Zay não precisou se virar para ver quem estava chegando no Topanga’s, o som harmônico da risada de Riley já a denunciava e com a ceninha que ele havia presenciado mais cedo na cantina do Abigail Adams, imaginou quem a estava acompanhando, e suspirou.

Ele levou sua xícara de leite com creme de avelã até os lábios e se mostrou repentinamente interessado em seu guardanapo enquanto Ravi, que parecia surpreso e até mesmo um pouco chateado com a chegada do casal, sorria e cumprimentava os dois, em um tom insuportavelmente cordial.

Riley sorriu amistosa para Zay e dirigiu um mesmo sorriso para Ravi antes de entrar na cozinha para apanhar o seu avental e prender os castanhos e longos cabelos em um rabo-de-cavalo alto. Lucas, apenas cumprimentou o irmão de Luke, e sem dirigir um olhar para o que foi seu melhor amigo um dia, seguiu para o habitual lugar em que todos sentavam.

— Dia difícil? – Ravi perguntou se apoiando em frente ao balcão depois que Zay suspirou pelo que seria a décima segunda vez desde que se sentara ali.

O Babineaux ergueu as sobrancelhas, mas concordou. Talvez, se a pergunta tivesse sido feita antes do intervalo na escola, ele dissesse que não, porém, depois de ver Riley pedindo desculpas a Lucas por coisas que não tinham sido nem um pouco culpa dela e ver o Friar agindo com superioridade para com ela, aquele tinha se tornado um dos piores dias de sua vida.

Zay não entende realmente o porquê de estar se sentindo assim. Deveria estar feliz pela amiga finalmente se resolver com o namorado, mesmo que isso significasse o afastamento entre eles, deveria estar feliz pela amiga e ponto. Entretanto, tinha um gosto amargo em sua boca e uma sensação bastante incomoda em seu peito e ele queria ter o direito de dizer a ela que Lucas não é bom o suficiente para ela, não como ele poderia ser... Mas se contentou em apenas balançar a cabeça para afastar seus pensamentos e pedir mais uma bebida para Ravi.

— Cortesia da casa. – Disse o Ross, compadecido pela expressão de cansaço do outro, antes de empurrar a xícara com mais leite e creme de avelã e se virar para atender duas meninas que chegaram no local.

E então o sino da cafeteria tocou anunciando mais uma chegada.

Maya chegou acompanhada de Farkle e Smackle e se dirigiu até Lucas junto de Isadora enquanto o Minkus pareceu ser o único a notar Zay e caminhar até ele, como fez mais cedo.

Farkle está cansando de ter que ser o mediador entre os amigos. Guerras silenciosas ainda são guerras e ele não é um homem de batalhas. Sentou-se no banquinho vazio ao lado do Babineaux e pediu um cappuccino a Riley que saíra do lado de dentro da loja.

— O que você quer, garoto-gênio? – Zay provocou depois que o Minkus abriu a boca para falar algumas vezes, porém não disse nenhuma palavra.

— Ah, vamos lá Zay... – O namorado de Smackle suspirou. – Riley e Lucas se acertaram, não acha que está na hora de vocês se acertarem também?

O garoto de origens texanas bufou, já cansado do assunto que acabou de começar e levou um dos biscoitos amanteigados que pediu até a boca.

— Vocês sempre foram melhores amigos. – Insistiu Farkle. – Amizades assim não acabam do nada, Zay.

— Riley e Maya também dizem que se acertaram, mas nem se falam. – O de cabelos crespos virou a cabeça para olhar o amigo nos olhos.

— É diferente...

— Não é diferente, Farkle. – Sorriu, desacreditado. – Uma das maiores lições que o sr. Matthews nos ensinou é que pessoas mudam pessoas. – Zay disse enquanto tirava algumas notas de sua carteira. – Vocês me mudaram. – E então ele saiu, quase esbarrando em Luke e Zuri que entravam e deixando um Minkus perplexo para trás.

— O que aconteceu? – Perguntou a Matthews entregando o cappuccino e alternando o olhar entre o namorado de Smackle e a porta por onde saíra o antes melhor amigo de seu namorado.

— Pessoas mudam pessoas. – Respondeu o gênio em um sorriso triste. – Por que você e Maya não estão se falando? – Indagou após um tempo.

— Eu não sei. – Os olhos da Matthews eram tristes, mas ela sorria de forma vaga. Farkle assentiu lentamente antes de se levantar:

— Espero que as coisas voltem a ser como antes.

— É, eu também. – A irmã de Auggie concordou antes de ir ajudar Ravi que estava tendo problemas com a máquina de creme.

Farkle caminhou em direção aos amigos que conversavam no lugar habitual e tencionava sentar-se ao lado de Smackle quando Maya deu um grito que chamou atenção de todos os presentes no estabelecimento:

— O Josh fez o que?

Luke sorriu sem graça para as pessoas mais próximas a ele e disse em um tom bem mais baixo que a sua quase-namorada.

— Ele está substituindo um dos meus professores.

— Inacreditável. – Sibilou, nervosa, a menina com madeixas douradas, com os braços cruzados e balançando as pernas.

— Então você também não acha que é coincidência, não é? – Luke mordeu o lábio inferior e Maya o olhou com uma sobrancelha arqueada.

— Ah, por favor... – Disse, debochadamente, o que fez Zuri gesticular:

— Eu disse a mesma coisa. – Falou a mais nova dos filhos de Morgan e Christina, genuinamente feliz.

— É que Ravi disse que acha ele evoluído demais para estar ali só por minha causa. – Admitiu, sem graça. – Mas de qualquer forma, como ele também disse, não tem muito o que ele possa fazer.

— Ravi leva muita fé nas pessoas. – A filha adotiva de Shawn disse, emburrada. Zuri riu antes de comentar:

— Menina, você é minha alma gêmea.

Lucas, Smackle e Farkle assistiam a cena calados, na verdade nenhum dos três parecia estar de fato ali.

O primeiro porque estava mais focado em observar Riley e Ravi no balcão, conversando animadamente sobre qualquer coisa e parecendo confortáveis e próximos demais para seu gosto.

Smackle apenas estava cansada demais para qualquer interação humana. A discussão que vinha se prolongando através dos dias em seu grupo parecia estar drenando suas energias e ela apenas pegou um livro qualquer numa das estantes abarrotadas e dispostas na cafeteria e se determinou a lê-lo até o final antes de falar qualquer coisa com qualquer pessoa.

E Farkle pensava nas palavras de Zay e nos últimos acontecimentos. O pai de Riley nunca esteve tão certo. Pessoas mudam pessoas. O Minkus apenas não sabia se tinham mudado tanto a ponto de não conseguirem mais se dar bem. Isso não seria possível ou seria? No entanto, até mesmo Riley e Maya não pareciam conseguir ser sinceras o suficiente uma com a outra para resolver seus problemas e ele, assim como a namorada, está sentindo-se sugado por todo aquele buraco negro que se tornou seu círculo de amigos.

Talvez o melhor seja se afastarem mesmo, afinal as coisas mudam... E como elas mudam.

— Então... Você não respondeu minha mensagem. – Maya disse de forma dócil para Luke, depois que Zuri se retirar dizendo que esquecera um outro compromisso.

— Ah, me desculpa mesmo... – O de sardas tirou uma mecha de cabelo do rosto da Hunter e a beijou. – Eu adoraria sair com você.

Riley que limpava o balcão enquanto conversava com o irmão mais novo de Emma e Luke paralisou ao ver a cena e piscou, atônita, algumas vezes. Eles tinham se beijado? Seu coração pareceu que iria explodir de tanta felicidade pela amiga. Maya finalmente dera seu primeiro beijo e com alguém tão especial quanto Luke! Ela sorriu abertamente, e sincera de um modo como não fazia há dias, ato que não passou despercebido por Ravi, que até se virou para ver o motivo de felicidade da Matthews.

— O que aconteceu? – Ele perguntou, curioso verdadeiramente.

— Maya e Luke se beijaram! – Ele sussurrou, e comemorou de forma fofa. – É o primeiro beijo de Maya, ela vai ficar radiante, gosta tanto do seu...

— Riley, esse não é o primeiro beijo de Maya. – Ravi disse e se arrependeu logo em seguida pois tão rápido quanto veio, o sorriso da filha de sua chefe desapareceu.

— Como assim? – Ele engoliu em seco, encarando o balcão. Droga de boca grande! — Ravi, me diz, como assim?

— Luke chegou em casa segunda-feira praticamente pulando de alegria porque eles tinham se beijado pela primeira vez. – Contou, baixo e com muita vergonha o garoto de origens indianas.

Os olhos de Riley se encheram d’água e ela sufocou um soluço.

— Desculpa mesmo, Riles, eu achei que você soubesse e...

— Tudo bem. – Sorriu triste. – Não é sua culpa.

— Riles é...

— Não quero mais falar nisso, Ravi. – Encerrou ela. – Por favor, me cobre, preciso ir ao banheiro. – Disse antes de ir para dentro da loja, deixando um Ravi muito arrependido para trás.