Narração por Nicolas Santana Ribeiro

Aos 35 anos eu já havia saído de dois casamentos fracassados. Casei com a primeira aos 18 anos, meu primeiro amor, minha primeira namorada e minha primeira esposa. Me traiu com todos meus primos, podemos dizer assim. A desculpa dela era de que "a faculdade de letras te faz parecer gay". Como assim? Eu ainda fiquei com ela por cinco anos depois que descobri isso, resultando em seis anos de casamento. Sim, ela me traiu com seis primos meus dentro de um ano de casados, sabe-se mais com quem. Quando pedi divórcio foquei no meu novo emprego na escola mais requisitada da cidade. Aí em uma viagem de férias com minha família eu conheci a minha segunda esposa. Eu estava com 26 anos quando casamos. Ela era incrível, zero defeitos. Não podia reclamar de nada nela, era amorosa, trabalhadora, bem humorada, linda de rosto, corpo e alma, bondosa, amiga para todas as horas. Contudo, ela não achava o mesmo de mim e terminou o casamentos dois anos depois.

—Você não me trata com amor e gentileza de um esposo e sim com descaso e desinteresse por mim.

Não esqueço dessa frase dita por ela sobre mim. Decepcionei-a e ela nem me deu chance de me redimir. Mas eu não desisti do amor. Decidi que encontraria ele em algum lugar.

Namorei a moça da cantina da escola por dois meses, mas descobri que ela só estava interessada no dinheiro. Depois conheci uma moça linda no metro, saímos algumas vezes até eu descobrir que ela era casada. Em seguida foi a garota do restaurante italiano que eu sempre ia e via ela sozinha em uma mesa toda sexta feira, mas ela era depressiva e quando faltou ao nosso quarto encontro eu descobri que ela havia cometido suicídio.

Como você pode ver, eu não tinha muito sucesso no quesito amor. Eu nem consegui chorar a morte da última, acho que estava meio traumatizado. Decidi que desta vez eu iria na viagem de férias da escola e Lucas pareceu todo animado por ovos professores da sua escola terem decidido se juntar a ele - ele sempre precisava implorar.

Foi  nessa viagem que eu conheci Ednara. A desgraça da minha vida.

Desde os 19 sem falar com quase toda a minha família, desde os 18 tendo desgraças no amor, nenhum amigo e nenhum aluno que eu pudesse dizer que me amava como amavam ao professor Marcelo. Pode-se dizer que eu talvez tinha um pouco de inveja dele, mas isso não vem ao caso. O caso é que entre eu e ele, Ednara parecia muito interessada em mim, e além disso era linda. Morena, talentosa com cozinha e música, papo legal e me idolatrava. Cometi a burrice de largar meu emprego para ficar na ilha com ela. Dessa vez eu não falaria de casamento tão cedo, porque eu queria fazer diferente.

Mal sabia eu que a garota bonita era uma golpista. Voltei para casa um ano depois falido, de coração partido e com ódio de mim.