Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 25
Uma luta nas sombras




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Estava escuro demais para enxergar. Calista só teve certeza de que não havia pulado em uma espécie de limbo porque podia sentir a mão de Ash segurando a sua, os dedos do rapaz firmemente entrelaçados aos seus como quando ele ainda era um garotinho.

— Estão todos bem? — A morena inquiriu.

Sua voz foi um sussurro. Ali, naquela escuridão absoluta, até mesmo isso pareceu alto demais.

— Estamos bem. — Cynthia respondeu, e Calista percebeu que a campeã estava bem ao seu lado. — Hitoshi?

— Fora o fato de estar cego, eu estou bem. — O rapaz respondeu acidamente. — Que droga de lugar é esse?

— Não faço ideia. — A loira admitiu. — Espere aí, seu idiota. Deixe que seus olhos se ajustem primeiro. Vai mesmo sair por aí sem nem sequer conseguir enxergar? Você com certeza quer morrer!

Hitoshi respondeu apenas com um bufo de irritação, o que fez Calista revirar os olhos e lançar um sorriso na direção de onde ouvira a voz da campeã de Sinnoh. Embora não houvesse sido oficialmente dito, era óbvio que os dois eram irmãos. E a forma como a loira falava com o rapaz era mesma que a própria Calista falava com Ash.

Irmãos mais novos. A morena pensou, seus lábios se curvando em um sorriso de puro humor negro. Com certeza são as criaturas mais irritantes que já caminharam sobre a face da Terra.

O grupo se reuniu em um círculo, costas contra costas, esperando que seus olhos se ajustassem à escuridão. Mas quanto mais o tempo passava mais escuro parecia ficar. Era como se não houvesse, nem nunca fosse haver, luz alguma naquele lugar.

— Ah, que merda! — Hitoshi resmungou, e uma luz avermelhada brilhou enquanto o rapaz tirava um Charizard de sua pokebola. — Ilumine para nós, sim?

O Pokemon Chama assentiu, iluminando o local com a chama da ponta de sua cauda. A luz bruxuleante era fraca demais em comparação com a densa escuridão, mas pelo menos lhes permitia ver onde estavam. O que nenhum deles teve certeza se era de fato uma coisa boa.

O lugar parecia ser feito de camada após camada de pura escuridão, exalando uma aura sinistra que parecia cercar tudo como uma bruma invisível. A luz fraca fazia a matéria sob seus pés ficar visível, e ela ondulava como se fosse água. Era frio ali, também, um frio que parecia emanar de tudo redor. De quando em quando uma brisa parecia soprar, trazendo consigo sussurros em tons insidiosos que não podiam ser compreendidos.

Um grito de puro terror soou à distância, e mais uma vez somente os reflexos muito rápidos de Calista impediram que Jessie saísse correndo, pois a morena a segurou pelo braço com toda a força de que dispunha.

— Me solte! — A mulher de cabelos cor de rosa ordenou quase histericamente. — Vamos, Calista, me solte! Que droga! Me solte! É o James!

— Tente não ser idiota pelo menos uma vez, sua burra. — A jovem kantoniana sibilou em resposta. — Você viu o poder daquele pokemon. Você não vai durar nem um segundo contra aquela coisa.

— E daí? Ainda assim posso tentar. — Jessie tentou se libertar com um puxão, apenas para gemer de dor. Calista era forte, seus dedos enterrando-se em sua pele como as garras de um Talonflame. — Que merda, Calista, me solte!

— É por causa desse tipo de estupidez que eu sempre consegui derrotar vocês. — Ash debochou, agarrando o braço livre da mulher de cabelos cor de rosa. — Caramba, nós nem sabemos contra o que estamos lutando! Você acha mesmo que vai ...

— Darkrai.

A voz de Hitoshi mal foi um sussurro, mas fez a discussão parar de instantaneamente. Um silêncio tão denso quanto a escuridão que os cercava caiu sobre o grupo.

— Darkrai? — Cynthia repetiu, atônita. — O pokemon mítico?

— Só pode ser. — Foi a resposta. — Você conhece a lenda melhor do que qualquer um, nee-chan. O que me diz?

— "Nascido da escuridão, escondido em um mundo de trevas ... " — A campeã citou pensativamente, quase para si mesma. — Sim, acho que você tem razão.

— Então temos que ...

Sob a luz das chamas, Calista notou a expressão da loira mudar. Toda a frieza desaparecera, substituída por determinação pura. Não era a mesma determinação que a jovem vira naqueles olhos cinzentos durante sua revanche, mas algo que beirava a fúria, reluzindo com um claro desejo de vingança.

— Não. — Ela declarou simplesmente. — Isso muda tudo. Darkrai é meu. Sou eu quem vai derrotá-lo.

— Qual é, nee-chan, não seja idiota. Você mesma disse ...

Mas a loira já havia girado nos calcanhares, avançando a passos largos pela escuridão antes mesmo que seu irmão mais novo terminasse de falar.

— Cuide dessa víbora, Ash. — Calista disse. — Não deixe que ela cause problemas.

— O que você vai fazer?

— Vou atrás daquela loira idiota antes que ela acabe se matando.

Calista disparou atrás de Cynthia sem sequer parar para pensar. Assim que deixou o fraco círculo de luz produzida pelas chamas do Charizard de Hitoshi a escuridão a envolveu completamente. Breu total, como se houvesse ficado cega. Não, ainda pior. Como se tivesse sido sugada por um nada infinito, jogada aos confins mais remotos do Universo.

A morena não se deixou abalar, concentrando-se para tentar ouvir os passos da campeã. Silêncio total. Curiosa, a jovem bateu o calcanhar contra o chão. Sentiu o impacto reverberar por sua perna, mas não houve som algum.

— Droga! — Calista sibilou, ao se dar conta da idiotice que fizera. — Cynthia, onde você está, sua loira idiota?

— Estou aqui. — A voz da campeã soou à sua esquerda, muito mais próxima do que esperava, fazendo a jovem morena pular de susto. — Você é mais corajosa do que eu pensava, Calista, vindo atrás de mim desse jeito.

— Isso não tem nada a ver com coragem. — Calista praticamente rosnou em resposta. — Pelo amor de Arceus, Cynthia, sempre pensei que você fosse inteligente! Acha mesmo que tem alguma chance de derrotar Darkrai sozinha? Você nem vai conseguir encontrá-lo.

— Posso tentar. — Cynthia rebateu simplesmente. — Darkrai já foi derrotado uma vez, e aprisionado aqui. Isso prova que pode ser feito.

— É só uma lenda, Cynthia! Você nem sabe o quanto disso tudo é verdade.

— E daí? A única coisa que preciso saber é como derrotá-lo.

— Ah, não, nem pensar! — A irmã de Ash rosnou. — Se você achou sequer por um segundo que vou deixá-la lutar contra aquela coisa sozinha, então você é mesmo extremamente burra! Temos melhores chances juntas, você mesma disse isso.

Silêncio. Se na quietude absoluta Calista não pudesse ouvir a respiração da campeã ao seu lado, teria pensado que estava completamente sozinha.

— Você tem razão. — A loira concordou enfim. — Sinto muito. 

— Nunca mais me assuste desse jeito. Que droga! — Calista exclamou. — Pensei que você fosse mesmo enfrentar Darkrai sozinha.

— E por que você se importaria?

— Boa pergunta. — A morena suspirou pesadamente, balançando a cabeça para si mesma em um gesto confuso. — Ande, vamos tentar encontrar os rapazes. IceFire pode ...

Mas a campeã a deteve, pondo a mão sobre a sua antes que Calista tirasse IceFire da pokebola.

— Ela está ferida.  — A loira disse gentilmente. — Deixe isso comigo.

Cynthia tirou sua Spiritomb da pokebola e ordenou a ela que usasse Fogo Fátuo. Três esferas de fogo azul claro giraram ao redor da pokemon por alguns segundos e então foram disparadas para cima de modo a sinalizar sua localização.

— Tem certeza de que isso vai dar certo? — Calista inquiriu.

Ao longe, uma luz alaranjada surgiu, se tornando cada vez mais intensa. Em questão de segundos puderam ver Ash, Hitoshi e Jessie correndo em sua direção.

— Aí está sua resposta.  — A campeã declarou e, embora não pudesse ver seu rosto, Calista pôde jurar que ela estava sorrindo.

Nee-chan, você é uma idiota. — O irmão de Cynthia disse assim que as alcançou, encarando a loira com uma careta de escárnio.

— Cale essa boca, Hitoshi.

Pelo tom daquela resposta, as palavras pareceram ter sido ditas quase por hábito. Calista não pôde evitar rir baixo. Dawn tinha razão, ela e Cynthia eram mais parecidas do que supusera a princípio.

— Não me venha com essa. — O rapaz rebateu. — Sair por aí sozinha para enfrentar Darkrai? Que diabos você tem na cabeça?! Depois sou eu quem tem um desejo suicida.

— Calista. — A campeã disse, ignorando seu irmão completamente. — Eu sei como lidar com Darkrai. Mas vou precisar da sua ajuda.

A morena hesitou apenas por um segundo antes de assentir, concordando incondicionalmente. Afinal, Cynthia concordara com seu plano sobre o portal antes mesmo de saber do que se tratava. Calista sabia que devia a ela, no mínimo, o mesmo nível de confiança.

— O que você tem em mente, campeã?

— Mirabelle. — A loira respondeu. — O tipo Fada é uma das maiores fraquezas de um tipo Sombrio. Se combinarmos seu ataque Explosão Lunar com o Corpo a Corpo de meu Lucario, talvez possamos enfraquecer Darkrai o suficiente para derrotá-lo.

— Estou nessa. — Hitoshi declarou. — Meu Lucario sabe Aura Esférica, ele também pode ajudar.

— Não. — Cynthia respondeu — Precisamos que você e Ash o mantenham ocupado, ou ele vai simplesmente desaparecer antes que possamos atacar.

— Não se atacarmos por trás. — O rapaz rebateu. — Nee-chan, isso tem a ver com ...?

— Não, não tem. — A loira interrompeu severamente. — Estamos em desvantagem aqui, Hitoshi. Temos que atacar com força total, porque provavelmente só teremos uma chance.

Hitoshi encarou sua irmã mais velha por um longo momento, então assentiu. O grupo continuou a andar, todos tão preocupados vigiando uma possível aproximação de Darkrai que não notaram Calista ficar para trás, andando ao lado de Jessie. As duas mulheres trocaram um rápido olhar e a membra da Equipe Rocket assentiu, parecendo satisfeita. Só então Calista apressou o passo para andar ao lado de seu irmão.

— Esse lugar me dá arrepios. — O rapaz moreno comentou depois do que pareceram vários minutos caminhando em silêncio.

— Com certeza. — Calista respondeu. — É o lugar mais estranho que eu já vi.

— Fale por si mesma. — Hitoshi rebateu. — Você nunca viu o Mundo Distorcido.

— E nem você, irmãozinho. — Cynthia zombou. — Mas pode acreditar, esse lugar é tão ruim quanto.

Finalmente, depois do que pareceram horas de caminhada, as chamas do Charizard de Hitoshi iluminaram uma forma humana caída na escuridão, inconsciente.

— James! — Jessie gritou, disparando à frente do restante do grupo. — James!

— Quieta, sua idiota! — Calista sibilou, avançando rapidamente e segurando-a pelo braço para impedi-la de fazer qualquer bobagem, como tentar se aproximar de seu companheiro. — Ele está sob hipnose. Quer que Darkrai apareça e faça o mesmo com você?

A resposta foi um mero aceno negativo de cabeça. Calista a soltou e se voltou para Cynthia. A campeã assentiu, tirando seu Lucario da pokebola. Ash e Pikachu também assumiram posição, e Hitoshi escolheu um Sceptile para o combate.

Os dois rapazes assumiram a dianteira, seus pokemon atacando a escuridão à frente usando respectivamente Relâmpago e Bola de Energia. Isso fez com que Darkrai saísse de seu esconderijo, revidando com uma Explosão Focalizada. Sceptile e Pikachu combinaram Garra do Dragão e Bola Elétrica para deter o ataque, enquanto Calista e Cynthia se esgueiravam por trás do Pokemon Breu.

Mirabelle disparou à frente, atacando com Explosão Lunar, e Lucario a seguiu, pronto para saltar sobre o oponente. Darkrai, porém, foi mais rápido, desaparecendo e voltando a se materializar, completamente ileso, bem na frente das duas mulheres. Seus olhos azuis com pupilas brancas eram sua única parte visível, brilhando na escuridão.

— Calista, cuidado! À sua esquerda!

O aviso de Cynthia veio no momento certo, permitindo que a morena saltasse para o lado a tempo de evitar um Golpe Envenenado. Mas, por mais que continuassem lutando, nenhum ataque parecia ser capaz de atingir Darkrai.

Ali, naquela dimensão de trevas, o pokemon sombrio podia estar em toda parte. Ele desaparecia nas sombras, reaparecendo apenas para atacar quando menos esperavam até que os quatro treinadores se viram acuados, costas contra costas em um círculo muito estreito. Todos eles sabiam que não teriam chance alguma se as coisas continuassem daquela forma. Darkrai estava brincando com eles, torturando-os como um Persian torturaria um Rattata preso em suas garras.

Foi nessa hora que uma risada masculina soou alta, clara e cheia de malícia. A figura inconsciente caída no chão, à qual pouca atenção haviam prestado nos últimos minutos, desapareceu e James se materializou em seu lugar, completamente incólume. Jessie sorriu e avançou para se postar ao lado de seu companheiro. Calista espelhou o gesto e, para surpresa de todos, Darkrai permitiu que a jovem se aproximasse.

— Mas que merda! — Ash esbravejou. — Calista, sua traidora! Eu vou ... 

Cynthia interrompeu a ameaça do rapaz com um mero olhar, pousando uma mão em seu ombro para detê-lo. Seus olhos azul-acinzentados, porém, estavam fixos em Calista.

— Eu sinto muito. — A morena disse simplesmente, sua voz totalmente sem emoção. — Agora, Jessie. O que combinamos.

— É claro, docinho. — A mulher de cabelos cor de rosa respondeu, entregando-lhe um pedaço de papel dobrado. — Este é o endereço. Ele estará esperando.

Calista assentiu, seu coração falhando uma batida. Aquilo doía. Aquele simples pedaço de papel lhe custara uma das piores e mais difíceis decisões de sua vida.

— Jamais vou colaborar com vocês, Equipe Rocket. — Rosno, sentindo meu sangue ferver só de olhar para a cara daquela mulher. — Desistam.

— Ora, ora, Caly. — Tenho vontade de apagar aquele sorrisinho irritante do rosto de Jessie a socos. — Nem mesmo se eu lhe contar a verdade sobre o seu pai?

Isso me paralisa. Eu sei que é mentira, mas ela disse a única coisa capaz de me fazer hesitar. A única coisa que me faria lhe dar ouvidos.

— O que você sabe sobre meu pai? — Pergunto, desconfiada.

— Sei que ele está vivo. — Ela anuncia maliciosamente. — Sei que ele é um de nós ... E sei também onde seu querido papai está.

— Isso é mentira! — Protesto, minha voz se erguendo em um grito. Não posso e não quero acreditar nela. — Acha mesmo que vou acreditar em você?

— Não precisa. Seu pai me pediu para lhe dizer uma coisa, algo para provar que não estou mentindo. — Ela mais uma vez abre aquele sorriso detestável. — Ele disse ... "Os Ketchum nunca desistem, princesa."

Não consigo conter um arquejo de surpresa, minha certeza completamente destruída. Outras pessoas poderiam conhecer o lema de nossa família, mas não meu apelido. Somente meu pai me chamava assim, e nunca a não ser que estivéssemos sozinhos. Sempre foi nosso segredo, algo que somente ele poderia ter contado a ela. Jessie está falando a verdade, e saber disso me faz querer vomitar.

— Está bem. — Declaro quase sem pensar. — O que você quer que eu faça?

— Quero que distraia a campeã de Sinnoh. Enfraqueça-a para que ela caia na nossa armadilha. — Ela dá uma risadinha debochada. — Aposto que você vai gostar disso. E, em troca, lhe direi onde pode encontrar seu pai. O que me diz, Calista?

Penso por um momento. Eu sei que Cynthia é extremamente inteligente, mas tenho certeza de que ela não vai desconfiar de mim. Aquela loira nunca vê o lado ruim de nada nem ninguém até que seja tarde demais, e me sinto absolutamente desprezível por usar isso contra ela.

— Sim. — Respondo, mesmo sabendo que vou me arrepender disso. Mas é de meu pai que ela está falando. Eu preciso tentar. — Farei o que me pediu.

A voz de Cynthia chamando seu nome a tirou do transe e Calista ergueu os olhos para a campeã. Aqueles olhos acinzentados a encaravam, demandando uma resposta que a jovem não queria nem podia dar.

Explique-se. O olhar da campeã dizia claramente. Me diga que isso não é o que parece.

A irmã de Ash balançou a cabeça num movimento quase imperceptível, seus lábios se curvando em um sorriso apologético, um gesto quase tristonho.

Cynthia hesitou, sua mão esquerda ainda firme no ombro de Ash para impedir que o rapaz se engalfinhasse com sua irmã mais velha. A loira mordeu o lábio inferior, indecisa. Jamais quisera que a situação chegasse àquele ponto. Calista não era alguém contra quem quisesse batalhar. Não daquela forma, pelo menos, com as duas em lados opostos.

Calista estava pensando a mesma coisa. Não queria que a situação chegasse a um confronto. Desde que a reencontrara, a curiosidade vinha se tornando cada vez maior. Queria ter a oportunidade de batalhar lado a lado, de ver o quão longe poderiam chegar. Juntas, como verdadeiras rivais. Como deveria ter sido desde o começo.

Os olhos azul-acinzentados da campeã se desviaram dos seus, fixando-se num ponto acima de seu ombro esquerdo. Calista viu o rosto de Cynthia ficar branco como giz numa fração de segundo, sua expressão puro choque e horror.

— Lucario, Velocidade Extrema!

Calista esperava que Lucario fosse agarrá-la, impedir que lutasse ao lado da Equipe Rocket, mas ao invés disso o Pokemon Aura atacou algo às suas costas. Sem precisar olhar, a morena sabia que era Darkrai.

Esse gesto e a confiança implícita da campeã quase levaram a jovem kantoniana às lágrimas. Mesmo com todas as provas contra ela, Cynthia ainda a defendera, e foi isso que fez Calista decidir de uma vez por todas.

— Mirabelle, agora! — Ela comandou — Explosão Lunar!

A Sylveon assentiu, atacando Darkrai com todo o poder que pôde reunir, enquanto sua treinadora se punha mais uma vez ao lado de Cynthia.

— Mas o que?! — Jessie exclamou, furiosa. — Você me deu sua palavra, Calista!

— E a cumpri tanto quanto você sempre cumpriu a sua. — A jovem rebateu zombeteiramente. — Mentir para os mentirosos sempre foi meu jogo favorito.

Lucario e Mirabelle cerraram fileira enquanto Calista e Cynthia trocavam um rápido olhar. O mais breve dos sorrisos curvou os lábios da campeã, enquanto seus olhos cor de tempestade brilhavam de prazer.

— Mas de que lado você está, afinal? — Ash rosnou.

— Não temos tempo para isso. — Foi a única resposta que a morena pôde dar. — Mais tarde eu explico tudo. Prometo.

O rapaz assentiu e os quatro mais uma vez coordenaram esforços contra Darkrai. Mas era inútil. Mesmo com a vantagem de tipo de Mirabelle e Lucario, o pokemon sombrio ainda controlava a batalha, desaparecendo na escuridão e reaparecendo quando bem entendia. Os ataques dos pokemon da Equipe Rocket não facilitavam a situação, sempre fazendo com que se distraíssem da luta principal ou atrapalhando suas estratégias. 

— Não vamos conseguir. — Hitoshi declarou subitamente. — Algum outro plano brilhante, nee-chan?

— Vão. — A loira respondeu simplesmente. — Saiam daqui e tentem fechar o portal. Eu cuido de Darkrai.

— Que droga você está dizendo, campeã?! — Calista exclamou. — Você está louca se acha que vou permitir isso.

— Ser campeã não é só fama e glória, Calista. — Cynthia respondeu acidamente. — Com o título vem a responsabilidade. Agora vão!

— Não. — A morena declarou, seu tom espelhando a calma gélida que Cynthia normalmente demonstrava. — Eu lhe dei minha palavra, não dei? Faremos isso juntas.

Por um momento a campeã pareceu prestes a protestar, mas rapidamente mudou de ideia, cedendo com um mero aceno de cabeça.

— Obrigada. — Ela disse simplesmente.

— Meninos, vocês dois saiam daqui agora. — Calista ordenou. — Façam como Cynthia disse e fechem o portal.

Os dois rapazes rosnaram um "nem pensar!" exatamente ao mesmo tempo, e as mulheres trocaram um olhar, ambas prontas para uma discussão que sabiam que venceriam.

Darkrai estava prestes a lançar mais uma Explosão Focalizada em sua direção, e as duas mulheres tomaram a frente, protegendo seus irmãos mais novos com os próprios corpos.

Foi quando uma luz começou a brilhar. Pequena a princípio, como uma estrela distante, mas se tornando maior e mais intensa a cada segundo até brilhar mais do que o próprio sol e parecer explodir sobre si mesma como uma supernova, revelando um pokemon.

— Ho-Oh! — Ash exclamou, dando um passo à frente na direção do Pokemon Arco-Íris, que o saudou com um gorjeio baixinho. — Você veio nos ajudar?

O pássaro assentiu ao pousar na frente do rapaz, baixando a cabeça emplumada para cumprimentá-lo como a um velho amigo. A luz que antecedera sua aparição agora se espalhava pelo local, banindo as trevas e tornando-o completamente visível pela primeira vez.

Antes que qualquer outra coisa pudesse ser dita, parte dessa luz pareceu inflamar-se em chamas azuis que espiralaram em um ciclone, tornando-se mais e mais sólidas até formarem a figura de outro pokemon, que abriu as asas com um poderoso rugido, seus olhos azuis fixos no irmão de Cynthia.

— Re ... Reshiram?! — Hitoshi exclamou, atônito. — É você mesmo?

O Pokemon Vasto Branco assentiu e se postou na frente do irmão de Cynthia. Juntos, ele e Ho-Oh abriram suas enormes asas, formando uma parede protetora ao redor dos quatro treinadores.

Foi então que eles ouviram a canção. Um sussurro quase inaudível a princípio, que aumentou rapidamente em volume, acompanhando as rajadas de vento que haviam começado a soprar. Um vento fresco, primaveril, que carregava em si o perfume de todas as flores, em nada parecido com a brisa sinistra que dominava aquela escuridão.

As rajadas ficaram mais e mais intensas, até tomarem a proporção de um pequeno ciclone. Com uma explosão de vento poderosa que lançou Darkrai e a despreparada Equipe Rocket vários metros no ar, Meloetta apareceu.

— Angel! — Calista exclamou, abrindo um enorme sorriso. — Angel!

Todos ficaram surpresos ao ver a Meloetta disparar para os braços abertos da jovem, chilreando alegremente. Ao se acomodar no ombro esquerdo da morena, a Pokemon Melodia lançou um sorriso para cumprimentar Ash e Cynthia. Não esquecera a gentileza demonstrada por ambos na região de Unova.

Darkrai atacou com aquela estranha esfera de escuridão mais uma vez. As chamas de Ho-Oh, em um belíssimo tom rosa-dourado, se misturaram com as chamas azuis de Reshiram para formar um escudo flamejante. Uma Bola das Sombras então atingiu o Pokemon Breu direto no peito, forçando-o a recuar mais uma vez.

— Eu não acredito! — Calista ouviu Cynthia sussurrar para si mesma. — Então era verdade!

— O que era verdade? — A morena inquiriu.

A campeã pareceu surpresa por ter sido ouvida, em seguida seus lábios se curvaram em um sorriso. Apenas um sorriso mínimo, mas ainda assim cheio de malícia.

— Apenas outra lenda antiga. — Ela respondeu jocosamente.

— Temos muito o que conversar quando sairmos daqui. — Calista rebateu no mesmo tom jocoso. — Pode acreditar, campeã, não vou te deixar em paz até saber de tudo.

— Ah, eu estou contando com isso.

Reshiram e Ho-oh abriram ainda mais as asas enquanto Meloetta juntava-se a eles. A aura ao redor dos pokemon lendários pulsava, praticamente com vida própria. Juntos, aqueles três tinham poder suficiente para aniquilar o Pokemon Breu.

Mas as surpresas não pararam por aí. Ho-Oh foi o primeiro, voltando-se e curvando seu longo pescoço plumoso até que seus olhos vermelhos como brasas estivessem nivelados aos de Ash, então abriu o bico e soltou uma única nota, um som curto e agudo. Calista ouviu Cynthia, que estava parada ao seu lado, soltar uma exclamação de surpresa.

— O que foi, campeã? —  A irmã de Ash inquiriu.

— Isto é ... Eu nunca pensei que testemunharia algo parecido. — A loira respondeu, seu tom maravilhado. — Ho-Oh o está reconhecendo como parceiro, Ash.

— Parceiro? Sério?! — Ho-Oh assentiu em concordância e o jovem abriu um sorriso enorme. — Isso é demais!

Reshiram foi o próximo, nivelando seus olhos azuis aos de Hitoshi. O rapaz foi brevemente envolvido por uma chama azul que girou em espiral ao seu redor e assentiu solenemente em resposta, aceitando a nova parceria. E, por último, Meloetta.

A Pokemon Melodia pairou em pleno ar e se curvou como faziam os antigos cavaleiros: com um joelho em terra e outro dobrado na direção de seu peito, uma das mãos pendendo junto ao corpo, a mão livre descansando sobre o joelho erguido e a cabeça baixa. Calista retribuiu o gesto com uma reverência.

— É isso aí! — A jovem exclamou, vitoriosa. — Acabou para vocês, Equipe Rocket.

— Ah, não tão rápido, princesinha. —  Jessie quase rosnou. — Cresselia, agora!

— O que?! Você também foi escolhida?

Jessie sorriu ironicamente ao ser envolvida pela luz prateada que antecedeu a aparição da Pokemon Lunar.

Todo o grupo hesitou por um momento ante a beleza daquele ser. A aparência magnífica de Cresselia fazia com que ninguém quisesse atacá-la.

Foi Angel a primeira a agir, lançando uma Bola das Sombras de cada mão e atingindo a pokemon tipo Psíquico enquanto Reshiram e Ho-oh atacavam Darkrai.

Com as chamas do Pokemon Arco-Íris iluminando o local e eliminando seus possíveis esconderijos, Darkrai não teve outra opção senão enfrentá-los. Não havia mais como fugir.

Jessie ordenou que Cresselia usasse Névoa, em uma tentativa de confundir o grupo, mas a estratégia foi rapidamente inutilizada pelas asas poderosas de Reshiram e Ho-oh, que dissiparam o nevoeiro em questão de segundos, ambos rosnando desafiadoramente. Angel finalizou a ofensiva com mais uma Bola das Sombras direto no peito da oponente, fazendo com que a Pokemon Lunar caísse de vez.

Só então os três pokemon lendários puderam concentrar sua atenção total em Darkrai. Ele era poderoso, sim, mas a luz eliminava a vantagem de sua enorme velocidade, e não houve como escapar.

Ho-Oh usou Poder Ancestral. Angel aumentou o impulso das rochas lançadas pelo Pokemon Arco-Íris usando Psíquico, e Reshiram envolveu os ataques com sua Chama Azul, criando um vórtice de pura energia que envolveu Darkrai. Mas é claro que o pokemon sombrio não cairia sem revidar. Antes de desmaiar, seu último ato foi lançar outra daquelas estranhas esferas negras de bordas vermelhas. Calista foi a primeira a perceber quem era o alvo.

— Cynthia, cuidado! Atrás de você!

A morena pôde ver o exato momento em que a campeã percebeu o perigo, mas já era tarde demais. Ela jamais seria rápida o bastante para evitar ser atingida.

Calista nunca soube exatamente o que a impeliu a agir. Talvez tenha sido a forma como a loira a apoiara, confiando nela mesmo quando seu próprio irmão estava convencido de que Calista os traíra. Talvez tenha sido o arrependimento por ter agido de forma tão infantil e orgulhosa no passado.

De qualquer forma, a jovem se viu dando um salto que faria inveja a qualquer atleta, empurrando a campeã para fora do caminho e agarrando a esfera sombria com as duas mãos.

Um calor a envolveu, começando pelas palmas das mãos e se espalhando rapidamente. A esfera negra desapareceu, e Calista soube imediatamente que a mesma luz avermelhada que havia envolvido o simulacro de James quando tudo começara estava agora ao seu redor. A última coisa que ouviu foi Cynthia gritando seu nome.

A aura avermelhada evanesceu e a jovem caiu. Cynthia a amparou rapidamente antes que ela atingisse aquele chão feito de trevas. A pele da morena estava fria ao toque, de uma gelidez glacial.

— Caly?! — Ash gritou, correndo até as duas mulheres. — Caly! Que droga, mana, isso não tem graça! Abra os olhos!

— Ash, pare com isso. — Hitoshi ordenou. — Ela não vai acordar.

— Claro que vai. — O rapaz kantoniano protestou. — Qual é, Caly! Por favor. Sinto muito por ter desconfiado de você, está bem? Agora abra os olhos e pare com isso.

— Ela não pode, Ash. — Cynthia declarou. — Não depois que aquela esfera a atingiu.

— Por que? —  O garoto exigiu. — O que era aquilo, afinal?

Ele ergueu os olhos para a campeã ao terminar de falar, e ficou surpreso. Cynthia se esforçava para se manter firme, mas não conseguia esconder o quanto tremia. Era óbvio que o que Calista havia feito a abalara profundamente.

— Abismo das Sombras. — Hitoshi respondeu no lugar da irmã. — Foi isso que atingiu sua irmã. Darkrai a aprisionou.

— E como trago ela de volta?

— Eu não sei. — A loira respondeu quase num sussurro. — A única forma que conheço é a própria pessoa atingida superar os efeitos do Abismo. E não sei de ninguém que tenha sido forte o bastante para tal feito. Sinto muito, Ash.

As palavras agourentas da campeã pairaram no ar por um longo momento. Ninguém conseguia pensar em uma resposta. Na verdade, não havia mais nada a ser dito.

— Vamos sair logo daqui. — Hitoshi disse enfim. — Antes que mais alguma coisa aconteça. Reshiram, acha que dá conta disso?

O majestoso dragão branco assentiu arrogantemente enquanto Ho-Oh curvava seu longo pescoço, tocando a fronte de Calista com a ponta de seu bico.

Cynthia compreendeu e a colocou sobre o enorme pássaro. Mirabelle, que a tudo havia assistido, saltou agilmente para se juntar à sua treinadora, usando suas fitas para impedir que a jovem caísse, e Angel se empoleirou no ombro da morena, parecendo atordoada pelos acontecimentos. Ho-Oh lhe deu um leve empurrão com seu bico, num gesto de consolo.

Foi assim que o grupo deixou aquele lugar de trevas, com as chamas de Ho-Oh iluminando seu caminho até o portal por onde haviam entrado. Atravessaram-no e se viram de volta à clareira onde a revanche de Calista e Cynthia havia começado. Já era noite alta, e as estrelas brilhavam no céu, mas mesmo assim estava escuro. Não havia lua naquela noite.

Juntos, os três pokemon usaram seus ataques combinados para atingir o portal. A massa negra que o formava pareceu mudar de forma, encolhendo-se sobre si mesma mais e mais, até desaparecer. O portal estava finalmente fechado.


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