Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 15
Um presente de Alola




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— Droga! — Calista gritou ao ser atingida no rosto por uma Arma de Água. — Eu juro, Arya, você deve ser o pokemon mais irritante do mundo. Não dá pra parar com essas pegadinhas? Que droga!

Arya, a Popplio, era uma pokemon travessa. Ela gostava de sair de sua pokebola por conta própria e se esconder em lugares inesperados para pegar Calista de surpresa e acertá-la com seu ataque Arma de Água. A morena normalmente ria das pegadinhas mas, depois da vigésima vez, aquilo estava começando a perder a graça.

A pokemon tipo Água recuou, assustada com o tom zangado de sua treinadora. Calista lhe dirigiu um olhar irritado enquanto secava o rosto com o antebraço, e provavelmente teria lhe dado uma bronca se Dehlia não tivesse entrado no quarto naquele momento, trazendo uma pilha de roupas dobradas nos braços.

— Mãe, não precisava. — A morena protestou. — Eu disse que faria isso assim que terminasse aqui. A senhora não precisava ter se dado ao trabalho.

— Não foi trabalho nenhum, meu bem, eu ia lavar roupa de qualquer jeito. — Dehlia respondeu. — Além do mais, é bom poder fazer alguma coisa por você.

— Certo. — A morena cedeu, se permitindo um sorriso. — Obrigada, mamãe.

— De nada. — Foi a resposta. — E então, já terminou de arrumar tudo?

— Quase. Acabei de colocar mais alguns Repelentes e Poções. Como a senhora dizia: "espere qualquer coisa quando não sabe o que esperar."

— Bem pensado. Mas você esqueceu uma coisa.

Calista ergueu a cabeça, franzindo a testa enquanto pensava. Tinha revisado a lista mais de uma vez, estava certa de que não esquecera nada.

— O que eu esqueci? — Ela perguntou enfim.

Em resposta Dehlia separou uma peça entre as roupas dobradas, erguendo-a para que Calista a visse. Era um vestido, e era lindo. Negro, mas de tecido leve, de alças finas e decote arredondado, com corpete bem justo. A saia rodada era curta, acima dos joelhos, e tinha renda prateada na barra, que brilhava sutilmente na luz do sol que entrava pela janela.

— Mãe ... — O tom de Calista estava entre enfadado e divertido. — A senhora sabe que não vou ter oportunidade de usar um vestido. Gary e eu provavelmente vamos ficar fora quase o tempo todo, explorando as trilhas e locais de mergulho.

— Você mesma acabou de dizer: quando não sabe o que esperar, espere qualquer coisa. — A  mulher mais velha rebateu. — Nunca se sabe. Você pode acabar se surpreendendo.

— Certo. — A morena cedeu com uma risada. — Está bem. Você venceu, mãe.

Dehlia também riu, voltando a dobrar o vestido e colocando-o sobre as outras roupas na mochila enorme que se encontrava aberta sobre a cama de sua filha mais velha.

— Você não parece estar tão animada com essa viagem. — Comentou.

— Estou, sim. — Calista respondeu, sentando na cama e encarando sua mãe. — Mas ... Tem certeza, mãe? A senhora está ... Sabe ... Bem com tudo isso?

— Bom ... — Dehlia hesitou. — Não vou mentir dizendo que não me incomodo nem um pouco. Sua situação com Gary é peculiar por muitos motivos, e você sabe muito bem disso. Mas você já é adulta, tem idade para saber o que faz, e já está na hora de eu começar a confiar em você, se quiser consertar as coisas entre nós duas.

— Peculiar? — A irmã mais velha de Ash repetiu. — É isso que a senhora acha?

— E você não, Caly? Gary a conhece desde sempre. Ver vocês dois juntos é quase como descobrir que Ash está apaixonado pela Daisy.

— Sem chance! — Calista rebateu. — Ash a considera uma segunda irmã mais velha.

— Exato. É aí mesmo que eu queria chegar. Tem certeza de que vocês dois não estão confundindo as coisas?

— Sim. — A morena respondeu, mas foi delatada por sua hesitação. — Está bem, não. Eu não tenho certeza.

— Então espere. — Sua mãe a aconselhou gentilmente. — Vá devagar, e não faça nada antes de ter certeza. Um relacionamento não é uma coisa a ser tratada com frivolidade.

— Eu sei, mãe. — A jovem performer assegurou. — Não se preocupe. Por enquanto, vamos apenas ver até onde isso pode nos levar. Se é que vai nos levar a algum lugar. Sem expectativas.

— Muito bem. — Dehlia sorriu. — Gary é um bom garoto, isso eu preciso admitir. Mas, se ele magoar a minha garotinha, vou caçá-lo até o fim do mundo.

— Mãe! — Calista exclamou, horrorizada. Um momento depois, porém, desatou a rir. — Caramba! Mamãe urso na área.

— Termine de arrumar essas malas, mocinha, e pare de enrolar. — Foi a única resposta que recebeu.

— Ah, droga! Eu esqueci! Preciso ir ver o professor Carvalho. Até mais, mãe!

E com isso Calista pulou de pé, passando em disparada por sua mãe, e Dehlia riu baixo consigo mesma ao ouvir o baque surdo quando Calista pulou os dois últimos degraus. Aquela menina nunca mudava.

Na manhã seguinte a jovem acordou cedo, ansiosa demais para continuar dormindo mesmo que quisesse. Ao passar pelo quarto de Ash, que ainda dormia a sono solto, passou um bilhete por baixo da porta. No papel estava escrito:

"Até logo, idiota. Cuide bem da mamãe. Treine bastante, porque vamos batalhar quando eu voltar. E eu vou acabar com você."

Dehlia a esperava na cozinha e as duas tomaram café da manhã juntas, depois caminharam até o laboratório do professor. Ele e Gary já as esperavam na porta, e os dois trocaram um breve aperto de mãos à guisa de despedida.

— Divirta-se em Alola, Caly. — O professor disse. — E aproveite para ver alguns novos pokemon. Depois me conte tudo.

— Pode deixar. — A morena sorriu. — Até breve, professor. Não deixe minha mãe se meter em confusão.

— Deixe comigo. E você mantenha meu neto na linha.

— Vou tentar. Mas o senhor sabe que não posso prometer nada.

Ambos riram quando Gary fez uma careta de indignação. Calista então se voltou para a mãe e a abraçou. Foi estranho, com certeza. Não se lembrava de tê-la abraçado desde que voltara. Na verdade, não se lembrava de abraçar Dehlia há anos, desde antes de ir embora de casa.

— Até mais, mãe.

— Até mais, minha menina. — A mulher mais velha respondeu. — Vou sentir sua falta.

— Ah, por favor. — Calista riu ao se afastar. — Serão só duas semanas. Volto antes que a senhora tenha tempo para isso.

A morena acenou mais uma vez e tirou IceFire de sua pokebola. A Charizard a cumprimentou com um meneio do longo pescoço, que a jovem retribuiu com um sorriso. Gary e Calista a montaram.

As asas fortes de IceFire os levaram até Celadon mais rápido do que o esperado, e o casal chegou ao aeroporto quase meia hora antes do horário do voo.

— Obrigada, parceira. — A irmã de Ash disse ao recoloca-la na pokebola. — Ei, Gary, estamos adiantados. Por que não aproveitamos para caminhar um pouco?

— Nah, melhor não. — Gary respondeu. — Eu preciso adiantar um pouco do trabalho se quiser tirar aquela folga.

— Certo. — A morena respondeu com um suspiro de enfado. — Mira e eu vamos, então. Certo, Mira?

Mirabelle, que Calista havia tirado da pokebola enquanto falava, assentiu animadamente.

— Não se atrase, certo? — O rapaz disse. — Vou esperar perto da área de embarque, nos vemos lá.

A morena se afastou com sua Sylveon. Ela e Mirabelle se dirigiram diretamente para a Loja de Departamentos. Calista conhecia bem o lugar e não perdeu tempo: subiu até o segundo andar, onde eram vendidos pokebolas e outros afins.

— O que acha, Mira? — A morena inquiriu pensativamente. — Talvez encontremos algum pokemon interessante nessa viagem. Arrisco comprar algumas Grande Bolas, ou pulo na jugular e compro Ultra Bolas?

A Sylveon pensou por um momento, então apontou para a pokebola preta e amarela, da qual haviam muito menos exemplares na vitrine. Calista assentiu e comprou algumas Ultra Bolas. Era o item que faltava em sua mochila, do qual sua intuição lhe dizia que iria precisar.

A morena conferiu o relógio enquanto saía da loja e viu que tinha pouco tempo, então apressou o passo. Quando chegou ao local combinado, um Gary já impaciente veio ao seu encontro.

— Ah, até que enfim! — Ele exclamou. — Achei que você tinha perdido a noção do tempo. Só pra variar.

A irmã de Ash revirou os olhos e estendeu uma das mãos, dando um empurrão jocoso em seu namorado ao passar por ele e estreitando os olhos em uma falsa expressão ofendida. O brilho de diversão em suas íris muito verdes, porém, a entregava.

O casal, seguido de perto por Umbreon e Mirabelle, finalmente embarcou no avião. Se acomodaram e a morena deitou a cabeça no ombro de seu namorado assim que decolaram, distraída observando o céu pela janela.

— Já cansou, Caly-Nite? — Gary provocou.

— Cale essa boca, Carvalho, ou te jogo pra fora desse avião sem paraquedas. — Ela rebateu, sem nem se dignar a voltar-se para olhá-lo.

— Não se eu te jogar primeiro.

— Você teria que passar pela Mira. — Calista riu, acariciando o pelo azul da Sylveon enrodilhada em seu colo. — E sabe muito bem que ninguém passa pela minha garota.

Mirabelle ergueu a cabeça e assentiu enfaticamente para demonstrar sua concordância com aquela frase.

— Foi por isso que eu trouxe o Umbreon. — O rapaz rebateu. — Ele vai distraí-la quando eu decidir atacar.

Umbreon, também acomodado no colo de Gary, olhou para seu treinador e soltou um protesto alto, como se dissesse "me deixe fora disso". Os dois treinadores riram.

A morena acabou pegando no sono. Gary manteve um braço ao redor dos ombros dela e sua mão livre no bolso do casaco, brincando com a caixinha que havia guardado ali. Não conseguia se manter longe daquele objeto, por mais que simplesmente pensar nele já fizesse seu coração disparar de medo.

Foi um longo voo, quatro horas no ar até pousarem na cidade de Lumiose, em Kalos. De lá pegaram a escala para Alola, um voo bem mais curto. Em menos de uma hora estavam pousando em Hau'Oli.

Quando desceram do avião, Calista ofegou de surpresa. A pista ao ar livre era elevada e dava vista para uma praia. Era um dia de sol, e as ondas refletiam o azul do céu. Um bando de pássaros pokemon preto e brancos, com cristas avermelhadas, passou voando na direção do horizonte.

— Uau! — A irmã de Ash exclamou. — Você tinha razão, é lindo!

— Eu te disse. — Gary respondeu. — Bem vinda à Ilha Melemele. Vem, eu não moro muito longe.

E não morava mesmo. Foi uma caminhada bem curta até a pequena casa perto da praia. Era na verdade um chalé, feito de pedra clara e aninhado perto de um paredão rochoso como se tivesse brotado da natureza.

Uma escada com degraus também de pedra que terminava diretamente na areia conduzia a uma varanda frontal protegida por um corrimão de madeira escura. A porta da frente era grande, de vidro, proporcionando uma vista maravilhosa dos arredores. Janelas largas nos lados do chalé seguiam o mesmo padrão.

— Ora, ora. — A morena disse, impressionada. — Nada mal, garoto. Você tem bom gosto.

— Foi a minha chefe quem descobriu o lugar. — O jovem confessou — Bom ... A filha dela, na verdade.

Calista ergueu uma sobrancelha, lançando-lhe um olhar eloquente. Gary não pôde deixar de rir ao perceber que ela estava com ciúmes.

— Deixa disso, Caly. A menina só tem sete anos. Além do mais, foi sorte ela ter me contado sobre esse lugar.

A irmã de Ash relaxou um pouco, agora parecendo achar graça de toda aquela situação.

— É, foi mesmo. — Admitiu enfim, após um segundo de hesitação.

— Então, não está cansada?

— Nem um pouco.

— Ótimo! Trouxe biquíni?

— É claro.

— Se troque. — Ele disse. — Vamos nadar.

A performer kantoniana simplesmente sorriu e deixou cair a alça da blusa, revelando que já estava com um biquíni por baixo da roupa. O jovem pesquisador pokemon riu, pego de surpresa. 

Os dois saíram novamente. Gary a levou primeiro a uma loja na cidade, onde os dois comeram Malasadas. Era a primeira vez que Calista provava aquele prato típico de Alola, e ela adorou. Era doce na medida certa, e a canela por cima equilibrava o sabor. Mirabelle também pareceu adorar o doce.

— Preciso descobrir a receita. — A morena declarou enquanto seguia com Gary para a praia. — Sério. Malasadas são de outro mundo!

— Boa sorte com isso. — O rapaz riu. — Venho tentando desde que me mudei para cá.

O casal passou o restante da tarde na praia, aproveitando o sol. Calista tirou Arya de sua pokebola e deixou que a Popplio brincasse entre as ondas, junto com o Blastoise de Gary. Mesmo não podendo nadar, como certamente teria feito em outra ocasião, ainda assim a morena se divertiu observando as pessoas e conversando com seu namorado.

— É melhor voltarmos. — O jovem disse depois de algumas horas.

— O que?! — Calista, que estivera observando Cinnamon e Mirabelle correrem na beira da água, girou para olhá-lo, decepcionada. — Ainda é cedo. Podemos ficar mais um pouco.

— É melhor não. — Gary respondeu. — Vai por mim, você vai querer estar bem descansada hoje à noite. Tenho uma surpresa.

A simples menção daquela palavra imediatamente despertou a curiosidade dela, e a morena sorriu. Gary conteve o riso. Sabia que a única coisa que superava a teimosia de Calista era sua curiosidade.

— Está bem. — Ela cedeu. — Meninas, vamos voltar!

Cinnamon e Arya se juntaram ao casal na beira da água e Calista as colocou de volta em suas pokebolas. Gary fez o mesmo com Blastoise. Os dois treinadores voltaram devagar, com Mirabelle e Umbreon indo à frente. 

Já no chalé, Gary disse a Calista que fosse tomar um banho enquanto ele preparava algo para comerem. E fez o possível para não encarar quando sua namorada apareceu na sala usando apenas uma lingerie bege.

— O que foi? — Ela provocou. — Gosta do que vê?

— Eu ... Eu não estava olhando.

Isso sim a fez sorrir, um sorriso largo e cheio de malícia. Gary corou até as pontas dos dedos dos pés, até o último fio de cabelo.

Claro que não estava.

A voz de Calista foi quase um ronronar. O garoto virou de costas, ouvindo-a rir. Ela estava se divertindo a valer com aquela situação.

— Sério, Gary. — A irmã de Ash disse enfim. — Não vou nem me dar ao trabalho de perguntar sobre essa tal surpresa ... Mas vai ter que me dar uma dica sobre o que vestir.

— Alguma coisa bonita. — Ele respondeu. — Mas não demais. É um evento ao ar livre.

— Está bem.

A morena foi até o quarto principal, onde havia deixado sua mochila. Enquanto isso Gary tomou um banho, fazendo o possível para dar um jeito em seus cabelos rebeldes ao sair do chuveiro.

Assim que saiu do banheiro, pôde ouvir Calista conversando com Mirabelle na sala de estar. O rapaz conferiu as horas no relógio digital ao lado da cama. Seis em ponto. Precisava se apressar, ou acabaria não tendo tempo.

Enquanto Calista dormia no avião, Gary já havia planejado todos os detalhes da surpresa que lhe faria. Ele rapidamente vestiu uma calça jeans azul escura e botas, com uma camisa verde claro. Sabia que Calista adorava aquela cor. Passou os dedos pelos cabelos mais uma vez, escondendo a caixa negra no bolso da calça e indo se juntar a ela.

O neto do professor Carvalho parou subitamente, de queixo caído. Dehlia prometera ajudar quando lhe contara o que pretendia fazer, mas ele não esperava que ela se saísse tão bem. O vestido negro que ela escolhera caíra bem em Calista.

A morena estava lindíssima. Sempre tivera a pele clara, algo que nem mesmo horas ao sol ou produtos de beleza conseguia mudar, e naquele dia o tecido negro do vestido dava a ela um aspecto quase de porcelana. Seu cabelo, ainda úmido, caía em ondas sobre os ombros nus, já começando a encaracolar conforme secava, e não havia um traço de maquiagem em seu rosto.

Gary não esperara que houvesse, uma vez que Calista nunca gostara muito disso. Considerava futilidade, um ponto de vista com o qual ele concordava plenamente. Além do mais, com um rosto daqueles, ela não precisava mesmo de maquiagem.

— Uau. — A morena disse, sorrindo para seu namorado por sobre o ombro. — Tão elegante. Estou começando a ficar curiosa sobre essa surpresa.

— Não adianta perguntar nada, que não vou dizer uma palavra. — Gary advertiu. — E ... Caramba, você está linda!

— Obrigada. Você também. Mas ... — Ela se levantou do sofá e se aproximou, arrumando a gola polo da camisa do rapaz em um movimento rápido e experiente. — Ainda precisa aprender a se vestir direito, garoto.

— É, acho que isso é uma causa perdida. — O jovem pesquisador admitiu, corando de novo.

Ela tinha razão. Gary nunca fora muito do tipo de se importar com roupas. Desde pequeno que preferia se enfiar no laboratório ou passar os dias no campo com seu avô. Era de seu intelecto que ele se orgulhava, e não da aparência.

— Então ... — O neto do professor Carvalho finalmente conseguiu falar de novo. — Pronta para ir?

— Sim. — Ela respondeu. — E cada vez mais curiosa.

— Então que a noite comece.

Calista lhe dirigiu um olhar brincalhão, se aproximando e estendendo uma das mãos para segurar a sua, entrelaçando os dedos aos de Gary.

— Estou quase com medo de descobrir o que isso significa. — Brincou.

Não tanto quanto eu, Caly. O rapaz respondeu em pensamento. Pode apostar nisso.

Gary lhe pediu que parasse assim que desceram a escada do chalé, postando-se atrás de sua namorada e cobrindo-lhe os olhos com uma venda assim que ela obedeceu.

— Ei! — Calista protestou. — Para que tudo isso?

— Porque não confio na sua curiosidade. — Gary respondeu. — Mesmo que me prometesse o contrário, sei que você acabaria espiando.

— Certo ... — A irmã de Ash admitiu, rindo baixo enquanto seu namorado dava um nó firme na venda. — Você talvez tenha razão, garoto. Talvez.

— É claro que tenho razão, e você sabe disso. Lembra do seu aniversário de dez anos?

Calista riu alto dessa vez. Ela com certeza se lembrava. Dehlia havia planejado uma festa surpresa, algo do qual a morena imediatamente desconfiara ao receber permissão para passar parte da tarde ajudando o professor Carvalho no laboratório. Daisy topara a travessura e distraiu Lester, o assistente do professor, para que a amiga se esgueirasse de volta para casa.

Calista entrara de mansinho pela janela de seu quarto, escalando o grande carvalho que crescia logo abaixo. Sabia que estaria encrencada se fosse vista, então se escondeu no alto da escada. Não demorou muito a descobrir o que sua mãe estava planejando e correu de volta ao laboratório antes que o professor voltasse dos campos. Quando voltou para casa à noite, fingiu estar surpresa. Ela, Daisy e Gary riram daquilo por quase um mês.

— Ok, você me pegou. — Ela cedeu. — Eu teria mesmo espiado.

O neto do professor Carvalho simplesmente riu, estendendo uma das mãos para segurar a de Calista no intuito de guiá-la. Mirabelle enrolou uma de suas fitas ao redor do braço livre de sua treinadora, ajudando-a a manter o equilíbrio e tomando cuidado para não derrubar o ovo pokemon que a jovem carregava. Foi uma caminhada razoável, embora Calista não pudesse ter certeza de tempo ou distância.

— Gary ... — Ela chamou a certa altura. — É sério, para onde estamos indo?

— Apenas confie em mim. — Foi a resposta. — Já estamos chegando e ... Pronto, chegamos.

— Posso tirar essa maldita venda agora?

— Ainda não. Tente adivinhar onde estamos.

A morena se esforçou para ouvir através do som quase onipresente das ondas, do rumor de conversas e outros sons típicos de cidades grandes que chegavam carregados pelo vento. Mas desistiu logo, balançando a cabeça em negativa.

Gary tirou a venda de sobre seus olhos, e Calista se viu na praia novamente. Um palco havia sido montado na areia, longe o bastante da água para a maré alta não ser um problema, mas ainda perto o bastante para que as ondas douradas pelo sol poente pudessem ser admiradas, e haviam cadeiras dispostas por toda a extensão que formava a área da audiência, uma área ampla que se estendia até as escadas que subiam de volta para a estrada que levava ao centro da cidade.

— Um show? — A jovem arriscou. — Acertei?

— Quase isso. É uma apresentação independente. São bem comuns por aqui. Grupos de artistas se reúnem, conseguem a permissão do kahuna e montam uma apresentação. E você vai gostar dessa, eu acho.

Gary a guiou para as primeiras fileiras, de modo que tivessem uma boa visão do palco. Uma garota logo entrou em cena. Era pequenina, com cabelos castanhos muito lisos, olhos igualmente escuros, e usava um vestido verde-água. Ao seu lado caminhavam um Absol e um Whimsicott.

— Ela é uma performer! — A morena exclamou, imediatamente se entusiasmando ao entender tudo. — Obrigada, Gary! Mira, preste atenção. Quem sabe possamos aprender alguma coisa.

Mirabelle assentiu, saltando com leveza e se enrodilhando no colo de sua treinadora. A irmã de Ash passou um braço ao redor de sua parceira, ainda mantendo o ovo pokemon firmemente junto ao peito com o braço livre.

Tanto ela quanto a Sylveon tinham exatamente a mesma expressão de concentração enquanto assistiam uma performance após a outra, seus olhos nunca perdendo nenhum movimento. A morena mal conseguia ficar parada tamanho era seu entusiasmo, e Gary a ouviu fazer vários comentários em voz baixa para Mirabelle.

— Por que você não tenta? — O rapaz inquiriu em voz baixa. — Eu ajudo, se você quiser organizar uma apresentação. O velho Hala, o kahuna, raramente nega permissão. Aposto que ele até iria assistir, quando souber quem você é.

Calista se voltou para ele, seu rosto brilhando de felicidade ao imaginar aquele cenário. Mas foi somente por um breve segundo, então a alegria foi substituída por um misto de tristeza e revolta.

— Não daria certo. Estou melhor, mas duvido que minha perna possa aguentar. Não ainda, pelo menos. — A expressão dela se tornou ainda mais amarga enquanto falava, uma raiva e derrota completas que Gary jamais vira naquela mulher. — Talvez ... Talvez nunca mais.

— Não seja tão pessimista. — O jovem pesquisador rebateu, estendendo uma das mãos para pousá-la no ombro de sua namorada. — É claro que você vai voltar a competir. E vai vencer, com certeza.

— Mas e se eu não puder voltar? E então, Gary?

— Então ... Vai ter que seguir em frente. Encontrar outro objetivo.

Mirabelle dirigiu ao rapaz um olhar de aprovação após aquelas palavras, indicando que concordava inteiramente. Calista, por outro lado, não pareceu gostar nem um pouco. Seu rosto assumiu aquela expressão que Gary conhecia bem até demais, como se uma cortina de aço escondesse todos os seus sentimentos.

Ele sabia que, por baixo daquele rosto sereno, havia um turbilhão acontecendo, e que ela não ouviria uma palavra do que qualquer pessoa dissesse sobre aquele assunto. Ao invés de começar uma discussão, o neto do professor Carvalho resolveu distraí-la.

— Conheço essa performer. — Ele comentou. — Amaryllis. Ela é ótima.

Amaryllis era uma jovem loira de olhos verdes, que subiu ao palco em um angelical vestido branco, acompanhada por uma Florges e uma estranha raposa branca que Calista não reconheceu.

— Esse pokemon branco ... — A irmã de Ash inquiriu, curiosa. — O que é? Parece um Ninetales, mas devo estar enganada. Nem mesmo um Ninetales shiny teria uma cauda única dessa forma, nem seria de um branco tão puro.

— Tem razão. Um Ninetales shiny seria prateado. E esse pokemon que você está vendo não tem uma cauda única. — Gary rebateu, achando graça da confusão de sua namorada. — São nove, embora estejam muito próximas para se notar. Olhe as pontas com atenção. Conte-as. Está vendo?

— Estou, sim. Exatamente nove pontas. Nove caudas. Então é mesmo um ...

— É, é um Ninetales. Essa é a forma que ele assume em Alola. — Gary explicou. — Algumas espécies de pokemon tem formas diferentes por aqui. Não sabemos exatamente o motivo, mas estamos investigando a possibilidade de ser influência do ambiente. Por exemplo, os Vulpixes de Alola vivem no Monte Lanakila, uma montanha conhecida por seu clima extremamente frio, com muita neve. A pelagem branca pode ser uma forma de adaptação, como camuflagem.

— Uau. — A morena se voltou para ele, sua expressão finalmente se desanuviando. — Essa região é mesmo interessante. Vai ter que me contar mais.

— Depois. Se você quer mesmo aprender alguns truques novos, preste atenção. Ela já vai começar.

Amaryllis começou a dançar, enquanto sua Florges usava Nevasca de Pétalas e o Ninetales branco usava Estrela Cadente. Estrelas e flores se misturaram em uma chuva de pétalas que brilhavam na luz evanescente do anoitecer, fazendo um efeito de abertura sensacional para a performance.

— Uau! — A irmã de Ash exclamou. — Ela é mesmo muito boa. Você não estava brincando.

— Pode ser, mas ela não é melhor do que a minha Rainha de Kalos.

A brincadeira, longe de fazer a jovem sorrir, só a fez ficar ainda mais séria.

— Não adianta discutir isso agora. — Ela declarou secamente. — Minha perna não melhorou, então não posso mais me apresentar. Ponto final. E chega de falar disso.

Calista voltou sua atenção para a apresentação de Amaryllis, sua testa se franzindo tamanha era sua concentração.

Nos raios finais do sol que se punha, Gary conseguiu ver os olhos de sua namorada brilhando de lágrimas, lágrimas que ela obviamente estava se esforçando para não verter. Nem mesmo a cortina de aço era o bastante para esconder a intensidade do que sentia naquele momento.

Observando-a, o rapaz finalmente compreendeu: não ser capaz de se apresentar incomodava Calista muito mais do que ela jamais admitiria. A coroa de Kalos significava mais para ela do que ele imaginara.

Amaryllis terminou a coreografia com uma pirueta, enquanto Florges usava Dança das Pétalas e Ninetales usava Nevasca. O sopro de vento do golpe tipo Gelo fez tanto as pétalas quanto os flocos de neve voarem na direção da plateia.

— Uau! — Calista exclamou, seu rosto se iluminando com um breve sorriso. — Se isso fosse uma competição, ela teria dominado a concorrência!

— Só porque você não está lá.

— Pare com isso. — Mas ela riu, para satisfação do rapaz. — Sou boa, mas até eu teria problemas em superar essa.

Gary não respondeu, apenas estendeu uma das mãos para tirar algumas pétalas cor de rosa que haviam ficado presas entre os cachos negros de Calista.

O céu já estava tingido com o azul índigo do começo da noite quando as performances terminaram. O rapaz passou um braço sobre os ombros da morena enquanto caminhavam juntos, notando o quanto ela ainda parecia abatida.

— Ei, desculpe. — Ele disse. — Eu não tinha ideia de que isso era tão importante para você. Se soubesse, eu não teria ...

— Está tudo bem. — A mulher de olhos verdes interrompeu, seu tom agora gentil. — Eu gostei de assistir. Quando ... Se ... Eu voltar a competir, vou ter novas técnicas para experimentar. E ... Sinto muito por ter sido tão rude com você.

— Tudo bem. — O jovem pesquisador deu de ombros. — Não foi nada diferente do jeito como você sempre falou.

— Não. — Ela balançou a cabeça em uma negativa, parecendo desapontada. — Eu já disse: não sou mais aquela garota. E controlar meu temperamento faz parte disso. Mesmo que eu ainda tenha um longo caminho a percorrer nesse quesito.

Gary não disse mais nada sobre o assunto, simplesmente propôs que fossem para mais perto do mar e assistissem ao nascer da lua antes de irem jantar. Para surpresa de seu namorado, Calista tirou os sapatos e andou descalça ao seu lado até a beira da água.

Ela não pareceu estranhar o silêncio do rapaz. Talvez estivesse pensando sobre a possibilidade de não voltar a competir, ou talvez estivesse revendo os truques aprendidos nas performances daquela noite. Gary não perguntou. Ele simplesmente a observou enquanto ela dava alguns passos à frente, deixando as ondas lamberem seus pés e erguendo o rosto para o céu que escurecia, admirando as estrias laranjas deixadas no horizonte pelo sol que se punha.

O casal havia ido longe na praia, ao ponto onde a linha de areia encontrava um paredão rochoso. O som das ondas batendo contra as rochas foi tudo o que se ouviu por um longo tempo. Tudo estava tão calmo que nenhum dos dois quis romper aquela tranquilidade. Ambos simplesmente ficaram de mãos dadas na beira da água, em silêncio, até a lua despontar no horizonte a Leste, grande e alaranjada, banhando as ondas com sua luz.

Gary sentiu que chegara a hora, mas não conseguiu agir. Estava paralisado, morrendo de medo da possível resposta de Calista. Umbreon, que até então se mantivera um tanto afastado, ao lado de Mirabelle, aproximou-se e cutucou suas pernas, dando-lhe um leve empurrão para arrancá-lo do transe. Os olhos vermelhos do Pokemon Luar tinham uma expressão reprovadora, e Gary sabia muito bem o motivo. Estava bancando o covarde, sendo ridículo. Era hora de tomar coragem.

— Gary? — Calista chamou, arrancando-o de seus pensamentos. — Está tudo bem? Você está tão quieto, nem parece aquele garoto falastrão que eu conheço.

Antes que o neto do professor Carvalho pudesse dizer qualquer coisa, o ovo pokemon que Calista segurava começou a brilhar. Um brilho suave e prateado, quase como se refletisse a luz do luar.

— O ovo! — Ela exclamou, surpresa. — Está rachando!

A jovem rapidamente se afastou, ficando exatamente no ponto em que a areia ainda úmida pelas ondas começava a se tornar mais fofa, firme na medida certa, então colocou o ovo no chão e se ajoelhou para assistir de perto. Gary se ajoelhou ao lado dela.

— Que pokemon você acha que é? — Calista perguntou em um sussurro, com um tom quase reverente na voz.

— Eu não sei. — O rapaz mentiu. — Mas já vamos descobrir.

O brilho estava mais intenso do que nunca, rivalizando com a lua. Calista estendeu uma das mãos, e Gary fez o mesmo. O calor podia ser sentido a vários centímetros de distância. O jovem pesquisador conteve um sorriso. Seu presente nasceria na hora certa.

O brilho aos poucos foi diminuindo, e os sons começaram, batidas suaves a princípio, depois cada vez mais altas. A casca do ovo finalmente rachou, e a criaturinha branca terminou de quebrá-la com suas patas, perdendo o equilíbrio e quase caindo direto na areia. Os reflexos rápidos de Calista permitiram que amparasse o pokemon a tempo, e ela soltou uma exclamação de deleite ao vê-lo.

Era uma criatura pequena, lembrando uma raposa com pelagem muito branca, exceto nas patas onde ia escurecendo e assumia um tom azulado, quase como se fossem luvas. Seu focinho pontudo e comprido farejou a mão estendida de Calista e seus profundos olhos azuis a encararam com curiosidade, até o pokemon sorrir e lamber-lhe as pontas dos dedos, abanando com satisfação suas caudas brancas, tão perfeitamente unidas que pareciam uma só.

— Tão fofo! — A morena exclamou, deliciada. — É um Vulpix, não é?

— Isso mesmo. Como você sabe?

— Dedução. É parecido com aquele Ninetales que vimos mais cedo. Suponho que essa seja a forma de Alola, estou certa?

Gary não conseguiu mais conter seu sorriso. Sempre gostara do raciocínio rápido daquela mulher.

— Exatamente. O que achou?

Antes que Calista pudesse responder ou fazer qualquer menção de se levantar, o pequeno Vulpix se aproximou e pulou em seus braços, o que fez Mirabelle soltar uma exclamação indignada. Assustada, a pequena raposa branca se encolheu nos braços da jovem treinadora com um gritinho de medo.

— Mira! — A irmã de Ash repreendeu. — É só um bebê! Deixe de ser malvada.

Mirabelle ergueu o queixo com altivez, deu as costas e se afastou, decidindo esperar mais à frente. Umbreon a seguiu, como sempre.

Calista embalou a Vulpix maternalmente nos braços, esperando acalmar a pokemon assustada, uma de suas mãos acariciando os tufos de pelo que lembravam um topete encaracolado no topo da cabeça da pequena raposa branca.

— Está tudo bem, pequenina. — A jovem disse gentilmente. — Calma. Eu estou aqui. Ninguém vai machucar você, eu prometo.

A Vulpix ergueu os olhos para o rosto da morena, então se aninhou ainda mais, afundando o rosto em seu peito. Calista simplesmente riu e retribuiu o abraço.

— Parece que ele gosta de você. — Gary comentou.

Ela. — A irmã de Ash corrigiu, sorrindo ternamente para a pequena raposa em seus braços. — É uma fêmea.

— Como você sabe?

— Simplesmente sei. Pode chamar de intuição, se quiser. — Foi a resposta. — E eu vou chamar essa pequenina aqui de Inari.

Gary estendeu uma das mãos para acariciar a pokemon, que soltou uma exclamação assustada e escondeu o rosto no peito de Calista mais uma vez.

— Bem ... — O rapaz comentou. — Você não precisa se preocupar em descobrir a natureza dela.

— Tímida. — A morena declarou com uma risadinha. — É, percebi. Uma boa coisa, já que dá um aumento no status de velocidade.

— Ora, ora, alguém aprendeu alguma coisa nesses anos todos.

— Claro que sim, bobalhão. — Ela lhe mostrou a língua em um gesto bem humorado. — Você não é único a prestar atenção nas aulas do seu avô.

Acontece que Inari tinha uma natureza extremamente tímida. Calista a carregou nos braços até o restaurante que Gary havia escolhido para encerrarem a noite, e a Vulpix recém nascida ficou no colo de sua treinadora enquanto o casal jantava.

Gary tentou reunir coragem para fazer o pedido quando Calista lhe sorriu por sobre a taça de vinho, e outra vez ao ouvi-la gemer baixinho de prazer ao provar a sobremesa. Sem sucesso.

Era ainda cedo quando retornaram ao chalé, e o casal ainda ficou um bom tempo sentado na varanda, conversando preguiçosamente.

— Está ficando tarde. — Calista disse enfim. — É melhor eu ir dormir.

— Tem razão. — Gary concordou. — Só vou dar comida ao Arcanine e já vou entrar também.

— Quer que eu te espere?

— Não, não precisa. Boa noite, Caly.

Ela se pôs de pé devagar, tomando cuidado para não acordar a Vulpix adormecida em seus braços, então sorriu e deu boa noite a seu namorado antes de entrar. Assim que ela sumiu de vista dentro do chalé, Gary se deu um tapinha na testa. Não podia acreditar que havia desperdiçado aquela noite sendo um covarde.

Arcanine o cutucou com o focinho em um gesto de apoio, ao que o jovem respondeu se virando e dando um tapinha carinhoso no ombro do enorme cão. Ele se demorou propositalmente, ficando na varanda até Arcanine terminar de comer, e só então entrou.

Não viu Calista na sala, e as luzes da cozinha estavam apagadas. O rapaz seguiu pelo longo corredor central que atravessava a construção, indo direto até o quarto de hóspedes. A porta estava entreaberta e o abajur aceso, de modo que ele pôde ver a irmã de Ash aninhada na cama ao espiar pela fresta.

Abrindo a porta um pouco mais, Gary viu que a morena havia trocado o vestido por um pijama simples, bem largo. Calista dormia a sono solto, com Inari encolhida contra seu peito. Um de seus braços envolvia a pokemon de forma protetora.

Gary sabia que não conseguiria dormir. Ainda estava desapontado, com raiva de si mesmo por não ter tido coragem de fazer o que se propusera a fazer. Não conseguia parar de pensar nisso, amaldiçoando seu erro.


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