Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 19
Mirabelle vs Umbreon - Batalha de Casais




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Calista brincava distraidamente com o chaveiro de contas em forma de flor, presente que recebera de Lillie no dia em que visitara o Paraíso Aether, seus lábios se curvando em um sorriso ante a lembrança.

Definitivamente fora uma tarde interessante, considerando que a própria Lusamine encontrara tempo para ser sua guia durante o tour oficial. Entre a presidente e sua filha, a irmã de Ash aprendera muito mais do que esperara. Mas a melhor parte havia sido depois da visita, quando Calista e Gary voltaram à praia perto de Hau'Oli. O casal decidiu aproveitar o final de tarde e ficar por lá para ver o pôr do sol, apenas para encontrarem o famigerado Tentacruel mais uma vez.

Gary e Umbreon o enfrentaram novamente, mas o rapaz acabou sendo agarrado por um daqueles tentáculos e arrastado para o mar. Calista e Arya perseguiram a água viva pokemon até conseguirem resgatar o garoto e afugentar o pokemon venenoso, mas a morena ainda ria alto ao se lembrar de seu namorado encharcado até os ossos, grunhindo de fúria contra o "pokemon maligno desgraçado".

Foi pouco depois disso que o jovem pesquisador anunciou sua nova teoria: o Tentacruel estava ali porque era um valentão desgraçado e gostava de comprar briga, simples assim. Só de brincadeira, para zombar ainda mais de seu namorado, Calista respondera jurando em voz alta, com toda a dramaticidade possível, que iria capturar aquele pokemon. Infelizmente, não conseguiram mais encontrá-lo no dias que se sucederam.

Rindo baixinho consigo mesma ao se lembrar daquilo, a morena girou o chaveiro entre os dedos, distraidamente recostando a cabeça no ombro do rapaz ao seu lado.

— Posso saber o que é tão engraçado, Caly? — O neto do professor Carvalho inquiriu jocosamente.

— Nada. — O riso baixo se tornou uma gargalhada enquanto ela endireitava a postura para olhá-lo. — Eu só estava pensando em como o Kraken pegou você de surpresa e te arrastou para o mar. Foi hilário.

— Ah, claro. — Gary resmungou ironicamente. — Aquele pokemon maligno! Ainda não acredito que você deu nome àquela coisa. Você devia mesmo tê-lo capturado, teria combinado perfeitamente.

A jovem riu de novo, claramente de ótimo humor.

— Não acredito que volto para casa hoje. — Ela comentou — Essas duas semanas passaram tão rápido!

— Bem ... — Gary endireitou a postura, um de seus braços envolvendo a cintura da mulher ao seu lado, puxando-a para mais perto de si. Ela se aninhou de boa vontade contra ele. — Podemos dar um jeito de você ficar mais um pouco, se quiser. Sabe que eu não me importaria.

— Mas eu me importaria. — Foi a resposta. — Tem muita coisa que deixei de lado e, por melhor que tenham sido essas duas semanas aqui em Alola, não posso ficar escondida com você para sempre.

— Não estamos exatamente escondidos.

— Mesmo assim, parece que estou me escondendo. — Calista insistiu — Minha mãe, a competição em Kalos ... Ficar aqui parece um adiamento, uma fuga de tudo isso.

— E que tal fugir só por mais uma semana?

— Bobo. — A morena rebateu carinhosamente. — Sabe muito bem que preciso voltar.

— Eu sei, só queria ter certeza de que você ainda está determinada.

— Com certeza estou. — Ela garantiu, plantando-lhe um beijo na bochecha. — Pare de se preocupar, amor, eu vou ficar bem. Além do mais, sou a mais velha aqui. Eu deveria estar preocupada com você, e não o contrário.

— Somos um casal, Caly, isso não vale mais. — Gary a lembrou. — Além do mais, você talvez seja a mais velha, mas eu sou claramente o mais inteligente aqui.

— Talvez. — Ela cedeu em tom brincalhão. — Mas ainda tenho esperança. O Kraken pode voltar e pegar você.

Os olhos de Gary se arregalaram enquanto cada músculo de seu corpo ficava tenso, em alarme. Ele talvez não admitisse, mas Calista sabia que o Tentacruel lhe havia dado um belo susto.

— Quer parar com isso?!

O tom petulante dele a fez rir enquanto se punha de pé, usando o elástico em seu pulso para prender os cabelos em um rabo de cavalo bagunçado.

— Bem ... — Ela declarou. — É meu último dia em Alola. Preciso decidir que presente levar para o Ash.

— Fácil. — Gary declarou. — Por que não captura o Kraken para ele?

A sugestão fez Calista cair na gargalhada. No final, a jovem deixou Kyle, Umbreon e Gary assistindo um filme de ação enquanto ia terminar suas compras com a recém capturada Salazzle, a quem dera o nome de Elizabeth. As duas caminharam preguiçosamente, olhando as vitrines das lojas enquanto a morena se perguntava o que comprar para seu irmão e acabava por desistir, decidindo apenas passear por algum tempo.

— Calista!

A voz familiar a surpreendeu. Virando-se, a jovem viu Lillie sair correndo de uma pequena loja de brinquedos.

— Lillie! — Calista sorriu enquanto a menina se jogava em seus braços com entusiasmo. — Oi, loirinha.

— Lillie! — Uma segunda voz, ainda mais familiar, exclamou. — Caramba, garota! Eu viro as costas por um segundo e você some?

O sorriso da menina se desfez, substituído por um biquinho amuado enquanto ela se virava para a mulher que falara.

— Me desculpe, titia.

— Tem sorte por eu não ser como a sua mãe, sabia? — Cynthia declarou, embora sua repreensão tenha sido suavizada por um sorriso. — Ou você estaria muito encrencada, mocinha.

A irmã de Ash ficou surpresa ao ver a campeã de Sinnoh provocar Lillie tão casualmente, e não conseguiu conter uma risadinha ante a expressão amuada da menina.

Os olhos cinzentos de Cynthia encontraram os seus e o sorriso da loira se tornou hesitante. Calista se perguntou o quanto o gesto era genuíno, o quanto era simples fachada.

— Na verdade ... — A morena disse jocosamente. — Aposto que seria mais fácil lidar com Lusamine. Eu preferiria.

— É claro que sim. — Foi a resposta irônica. — Oi, Calista.

— Olá, campeã. Admito que eu não esperava te ver de novo.

— Pois eu tinha certeza de que acabaríamos nos encontrando. — Cynthia declarou casualmente. — Sempre acontece, mesmo quando tentamos evitar.

— O que, no meu caso, seria literalmente sempre.

A loira não respondeu de imediato, mas a forma como seus lábios se curvaram em um sorriso ante a provocação entregou o jogo. Longe de ofendê-la, a hostilidade velada da jovem kantoniana a divertia.

— Você é impossível. — A campeã disse simplesmente. — E vejo que capturou uma Salazzle, afinal. Como conseguiu?

— IceFire. — Foi a resposta, acompanhada por um dar de ombros indiferente. — Minha garota a impressionou tanto que Lizzy decidiu vir conosco.

— Sua sorte é inacreditável. — Cynthia declarou jocosamente. — É claro que você tinha que não só conseguir a pokemon que queria, mas uma shiny.

— Shiny?! — Calista repetiu, surpresa. — Lizzy é shiny?!

— Nem tente me dizer que não notou isso.

— Não banque a sabe tudo, campeã. — A irmã de Ash rebateu quase num rosnado. — Claro que reparei que Lizzy era diferente. Eu só não sabia exatamente o porquê.

— Saberia, se prestasse mais atenção à sua Pokedex.

— Quer descobrir o quanto eu sei em uma batalha?

Para sua surpresa, a campeã de Sinnoh imediatamente se animou com o desafio, exibindo um sorriso mais largo do que Calista a vira dar até então.

— Pensei que você nunca fosse me fazer essa pergunta. — Ela disse maliciosamente, seus olhos cinzentos brilhando de animação na antecipação da batalha.

— Tia Cynthia! — Lillie protestou. — Pensei que fôssemos tomar sorvete.

A campeã hesitou por um breve momento, sem desviar os olhos dos de Calista, então se voltou e assentiu para a garotinha loira.

— Tem razão, Lillie. — Ela disse. — E sua mãe já deve estar nos esperando.

— Por que não vem com a gente, Caly? — A menina convidou. — Você gosta de sorvete, não gosta?

— Adoro. — A morena respondeu. — Mas não sei se seria uma boa ideia.

— Não vejo por que não. — Cynthia interferiu.

— Bem ... Nesse caso, será um prazer.

As três se puseram a caminhar, com Lillie indo um pouco à frente. Calista e Cynthia andavam lado a lado, em silêncio.

— Eu ... Na verdade queria falar com você. — A morena confessou baixinho. — Agradecer pelo que você fez na praia.

— Não foi nada. — Cynthia respondeu. — Qualquer um teria feito o mesmo.

— Duvido muito. — A irmã de Ash admitiu. — Não pense que isso apaga o que você fez em Snowpoint, mas ... Obrigada mesmo assim.

Calista recebeu um mero meneio de cabeça em resposta. A campeã não parecia nem um pouco disposta a falar sobre aquilo. Discutir o passado definitivamente era algo que preferiria evitar.

— Calista ... — Ela disse enfim. — Já fazem cinco anos. Não podemos simplesmente esquecer tudo o que aconteceu?

— Eu nunca vou esquecer. — A morena rebateu em voz baixa, sua frágil fachada de indiferença se derretendo em hostilidade mal disfarçada. — E não pense que ter me salvado vai mudar alguma coisa, campeã. Foi você quem destruiu qualquer chance de uma amizade entre nós, cinco anos atrás.

— Calista, eu não ...

— Não importa mais. — Calista interrompeu. — Quanto menos falarmos sobre isso, melhor. Nunca aconteceu, está bem?

E, dizendo isso, a jovem apressou o passo para caminhar ao lado de Lillie. Logo encontraram Lusamine, que cumprimentou a morena com um sorriso, elogiando-a simpaticamente pela captura de sua nova pokemon, o que fez a jovem performer corar. A Salazzle chicoteou sua cauda branca e rosa no ar, erguendo o queixo e abrindo um sorriso reptiliano de satisfação para a presidente da Fundação Aether.

— Bem ... — A morena disse, voltando a se juntar ao grupo com um cone de sorvete em cada mão. — Detesto ser rude, mas Lizzy e eu precisamos ir. Ainda preciso terminar minhas compras.

— Awn, Caly! — Lillie protestou, desapontada. — Não pode ficar só mais um pouco?

— Não posso, Lillie. Meu voo sai hoje à noite, preciso me apressar.

— Nesse caso ... — Lusamine disse. — Boa viagem, Calista. E, se voltar a Alola, venha nos visitar. Você será muitíssimo bem vinda.

— Pode deixar. — A morena sorriu enquanto Lillie jogava os braços ao seu redor em um abraço de despedida. — Será um prazer. E você se cuide, Lillie.

— Certo. — A menina assentiu. — Boa viagem, Caly.

— Obrigada. — O sorriso de Calista se tornou vários graus mais frio enquanto ela se voltava para Cynthia. — Nos vemos por aí, campeã.

— Talvez mais cedo do que esperamos. — A campeã de Sinnoh concordou.

— Espero que não.

Essas palavras finais foram ditas em voz baixa, para que somente Cynthia as ouvisse e então Calista se afastou com sua Salazzle. Enquanto andava, ouviu Lusamine rir.

— Ora, ora, essa é novidade. — A presidente da Fundação Aether provocou. — Essa garota deve mesmo ser especial para ter chamado sua atenção, prima.

— Sim. — Cynthia respondeu sem hesitar. — Ela é. Só não acho que ela tenha percebido isso ainda.

Prima. A jovem pensou sem surpresa alguma. É claro. Isso explica tudo.

Calista não ficou surpresa ao ouvir a confirmação do parentesco entre Cynthia e Lusamine. A semelhança entre as duas deixara isso claro desde o começo. Não, a surpresa da jovem morena viera das palavras da campeã, do conhecimento de que ela a considerava especial.

É claro, Cynthia era inteligente como o próprio diabo. Podia muito bem ter percebido que Calista estava ouvindo e dito aquilo de propósito, apenas para confundi-la e tentar convencê-la a deixar as hostilidades de lado, uma animosidade que surgira por culpa da própria campeã e suas mentiras.

Atônita, ainda refletindo sobre isso, a jovem performer mal se apercebeu dos sorvetes em suas mãos, não até Lizzy cutucá-la com seu focinho gelado.

— Huh?! Ah, droga! — Calista exclamou. — Aqui, pense rápido. Chocolate ou morango?

A Salazzle pareceu confusa com a pergunta, mas escolheu o sorvete de chocolate. Um momento depois, ao imitar a atitude de sua treinadora e lamber o doce, sibilou alto de prazer.

— Bom, não é? Eu sabia que você ia gostar.

Treinadora e pokemon se empoleiraram em um muro que cercava uma das áreas verdes da cidade, entretidas com seus sorvetes, e só depois voltaram às compras.

Finalmente se decidiu por levar um Ovo da Sorte para Ash, que dizia duplicar os resultados do treino no pokemon que o usasse. Conhecendo seu irmão como conhecia, sabia que o presente seria bem utilizado, e chegou até a se surpreender por não haver pensado naquilo antes.

— Pronto. — Anunciou, após comprar os presentes de despedida para Gary e Umbreon. — Compramos tudo, já podemos voltar. Aposto como você está precisando de um descanso, Lizzy. Sei que eu estou.

A Salazze assentiu e as duas se dirigiram de volta para o chalé. Gary as recebeu com um sorriso zombeteiro.

— Até que enfim, sua Slugma. — O rapaz provocou. — Pensei que você tivesse se perdido de novo. Ou decidiu comprar Alola inteira?

— Muito engraçado. — Ela revirou os olhos, fingindo enfado. — Para sua informação, encontrei Lillie e Lusamine.

— Ah, é? E o que a chefe estava fazendo na cidade?

— Não sei. — A jovem mentiu. — Talvez tivesse algum compromisso. Só sei que ela disse que você está demitido.

— Dá um tempo, Caly-Nite. Essa não cola.

— Bobão. — Calista riu, se aproximando e dando um beijo na bochecha de seu namorado. — E aí, conseguiu terminar o presente do seu avô?

— Terminei. — Foi a resposta. — Enviei por e-mail para ele. Acho que reuni informações suficientes sobre os pokemon de Alola para deixá-lo satisfeito por um tempo.

— Comprei um presente para você, também. — A morena anunciou. — E para o Umbreon, claro. A Mira deu a ideia.

Mirabelle protestou alto, o que fez Gary e Calista rirem. Mesmo assim, a irmã de Ash não pôde deixar de notar que sua parceira pareceu mais zangada do que o de costume com a provocação.

— Contanto que não seja aquele Tentacruel. — O jovem pesquisador brincou.

— Bem que eu queria. Mas não se preocupe, não consegui encontrá-lo.

— Ainda bem!

— Hey, não seja tão covarde! — Ela protestou jocosamente. — Bem que podíamos ir até a praia e tentar ver se damos sorte. Talvez ele apareça de novo. O que me diz de uma última caçada ao Tentacruel?

— Sem chance. Eu quero distância daquela coisa. — O neto do professor Carvalho riu. — Mas ir para a praia é uma boa ideia. Podemos nadar uma última vez antes de você partir. E lá vamos ter mais espaço.

— Espaço para que?

— Uma batalha, como prometemos. — Ele respondeu. — A Mira ainda está usando a pedra cor de rosa que eu dei?

— Claro. Ela se recusa a tirar. Por que? Você não está pensando ...

— Pode apostar que estou.

Um sorriso enorme se espalhou pelo rosto da irmã de Ash, sua competitividade natural fazendo-a ansiar pela batalha.

— Estou dentro! — Ela exclamou. — Espere aí, só vou colocar um biquíni.

Calista foi rápida, correndo para o quarto para se trocar, substituindo short e camiseta por um biquíni púrpura estilo cortina e colocando um simples vestido de verão cor de lavanda por cima.

— Mirabelle. — Ela chamou sem se virar, vendo pelo canto dos olhos um borrão azul familiar no corredor, escondido atrás da porta entreaberta. — Não adianta fugir agora, sua teimosa, eu já vi você. Venha cá. 

Mirabelle negou veementemente, lançando um olhar irritado para sua treinadora.

— Hey! — A morena protestou, finalmente se virando para encarar sua pokemon de frente. — O que deu em você, afinal? Desde que viemos para Alola, tem estado ainda mais insuportável do que o de costume. Se tem alguma coisa a dizer, diga logo. Ficar emburrada não vai adiantar, sabia?

A súbita explosão da irmã de Ash fez a pokemon recuar um passo. Longe de parecer zangada, Mirabelle parecia magoada pela reação de Calista.

— Mira ... — A morena suspirou, sua atitude suavizando enquanto ela sentava na beira da cama. — Me desculpe, eu não queria gritar. Venha aqui, fadinha, não faça essa carinha triste.

A Sylveon revirou os olhos ironicamente, fazendo uma mímica bem convincente de sua treinadora. Calista não conseguiu conter uma risada, estendendo uma das mãos para acariciar-lhe. Para sua surpresa, a pokemon tipo Fada pulou para longe de seu toque.

— Mirabelle?! — A morena exclamou, entre surpresa e magoada. — Mas o que ...?

Mirabelle rosnou baixinho, encarando sua treinadora com uma expressão furiosa. Através da raiva, porém, seus olhos lilases brilhavam com lágrimas, uma visão que fez o coração de Calista parecer se partir em mil pedaços. Sua garota nunca, jamais chorava. Se agora ela demonstrava qualquer fraqueza, era porque atingira o seu limite.

— Isso é sobre Inari não é? — A jovem finalmente compreendeu. — Você tem agido estranho desde que ela nasceu porque está com ciúmes.

Mirabelle levou um segundo, mas assentiu com relutância.

— Sua pokemon boboca! — Calista disse. — Isso é completamente ridículo. Como se ela pudesse substituir você. Até parece, Mira.

A Sylveon inclinou a cabeça para o lado, como estivesse decidindo se acreditava ou não naquelas palavras. Uma de suas fitas se estendeu devagar e Calista a pegou, puxando a pokemon para seu peito, abraçando-a apertado.

— Sua fadinha boboca. — Ela disse. — Somos uma dupla, lembra? Você é o meu milagre, Mira. Ninguém, nem mesmo a IceFire, jamais poderia ocupar o seu lugar. Eu te amo, e isso não vai mudar nunca. Entendeu, sua teimosa?

Agora sim Calista conseguira fazer Mirabelle chorar, o que era um feito e tanto considerando o quanto aquela pokemon era orgulhosa. A Sylveon soluçava em seus braços, e a morena não a soltou nem mesmo ao se pôr de pé.

A pokemon enfim ergueu o rosto para olhá-la, limpando as lágrimas restantes com uma de suas fitas e sorrindo para sua treinadora, como se dissesse que agora estava bem.

— É isso aí, essa é a minha fadinha cabeça dura. — Calista sorriu para ela com quantidades iguais de orgulho e ternura. — Pronta para acabar com aquele Umbreon bobão?

Mirabelle assentiu, agora parecendo tão ansiosa pela batalha quanto a jovem kantoniana. Calista deixou o quarto com a pokemon tipo Fada ainda aninhada em seus braços, exatamente como quando ainda era uma Eevee.

— Estamos prontas. — A morena anunciou. — E aí, como vai ser?

— Um contra um, que tal? Minha escolha é o Umbreon.

— Imaginei que seria. — A irmã de Ash sorriu. — Mira, essa é com você. Mas vamos deixar isso mais interessante. Que tal uma corrida até a praia? Quem chegar primeiro ganha a vantagem de começar a batalha.

— Uh ... —  Gary pareceu ser pego completamente de surpresa pelo súbito desafio, e mais ainda pelo brilho de antecipação nos olhos verdes de sua namorada. —  Caly ... Acho que isso é uma má ideia. Sua perna, lembra?

— Relaxe, eu posso aguentar. Estão dentro ou não?

O neto do professor Carvalho pensou por um momento, trocando um olhar rápido com seu Umbreon. No fim, ambos assentiram.

Os treinadores e seus dois pokemon correram até a praia. Calista tomou cuidado para que Gary não visse a "pequena ajuda" que recebeu de sua parceira secreta. IceFire e Kyle os acompanharam para assistir.

— Venci! — Calista exclamou ao atingir a areia, girando graciosamente nos calcanhares para encarar seu namorado, que mal conseguiu acreditar na resistência da jovem.

— Sem chance! — Gary, que estava praticamente ao lado da morena, protestou. — Eu venci. Estava um passo à sua frente o tempo todo.

— Diga isso para a poeira na sua boca. — A irmã de Ash rebateu, rindo. — Ei, Fire, você viu quem de nós estava na frente?

A Charizard meneou a enorme cabeça em negativa. Não havia visto. Mirabelle deu uma risadinha, e Umbreon revirou os olhos para a atitude zombeteira da pokemon tipo Fada.

— E você, cara? — Gary perguntou a Kyle. — Viu quem venceu?

O Lucario pensou por um momento, depois fez um gesto que abarcava os dois treinadores.

— Um empate? —  O rapaz exclamou, contrariado. — É isso? Sério, cara?

— Droga! — A morena resmungou, decepcionada. — Ok, vamos considerar empate, por falta de provas conclusivas ao contrário. Quem começa a batalha?

— Podem começar. Primeiro as damas.

— Não preciso de favores, idiota. — Calista declarou, cruzando os braços com firmeza. — Pode começar. Eu faço questão.

— Como queira. Umbreon, Hipnose.

— Desvie, Mira. E use Estrela Cadente.

Mirabelle desviou do raio hipnótico de Umbreon com uma pirueta, rindo ironicamente para seu adversário, mas o Pokémon Luar evitou o ataque da Sylveon saltando e usando as estrelas como trampolins, aterrissando novamente na areia sem ser atingido.

— Agora, Umbreon, contra ataque com Pulso Sombrio.

— Bloqueie com Explosão Lunar.

Os dois ataques colidiram com uma explosão ensurdecedora, criando uma chuva de faíscas multicoloridas que lembrava fogos de artifício em miniatura.

— Lindo! — Calista exclamou. — Precisamos usar essa combinação em uma coreografia.

— É só me dizer quando, gata. — Gary respondeu — Agora, Umbreon, Bola das Sombras.

— Mande de volta!

Mirabelle deu um pequeno salto, girando suas fitas para agarrar a Bola das Sombras no ar antes que a atingisse e mandando-a de volta para Umbreon como se estivessem jogando vôlei.

Ela não atacou de imediato na abertura que se seguiu. Ao invés disso se aproximou do oponente, deslizando ao seu redor, descrevendo singelos e graciosos círculos, chegando cada vez mais perto. O Pokémon Luar a acompanhava, mesmerizado pelos movimentos graciosos da pokemon tipo Fada.

— Agora, Mira. — A voz de Calista quebrou o encanto do momento. — Explosão Lunar!

— Desvie!

Mas era tarde demais. O golpe pegou Umbreon de surpresa e ele não conseguiu desviar a tempo, sendo lançado no ar. Calista soltou um grito involuntário de vitória.

— Não comemore tão cedo. — Gary advertiu, divertido. — É preciso mais do que isso para derrubar o Umbreon.

De fato, o Pokémon Luar havia conseguido girar ao ser arremessado de forma a cair de pé, e já estava em posição de batalha novamente. Calista sorriu, parecendo ainda mais satisfeita.

— Que bom! — Ela disse. — Seria muito chato se te vencer fosse tão fácil assim.

— Você precisa deixar de ser tão arrogante, sabia?

— Verdade. — Calista concordou, rindo alto. — Vamos lá, Mira. Voz Ecoante.

— Desvie, Umbreon. Mostre a elas que também sabemos dançar.

Umbreon desviou com agilidade, copiando os movimentos que Mirabelle fizera anteriormente, dando uma série de saltos para se pôr atrás da adversária.

— Copiar não vale. — A morena provocou, bem humorada.

— Vale tudo na guerra e no amor, Caly-Nite.

— Está bem, então. Foi você quem pediu. — Pelo sorriso dela, Gary sabia que Calista tinha algo em mente. — Mirabelle, agarre-o. Use Beijo Drenante.

Mirabelle obedeceu, mas Umbreon conseguiu escapar de suas fitas com um salto. Isso transformou a batalha em uma espécie de jogo de pega-pega, uma competição de velocidade em que nenhum dos dois realmente conseguia atingir o adversário.

— Hora de falar sério, Caly. — Gary disse depois de alguns minutos. — Lembra como usar esse cristal?

— Lembro sim.

— Ótimo. Então pode disparar!

Calista fez a série de poses que Gary havia lhe mostrado quando dera o bracelete a Mirabelle, agradecendo por ter uma boa memória. O rapaz revelou que ele e seu parceiro usavam braceletes semelhantes, o de Umbreon contendo uma pedra escura que a irmã de Ash mal conseguiu ver contra o pelo negro do Pokemon Luar.

Mirabelle assumiu posição, pronta para usar Explosão Lunar e acabar com a batalha. A pedra cor de rosa em sua pulseira brilhou, envolvendo a Sylveon em luz. Ela investiu e a luz rosada explodiu em várias estrelas ao seu redor.

Umbreon saltou, sendo envolvido por uma aura negra. Uma esfera nas cores roxo, vermelho e preto se formou sobre a cabeça do Pokemon Luar, que girou em uma cambalhota para atingi-la com um chute das patas traseiras e arremessar o orbe na direção de Mirabelle.

A Sylveon, porém, foi mais rápida e saltou para fora de alcance antes que o golpe a atingisse, investindo contra o adversário com tanta força que o lançou vários metros para trás, levantando uma nuvem de areia. IceFire foi uma grande ajuda nesse momento, soprando a areia na direção do oceano com suas asas.

— Valeu, Fire. — A morena disse, sorrindo para sua Charizard. — Você é o máximo, garota!

A atenção dos treinadores se voltou para os pokemon que batalhavam, ambos ainda de pé. Mirabelle e Umbreon ofegavam, os dois obviamente exaustos. Nenhum deles aguentaria continuar, mas nenhum queria admitir a derrota.

— Gary, Umbreon e Mira estão exaustos. — Calista disse. — É melhor interrompermos a batalha por aqui antes que um deles se machuque.

— Tem razão. — O rapaz concordou, sorrindo maliciosamente. — Então ... Empate?

— Empate. — A jovem kantoniana suspirou pesadamente, frustrada. — Mas só dessa vez. Na próxima, vamos acabar com vocês dois.

— É o que veremos. Não vou perder tão fácil, Caly, especialmente para você.

— Aham. Veremos. — Ela riu. — E afinal, o que são esses cristais? Aquilo foi ... Diferente de tudo o que eu já vi.

— Legal, huh? Se chamam Cristais Z, e só existem aqui em Alola. Desencadeiam um tipo de energia que permite usar movimentos que não seriam possíveis de nenhuma outra forma. O seu é o Fairium Z. Transforma qualquer golpe tipo Fada em um movimento chamado Investida Cintilante. Foi daí que vieram as estrelas.

— E o seu?

— Darkinium Z. O golpe é Eclipse Buraco Negro. — O rapaz explicou, estufando o peito com orgulho. — Bem maneiro, não é?

— É incrível! Agora entendi por que você queria que usássemos isso. Foi completamente demais!

— Com certeza, mas não vá se animar demais. — Gary respondeu. — Usar um movimento Z é muito cansativo para um pokemon. Foi por isso que Mira e Umbreon não conseguiram continuar.

— Entendi. Pode deixar, vamos tomar cuidado quando o usarmos de novo.

O casal se acomodou ali mesmo, sob a sombra lançada pelo enorme paredão rochoso. IceFire se enrodilhou atrás de sua treinadora, que imediatamente se apoiou contra o ombro musculoso da Charizard enquanto Mirabelle pulava para seu colo. A Sylveon se esparramou no colo da jovem, soltando um enorme suspiro de contentamento.

— Eu sabia. Você está exausta, não está? — Calista disse, ao que a pokemon tipo Fada assentiu em resposta. — Sua fadinha maluca. Você precisa aprender quando recuar. Perder uma batalha não é o fim do mundo.

Mirabelle nem se deu ao trabalho se discutir, simplesmente cutucou a palma da mão de sua treinadora com o focinho até que a jovem risse e começasse a lhe acariciar atrás das longas orelhas.

— Sabe, Gary ... — A irmã de Ash disse lentamente. — Você meio que tinha razão.

— Sobre o que?

— Eu não tenho certeza se quero voltar para casa.

— Então fique.

— Quem me dera fosse tão simples. — A morena suspirou. — É como eu disse antes: estar aqui foi maravilhoso, mas não posso fugir dos meus problemas para sempre.

— Não encare como uma fuga. — O rapaz respondeu. — Pense nisso como uma preparação. Assim, quando você voltar, vai ser capaz de enfrentar os problemas que a esperam.

— É uma boa maneira de pensar. — Calista admitiu. — Mas não funciona comigo. A verdade é que ... Reencontrei uma antiga conhecida aqui em Alola, alguém que quero superar desde o momento em que a vi pela primeira vez. Ela me fez perceber que preciso voltar. Voltar para casa e treinar. E então voltar para Kalos e ganhar a coroa.

— E se você estiver certa e sua perna não aguentar?

— Talvez isso aconteça. Acho que não vou saber até tentar, não é?

— Pense bem, Caly. — Gary insistiu. — Você sabe que é arriscado. E se você acabar no hospital de novo?

— Escute, Gary. — Calista respondeu, seu tom firme e determinado. — Eu sou uma performer. É mais do que o que faço, é quem eu sou. Minha paixão. Foi por isso que desisti de todo o resto. E, se eu abandonar isso agora, sem saber se teria ou não vencido, jamais vou me perdoar. Seria covardia, e faria cada ... Cada sacrifício que já fiz ser em vão. Você não sabe o quanto isso me destruiria. Você se tornou um excelente treinador, mesmo que nunca tenha se tornado campeão como sonhava quando criança. Agora, é um pesquisador pokemon, como sempre disse que seria. Poderá assumir o lugar do seu avô no futuro, e talvez até ser mais famoso do que ele. Você nunca precisou abrir mão disso porque seu sonho já se realizou, então não pode nem começar a entender como é ... Ser obrigada a desistir. Não vou permitir que isso aconteça comigo. Sei que eu não aguentaria.

Gary simplesmente assentiu em resposta. Conhecia bem o bastante o temperamento de sua namorada para saber que aquelas palavras eram verdadeiras. Ser forçada a desistir de algo que queria tanto mataria uma parte dela.

Os dois ficaram em silêncio, até decidirem ir nadar. Calista, Mirabelle, Gary e Umbreon brincaram de pega pega na parte rasa, perseguindo e jogando água uns nos outros. O casal mergulhou com Arya e Blastoise. Procuraram conchas enterradas na areia. Enfim, ficaram na praia até o último minuto possível, quando Calista precisou voltar ao chalé para tomar banho e se arrumar.

Chegaram ao aeroporto no início da noite, mais de meia hora adiantados novamente, e a morena propôs que tirassem uma foto como recordação. O casal sentou-se lado a lado, com Mirabelle e Umbreon no colo de seus treinadores. Gary passou um braço ao redor dos ombros de Calista, puxando-a para si até que suas bochechas estivessem coladas, enquanto Mirabelle usava suas fitas para unir o grupo em um abraço quádruplo. A jovem kantoniana riu disso, usando a mão livre, que não estava pousada sobre a cabeça de Mirabelle, para bater a foto. Os dois casais sorriam alegremente.

— Não vá esquecer de me enviar essa foto depois.

— Por que esperar? Vou enviar agora, antes que acabe esquecendo. E... Abra o meu presente quando chegar em casa, certo?

— Pode deixar. Não vai me dar uma pista sobre o que é?

— Talvez seja um certo Tentacruel.

— Ah, não, nem comece! Isso não tem mais graça, Caly-Nite.

Calista riu, deitando a cabeça no ombro de seu namorado. Os dois conversaram preguiçosamente até o soar da chamada para o embarque no voo com destino à cidade de Lumiose.

— Talvez eu nem volte para casa. — A irmã de Ash disse pensativamente. — Talvez eu fique em Kalos e tente recomeçar de onde parei.

— Sabe que isso seria irresponsabilidade da sua parte.

— É, você tem razão. Ainda tenho pontas soltas a amarrar antes de voltar a competir.

— Sua mãe? — Calista assentiu em resposta. — Boa sorte com isso.

O casal trocou um breve selinho de despedida quando a última chamada para o voo soou.

— Bem, é hora de ir.

— Caly ... — Gary subitamente corou, o que pegou Calista de surpresa. Preocupação e choque se misturaram em sua expressão. — Quer casar comigo?

A morena arquejou, seus olhos verdes se arregalando numa mistura de prazer e descrença.

— O que?!

— Droga! Eu sinto muito, não era pra ter saído desse jeito. — O neto do professor Carvalho corou ainda mais. — Era pra ter sido romântico. Eu ... Queria te fazer uma surpresa.

— Gary ... — A voz dela falhou. Calista pigarreou discretamente antes de tentar de novo. — Gary, eu não ... Você ... Quer dizer, tem certeza disso?

— Desde sempre. — Gary confessou. — Sabe muito bem que tenho uma queda por você desde os meus quatro anos. Isso não mudou, Caly. E não vai mudar tão cedo.

— Mesmo assim ... — Ela mordeu o lábio inferior, insegura. — Admita: é um passo precipitado.

Gary conteve uma onda de decepção e raiva de si mesmo. Conhecia aquele tom de voz muito bem. Calista estava tentando recusar sem magoá-lo.

— Pode simplesmente dizer não. — O rapaz resmungou. — Já que não é o que você quer, seja honesta.

— Não foi isso que eu quis dizer. — Calista rebateu gentilmente. — E você sabe disso muito bem. Eu só quero ter certeza de que você sabe o que está me pedindo.

— Droga, Caly, eu te amo! — Gary exclamou. — É claro que sei o que estou pedindo.

— Nesse caso ... — A jovem sorriu. — Eu aceito. Mas com uma condição.

— E qual é? — O rapaz inquiriu. — O que você quiser, sério. Qualquer coisa.

— Vamos esperar. — Ela respondeu simplesmente. — Somos jovens, não precisamos nos apressar e nem provar nada para ninguém. Temos tempo.

Gary assentiu, deslizando a aliança de ouro para o dedo anelar direito de Calista. Não podia acreditar que ela havia aceitado.

Rindo, a irmã de Ash se inclinou para lhe dar mais um beijo antes de se apressar para embarcar no avião, acenando uma última vez em despedida. O rapaz retribuiu. Qualquer coisa para fingir não ter visto a incerteza naqueles olhos verdes, tão clara quanto a luz do dia. Esperava que não fosse em relação ao compromisso que haviam acabado de assumir, mas não tinha como saber. E jamais teria coragem de perguntar.

Gary e Umbreon ficaram lá até o avião decolar e sumir de vista no céu que escurecia cada vez mais rápido.

— Elas já foram. — O rapaz declarou. — Vamos, rapaz. Vamos para casa.

Calista deixara a sacola com seu presente em cima da mesa da cozinha. Quando Gary olhou não havia apenas um, mas dois embrulhos. Em um deles estava escrito "para Umbreon"

— Ela não estava brincando. — O jovem riu. — Quer abrir o seu primeiro, amigão?

Umbreon assentiu, se aproximando com curiosidade. Quando o presente foi aberto, se revelou um Sylveon de pelúcia. Mas não uma pelúcia comum. Aquela era azul. Shiny.

— Mirabelle. — Gary agora gargalhava. — Aquela mulher ...

Ao abrir o seu, encontrou um porta retrato prateado contendo uma foto de Calista. A morena sorria e tinha uma das mãos erguidas, fazendo o famoso sinal de vitória para a câmera. Também havia um bilhete:

Para se lembrarem de nós. Amo você, idiota. Mirabelle diz que também ama você, Umbreon. Até a próxima, e obrigada por essas duas semanas maravilhosas. Não se metam em nenhuma encrenca até nos vermos de novo, ok?

Beijos.

A assinatura tinha a forma de uma asa de Dragonite.

— Essas duas não tem jeito. — Gary declarou. — Elas são malucas.

Umbreon assentiu solenemente, então desatou a rir junto com seu treinador.


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