Depois da ilha - Quem fomos nós? - Livro 3 escrita por Letícia Pontes


Capítulo 13
Helena




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Era óbvio que aos 15 anos a anorexia anexada a bulimia havia tomado conta de mim. Desde os doze anos eu já sabia. Minha mãe me dizendo que garotas gordas não casam, meu pai perguntando se eu estava com um buraco na barriga e meu irmão vez ou outra me chamando de barrigudinha como se aquilo fosse o apelido mais fofo do mundo. O nó apertava em minha garganta toda vez. Comecei parando de comer. Escondia comida e jogava fora, aprendi técnicas de persuadir alguém e engana-las quando se tratava de comer. Foi tão fácil que as vezes eu achei que todas aqueles anos eles fingiam que não me viam emagrecendo e ignorando comida, só para não ter que lidar com aquilo. A anorexia. De repente vieram as compulsões. Comia feito louca e depois ia fazer exercícios desesperadamente em prantos, pois  sabia que tinha feito merda. Eu não conseguia forçar vômito, apenas tentei uma vez sem sucesso. A bulimia se limitava as compulsões. Seja elas por alimentação ou exercícios. Porém um certo dias aos 14 anos de idade, veio espontaneamente. Eu havia tido uma compulsão alimentar e em seguida fiz tanto polichinelos em prantos que a ânsia me tomou e eu corri pro banheiro vomitando tudo e mais um pouco.

Depois deste dia, nunca mais parei. Vez ou outra alguém me pegava no flagra e a minhas desculpas estavam começando a ficar repetitivas. Aos 15 anos, em uma viagem de fim de ano da escola, eu tinha 1.65 de altura e 46 quilos. A maioria achava que eu tinha corpo de modelo de passarela ou diziam "você tem o típico físico de uma americana". Eu sempre falava algo como "não sei como não engordo, vivo comendo". E as pessoas acreditava porque uma das minhas táticas era sempre andar com uma barra de cereal, uma banana ou uma maçã na mão. Era tão simples. Antes e sair de casa, pegava a barra de cereal e quebrava ela no meio, jogado uma metade no lixo, assim parecia que eu já tinha comido metade. E então enrolava a manha toda com aquela metade.

Comecei a vomitar sangue. Achei que fosse pelo fato da minha garganta estar extremamente ferida de tanto vomitar no último ano. As dores, o cansaço, as tonturas, os desmaios... Remiti tudo isso ao que eu estava passando. Mas quando fui levada da ilha as pressas e diagnosticada com câncer, eu nem quis saber mais detalhes. Eu não queria saber de nada, apenas queria ficar bem logo. Pode parecer doentio, e talvez seja mesmo, mas meu principal pensamento naquele hospital era: Será que consigo perder uns bons quilos aqui?

A comida aguada, a ausência de pressão para comer algo sólido e gorduroso, me ajudaria a perder peso e isso era tudo que me importava ali. Eu via as minhas melhores amigas se despedindo de mim aos poucos, mas eu não me importava. Eu via meus pais chorando em meu quarto toda madrugada quando achavam que eu dormia. Nada mais me importava. Até que eu um dia dormi. E nunca mais acordei.


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Notas finais do capítulo

Capítulo curto,assim como a vida da personagem.



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