Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 21
Rivalidade e a proposta de Cynthia




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Calista parou por um segundo ao atingir a proteção das árvores, certa de que não seria encontrada ali, e recomeçou a andar momento depois, se permitindo diminuir o passo.

Sua perna doía devido ao tombo que levara na escada mas, apesar de intensa, a dor era muito mais suportável do que havia sido semanas antes. Isso fez a jovem sorrir, mesmo ainda estando com raiva. Pelo menos alguma coisa estava melhorando.

Lentamente, a morena se embrenhou entre as árvores, apreciando a solidão. Ordenara que Mirabelle voltasse para dentro. O empurrão podia ter sido um acidente, e a Sylveon com certeza se arrependera quase no mesmo instante, mas Calista ainda estava irritada com ela e não queria se arriscar a fazer algo de que pudesse se arrepender depois.

Finalmente, uma brecha entre as árvores revelou a clareira que Calista já conhecia tão bem, o que a deixou um tanto surpresa. Ela mesma supusera que sua perambulação havia sido ao acaso, apenas uma forma de fugir de casa por algum tempo, e seus pés a haviam levado até aquele lugar quase automaticamente.

Era para aquela clareira que costumava ir quando adolescente, sempre que as coisas com a mãe se complicavam. Curiosamente, ninguém nunca a encontrara ali, nem mesmo Gary ou Ash. Talvez jamais tivessem pensado em procurar tão perto.

Seguindo para a margem leste da clareira, a morena se viu aos pés de uma antiga tília. Ela se içou para o galho mais baixo, que formava uma espécie de banco natural à altura dos ombros, deslizou para bem perto do tronco e apoiou a cabeça nele, sentindo a casca áspera da árvore contra sua bochecha enquanto respirava fundo, apreciando o cheiro resinoso que permeava o ar no meio do bosque.

A irmã de Ash fechou os olhos, balançando preguiçosamente os pés no ar enquanto pensava sobre aquele dia tantos anos atrás. Havia sido em Snowpoint, um torneio organizado pela líder do ginásio, Candice. Na noite anterior ao grande evento, vários dos participantes se reuniram para treinar nas cercanias da cidade.

A própria líder de ginásio se juntara aos treinadores a certa altura, acompanhada por outra mulher. Não fora surpresa o fato de a recém chegada usar um casaco de inverno com um capuz tão grande que chegava a esconder parte de seu rosto. Estava frio demais, afinal. A surpresa foi o fato de a mulher ter ido diretamente até Calista. Ainda que parcialmente escondido sob a camuflagem de uma manta, aquele sorriso foi caloroso o bastante para aquecer até mesmo aquela noite invernal.

Você é boa. Ela dissera. O que acha de ser meu par no round de duplas?

Surpresa tanto com o elogio quanto com o convite inesperado, a morena dissera sim sem sequer pensar. Fora um treinamento difícil, a céu aberto e com temperaturas abaixo de zero, uma das situações mais exaustivas de que Calista conseguia se lembrar. Mas também havia se divertido.

Sua dupla era uma treinadora brilhante, inventiva, e as duas logo começaram uma competição muda tentando passar pelas defesas uma da outra, mal se apercebendo do clima ou da hora. Lutavam em perfeita sincronia, como uma máquina bem engrenada, e a conversa fluía livremente.

Isto é, até o verdadeiro começo do torneio no início da tarde seguinte. Calista e a mulher misteriosa, que se apresentara como Hellene, passaram pelos dois rounds duplos do torneio com extrema facilidade e enfrentaram o round semifinal individual sem problemas apenas para se verem uma contra a outra na grande final.

A princípio, pareciam batalhar em igualdade de forças. IceFire derrubara o Lucario e a Roserade da adversária, mas sua incrível Milotic dera o troco e forçara a poderosa Charizard a recuar. Calista então usara Paul, seu Electivire, que conseguira derrubar a pokemon tipo Água e derrotar também seu Glaceon. Spiritomb fora o maior desafio, mas mais uma vez Calista prevaleceu na batalha, assumindo a vantagem.

Ou pelo menos pensara que sim, pois assim que o Pokemon Proibido caiu sua oponente revelou o ás de seu time: uma Garchomp. Se houvesse qualquer dúvida quanto à sua identidade, foi totalmente eliminada quando ela baixou o capuz, revelando uma cascata de cabelos loiro-dourados que luziam como ouro puro na luz daquele dia nublado de inverno.

Depois que a pokemon tipo Dragão assumiu a batalha, a derrota foi inevitável. Mesmo ainda tendo seu time praticamente intacto, Calista foi derrotada em menos de cinco minutos com uma facilidade que só podia ser classificada como sobre humana. Somente então a jovem percebera as verdadeiras intenções da campeã, que estivera fazendo-a de boba aquele tempo todo, brincando com ela.

Humilhada, a morena ignorou quando Cynthia a chamou após a batalha e correu para o centro pokemon, esperando que a Enfermeira Joy pudesse curar seu time rapidamente para que desse o fora dali.

Infelizmente, não conseguira ser rápida o bastante para evitar cruzar mais uma vez com a campeã, que a encontrou assim que a jovem coordenadora deixou o centro pokemon. Era aquela lembrança que ainda assombrava a irmã de Ash.

Passos abafados soam na neve, e logo depois ouço-a chamar meu nome. Não quero, mas não consigo evitar e me viro quase por reflexoCynthia enfim me alcança, e noto que ela está ligeiramente sem fôlego. Por um segundo me pergunto se ela correu todo o caminho até aqui, mas logo descarto a curiosidade. Não é importante.

— O que você quer, campeã? — Pergunto, sem fazer questão de esconder minha raiva.

—  Eu ... — Cynthia hesita apenas por um breve instante, em seguida sorri. Um sorriso tão caloroso que em qualquer outro momento eu não resistiria a retribuir. — Você saiu antes que eu pudesse cumprimentá-la pela batalha. Foi excelente!

— Uma derrota não merece cumprimentos.

— Não pense assim. — Ela rebate imediatamente, sem hesitar um segundo sequer. — Você e seus pokemon lutaram muito bem, mesmo que eu tenha vencido. Não há por que se envergonhar.

— Ah, me poupe! — Eu quase grito, minha raiva finalmente explodindo. A última coisa que preciso é de sua falsa gentileza. — Não seja hipócrita, Cynthia!

Ela me encara, surpresa, seu sorriso desaparecendo. Pela sua expressão, teria dado no mesmo se eu lhe desse uma bofetada.

— Hipócrita?! — Cynthia repete baixinho. Um momento depois seus olhos parecem escurecer como nuvens de tempestade enquanto ela compreende o sentido de minhas palavras. — Não acredito que você vá ser tão infantil, Calista!

— Tudo bem, então eu sou infantil e você é uma mentirosa. — Digo zombeteiramente. — Estamos empatadas. Pelo menos nessa arena. Quer dizer, se você não encontrar uma forma de trapacear para ganhar a vantagem ... De novo.

— Do que você está falando?

—  De você, Hellene. — Me aproximo mais um passo, ouvindo o veneno pingando de minha voz. — Mas é claro que esse não é seu nome verdadeiro, é? Esteve mentindo para mim desde o começo!

— Não! — Ela protesta rapidamente, quase rápido demais. É mesmo mágoa que ouço em sua voz? Duvido. — Você entendeu tudo errado.

— Não há o que entender. — Rebato. — Sinceramente, Cynthia, não pensei que alguém com a sua reputação recorreria a um truque tão baixo.

— Calista, me escute só por um minuto. Eu posso explicar.

— Não quero ouvir mais mentiras. — Declaro, virando-lhe as costas. — Adeus, campeã.

— Espere! — Ela pede, estendendo uma das mãos para segurar meu pulso esquerdo. — Calista ...

Me solto com um puxão, sem me incomodar em me voltar para olhá-la de novo. Deixo meus atos falarem mais alto, pois não consigo pensar em nada ruim o bastante para lhe dizer.

Fria, arrogante, trapaceira e calculista. Foi assim que a jovem passou a vê-la depois daquele dia, e seu desprezo pela campeã de Sinnoh só era menor do que seu desprezo por membros da Equipe Rocket e outros criminosos do tipo. Não quisera ouvir as explicações da loira naquele dia, e nem nenhuma outra palavra vinda dela desde então.

— Ah, aquela mulher! — Calista resmungou consigo mesma. — Como eu a odeio!

A campeã, cuja presença a irmã de Ash não percebera por estar de costas, recuou um passo ao ouvir aquelas palavras. Esperava por aquilo, é claro. Não era nenhuma idiota, sabia que a morena a detestava desde aquela batalha em Snowpoint. Só não esperava que ouvir a declaração alta e clara fosse magoá-la tanto.

— Calista?

A jovem pulou de susto e olhou por sobre o ombro. Assim que a viu saltou para o chão, encarando-a furiosamente. Cynthia devolveu o gesto com toda a indiferença que pôde reunir, decidida a não discutir. Não dessa vez. Para ela já bastava.

Calista hesitou, sua raiva descarrilada por um segundo por aqueles inquietantes olhos azul-acinzentados. Tinham a cor da superfície congelada de um lago durante o inverno e não revelavam nada, nem o mais ínfimo traço de emoção, combinando perfeitamente com a expressão ilegível no rosto da loira.

— Como diabos você me encontrou, campeã? — A jovem kantoniana inquiriu enfim, num rosnado hostil.

— Ash me disse que você talvez tivesse vindo para cá. — Foi a resposta. — E eu acho que já passou da hora de nós duas termos uma conversa.

— Não temos mais nada para conversar. Eu disse tudo o que tinha a dizer em Alola. Aquela é minha palavra final. Calista rosnou, cruzando os braços em uma atitude hostil. — Depois da forma como me enganou, você devia saber disso.

 Eu lhe disse mais de uma vez, Calista, nunca foi minha intenção ... 

— E eu não acreditei em você em nenhuma delas. — A morena interrompeu. — Vamos, admita! Nos conhecemos semanas antes do torneio. Podia ter me dito quem você realmente era, mas guardou segredo até nos enfrentarmos. Mentiu. Você queria que aquilo acontecesse.

— Não da forma como aconteceu. — Cynthia confessou. — Jamais imaginei que você seria minha oponente no round final. Com tantos outros competidores, as chances eram mínimas.

— Mesmo que fossem mínimas, ainda era uma possibilidade. E você pode ser muita coisa, mas não é burra. Devia ter previsto que poderia acontecer.

— Tem razão. — A campeã admitiu. — Mas também nunca imaginei que você não soubesse quem eu era.

E era verdade. Sendo quem era, Cynthia estava acostumada a ser reconhecida onde quer que fosse. Havia sido uma agradável surpresa quando percebera que Calista não fazia a menor ideia de seu título. Uma mudança agradável até demais, a qual a campeã se viu apreciando mais do que deveria.

— Outra mentira sua. — A morena acusou, embora em um tom ligeiramente mais brando. — Você fez de propósito, para me humilhar.

— Pela última vez, Calista: essa nunca foi minha intenção. — Cynthia rebateu, esperando que a jovem não ouvisse a mágoa em sua voz. — Por que eu iria querer humilhar uma amiga, ainda mais daquela forma? Qual seria o sentido?

— Me diga você, campeã. — A morena respondeu friamente. — Também pensei que éramos amigas. Foram as suas ações que me convenceram do contrário.

— Pelo amor de Arceus, Calista, eu já lhe disse milhares de vezes ...

— E eu já lhe disse que não acredito nessa besteira!

O tom de Calista foi quase um grito, e a morena precisou respirar fundo para se conter. Não daria àquela mulher o prazer de fazê-la perder o controle novamente.

— Acredite no que quiser, Calista. — A campeã declarou friamente. — Você está errada, e se esconder atrás do seu orgulho não vai mudar nada.

— Você me fez de boba diante de todas aquelas pessoas. — A morena rebateu, sua voz agora em um tom de fúria gélida. — Me humilhou. E nada vai mudar isso. Chame de orgulho o quanto quiser, eu chamo de mentira.

Cynthia cerrou os punhos, um gesto tão sutil que Calista não teria notado se sua atenção não estivesse tão focada nela. Os sinais eram mínimos, mas estavam lá. A jovem kantoniana se permitiu um breve sorriso. Sabia o que estava fazendo, tinha certeza de que sua acusação deixaria a campeã com raiva.

— Teria feito diferença se você soubesse meu título antes daquela batalha? — A loira inquiriu enfim, sua voz ainda em um tom de gélida calma apesar de sua expressão cada vez mais sombria.

A pergunta fez a irmã de Ash ponderar por alguns instantes. Apesar de sua raiva e orgulho, também respeitava o talento da campeã de Sinnoh. Sabia que, mesmo quando comparada aos outros campeões, Cynthia era uma das melhores treinadoras do mundo. A fama do poder daquela mulher chegava a ser quase uma lenda, exatamente por isso ganhando-lhe a alcunha de Campeã Lendária.

Era preciso ser extremamente idiota para ignorar os fatos, e Calista sabia disso. Ela admitia que, mesmo que soubesse quem estava enfrentando, a batalha quase certamente teria acabado da mesma forma.

— Não é com a derrota que me importo, sua tremenda idiota! — A morena declarou amargamente, mesmo sabendo que aquilo não era totalmente verdade. — Foi a forma como você agiu. Até eu admito que você teria vencido de qualquer jeito, não precisava ter mentido só para me fazer baixar a guarda.

A campeã soltou um breve suspiro, frustrada. Falar com aquela garota era como tentar quebrar uma rocha com as mãos nuas.

— Está bem, Calista, pense o que quiser. — Cynthia declarou enfim, se rendendo com um suspiro profundo de frustração. — Mas saiba que só usei Garchomp naquela batalha para ver como você se sairia, porque pensei que tivesse potencial. Foi um teste, e você falhou, o que não me surpreende. Ninguém tão absurdamente infantil tem potencial para ser uma boa treinadora pokemon.

— Cale essa boca! — A morena rugiu, furiosa. — Não fale de mim como se me conhecesse, campeã. Você não sabe de absolutamente nada!

— Errada de novo, Calista. — Cynthia rebateu, pela primeira vez deixando uma nota mais calorosa se infiltrar em sua voz. Simpatia, sim, talvez até mesmo afeto genuíno. — Pense, sua teimosa. Por que acha que pedi que fosse minha parceira no torneio?

— Tudo parte do seu jogo. Treinar comigo lhe ajudou a ver meu estilo de batalha, não foi?

— Calista, por favor. — A loira protestou, e foi o mais próximo de uma súplica que Calista jamais a viu chegar. — Você entendeu tudo errado. Pode tentar não ser orgulhosa por um minuto e simplesmente me deixar explicar?

— Eu já disse que não quero ouvir suas mentiras. Não quis ouvir naquela época e não mudei de ideia desde então.

A campeã se recostou contra o tronco de uma árvore, de olhos fechados, respirando fundo uma única vez para se acalmar. Quando olhou para Calista novamente, sua expressão estava perfeitamente serena.

— Nunca vai me perdoar, não é? — Inquiriu.

— Depois de tudo o que aconteceu entre nós? Com certeza não.

— E se eu a desafiasse para uma revanche? — Cynthia propôs. — O que você diria?

Aquelas palavras fizeram Calista congelar, pega de surpresa. Não pelo desafio, sabia acabariam se enfrentando novamente mais cedo ou mais tarde, mas sim por ter sido Cynthia a lançá-lo. Aquela era a última coisa que esperava.

A jovem quase respondeu com uma negativa imediata, mas não conseguiu falar. Flashbacks de IceFire e Mirabelle, ainda uma Eevee na época, sendo nocauteadas em questão de meros segundos por Garchomp a fizeram cerrar os punhos.

Talvez desafiá-la para uma revanche tenha sido um erro. A loira pensou, preocupada ao ver o quanto Calista tremia. Mas não adianta. É o único jeito de fazer essa teimosa acreditar em mim.

— Eu aceito. — A irmã de Ash declarou enfim.

— Ótimo. — Cynthia se permitiu um breve sorriso. — Que tal amanhã? Não quero estragar o aniversário do seu irmão.

— Pode acreditar, seria um presente e tanto para ele. — Calista zombou, se permitindo um breve e amargo sorriso. — Mas é melhor assim. Amanhã.

— Combinado. Garchomp e eu estaremos esperando. Um contra um.

— Não. — A jovem kantoniana protestou, para espanto da loira. — Quero uma batalha de verdade. Quero enfrentar a Campeã Lendária em seu poder total.

Aquelas palavras pareceram quebrar de vez a fachada da campeã de Sinnoh, pelo menos por um momento, pois a surpresa ficou óbvia em cada linha de seu rosto. Mas a emoção foi rapidamente suprimida, de volta à máscara impenetrável de calma gélida.

Como sempre, é claro. Calista pensou com desaprovação. É com a campeã de gelo que estou lidando, afinal. Essa mulher é um iceberg. Não tem sentimentos.

— Tem certeza disso, Calista?

— Certeza absoluta. — A treinadora kantoniana respondeu, erguendo o queixo com teimosia, já prevendo uma discussão. — Seis contra seis, sem limite de tempo. Qualquer técnica ou golpe reconhecidos pela Liga de qualquer uma das seis regiões é aceitável.

— Um acerto de contas. — Cynthia declarou suavemente, balançando a cabeça em um gesto discreto de desalento. — Está bem. Se é isso que você quer, aceito seus termos.

— Não tente bancar a boazinha. — Calista ironizou. — Esse também é o seu estilo de batalha, e nós duas sabemos disso. Pode ter me enganado uma vez, campeã, mas não vou cair no seu jogo de novo.

Cynthia se conteve para não responder à altura, para não se deixar dominar pelo misto de raiva e mágoa que sentiu ao ouvir aquilo.

— É melhor voltarmos. — Ela disse simplesmente. — Os outros devem estar se perguntando onde estamos.

Em silêncio, Calista se pôs de pé. Enquanto caminhavam, a campeã de Sinnoh lutava consigo mesma, contra a vontade de pegar aquela mulher teimosa pelos ombros e sacudi-la até que a ouvisse. Estava mais do que cansada de discutir toda vez que se encontravam.

Teimosa! Cabeça dura! A loira xingava mentalmente. Cega! Idiota! Orgulhosa! Sua criança mimada ridícula!

Mas é claro que não disse nada em voz alta. Há muito anos não se permitia perder o controle daquela forma, e não o faria agora. Não se daria ao luxo de discutir. Porém, em sua mente, continuou a esbravejar com a morena, tão furiosa que se surpreendeu que a mulher caminhando ao seu lado não notasse.

Mas Cynthia estava enganada em supor que a irmã de Ash nada notava. Calista podia sentir a irritação da campeã, uma frustração que espelhava a sua própria, batendo como ondas do mar contra sua pele. Por um curto segundo, ao olhá-la de relance pelo canto dos olhos e ver a mágoa na expressão da loira, quase considerou pedir desculpas. A lembrança de tudo o que acontecera em Snowpoint, porém, a fez se conter a tempo.

Todos os outros estavam reunidos na frente da casa dos Ketchum, assistindo a uma batalha entre Ash e Iris. Calista acenou um rápido cumprimento ao passar por eles, entrou em casa e seguiu para seu quarto, fechando a porta atrás de si.

Mirabelle, que estava novamente enrodilhada em cima de sua cama, ergueu a cabeça ao ouvi-la entrar e correu para se jogar em seus braços.

— Certo, certo. — A morena disse, sentando-se na cama com a Sylveon no colo. — Eu sei que aquele empurrão foi um acidente, sua boba. Desculpas aceitas.

Mirabelle sorriu, dando-lhe uma lambida na bochecha. Calista a acariciou atrás das orelhas, fazendo a pokemon tipo Fada praticamente ronronar de prazer.

— Cynthia me desafiou para uma revanche. — A irmã de Ash contou. — Dá pra acreditar nisso, Mira? Qual é a daquela mulher, afinal?

Mirabelle deu de ombros em resposta, com um sorriso gigantesco. A pokemon sabia muito bem que Garchomp era um tipo Dragão. E derrotar pokemons tipo Dragão era o que fazia melhor desde que evoluíra. Derrotar aquela dragão em particular seria especialmente prazeroso.

— Ah, não, nem pense nisso. — A irmã de Ash disse severamente. —  Você não vai batalhar de jeito nenhum.

Indignada, Mirabelle saltou para o chão e encarou sua treinadora. Ela queria batalhar. Queria uma revanche tanto quanto Calista. Detestava aquela Garchomp com todas as suas forças, quase tanto quanto a jovem morena detestava a campeã de Sinnoh.

— Ei! — Calista protestou. — Já chega, Mirabelle! Eu tomei minha decisão e não vou mudar de ideia. Não adianta ficar zangada.

A Sylveon lhe virou as costas, quase espumando de raiva. Com um mínimo de esforço a jovem podia imaginar a fumaça saindo daquelas longas orelhas acetinadas. Não que ela própria estivesse em estado muito diferente.

— Está bem, faça do seu jeito. — A jovem kantoniana rosnou. — Fique zangada o quanto quiser, sua cabeça dura! Caramba, você é impossível!

A morena abraçou os joelhos e apoiou as costas contra a parede, deixando que as lágrimas de frustração que contivera na presença de Cynthia finalmente corressem por seu rosto.

Lá de baixo, ouviu um grito de empolgação de Bonnie, torcendo por Ash, seguido por um rugido gutural muitíssimo familiar. A morena pulou de pé, seu instinto tomando conta. Tudo bem que Cynthia houvesse mentido e a humilhado em Snowpoint, mas não faria o mesmo com Ash. Ninguém mexia com seu irmãozinho, nem mesmo aquela loira. Principalmente ela. Calista não permitiria.

Através dos anos atuando como performer, sempre usando uma máscara no palco, a jovem kantoniana aprendera a controlar seu temperamento explosivo. Podia ser teimosa, mas não era nem de longe a garota brigona que havia sido quando adolescente. Mas seu irmão mais novo era seu ponto fraco, desde que eram crianças. Calista sempre fora super protetora em relação a Ash, talvez até mais do que Dehlia.

Fumegando de raiva, a morena praticamente correu para o jardim da frente. Como havia suposto, Cynthia aceitara o desafio de Ash.

Claro que sim. A jovem pensou. Até parece que ela perderia uma chance de se exibir.

Calista tirou IceFire de sua pokebola em um gesto rápido. De tão hipnotizados pela batalha que se desenrolava, ninguém nem ao menos notou.  Ao comando de sua treinadora, a Charizard voou alto e usou Ás dos Ares para interromper a batalha, aterrissando no meio dos dois oponentes e abrindo bem as enormes asas, impossibilitando que continuassem.

Ash imediatamente se voltou para sua irmã mais velha, lívido de raiva. Ela, porém, nem lhe prestou atenção. Encarava Cynthia com firmeza, e a expressão em seus olhos verdes teria intimidado até mesmo o pokemon mais selvagem. A campeã a encarou de volta, impassível.

— Que merda, Caly! — O rapaz berrou a plenos pulmões. — Sua louca!

A morena cruzou os braços, sem se intimidar, desviando os olhos dos da campeã para encarar seu irmão mais novo.

— Eu te fiz um favor, seu pirralho idiota. — Ela rebateu acidamente. — Você não faz ideia de onde estava se metendo.

— A idiota aqui é você. — Ash protestou, avançando para ficar frente a frente com sua irmã mais velha. — Não sei o que aconteceu entre você e Cynthia, mas isso já é demais. Você está agindo como uma pirralha mimada.

— Ash Ketchum, olhe como fala! Ainda sou sua irmã mais velha, está lembrado?

— Então aja como tal, droga!

— Você não tem ideia do que Cynthia é capaz, sabia? Ela é uma ...

— Não se atreva a completar essa frase, Caly. — Ash rosnou. — Cynthia é minha amiga, e ponto final. Não sei como essa briga entre vocês começou, mas aposto que foi culpa sua. E já está na hora de você parar com isso!

— Escute aqui, Ash ...

— Não, você me escute. Já chega! Será que não você pode agir como um ser humano normal, pelo menos uma vez? Qual é o seu problema com a Cynthia, afinal?

Calista congelou, a resposta presa em seus lábios enquanto percebia que tinha entrado em um beco sem saída. Não podia justificar suas acusações a não ser que contasse tudo o que acontecera entre ela e a campeã, algo que preferiria morrer a ter de fazer.

— Ash, já chega. — Cynthia interferiu, para surpresa de Calista. — Agradeço por ficar do meu lado, mas isso é entre nós duas. Não precisa se envolver, e muito menos brigar com sua irmã por causa disso.

O rapaz hesitou, mas assentiu. Calista ia rebater as palavras da loira, inquirir o motivo de seu silêncio, mas uma mão agarrou seu pulso esquerdo com firmeza.

— Já chega. — Dehlia ordenou baixinho, para que somente sua filha mais velha a ouvisse. — Você vem comigo agora mesmo, mocinha.

A jovem se surpreendeu. Havia quase esquecido o quanto sua mãe era forte, apesar do físico delicado. Alta e atlética, Calista sabia que podia se livrar da mão de Dehlia, mas não o fez.

— O que foi tudo isso? — A morena ouviu Ash perguntar, enquanto permitia que Dehlia a levasse de volta para dentro de casa. — Sério, Cynthia, qual é o problema dela com você?

— Eu já disse, Ash: vai ter que perguntar a ela. — A campeã respondeu, seu tom novamente sereno. — Sua irmã vai lhe contar se achar necessário.

Calista foi mais uma vez pega de surpresa. Esperava que Cynthia contasse a história toda, apenas para vê-la ainda mais humilhada. Mas não. Pelo contrário, ela e a Ash retomaram a batalha, o que fez o rapaz deixar a curiosidade de lado em um instante. Até mesmo IceFire se acomodou para assistir, encarando Garchomp com um respeito ressentido.

— Aquilo foi além de todos os limites. — Dehlia sibilou enquanto ela e Calista subiam as escadas para o segundo andar. — O que deu em você, Calista?

— Mãe, eu ... — A voz da jovem saiu trêmula de raiva. — Aquela mulher é ... Ela é ... Um ser humano absolutamente desprezível. A pessoa que eu mais odeio no mundo!

— Já chega. — Sua mãe a interrompeu com firmeza. — Ash tem razão, você está sendo irracional. Está humilhando a si mesma sem nem perceber.

A essa altura as duas estavam no quarto de Dehlia, a portas fechadas, sentadas frente a frente na cama. Calista não conseguiu responder, simplesmente desabou nos braços de sua mãe, exausta. A mulher mais velha a abraçou por vários minutos, até a morena enfim se afastar.

— Eu estou bem, mamãe. — A jovem garantiu, esboçando um pequeno sorriso. — Vou tentar me controlar. Eu prometo.

— Boa decisão. — Dehlia lhe sorriu afetuosamente, prendendo-lhe um cacho negro rebelde atrás da orelha. — E tente se acalmar, meu bem. Essa raiva só faz mal a você mesma.

As duas desceram juntas e Calista decidiu se aninhar para ler no sofá da sala de estar. Sua mente, porém, corria a milhões de quilômetros por hora, e a morena logo desistiu de tentar se concentrar na história. Ao invés disso encostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos, respirando profunda e lentamente. Era um truque que Fantina lhe ensinara, bloquear o mundo ao redor para eliminar as emoções, pondo-as sob controle.

O toque de uma mão em seu ombro a fez pular de susto, sentando-se ereta. Constrangida, notou que havia cochilado sem perceber. Felizmente a luz que entrava pela janela indicava que não dormira por muito tempo. Meia hora, no máximo. Seus olhos verdes então seguiram a mão delicada, encontrando os olhos azuis de Dawn.

— Você está bem? — A jovem perguntou, sentando-se ao seu lado.

— Estou sim. — Calista garantiu, se esforçando para soar jovial. — Não se preocupe, Dawn, é só cansaço.

— Não, não é. Isso é sobre Cynthia, certo? — A jovem treinadora de Sinnoh inquiriu, olhando-a com preocupação. — Vocês duas já batalharam, e não acabou bem.

— Então ela acabou contando. — A irmã mais velha de Ash suspirou, exasperada. — Eu sabia que aquela loira idiota não ia perder a oportunidade.

— Ela não me disse nada. — Dawn protestou com veemência. — Se quer saber, o Ash deve ter perguntado sobre isso uma dezena de vezes depois da batalha, mas Cynthia continuou dizendo a ele que você mesma contaria se achasse necessário.

Isso fez Calista hesitar, lembrando-se de mais uma coisa que acontecera antes que partisse de Snowpoint. Não havia se voltado nem mesmo mais uma única vez para a campeã, mas havia sim dito uma última coisa.

Se você realmente sente muito ... O que aposto que não é verdade ... Me faça um favor e esqueça que tudo isso um dia aconteceu. Esqueça que sequer nos conhecemos.

Haviam sido aquelas as últimas palavras que dissera à campeã antes de deixar Sinnoh, poucos dias depois. A loira claramente não havia esquecido, assim como a própria Calista não conseguira esquecer, mas a jovem ficou surpresa ao ver que, apesar de tudo, Cynthia estava honrando aquele seu pedido.

— Se ela não lhe disse nada ... — A morena disse, desconfiada. — Então como você sabe?

— Porque conheço Cynthia há algum tempo. Vi o jeito como ela olha para você. E depois ... Bom ...

A menina se interrompeu, dando de ombros delicadamente, com um sorriso brincalhão se insinuando em seus lábios.

— 'Tá, já entendi. — Calista se permitiu uma risadinha. — Ser sutil nunca foi exatamente o meu forte.

— Tudo bem. Não se preocupe, eu não vou perguntar nada. — Dawn garantiu. — Só vim saber se você estava bem. E ... As meninas e eu vamos sair mais tarde, fazer uma noite das garotas. Você quer vir com a gente?

A irmã de Ash estava prestes a recusar, mas pensou melhor. Precisava mesmo se distrair, então abriu seu melhor sorriso e concordou.

A "noite das garotas" incluía cerveja, doces, muitos pacotes de marshmallow, uma fogueira, música e batalhas pokemon, em uma clareira a leste da cidade, grande o bastante para lhes dar o espaço necessário. Tudo ideia de Misty. Como a ruiva conseguira organizar aquilo tão rápido era um mistério.

— Ei, Caly. — A líder do ginásio de Cerulean chamou, acenando para sua amiga. — Deixe de ser ranzinza e venha dançar.

Calista, sentada no tronco caído de um enorme carvalho, apenas negou com a cabeça. Mesmo que sua perna permitisse, não sentia vontade nenhuma de dançar. A jovem simplesmente ficou sentada encarando as chamas, ainda zangada. Ao lhe falar sobre a noite das garotas, Dawn convenientemente esquecera de mencionar que havia convidado Cynthia.

— Você devia falar com ela e esclarecer as coisas. — A jovem Coordenadora Pokemon disse, sentando-se ao lado da morena. — É sério, Caly. Conheço Cynthia há quase cinco anos, e ela não é uma pessoa tão horrível quanto você pensa. Exceto quando está irritada. Aí a história é completamente diferente.

— Conta outra, Dawn. — Calista revirou os olhos. — Não caio nessa.

— É serio. — Dawn rebateu. — Cynthia consegue ser mais assustadora do que a Garchomp, e isso não é pouca coisa.

— E você saberia disso muito bem, não é, Dawn?

A voz de Cynthia fez Calista pular de susto. Dawn, porém, apenas abriu um sorriso maroto.

— Ah, sim, bem melhor do que eu gostaria.

A campeã riu, sentando-se ao lado de sua aprendiz. Calista rapidamente se pôs de pé, oferecendo-se como juíza para pequena disputa de dança entre May e Serena. Dawn revirou os olhos ante a óbvia fuga.

— É oficial. — A menina declarou. — Finalmente encontramos uma pessoa mais teimosa do que o Ash.

— Isso é fato. — Cynthia respondeu simplesmente. — Mas não a culpo. Calista tem motivos para ter raiva de mim.

— E, pelo que vi, você teria motivos para ter raiva dela. Mas você não tem, certo?

— Honestamente? Não. — A campeã admitiu. — Embora isso talvez tornasse as coisas mais fáceis.

— Só que não combinaria com você. — Dawn rebateu, fazendo sua mentora abrir um meio sorriso.

A pequena reunião terminou cedo, e as garotas retornaram para a casa dos Ketchum. Ash e Brock haviam decidido acampar no quintal dos fundos, sob o grande carvalho, para relembrar os velhos tempos. Misty se uniu a eles, assim como Iris, Max e Bonnie.

No momento em que Calista se aproximou do grupo, percebeu que seu irmão mais novo contava uma história de terror, uma lenda bem conhecida na região de Kanto sobre a alma atormentada de uma mulher que ainda esperava por seu amado no topo de um alto penhasco, transformada em uma estátua de mármore.

— Ah, por favor, Ash. — A morena zombou. — Essa historinha açucarada não assusta nem um bebezinho.

— É mesmo? — O rapaz rebateu. — Faz melhor, mana.

— Ok, então. — Calista abriu um sorriso feito de pura malícia e más intenções. — Todos conhecem o Pokemon Proibido, Spiritomb, certo?

O grupo inteiro assentiu.

— Muito bem. — A morena continuou. — Mas o que ninguém sabe é como esse pokemon veio a ser o que é.

A irmã de Ash encontrou o olhar de Cynthia, que tinha um sorriso maroto nos lábios. Já havia percebido onde a irmã de Ash queria chegar e, quando a jovem terminou a macabra história sobre traição, assassinato e maldições, a campeã discretamente libertou sua própria Spiritomb da pokebola. A pokemon saltou no meio do grupo com um berro de gelar o sangue, fazendo todos gritarem de susto. Todos exceto Cynthia e Calista, que estavam ocupadas demais rindo.

Depois disso tudo virou uma competição de sustos e histórias de terror.  Como se por obra do destino, as duas rivais de algum modo acabaram sentadas lado a lado a certa altura. Nenhuma das duas se importou. Calista, na verdade, se viu prestando atenção em cada ato e palavra da loira, surpresa com o quanto ela podia ser simpática, até divertida, quando queria. Não se parecia em nada com a mulher fria e arrogante que a morena imaginava que ela era.

— Boa noite, Calista. — A campeã disse depois de algum tempo, após se despedir do restante do grupo. — Nos vemos amanhã.

— Até amanhã. — A morena respondeu. — E é melhor não pegar leve comigo na batalha, entendeu?

As palavras pareceram agradar Cynthia, que assentiu.

— Entendido. Mas não espere vencer.

Para espanto de Ash, que observava as duas atentamente, Calista não ficou zangada com aquelas palavras. Ao invés disso, estendeu uma das mãos. Pega de surpresa, Cynthia levou um segundo para aceitar o aperto de mãos da morena.

Dawn, que viera a Kanto com a loira, também disse boa noite a todos. Calista, May, Serena e Bonnie foram para o quarto da morena e se prepararam para dormir. Dehlia havia deixado tudo pronto, no melhor estilo festa do pijama. As quatro se acomodaram, conversando em voz baixa por algum tempo.

Logo as outras estavam dormindo. Calista, porém, continuou acordada. Sua mente corria em disparada, antecipando a batalha do dia seguinte. Surpresa, se viu ansiando por ela ao invés de temer o desafio. E outro sentimento tornava difícil conciliar o sono, um que jamais imaginara sentir em relação a Cynthia: dúvida.

Seu desprezo pela campeã era claro como dia, uma certeza que a jovem kantoniana não imaginara ver abalada. Mas Cynthia não precisava ter mantido em segredo o que acontecera em Snowpoint, e não precisava tê-la desafiado para aquela revanche. Além do mais, Ash e o restante do grupo praticamente gravitaram em torno da loira, que em momento algum fora nada além de gentil com todos eles, uma simpatia genuína que ou jamais fora demonstrada antes ou Calista escolhera ignorar. Aquilo a estava fazendo questionar suas opiniões, e ela sabia que nem se quisesse conseguiria pegar no sono.

A morena se levantou devagar, tomando cuidado para não acordar as outras, e foi até a janela. Seu quarto dava vista para o jardim dos fundos, onde podia ver o restante do grupo acampado. Não entendia por que tinham escolhido aquilo, mas Ash parecera animado com a ideia, então ela nem questionara.

Todos pareciam estar dormindo, até que Calista notou duas figuras um pouco mais afastadas dos demais, empoleiradas nos galhos mais baixos da árvore grande abaixo de sua janela. A jovem reconheceu a silhueta de seu irmão imediatamente, e a de Misty após poucos segundos, meras sombras com o rosto erguido para o céu noturno.

Calista apoiou a cabeça no vidro e também observou as estrelas, deixando-se distrair pelo cintilar dos astros. Algum tempo depois, ao baixar os olhos novamente, pulou de susto: Misty se inclinara para mais perto de Ash, inequivocamente aninhada contra ele.

A morena ficou tão absorta observando-os que a aproximação de outra pessoa quase a fez gritar de susto. Era Serena, seus olhos ainda enevoados e as pálpebras pesadas de sono.

— O que está fazendo? — A jovem loira perguntou. — Precisa dormir um pouco, Caly. Você tem que descansar.

— Quieta. — Calista sussurrou em resposta. — Venha aqui e dê uma olhada nisso.

Serena se voltou para a janela, qualquer vestígio de sono sendo imediatamente varrido de sua expressão quando viu Misty se inclinar para ainda mais perto de Ash e beijá-lo.

Ao ver que o rapaz não se afastou, a jovem performer kalosiana soltou um soluço baixo. Calista passou um braço por seus ombros em um gesto de conforto, vendo as lágrimas se acumularem naqueles olhos azuis.

— Você precisa agir. — A morena declarou. — Tem que dizer a ele como se sente.

— Eu ... Eu não posso. Se é ela quem o Ash quer ...

— Serena ... — Calista disse gentilmente. — O Ash é um bobalhão, garanto que nem desconfia que você gosta dele. E vai continuar assim, se você não disser nada. Misty sabe bem o que está fazendo, ela sabia que meu irmão jamais daria o primeiro passo. Quando se trata de romance, Ash é o cara mais cego do mundo.

— Mas ele não se afastou. — Serena protestou. — O Ash a beijou.

— Claro que sim, ele é um garoto. — A mulher mais velha rebateu. — Serena ... Só entre nós: eu tenho certeza de que ele está apaixonado por você. Ash pode ser burro demais para perceber isso, mas conheço o meu irmão. A situação agora depende só de você, loirinha. Garanto que não vai ouvir uma recusa, caso se declare para ele.

Serena não respondeu, simplesmente escondeu o rosto no ombro da amiga. Calista a abraçou, esperando fervorosamente que suas palavras houvessem sido de alguma ajuda.


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