaca?

— Desculpe. — Dawn, que vinha logo atrás de Ash, disse. — Eu tentei impedir, mas o Ash é teimoso como um Tauros.

— E eu não sei? — Calista respondeu. — Ele é um cabeça dura, mesmo.

Ela agarrou o braço do irmão, pegando-o desprevenido e puxando-o para perto, lhe dando um tapa forte na nuca e exclamando "babaca" mais uma vez.

— Ai! — O garoto exclamou. — Tá bom, tá bom, me desculpe! Credo, mana!

— Você bem que mereceu, e nem tente negar.

— Que seja. — O moreno revirou os olhos, um tanto emburrado. — Você está bonita. O Clemont finalmente te chamou pra sair?

— Não, bobão. — Calista rebateu. — Eu sou naturalmente bonita.

A vaidade implícita naquelas palavras pegou Ash de surpresa por alguns segundos. Calista nunca havia sido do tipo vaidosa. Só nesse momento ele considerou o fato de que sua irmã havia realmente mudado durante todos aqueles anos.

— Tanto quanto um Jynx. — O garoto rebateu, se recuperando rapidamente.

— E você tem o cérebro de um Slowpoke.

— Ai! — O moreno riu, sem se abalar nem um pouco com a farpa. — Que mau humor! Que foi, levou um fora?

Calista corou de raiva, enquanto Dawn protestava audivelmente contra aquela piada de mau gosto.

— Calma aí, Dawn. — Ash protestou. — É brincadeira. Nenhum cara em sã consciência daria um fora na minha irmã.

Calista relaxou um pouco. Seu irmão podia ser um pentelho sem noção nenhuma, mas sabia ser um doce às vezes.

— Ninguém além do Gary. — A morena confessou, ganhando um olhar incrédulo de seu irmão mais novo.

— Ele fez o que?! — O rapaz kantoniano exclamou, atônito. — E por que você sairia com ele, pra começar?

— Isso não importa. — Foi a resposta. — Era para nos encontrarmos na entrada ... Uma hora e meia atrás.

— O Gary é um babaca, mana. Eu sempre disse isso. Não pense nele. Vem, eu te desafio!

Calista olhou para o jogo de tiro que Ash apontava e um largo sorriso iluminou seu rosto. Parte atuação, parte seu espírito competitivo entrando em ação. A morena trocou um olhar com Bonnie.

— O que me diz, baixinha? Quer me ajudar?

— Sim! — A menina exclamou, animada. — Se prepare pra perder, Ash!

Ash disparou na direção do jogo, com Bonnie e Calista logo atrás. Serena se juntou a Ash para um jogo em duplas. Cinco minutos depois, após a terceira vitória consecutiva de sua irmã mais velha, Ash estava praguejando alto e fumegando de raiva.

— Droga! — O rapaz moreno exclamou. — Certo, Caly, eu desisto. Vocês venceram.

— Finalmente. — Calista riu — Achei que ficaríamos aqui a noite toda.

— Seria bem possível, conhecendo o Ash. — Dawn provocou. — Ele nunca aceita uma derrota.

— Verdade. — A mulher mais velha assentiu. — Meu irmão é o cara mais teimoso que eu já conheci.

Todos riram disso e Ash deu um soco no ombro de sua irmã. Mirabelle rosnou para ele em advertência, mas Calista deteve sua parceira com um movimento de mão.

— Tudo bem, Mira. — Ela disse — Meu irmãozinho só está sendo um bebê chorão.

— Não sou. — Ele murmurou. — Cale essa boca, Caly.

— Calo, se você parar de agir como um bebezão.

O restante do grupo riu, fazendo Ash ficar ainda mais vermelho de raiva.

— Você me paga, Caly. — Ele murmurou. — Só espere. Você vai ver.

— Que medo, maninho. — A morena rebateu ironicamente. — Ei, Bonnie, venha aqui escolher seu prêmio.

A garotinha correu para junto dela, apontando quase imediatamente para um Azumarill de pelúcia.

Quando Calista lhe entregou a pelúcia, Bonnie deu pulinhos de alegria. Ao fazer isso, a menina tropeçou. A morena conseguiu segurá-la, mas perdeu o equilíbrio ela própria e se viu agarrando a mão livre de Clemont, que estava ao seu lado, numa atitude reflexa para evitar a queda.

— Ei, Serena. — Ash provocou. — Acho que temos um novo casal essa noite.

— Cale essa boca. — Calista rosnou, afastando-se de Clemont rapidamente. — Ash-Karp.

— Ash-Karp?! — Dawn quase engasgou ao ouvir aquele apelido. — Isso é sério?

— E como. — Calista riu com gosto. — Um dia, escolhemos pokemons uns para os outros. Acabamos decidindo que, já que Ash sempre perdia para nós em tudo, ele era um Magikarp.

— Combina bem.

— Cale essa boca, Caly-Nite.

— Ash Ketchum ... — Calista rosnou entredentes. — Agora eu mato você, seu pirralho. Já disse para não me chamar assim!

— Só o Gary pode, não é, mana?

Ash saiu correndo após dizer isso, deixando para trás uma Calista fervendo de raiva. A morena rosnou baixinho, suas mãos coçando de vontade de dar um soco naquele garoto. Mas um momento depois a irritação sumiu de seu rosto e ela estava de volta à personalidade que sempre mostrava em público, aquela fachada bem-humorada e sorridente.

— Me desculpem. — Ela disse ao restante do grupo. — Meu irmão é um idiota.

— É, sim. Falando nisso ... É melhor eu ir atrás dele. — Serena respondeu. — Só para ter certeza de que o Ash não vai arrumar nenhuma encrenca.

— Eu vou com você. — Dawn declarou. — Duas trabalham melhor do que uma.

— Obrigada, Dawn.

— De nada. — Dawn sorriu. — Nos vemos mais tarde, vocês três.

— Ei! — Bonnie protestou. — Espere aí, Serena! Eu vou com vocês!

— Certo. Só não arrume nenhuma confusão, está bem? Um encrenqueiro já é o suficiente.

O som dos protestos de Bonnie contra aquela declaração foram ouvidos até que as três sumiram na multidão. Só então Calista se voltou para Clemont.

— Então ... Parece que somos só nós dois agora.

— É o que parece. — O rapaz loiro respirou fundo, reunindo coragem. — Então ... Quer caminhar e dar uma olhada por aí?

Lá estava de novo quando ela assentiu, a fachada que usava em público, aquele sorriso cheio de charme que era sua marca registrada em qualquer performance.

— Claro. Eu adoraria.

Ambos caminharam entre as barracas do festival, conversando amigavelmente. Clemont a olhava de esguelha de tempos em tempos. Podia notar que, apesar de não querer deixar transparecer, ela estava tão irritada quanto magoada com o fato de Gary não ter aparecido.

— Então ... O Gary Carvalho te convidou para sair?

— Sim. — Ela mordeu o lábio, uma expressão de mágoa cruzando seu rosto por um milésimo de segundo. — Eu não quero falar sobre ele, certo?

— Por mim tudo bem. — Clemont respondeu. — Só me deixe dizer que ... Se eu tivesse a sorte de sair com uma mulher como você ... Eu não seria burro a ponto de não aparecer. Esse Gary é um idiota mesmo.

As palavras pareceram ser o que ela queria ouvir, pois Calista relaxou e lhe abriu um sorriso um pouco mais sincero do que os anteriores. O rapaz sorriu de volta, agradecendo em pensamento por ter tido a coragem de lhe dizer aquilo. Os dois continuaram conversando por cerca de uma hora, até Bonnie aparecer chamando por seu irmão mais velho.

— Vou levá-las de volta ao centro pokemon. — Ele disse. — Você vem com a gente?

— Não, vou ficar mais um pouco.

— Tudo bem então. Boa noite, Calista.

— Boa noite, Clemont.

Depois de ele sair, Calista e Mirabelle decidiram passear mais um pouco pelo festival. Enfim chegaram a um ponto onde não haviam atrações, uma subida cuja trilha conduzia para dentro da floresta.

— O que me diz, garota? Vamos descansar um pouco?

Havia uma árvore caída, cujo tronco as duas usaram como banco. As luzes do festival alcançavam de forma mais suave ali em cima, fornecendo iluminação suficiente apenas para que o local não ficasse completamente escuro.

— O que deu naqueles dois? — Calista se perguntou em voz alta. — Quer dizer ... Por que se dar ao trabalho de nos convidar para sair, se nem iriam aparecer? Juro, Mira, aposto que até aquela ligação foi falsa. Ele só estava procurando uma desculpa para fugir.

Mirabelle assentiu, resmungando baixinho. Sua cauda e suas fitas se agitavam como chicotes, movidos no ritmo de sua irritação. Calista lhe deu um tapinha carinhoso no topo da cabeça.

— É, eu sei. Você gostou daquele Umbreon, não é?

A Sylveon assentiu, seus resmungos se intensificando. Calista passou a lhe acariciar atrás das orelhas, distraída.

— Eu também gosto do Gary. — Ela confessou. — O problema é que o Ash tem razão: aquele garoto é um tremendo babaca.

— Cuidado com a língua, Caly.

A voz que soou a fez pular de susto. Olhando em volta, Calista viu Gary e Umbreon a poucos metros de distância, subindo pela trilha estreita a passos largos.

Mirabelle gritou de raiva e investiu contra o Pokemon Luar, atacando com Estrela Cadente. O pokemon tipo Sombrio foi lançado para trás com o golpe, ao mesmo tempo em que Calista ia ao encontro de Gary com os punhos cerrados.

Não havia ninguém ali, ninguém para vê-los. A morena se permitiu esquecer completamente da fachada que construíra para si mesma ali em Kalos, deixando que sua irritação corresse solta.

— Como diabos nos encontrou? — Ela exigiu. — E por que você sequer se deu ao trabalho, para começar?

— Eu tinha uma promessa a cumprir. — O jovem respondeu calmamente. — O vovô me manteve ocupado até tarde, mas eu vim o mais rápido que pude. É sério.

— Eu esperei por uma hora e meia, Gary. Você tem sorte de eu não estar socando cada centímetro dessa sua cara estúpida agora mesmo!

— Calma aí, Caly. Essa não foi minha intenção. Apenas me escute, por favor. Deixe eu explicar.

A mulher deu um passo para trás, cruzando os braços com força e lhe lançando um olhar furioso que seria capaz de matar um fantasma.

— Você tem um minuto. — Ela concedeu. — Só isso, então é melhor ser rápido.

— Me desculpe. — O garoto disse imediatamente. — Você está certa, eu sou um babaca. Devia ter vindo mais cedo, independentemente do que o vovô tenha dito. Mas deixe eu compensar por isso. Por favor.

A morena não se impressionou. Ela apenas o encarou em silêncio, seus olhos verdes ainda queimando de raiva. Gary acabou desviando o olhar após alguns segundos.

— Não vai me dar uma chance, não é?

— Eu dei. Você a desperdiçou.

— Certo. — Ele balançou a cabeça, desapontado. — Entendi. Anda, Umbreon, vamos embora.

O rapaz e seu pokemon voltaram a descer pela trilha. Calista ouviu Gary dizendo algo que soava como "eu sempre estrago as coisas", mas eles já estavam longe demais para que tivesse certeza.

— Eu fui muito severa? — Ela perguntou à Mirabelle.

A Sylveon lançou um olhar mortal para Umbreon antes de acenar um não com a cabeça. Calista quase podia ler as palavras em seu rosto, dizendo "eles mereceram isso".

— E quanto a explorar, então? — A mulher propôs. — Vamos sair daqui, o que acha?

A pokemon a seguiu animadamente. As duas tomaram a trilha que levava ainda mais para dentro da floresta. Gary, que lançara-lhes um último rápido olhar por cima do ombro, praguejou ao vê-las desaparecer entre as árvores.

— Que merda! — Ele sibilou. — Será que ela não sabe sobre os Gengars? Vamos atrás delas, Umbreon.

O pokemon assentiu, seus anéis amarelos já brilhando para iluminar o caminho enquanto seguiam as garotas para dentro da floresta. Não demoraram a ouvir um Sylveon gritar de dor. Correndo na direção do som, Gary paralisou ante a cena.

Mirabelle enfrentava um Gengar, apesar da óbvia desvantagem. Embora seu pelo azul-celeste estivesse manchado de sangue por conta dos ferimentos, que eram visíveis por todo seu corpo, e apesar de seus ataques mal fazerem qualquer dano, ela se recusava a desistir. Se recusava a sair da frente de Calista, protegendo-a a qualquer custo. Mas é claro que ela não podia continuar lutando para sempre, e acabou caindo. Mirabelle desmaiara.

Ao ver sua parceira cair, Calista soltou um grito de raiva. Havia deixado suas pokebolas no centro pokemon, então não havia opção. Dando um passo à frente para proteger a Sylveon com seu próprio corpo, a morena ergueu os punhos em desafio.

— Ninguém mexe com a minha Mira! — Sibilou. — Vem cá, seu filho da puta! Enfrente alguém do seu tamanho!

O queixo de Gary caiu. Ele não sabia se ficava impressionado com a coragem dela, ou recriminava sua loucura.

— Umbreon, vamos lá. — Ele disse — Ela vai acabar se matando.

Antes que Calista realmente pudesse tentar enfrentar o fantasma com as próprias mãos, Umbreon disparou uma Bola das Sombras que fez com que o oponente recuasse. Calista se virou, seus olhos se arregalando de terror ao vê-los.

— Gary, não! — Ela exclamou. — Saia! Há mais deles!

Foi quando ele viu: pelo menos vinte pares de olhos brilhando sinistramente entre as sombras das árvores. Ele e Umbreon avançaram, o Pokemon Luar já preparando mais uma Bola das Sombras.

— Vai. — O rapaz disse à Calista. — Corra e saia logo daqui. Leve Mirabelle para o centro pokemon.

— E vocês?

— Nós damos conta. — Foi a resposta. — Apenas vá, Caly.

— De jeito nenhum. — Ela protestou com um bufo irritado. — Eu ainda posso enfrentar esses malditos.

— Sozinha?

A irmã de Ash se pôs de pé com Mirabelle nos braços, seus olhos verdes brilhando como um par de esmeraldas. Gary não conseguiu evitar admirá-la. Quando se tratava de proteger a quem amava, Calista não media consequências e não se permitia sentir qualquer medo.

— Sou mais forte do que pareço, garoto. — Ela rebateu simplesmente. — Ande logo, vamos voltar. Umbreon pode atrasá-los enquanto recuamos até a entrada da floresta, depois nós três saímos correndo.

Ainda bem! O garoto pensou, aliviado por a morena não pretender ficar e lutar. Ela não é tão louca quanto parece!

Os dois começaram a recuar lentamente na direção de onde haviam vindo, tomando cuidado para não serem emboscados pelos fantasma enquanto Umbreon usava Bola das Sombras e Pulso Sombrio para manter os Gengars longe.

O plano teria funcionado perfeitamente, se o Pokemon Luar não fosse derrubado por um Soco Drenagem de um Gengar particularmente forte.

— Droga! — Gary xingou. — Caly, não vamos conseguir.

— Vamos sim! — Ela rebateu. — Corra o mais rápido que puder!

Ela girou nos calcanhares, socando um Gengar que se aproximava por trás. Gengars são pokemon do tipo Fantasma, podem se tornar completamente imateriais a seu bel-prazer. Aquele, porém, não esperava o golpe e não teve tempo de fazer isso. Foi atingido direto na cara pelo soco, que o lançou para trás.

— Vamos despistá-los nas árvores. — Calista sugeriu. — Assim ganhamos tempo. Corra em ziguezague até a trilha.

— Não, é perigoso. Tenho uma ideia melhor.

Gary tirou seu Arcanine da pokebola, ordenando ao enorme cão que usasse Explosão de Fogo na direção do céu. O brilho das chamas foi o suficiente para desorientar os Gengars por alguns momentos, e então o neto do professor Carvalho ouviu Calista gritar de dor.

A luminosidade produzida pelas chamas se apagou completamente alguns segundos depois. Quando seus olhos se ajustaram, Gary viu Calista caída no chão. Um Gengar a segurava por uma das pernas, arrastando-a ainda mais para as sombras. A morena lutava com ferocidade, socando e chutando, mas não podia fazer muito contra os quatro outros fantasmas que a cercavam.

Antes que pudesse reagir, Gary viu uma Bola das Sombras ser lançada. E outra. E mais outra. Os golpes atingiram os Gengars, fazendo com que recuassem, o que lhe deu tempo suficiente para correr até Calista e ajudá-la a ficar de pé. Porém, só o que a sustentava era seu apoio. Ele podia sentir o quão fraca ela estava.

— Mirabelle! — Ela exclamou, lutando como podia com a pegada de Gary em sua cintura. — Tenho que achar a Mira!

— Deixe isso comigo. — Gary disse. — Arcanine.

O cão tipo Fogo se postou atrás de Calista, sustentando-a com seu flanco. Dentes expostos em um rosnado feroz, Arcanine estava pronto para morder qualquer Gengar que se aproximasse.

Gary não levou mais que alguns segundos para localizar Mirabelle, ainda inconsciente, caída sobre alguns arbustos. Ele a tomou nos braços e correu de volta ao encontro de seu parceiro.

— Ela está bem? — Calista inquiriu freneticamente. — Os Gengars a feriram?

— Não, ela está bem.

Passando a Sylveon para os braços de sua treinadora, Gary ergueu Calista pela cintura e a colocou sobre Arcanine, saltando em seguida para montar no majestoso Pokemon Lendário e ordenando que usasse Velocidade Extrema para tirá-los dali.

— Conseguimos! — Gary exclamou, quando se viram de volta à trilha na entrada da floresta. — Nada mal, hein Caly?

Calista riu fracamente em resposta enquanto Gary saltava para o chão. Sob a tênue luz das lanternas do festival lá embaixo, ele pôde ver-lhe o rosto com mais clareza. Haviam arranhões e um hematoma na bochecha esquerda. Descendo o olhar pelo corpo dela em um exame rápido, viu que os ferimentos continuavam em seu pescoço, braços e colo. Os Gengars haviam tido pouco tempo, mas conseguiram fazer um tremendo estrago.

— Nada mal, garoto. — A voz dela era baixa, seu tom ligeiramente trêmulo de dor. — Obrigada.

— Não foi nada. — O rapaz respondeu. — Você está bem?

— Aham. — Ela assentiu, saltando para o chão e arfando de dor ao tentar se apoiar na perna direita. Gary passou novamente um braço por sua cintura para impedir que caísse. — Não é nada ... Que eu não possa aguentar.

— Certo. Vamos te levar pra um hospital, só por via das dúvidas.

— Não. — Ela protestou — Eu já disse, Gary, estou bem. Temos que levar Mirabelle a um centro pokemon primeiro.

— Nem pensar. — O garoto declarou. — Vamos cuidar de você primeiro.

— Mira está mais ferida do que eu. Ela precisa de cuidados agora!

A irmã de Ash tentou afastá-lo, mas o empurrão não teve muita força. Gary, porém, a soltou de imediato para que ela não se machucasse ainda mais naquela resistência inútil. Assim que se viu sem apoio, a morena oscilou. Calista teria caído se Arcanine não a amparasse, ficando atrás dela e apoiando-a com seu ombro musculoso.

— Obrigada, garoto. — Ela disse, dando um tapinha carinhoso no pescoço do cão.

— É melhor você monta-lo de novo. — Gary declarou. — Tudo bem, Arcanine?

O cão assentiu em concordância, indicando que não se importava que Calista o montasse novamente. Gary fez menção de ajudá-la, mas ela o afastou com um sonoro tapa de sua mão livre.

— Gary, eu já disse que estou ...

— Não, você não está bem. Pare de discutir, caramba! Vamos levar você ao hospital, depois eu mesmo levo a Mira a um centro pokemon.

— Não. — Calista respondeu, seu rosto endurecendo em uma expressão irredutível. — Vamos cuidar da Mira primeiro.

— Caramba, Caly, dá pra deixar de ser teimosa pelo menos uma vez?

— Hum ... Não, acho que não. — Ela abriu um sorriso brincalhão, aninhando ainda mais a Sylveon ferida em seus braços. — É coisa de família.

— Isso não se pode negar. — Gary rebateu, sem conseguir evitar uma risada apesar da situação.

A morena finalmente permitiu que ele a colocasse sobre as costas de Arcanine. Quando Gary a olhou novamente, ela havia apoiado a cabeça sobre os pelos mais longos no pescoço do cão e caído no sono, com Mirabelle firmemente segura contra seu peito.

— Essa mulher é maluca. — Gary declarou. — Não acha, garoto?

Arcanine soltou um rosnado baixo, de concordância. Também havia visto Calista enfrentar os Gengars com as próprias mãos na floresta. Foi só alguns minutos depois, quando chegaram ao hospital e Gary foi tirá-la do lombo de Arcanine, que viu a perna direita dela. Ou, mais precisamente, os enormes hematomas na forma de três garras em sua panturrilha direita, tão negros que quase pareciam pintados em sua pele clara.


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