Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 29
O (re) começo da estrada




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A aventura em busca de Articuno nas Ilhas Espuma do Mar acabou não dando em nada, apenas horas sem fim explorando as cavernas e jogando conversa fora.

Que mais não fosse, serviu para cimentar de vez a amizade nascente entre as duas mulheres, que se despediram com a promessa de manter contato e compartilhar quaisquer novas descobertas, fato que rendeu várias piadas de Ash e Hitoshi sobre suas irmãs terem se tornado parceiras de pesquisa. Calista, porém, estava ocupada demais para se preocupar com as criancices dos dois rapazes.

Entre reservar as passagens, comprar os eventuais itens necessários e evitar as constantes tentativas de persuasão de sua mãe, a morena estava praticamente explodindo de frustração. Por mais coisas que fizesse, sempre parecia haver algo de que tinha esquecido. E, claro, haviam os ensaios. A jovem ensaiava cerca de duas horas por dia, tomando o cuidado de não exigir demais de seu corpo. Ainda não confiava em uma melhora total de sua perna, embora todos os sinais apontassem nessa direção.

— Mãe. — A irmã de Ash protestou uma noite, enquanto ela e Dehlia estavam sozinhas lavando a louça após o jantar. — Pare de se preocupar tanto assim. Sou forte, eu posso aguentar. Sei me virar sozinha.

— Eu sei, meu bem. — Dehlia respondeu, sem se virar e sem tirar os olhos do prato que estava lavando. — Mas mesmo assim ... 

— Mãe, relaxe. — Ash interferiu, parado na porta, recostado contra a moldura. — Eu vou estar com ela, lembra? Não vou deixar a Caly se meter em nenhuma encrenca.

— Quer o privilégio só para você, maninho? Isso não é justo, sabia? Deixe eu me divertir também.

O rapaz riu e balançou a cabeça em reposta.

— Você é uma bobona, mana. — Ele declarou.

— Só um bobo reconhece outro, garoto.

Calista largou o pano de prato e se aproximou de Ash, pegando-o pelo pescoço em uma chave de braço e bagunçando-lhe os cabelos rebeldes com a mão livre. O garoto riu e deu alguns socos sem força no braço de sua irmã mais velha.

— Parem com isso, vocês dois. — Dehlia ordenou. — Chega de bobagens.

Mas nenhum dos dois levou a ordem a sério, pois ela não conseguiu esconder o sorriso que brincava em seus lábios. Calista soltou Ash momentos depois, dando-lhe um pequeno empurrão. O jovem quase caiu e em resposta virou-se e mostrou a língua para sua irmã mais velha.

— Que maduro, Ash. — A morena zombou, pegando novamente o pano de prato e recomeçando a secar a louça deixada na pia. — Cresça, garoto.

— Cresça você, mana. Não sou eu o irresponsável que está se arriscando por aqui.

— Que droga! — A performer kantoniana exclamou — Já falamos sobre isso. Eu não vou ter essa discussão com você de novo.

— Então ceda.

— Ah, não. Não dessa vez.

— Caly ...

— Chega, Ash. — Dehlia interrompeu mais uma vez. — Deixe sua irmã em paz. Discutir não vai ajudar em nada.

O rapaz cedeu e se calou, mas aquele não foi o fim da discussão. Ash e Calista continuaram a brigar, com intervalos variáveis pelas semanas seguintes.

Dehlia apoiava sua filha, é claro, o que não queria dizer que havia desistido de tentar fazer com que ela mudasse de ideia. Não por egoísmo dessa vez, mas por pura preocupação. Ela sabia o quanto os pesadelos haviam abalado sua garotinha. Muito embora Calista tentasse esconder, não conseguia mentir para sua mãe. Dehlia via o medo naqueles olhos cor de esmeralda todas as manhãs.

Três semanas depois, a véspera da viagem finalmente chegou. Era cedo, e os irmãos Ketchum subiram logo após o café da manhã para terminar de arrumar suas malas.

Na hora do almoço, quando foi chamá-la, Ash encontrou Calista parada na frente do guarda roupa com as mãos na cintura, encarando três vestidos pendurados nas portas com uma expressão de extrema concentração.

— O que foi? — O jovem provocou — Nada para vestir?

A morena pulou de susto e se virou, seu rabo de cavalo balançando com o movimento enquanto ela o olhava por sobre o ombro. Calista parecia mais viva e feliz do que Ash lembrava de vê-la desde que haviam voltado para casa, todo o seu corpo praticamente vibrando de antecipação.

— Caramba, Ash, que susto! — A morena exclamou. — E não, não é nada disso. Só estou decidindo o que usar amanhã.

O jovem se esparramou na cama de sua irmã mais velha, olhando-a com um misto de zombaria e surpresa.

— Qual é, mana, você nunca se preocupou com esse tipo de bobagem. Não vá dar uma de mulherzinha agora.

— As coisas mudaram, Ash. — Calista rebateu severamente, seu sorriso sendo substituído por pura seriedade. — Se eu quiser vencer, não basta ter talento ou habilidade. Ou mesmo ambos. É preciso ter aparência, também. Sem isso, não ganharei a coroa mesmo que seja a melhor performer.

— Isso é besteira. Se for boa o bastante, você vence. É simples assim.

— Garotos. — A jovem zombou, revirando os olhos. — Tudo é tão fácil para vocês.

— Relaxe, mana. — Ash rebateu, se pondo de pé. — Se é sobre beleza, pode apostar que você vai vencer. Quer dizer ... Fala sério! Você não era grande coisa quando adolescente, mas agora ... Uau! Está uma gata!

— Seu bobo! — Calista riu, balançando a cabeça e lhe dando um tapa no ombro com as costas da mão. — Mas obrigada. Eu precisava mesmo ouvir isso.

Sua irmã mais velha se voltou para os vestidos, pensativa novamente. Ash a observou, surpreso. A Calista de que ele se lembrava era uma garota que via além das aparências, uma rebelde que brigava pelo que queria com os próprios punhos se fosse preciso e não ligava a mínima para a opinião alheia. Era quase perturbador vê-la daquele jeito, pálida de preocupação com a mera conjectura do que as pessoas iriam pensar. Parecia uma pessoa completamente diferente.

— Você está nervosa? — Ele inquiriu finalmente, quebrando o silêncio.

— Um pouco. — A morena admitiu, virando-se novamente para olhá-lo. — Mas preciso fazer isso. Se eu não competir nas finais, vou passar o resto da vida me perguntando se teria conseguido. Acho que você entende bem como é isso.

Ash pensou por um momento, lembrando das batalhas que já travara. Podia se orgulhar de dizer que jamais desistira, mesmo quando acabavam em derrota, e assentiu em resposta à pergunta de sua irmã.

— É, eu sei. Mas ainda acho melhor você esquecer essa história dos vestidos. Ficaria muito estranho.

Seu bobão. — Calista rebateu, mostrando-lhe a língua com ar petulante. — Você obviamente não entende nada de moda.

— E nem quero, mana. Moda é para mulherzinhas.

— Deixe de ser machista, garoto!

— E você pare de agir como uma mulher.

— Mas é o que eu sou, Ash.

— Não. — O rapaz desatou a rir. — Você é uma Slowpoke velha e ranzinza.

— Seu bobo! — Calista exclamou, jogando a cabeça para trás ao soltar uma sonora gargalhada. — Mas tem razão, vou deixar isso de lado por enquanto. Preciso ir ver o professor antes de viajar.

— Vou com você. Quero perguntar uma coisa a ele.

— Aposto corrida, maninho.

— Você vai perder!

Os dois dispararam na direção da porta. Calista empurrou Ash para passar primeiro e correu para as escadas, mas ele logo a alcançou. Os dois desceram de dois em dois degraus.

Dehlia, ouvindo a confusão, gritou um "parem já com isso!" de onde estava na sala de estar, ao qual os dois irmãos reagiram caindo na gargalhada e correndo ainda mais rápido. Finalmente saíram de casa, aumentando a velocidade ao alcançar a trilha de terra que levava ao laboratório.

O professor não ficou surpreso ao vê-los. Pelo contrário, pareceu satisfeito. Daisy, que entrara pela porta dos fundos quase ao mesmo tempo em que os dois irmãos chegaram, soltou um gritinho de alegria e correu para abraçar Calista, quase a derrubando.

— Bom te ver também, Day. — A morena riu.

— Com certeza! — A jovem concordou, extasiada. — Vovô, acho que o senhor vai precisar lidar com aqueles Growlithes. Eles estão impossíveis!

— Sem problemas. — O professor respondeu. — Vou até lá assim que terminar de levar essas caixas lá para trás.

— Posso cuidar dos Growlithes, professor. — Calista sugeriu. — Bem ... Se não houver problema, é claro.

— Problema nenhum. — Foi a resposta. — Será uma ajuda imensa. Muito obrigada, Caly.

— É o mínimo que eu poderia fazer. Ash, você vem?

— Alcanço vocês depois. — O moreno respondeu. — Professor, quer ajuda com essas caixas?

— Obrigada, Ash.

— Sem problemas.

Ash pegou mais três caixas que estavam sobre uma bancada. Juntos, ele e o professor seguiram para as salas dos fundos. Enquanto isso Daisy pegou Calista pela mão e guiou-a pelos campos atrás do laboratório até a matilha de Growlithes. As duas se aproximaram sem serem vistas, parando na sombra de uma árvore.

— Aquele lá. — A neta do professor sussurrou, apontando para um Growlithe que estava sentado ligeiramente mais afastado dos outros. — É ele quem sempre começa as confusões. O problema é que aquele Growlithe é o líder da matilha.

— Tudo bem, eu já tenho um plano. — Calista também sussurrava, cuidando para não atrair a atenção dos cães pokemon. — Faça com que sua Clefairy use Isca-Viva. Aphrodite vai atingir os Growlithes com Tremor, então poderemos lidar com o líder sem a interferência da matilha.

A neta do professor Carvalho sorriu e assentiu, aprovando o plano. Ao sinal de sua amiga, Daisy saiu de trás da árvore com sua Clefairy. A pokemon usou Isca-Viva, um movimento feito para chamar a atenção de qualquer adversário. Nesse caso, fez com que Clefairy fosse envolvida em uma aura brilhante, quase como um holofote.

Com a atenção dos cães desviada, Aphrodite bateu com a cauda várias vezes no chão, causando um poderoso tremor. Por a matilha ser relativamente pequena, o movimento do tipo Solo, super efetivo contra o tipo Fogo dos Growlithes, conseguiu nocautear a todos.

O líder saltou em sua direção, rosnando furiosamente. O ataque havia sido calculado para não atingi-lo. Calista estava contando que ver seus companheiros serem atacados o deixaria furioso o bastante para que se engajasse em uma batalha.

A morena avançou com passos firmes, Aphrodite serpenteando ao seu lado. As duas encaravam o Growlithe sem vacilar. Ele rosnou novamente, mas a irmã de Ash não se deixou intimidar. 

— Fique quietinho aí, seu desordeiro. — Ela falou ligeiramente mais alto do que o habitual, tentando soar o mais ameaçadora possível. — Não se atreva a tentar nenhuma gracinha. Você não é o líder aqui.

Nem Calista nem o pokemon desviavam os olhos um do outro. O Growlithe rosnava mais alto a cada passo dado por ela, que o ignorava. Sabia que o cão acabaria cedendo cedo ou tarde. Mas o Growlithe a surpreendeu saltando para trás, disparando um poderoso Lança Chamas. Aphrodite, atenta, bloqueou o golpe com Pulso d'Água. O cão pokemon ganiu alto, assustado, e disparou em louca correria, tentando fugir.

Calista xingou em alto e bom som, furiosa, colocando Aphrodite de volta em sua pokebola e disparando atrás do fugitivo com Daisy em seus calcanhares. Num gesto rápido, quase treinado, a morena pegou uma das pokebolas presas no cinto que usava e libertou IceFire.

— Cerque aquele Growlithe pelo ar. — Comandou. — Pegue-o, se conseguir, ou o encurrale. Só não deixe que escape.

A Charizard assentiu e começou a voar em rasantes, quase rente ao chão. Subia e voltava a descer, como uma ave de rapina. As duas jovens corriam em seu encalço. Não muito depois, conseguiram encurralar o Growlithe às margens do lago.

— Ótimo trabalho! — Calista elogiou. — Obrigada, parceira. Nós assumimos daqui.

A Charizard assentiu, se postando atrás de sua treinadora ainda em posição defensiva. Foi uma sorte, porque aquele Growlithe era um lutador e tanto. Ao se ver acuado por Calista, investiu usando Mordida.

IceFire usou sua cauda para atingir o adversário e neutralizar o ataque. O cão foi lançado ao chão e rolou vários metros, conseguindo fincar as garras no solo pouco antes de ser jogado no lago. Foi quando um som familiar soou junto com a brisa. Calista reconheceu imediatamente a canção. Apito de Grama.

IceFire, esperta, enterrou a cabeça sob uma asa para evitar o ataque do tipo Grama. Calista e Daisy também foram rápidas e cobriram os ouvidos a tempo. O Growlithe, porém, não reagiu rápido o bastante, e em segundos estava em sono profundo. A morena olhou em volta para ver que pokemon as ajudara, surpresa ao encontrar os olhos cor de âmbar de uma Lilligant.

A pokemon tipo Grama soltou um gritinho de alegria ao encontrar seu olhar, correndo para abraçar a jovem. Os braços em forma de folha da Lilligant se fecharam com firmeza ao redor do pescoço de Calista enquanto a Pokemon Florescente enterrava o rosto em seu ombro, aninhando-se como jamais fosse soltá-la, dando risadinhas de puro prazer. Calista reconheceu aquele gesto imediatamente.

— Lilly! — Exclamou, soltando uma risada exultante enquanto girava a pokemon no ar. — Caramba, Lilly, não acredito que é você! Nossa, já faz tanto tempo!

A Lilligant também riu, parecendo mais do que feliz em ver sua treinadora novamente. Enquanto isso, Daisy já havia tomado o Growlithe nos braços.

— É melhor voltarmos, Caly. — A neta do professor Carvalho disse. — Acho que já fizemos exercício o bastante por um dia.

— Concordo completamente. — Calista declarou, ainda com Lilly nos braços. A Lilligant se recusava a soltá-la. — Falando nisso ... Preciso da sua ajuda. Acha que pode passar lá em casa mais tarde?

— Claro.

Tanto Ash quanto sua irmã mais velha acabaram passando mais algum tempo ajudando o professor com as tarefas do laboratório. Era algo com que estavam acostumados desde crianças, tendo praticamente crescido naquele prédio. Calista, por exemplo, desde muito jovem era uma das mais brilhantes alunas do Professor Carvalho. Em segredo, obviamente.

No final da tarde os dois irmãos Ketchum voltaram para casa acompanhados por Daisy. A morena a levou para seu quarto e apontou para os três vestidos ainda pendurados nas portas do guarda roupas.

— O que acha? — Inquiriu — Qual desses vestidos ficaria melhor em mim?

— Já está escolhendo a roupa que vai usar na sua primeira performance? Não acha que isso é pensar um pouco ... Adiante demais?

— Não. Nem comecei a pensar na performance ainda, embora você tenha razão. É melhor começar a planejar. Por enquanto, só estou tentando decidir o que usar na viagem amanhã.

Daisy pareceu surpresa, mas não fez perguntas, simplesmente analisou os três vestidos com atenção.

— Não acha meio exagerado? — A jovem criadora pokemon inquiriu por fim. — Quer dizer ... Eu nunca vi você nem mesmo considerar usar nada parecido com isso, e nos conhecemos desde sempre. É um pouco ... Estranho.

Calista mordeu o lábio. O comentário fora parecido demais com a declaração de Ash mais cedo, fez com que sentisse uma pontada estranha no peito. A morena ignorou a sensação.

— Confesso, também demorei para me habituar. Mas, acredite ou não, algumas pessoas em Kalos já me conhecem. Posso ter estado afastada por tempo demais, mas aposto que vão se lembrar de mim. A primeira impressão vai ser vital.

Daisy desviou o olhar, sua testa se franzindo. Aquela não parecia em nada com sua melhor amiga de infância, a garota livre e corajosa que conhecera, tampouco com a mulher determinada e bem humorada com quem havia convivido nos últimos meses. Parecia alguém completamente diferente, fútil e vaidosa.

— Gosto do vestido amarelo. — A neta do professor Carvalho opinou finalmente, com hesitação. — Mas ... Não acho que tentar parecer outra pessoa vai ajudar muito, Caly. Você nunca se importou com aparências. Entendo que queira vencer, mas se deixar levar desse jeito não é o caminho certo. Só vai fazer com que você se perca ainda mais.

A irmã de Ash não respondeu, atingida em cheio por aquelas palavras. Só Daisy, que a conhecia quase tão bem quanto ela própria, poderia ter lhe dito uma verdade como aquela. E o pior de tudo era o fato de ela estar certa.

A competição nem havia começado ainda, e Calista já estava se deixando levar por sua vontade de vencer. Exatamente como da primeira vez.

Seus olhos se desviaram para o caderno de desenhos sobre a cômoda, aberto em uma página que mostrava esboços de gravuras antigas. Eram esboços das imagens gravadas nas pedras dos túneis sob as Ilhas Espuma do Mar, e a morena as copiara quando visitara o local com Cynthia. Ver os esboços a fez pensar na campeã de Sinnoh e em suas palavras de despedida.

— Boa sorte em Kalos. — A campeã disse, com aquele sorriso caloroso que Calista já estava começando a adorar. — Quem sabe? Talvez eu vá assistir as finais. Seria bom ver você ganhar a coroa pessoalmente.

A jovem morena balançou a cabeça devagar, com um sorriso incrédulo brincando em seus lábios.

— E quem disse que eu vou vencer? — Desafiou.

Cynthia simplesmente riu, lançando-lhe um olhar brincalhão.

— Já vi você ensaiando, Cal. — A loira respondeu. — Pode acreditar, você tem grandes chances. Basta dar o melhor de si.

— Pode apostar que eu vou, loira. — A irmã de Ash afirmou, corando com o elogio inesperado. — E você, com qual pesquisa vai se envolver dessa vez?

— Articuno, por enquanto. Depois de hoje, estou ainda mais determinada a desvendar esse mistério.

— Imagino. Foi de tirar o fôlego, não foi?

— Com certeza. Um dos pokemon mais magníficos que já vi. — Cynthia sorriu, lançando um olhar rápido para a pokemon tipo Dragão ao seu lado, que rosnara baixinho ao ouvir a declaração de sua treinadora. — Com exceção de você, Garchomp. É claro.

Garchomp, que encarava sua treinadora com um olhar reprovador desde que a loira mencionara Articuno, relaxou e assentiu devagar, parecendo satisfeita.

— Bem ... — Calista provocou, bem humorada. — Ninguém pode dizer que você não é apaixonada pelo que faz. Boa sorte com a sua pesquisa, loira.

— Para você também, cabeça de pedra.

Conhecendo Cynthia, a irmã de Ash sabia que a loira seria mesmo capaz de ir a Kalos assistir as finais, e certamente ficaria desapontada ao ver Calista abrir mão de si mesma para conseguir a vitória.

Decidida, a morena pegou os três vestidos e os pendurou de volta dentro do guarda roupa. Daisy não fez nenhum comentário, mas o sorriso de aprovação que lhe dirigiu valeu mais do que mil palavras.

Calista foi a primeira a acordar na manhã seguinte, vestindo-se rapidamente com uma simples blusa verde-água de decote em V decorada com pedras negras e uma calça jeans. Ela calçou um par de sapatilhas pretas estilo bailarina, penteou o cabelo e prendeu as mechas rebeldes em uma grossa trança, então olhou para seu reflexo no espelho e sorriu. Agora sim estava começando da maneira certa.

— Ei, seu pirralho. — Ela chamou ao passar pela porta do quarto de Ash. — Levante, preguiçoso! E é melhor já ter deixado suas coisas prontas, babaca, eu te mato se chegarmos atrasados por sua causa!

— Caramba, Caly, relaxe! — Ash rebateu. — Já está tudo pronto, general. E não vamos nos atrasar.

— É bom mesmo. Senão ...

— Caly. — Dehlia interrompeu da base das escadas. — Deixe seu irmão em paz e venha tomar café da manhã, sua encrenqueira.

A morena obedeceu, notando o quanto sua mãe parecia ausente e preocupada naquela manhã. Calista se aproximou enquanto ela fritava os ovos e a abraçou por trás, pressionando sua bochecha contra a dela como costumava fazer quando era criança.

— Mamãe. — Disse suavemente. — Vamos ficar bem. Pare de se preocupar.

— Tenha cuidado, querida. — A matriarca dos Ketchum respondeu. — Promete? E mande notícias. Me avise assim que chegar às finais, quero ir assistir.

— Pode deixar. — Calista soltou uma risada breve. — Quer saber? Dessa vez, vou mesmo sentir saudades daqui. De casa. É bom poder dizer isso.

As duas se separaram ao ouvir os passos de Ash na escada. Os três tomaram café da manhã juntos, terminaram de arrumar o resto de suas coisas e depois os dois irmãos voaram em seus Charizard até Celadon, de onde pegaram o avião.

Pikachu se acomodou entre Calista e Ash durante o voo, dormindo a sono solto pouco tempo depois de decolarem, enquanto Mirabelle se enrodilhava no colo de sua treinadora. A morena se permitiu fechar os olhos, deixando sua mente vagar. A próxima coisa que percebeu foi Ash sacudindo seu ombro para acorda-la.

— Já chegamos?!

Interpretando corretamente aquela exclamação, Ash lhe lançou um olhar de preocupação enquanto ela aceitava a mão que ele estendia e permitia que o rapaz a ajudasse a levantar.

— Se você ainda acha que não está pronta ... — Ele lhe disse. — Podíamos ter esperado mais.

— Não, não é isso. Eu estou pronta.

Bem que ela queria que aquelas palavras fossem verdade. Pensara que sim, estivera certa disso até entrar no avião, mas não tinha mais tanta certeza.

Ash viu sua irmã erguer uma das mãos para desfazer a trança em seu cabelo. Os cachos negros cascatearam por suas costas, escondendo parte de seu rosto no processo. A outra mão procurou a sua e segurou firme. O rapaz se perguntou se ela sequer tomara consciência daquele gesto.

Desembarcaram do avião e se depararam com uma pequena multidão, a maioria garotas. Uma delas soltou um gritinho agudo ao ver Calista. Logo todas estavam gritando o nome de sua irmã, aplaudindo. Ash a ouviu respirar fundo, então ela soltou sua mão e deu um passo à frente, acenando para o grupo de fãs.

Surpreso, o rapaz a viu as garotas cercarem sua irmã. Algumas simplesmente apertavam sua mão, outras pediam autógrafos e outras, as mais extrovertidas, tiravam fotos.

Ash sabia o quanto sua irmã detestava aquele tipo de atenção. No entanto, lá estava ela, no centro de uma multidão de admiradoras. Não fora exagero quando Calista lhe contara que tinha algumas fãs em Kalos. Pelo contrário, ela minimizara muito sua própria popularidade.

Seus olhos encontraram os dela. Apesar do sorriso cativante que mantinha nos lábios, havia um pedido de ajuda em seu olhar. Ash levou um segundo, mas enfim fez o que ela queria: avançou e se postou ao seu lado, dando-lhe uma desculpa plausível para se despedir das garotas que faziam beicinho e reclamavam, desapontadas.

— Tudo bem, meninas. — A morena disse. — Vamos nos ver assim que o concurso de Rainha de Kalos começar.

— Vai mesmo competir, senhorita Ketchum?

— Com certeza! Não vejo a hora. — Calista respondeu animadamente. — E não precisa ser tão formal, pode me chamar de Calista.

— Você vai vencer esse ano, senhorita Calista. — Uma menina declarou. — Não me conformo com o fato de Aria ter continuado com a coroa no ano passado.

— Ah, não seja assim. Aria mereceu, ou não teria mantido o título.

— Que seja. — A menina exclamou, seu rosto iluminando-se em um sorriso. — Esse ano é você quem vai ganhar a coroa!

Somente Ash conhecia sua irmã mais velha bem o bastante para perceber o rubor que coloriu as bochechas dela com aquele comentário.

— Bem ... Veremos. — Ela declarou, fazendo o melhor para esconder seu constrangimento. — Estou aqui para competir. Que vença a melhor, é só o que posso dizer.

As garotas pareceram extasiadas com aquele comentário, e seguiu-se mais uma rodada de apertos de mão antes de Ash e Calista finalmente conseguirem se afastar.

Após darem alguns passos, a morena se virou e lançou um sorriso por sobre o ombro, acenando para o grupo de fãs. Ash se perguntou se foi o único a notar o quanto aquele gesto foi forçado. Sua irmã parecia uma boneca, e ele tinha a sensação de que aquilo não iria acabar nada bem. Quanta pressão uma boneca pode aguentar antes de quebrar?

~ Continua na segunda temporada ~


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