Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 4
A vida segue




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Calista acordou com batidas na porta. Ela levantou para abrir, encarando Ash com um olhar de absoluto desgosto. O garoto teve que conter uma gargalhada ante a visão do desalinho em que o cabelo de sua irmã se encontrava. Ela parecia um Tentacruel, especialmente com aquela cara de mau humor.

— Bom dia. — Ele disse, sem conseguir conter uma risadinha. — Conseguiu dormir um pouco?

— Aham. — Ela resmungou, ainda sonolenta. — Até você me acordar.

Dessa vez Ash não conseguiu se conter e deixou escapar uma sonora gargalhada, enquanto Serena se juntava a ele no corredor.

— Então ... O horário de visitas começa em uma hora. — O rapaz informou. — Você vai vir comigo?

Calista endireitou a postura, imediatamente desperta depois de ouvir aquilo.

— Vou sim. Só deixe eu me trocar, ok? Fico pronta em um minuto.

— Ainda temos tempo. — Serena lembrou. — É melhor tomarmos café da manhã primeiro.

Calista lançou um rápido olhar a seu irmão mais novo, que corou. Para alívio de Ash, ela simplesmente assentiu.

— Tem razão. — Disse. — Eu preciso me trocar, então ... Vocês podem ir indo na frente se quiserem.

— Awn ... Não. Tem uma coisa que quero te perguntar, Caly. — Ash rebateu. — Serena, se quiser ir na frente, tudo bem. Alcanço você em cinco minutos.

Assim que a garota sumiu de vista no corredor, Calista cruzou os braços e abriu um sorriso cheio de malícia.

— Ora, ora, irmãozinho. — Ela provocou. — Foi impressão minha, ou vi Serena saindo do seu quarto?

— Cale essa boca! — Ash resmungou, corando ainda mais. — Nós dormimos, só isso.

— Então vocês dois dormiram juntos mesmo?

— Calista!

A morena caiu na gargalhada enquanto fechava a porta, gritando um "nada mal, maninho" antes de correr para se trocar. Sentira muita falta daquilo, percebeu. Das brigas, das risadas ... Era bom ter sua família de volta. Parte dela, pelo menos.

Calista saiu do quarto menos de cinco minutos depois, de jeans e camiseta, já tendo domado seu cabelo em um rabo de cavalo. Ela sabia, sem nem precisar perguntar, que Ash e Serena estariam lhe esperando no salão principal para irem juntos tomar café da manhã.

E estava certa. Os dois jovens estavam sentados juntos, envolvidos em uma conversa animada. Calista os observou por alguns momentos antes de se aproximar silenciosamente, passando um braço pelo pescoço de cada um deles, puxando os jovens para si num abraço apertado.

— Ei, pombinhos. — Disse. — Vão ficar aqui namorando ou podemos ir?

— Cale essa boca, Caly! — Ash resmungou, empurrando-a para que ela o soltasse.

Tanto ele quanto Serena coraram violentamente. Calista apenas riu e lhes endereçou uma piscadela travessa por sobre o ombro enquanto os três se dirigiam ao refeitório anexo ao centro pokemon.

— Clem! — Serena exclamou assim que entraram.

Clemont, irmão de Serena, acenou para eles de uma mesa um pouco mais afastada. O garoto loiro tinha o nariz praticamente enterrado em um livro, o que não era novidade.

— 'Dia, Clemont. — Ash disse, juntando-se ao amigo. — Acordou cedo. Outro projeto?

— Bom dia, Ash. — Clemont ergueu os olhos e lançou um rápido sorriso ao outro rapaz. — É, mais ou menos.

— O que vai ser dessa vez? — Serena inquiriu, curiosa.

— Ainda não posso dizer. — Foi a resposta. — Conto assim que tiver todos os dados, está bem?

Serena e Ash resolveram deixar a curiosidade de lado e foram se servir. O grupo tomou café da manhã em silêncio, exceto por comentários ocasionais do trio. Clemont ainda estava absorto em seu livro mas, depois de alguns minutos Calista notou que os olhos do rapaz ocasionalmente se erguiam para fita-la.

— Uau, mana. — Ash, sentado ao lado da irmã, sussurrou em seu ouvido. — Acho que o Clemont gostou mesmo de você. Ele não para de te olhar.

— Ash, pare com isso! — Calista sibilou em resposta. — Está imaginando coisas, pirralho.

— Talvez. — Ele riu. — Mas ainda acho que ele gosta de você.

Por baixo da mesa, Calista deu um tapa no joelho de seu irmão, o que só o fez rir novamente. O grupo terminou de comer e Serena saiu com os irmãos Ketchum.

— Tem certeza que quer vir, Serena? Sabe que não precisa, se não quiser.

— Tenho, Ash. — A garota respondeu. — Eu não me importo.

Calista sorriu consigo mesma ao ouvir isso. Ela chamou um táxi e os três embarcaram em direção ao hospital. Quando chegaram, a mais velha foi a primeira a subir. O professor Carvalho ergueu a cabeça do livro que lia ao ouvir seus passos.

— Bom dia, professor. — Calista disse, oferecendo um copo plástico cheio até a borda com café que fumegava de tão quente. — Obrigada por ficar com ela. Espero não ter atrapalhado sua pesquisa.

— Não se preocupe com isso. Você sabe que considero sua mãe uma grande amiga. — Ele respondeu, aceitando o café com gratidão. — Não foi problema nenhum.

A jovem lhe lançou um sorriso de agradecimento, relaxando e se apoiando contra a parede ao lado da poltrona onde o professor se acomodara.

— Então, como ela está? — Inquiriu — Alguma novidade?

— Receio que não. A situação dela permanece a mesma.

Calista balançou a cabeça, seus olhos assumindo uma expressão ao mesmo tempo decepcionada e preocupada.

— Ash não vai gostar de saber disso.

— Ele é mais durão do que você imagina. — O velho cientista disse. — O garoto vai aguentar.

— Isso mesmo. — Ash declarou, parado na porta. — Não sou mais criança, Caly. Aceite isso.

— Desculpe, Ash. Ainda é meio difícil. — A mais velha balançou a cabeça em um gesto de desalento. — Eu ... Acho que fiquei longe por tempo demais.

O rapaz não respondeu, apenas olhou para a mãe. Calista se adiantou e pôs uma das mãos no ombro de seu irmão mais novo, apertando carinhosamente.

— Ela vai acordar. — Garantiu — Nossa mãe é forte. Ela vai ficar bem.

— Tudo bem se eu ficar com ela?

Os dois adultos assentiram e se dirigiram juntos para a recepção, onde Serena esperava.

— Ash quis ficar. — Calista informou. — Eu ... Preciso ensaiar um pouco. Serena, quer me acompanhar?

— Claro.

— E o senhor, professor?

— Não, obrigado. Vou tentar continuar pesquisando. — O Professor Carvalho respondeu. — Ouvi dizer que eles tem um material excelente aqui.

— Está bem. Nos vemos mais tarde.

— Até mais, Calista.

As duas jovens saíram juntas do hospital. Ao passarem pela porta de entrada, duas figuras vieram em sua direção. Clemont e Bonnie.

— Clem? — Serena exclamou, surpresa. — O que faz aqui?

— Viemos ver se precisam de alguma coisa. — O rapaz respondeu timidamente.

Serena olhou para seu irmão, então para Calista e novamente para Clemont. Ela riu, finalmente compreendendo.

— Ash ficou com a mãe. — Informou — Nós vamos ensaiar. Querem assistir? Isso é, se você não se importar, Caly.

— Nem um pouco. — A morena sorriu. — Quanto mais plateia, melhor.

O garoto corou levemente. Bonnie e Serena trocaram um sorriso.

— Sim, sim, sim! — A garotinha exclamou, animada. — Eu quero assistir!

— Legal! — Calista exclamou, trocando um sorriso com a menina. — Conheço o lugar perfeito!

A mulher os guiou para um parque, uma grande área arborizada quase fora da cidade. Muitas pessoas iam até lá para treinar ou simplesmente fazer piqueniques e relaxar.

Clemont e Bonnie sentaram sob a sombra de uma árvore para assistir ao ensaio, enquanto Calista e Serena assumiam posição.

— Então ... Podemos começar com um pokemon cada, em performance individual, e depois tentar em duplas. — Calista sugeriu. — O que me diz?

— Parece ótimo. Vamos começar!

Serena escolheu Braixen. A coreografia começou devagar, tímida a princípio. A loira podia se sair bem no palco, mas sua timidez muitas vezes ainda levava a melhor, o que frequentemente a fazia não se sair tão bem quanto poderia.

Braixen usou Explosão de Fogo, girando seu bastão/galho, de forma a fazer com que as chamas espiralassem em direção ao céu, cascateando e girando em torno de si mesma e Serena enquanto as duas encerravam com uma pirueta. Calista as aplaudiu com entusiasmo.

— Vocês tem talento. — A morena elogiou — Cheguei bem perto de perder aquela Chave ontem à noite.

Serena corou enquanto sua parceira agradecia ao elogio com uma reverência, do tipo que artistas fazem ao fim de um espetáculo. Calista não conseguiu deixar de sorrir ante ao gesto da pokemon.

Era sua vez, e a jovem kantoniana escolheu IceFire. A Charizard começou com um Lança Chamas, criando uma estrela de fogo e usando rajadas de vento poderosas de suas asas para fazer com que as chamas se dissipassem em uma linha reta.

Calista pulou nas costas de sua parceira e ambas decolaram, seguindo as labaredas. Quando atingiram o ápice, fizeram um loop e Serena gritou de pavor ao ver a irmã de Ash se soltar. Solta no ar, a jovem fez três piruetas, então IceFire usou uma Explosão de Fogo para criar mais chamas.

Por um momento Calista pareceu estar voando, sustentada pelas asas formadas pelas labaredas atrás de si. IceFire a pegou no momento certo e as duas pousaram com suavidade. Calista tinha um sorriso vitorioso no rosto ao saltar agilmente para o chão.

— E então? — Inquiriu — O que acharam? Ainda estamos trabalhando nessa coreografia, então ...

— Está brincando?! — Bonnie exclamou, pulando de pé, incapaz de conter sua animação. — Isso. Foi. Incrível! Não foi, Serena?

— Com certeza. — Serena assentiu, impressionada. — Por que não fez uma performance aérea ontem à noite? Não teria precisado se preocupar com competição.

— Tem razão. — Calista sorriu, trocando um olhar de cumplicidade com sua pokemon. — Coreografias aéreas são nossa especialidade. Por isso mesmo as estamos guardando. São nosso ás na manga. O melhor para o final. Não é, Fire?

IceFire assentiu enfaticamente em resposta.

— Você se preocupa demais. — Bonnie protestou. — Se você é boa nisso, deveria usar, perfeita ou não.

— Pode ser. — A jovem riu, divertida pelo temperamento forte daquela menina. — Vou pensar nisso, certo?

Bonnie assentiu, muito séria, e Calista conteve outra risada. Aquela garotinha era mesmo determinada, exatamente como ela mesma quando tinha aquela idade.

Depois daquele dia uma rotina se formou, com Calista e Ash visitando Dehlia em dias alternados. Duas semanas se passaram, e não houve nenhuma alteração em seu estado.

Um dia, já no final da tarde, o grupo estava novamente no parque, se preparando para voltar ao centro pokemon, quando Clemont soltou uma exclamação de surpresa e consternação.

— Meu relógio! — O loiro exclamou. — Onde está, Bonnie?

— Não sei, irmãozão. — Bonnie respondeu inocentemente, dando de ombros. — Eu devolvi, lembra?

— Vão na frente, então. — Ele disse. — Eu vou voltar para procurar.

— Não precisa. — Calista interferiu gentilmente. — Está comigo.

— Mesmo?! —O jovem pareceu prestes a desabar de alívio. — Uau, muito obrigado!

— De nada. — Ela sorriu. — Vi o quão duro você vem trabalhando nisso. Me diga ... O holograma funciona?

Clemont arquejou de surpresa, chocado que ela tivesse decifrado tão facilmente.

— Como você sabe o que é?!

— Bem ... Parece comum, mas o tipo de cristal que você usou entrega o jogo. Boa transparência, múltiplas facetas ... — A irmã de Ash deu de ombros casualmente. — É um relógio holográfico, estou certa?

— Na verdade não. — Clemont agora estava mais confiante, seu rosto adquirindo intensidade enquanto se preparava para explicar sua mais nova invenção. — É uma pokedex holográfica. Só parece com um relógio por conveniência. Sabe, para transporte.

A morena assentiu para indicar que compreendera, sua expressão demonstrando o mais puro interesse.

— Como conseguiu? — Perguntou. — Esse projeto foi abandonado há anos por ser complexo demais.

— Não é. — Clemont riu, corando com a admiração óbvia na expressão da irmã de Ash. — Não se usar o software original como base. A maioria tentou criar um software novo do zero, e por isso não deu certo. O projeto precisa de um ponto de partida.

— Clemont, isso é ...

— Óbvio demais, eu sei. Mas tem sido um projeto interessante.

— Exato. É tão óbvio que ninguém nunca deu atenção a isso. — A morena agora soava genuinamente impressionada. — Foi uma ideia brilhante!

Bonnie olhou por sobre o ombro, rindo ante a visão de Calista e Clemont caminhando juntos, conversando com tanto entusiasmo.

— O relógio não foi coincidência. — Serena sussurrou em tom conspiratório. — Certo, Bonnie?

— Eu só quis ajudar! — A garotinha sussurrou em resposta. — Por favor, não conte pra eles!

— Está bem. — Serena assentiu com um sorriso malicioso nos lábios. — Mas, da próxima vez, você tem que deixar o Clem agir por conta própria.

— Ele nunca teria coragem, e você sabe disso.

Serena riu, sabendo que Bonnie estava certa. Enquanto isso, a conversa entre Clemont e Calista continuava. Eles conversaram até o grupo chegar ao centro pokemon, e novamente no dia seguinte.

O irmão de Serena se viu cada vez mais impressionado. Calista não apenas era bonita, mas também entendia de ciência e tecnologia, escondendo uma mente aguçada por trás daqueles olhos verdes.

E o rapaz não era o único impressionado. A irmã de Ash se pegou admirando a inteligência do loiro, se perguntando como alguém tão jovem podia ter uma mente e um instinto científico tão aguçados. Não demorou para que o interesse mútuo evoluísse em amizade.


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