Quando eu e Carmelina decidimos ter um filho, eu ainda tinha vinte e quatro anos de idade. Estávamos completamente apaixonados e casados fazia apenas 4 anos. Ela queria um filho homem e queria que seu nome fosse Ivo, porque significava algo como "Deus perdoa". Eu nunca entendi nem perguntei, eu só queria ter um bebe com ela. Nosso menino nasceu lindo e saudável, mas ela sofreu de depressão pós parto e logo em seguida começou a beber. Carmelina nunca tinha colocado uma gota de álcool na boca e virou uma pessoa que só terminava o dia com bebida. Não demorou muito mais que cinco anos para ela virar uma alcoólatra descontrolada e nosso casamento desmoronar. Nosso pequeno filho cresceu vendo sua mãe chegar suja, bêbada e as vezes até só de calcinha e sutiã. Ivo viu Carmelina afundar e nunca disse nada. Porém eu vi o reflexo de tudo isso em suas notas, em seu comportamento fora de casa.

Meu filho aos 10 anos já era terrível na escola, com outros da idade dele, não tinha educação nem respeito pelos ais velhos e assim como sua mãe, quebrava coisas quando estava com raiva. Tentei psicólogos, mas seu comportamento só piorava. A medida que sua mãe se afundava mais, ele também. Eu sabia que era inconscientemente, contudo não conseguia conversar com ele sobre isso.

No ensino médio teve uma viagem que eles fariam e eu paguei com o maior prazer, além de querer meu filho longe daquela casa de guerra, eu queria um tempo para resolver a situação com minha esposa. Eu praticamente a expulsei de casa. Eu já havia dado tantas chances e ela havia me prometido tantas mudanças. Eu amava aquela mulher, mas eu também me amava e amava ao meu filho. Nós merecíamos paz.

De repente uma das alunas voltou da ilha. Câncer. Eu não tinha mais nada que pudesse fazer por ela. Morreu em meus braços. Logo, outra aluna morta. Assassinada. Eu me perguntava se tinha feito a escolha certa em mandar Ivo naquela viagem. Quando vi meu filho pela primeira vez depois daquela viagem, ele parecia outro. Eu não saberia dizer se foi pelas mortes que ele praticamente presenciou ou se fora algo mais. E infelizmente ele tomou a única decisão que eu não queria que ele tomasse: Morar com a mãe.

Havia uma garota: Pietra. Ela perguntou de Ivo algumas vezes e eu percebi uma certa tensão entre eles. Liguei para Quirino, certo dia, e perguntei sobre ela.

—Eles tiveram um rolo lá na ilha ou algo assim. Eu não entendi muito bem já que ele nunca me falou sobre isso. Só sei que antes da ilha eles se odiavam. Ela é uma daquelas meninas super inteligentes que se acham muito adultas e superiores a todos os alunos da sala. Mas vou te falar, lá na ilha eles não se desgrudaram.

Ele havia me dito mais ou menos isso quando perguntei sobre Pietra. Gostei da menina de cara e pensei que talvez Ivo tivesse amadurecido por causa dela. Logo tudo virou um rolo. Ivo voltou pra casa e de repente organizou uma viagem com um grupo de colegas que eu nunca o vi andando com eles. Eu sabia bem que Quirino e Jemima eram os únicos amigos dele - infelizmente tão baderneiros quanto meu filho. Estranhei, mas decidi que se ele queria andar com pessoas melhores, eu quem não impediria.

Quando Ivo voltou, assumiu namoro com essa menina pouco depois. As coisas seguiram bem e eu vi como meu filho havia amadurecido depois de conhecer a tal da Pietra. Terminaram o ensino médio e estavam orgulhosos de si, estavam felizes e de repente, Carmelina foi encontrada morta. Ninguém sabia mais a cirrose matou-a rapidamente. Um trauma para o meu filho. Meu coração doía por ela e por ele. As cosias mudaram. Ivo ficou frio e distante de todos.Pietra não parou a vida dela e saiu do país para estudar. Certo dia percebi que eles não estavam mais juntos. Ele não falava comigo sobre nada.

E eu percebi que talvez eu tivesse perdido o elo com meu filho novamente.