Maya tem certeza que se o celular em suas mãos não estivesse tocando o seu álbum favorito do Bruno Mars, Luke conseguiria ouvir seu coração bater tão alto quanto o grave da música. A filha de Kate o olhava sentindo as mãos formigarem e se perguntando como alguém como o filho de Christina e Morgan Ross pôde se apaixonar por ela, ou pelo menos aparentar isso. Não que estivesse duvidando de Luke e a veracidade de seus sentimentos, longe disso, porém ainda é estranho para a melhor amiga de Farkle e Riley ter alguém que se importe tanto assim com ela em um nível romântico. Quer dizer, tem dezesseis anos e suas experiencias se resumem em dois amores platônicos frustrados.

Entretanto, de alguma forma, algo dentro de si a faz sentir que com o irmão de Emma, Ravi e Zuri as coisas sejam deveras diferentes. É algo como a sensação de rir tanto que suas bochechas doem, observar o pôr do sol depois de um dia inteiro na praia ou dar um abraço apertado em alguém que você não via há muito tempo. A adolescente de cabelos dourados tem noção de que conheceu o senhor Sardas de Ferro há pouco mais de um mês apenas, no entanto ela tem certa dificuldade em se lembrar dos momentos da sua vida nos quais ele não estava e a mesma dificuldade em imaginar futuros momentos sem a contagiosa presença dele e os meios sorrisos que ela sente vontade de emoldurar.

Como o que ele está dando agora.

Luke sorria de lado, evidenciando uma de suas covinhas, enquanto usava a colher para mover o conteúdo dentro da panela antiaderente vermelho-sangue. Seus olhos castanhos alternavam entre a sobremesa que estava preparando e rápidas olhadelas para Maya. Ela balança as pernas do alto da bancada de mármore de sua cozinha, enquanto observa o garoto Ross preparando uma sobremesa de cheiro muito bom e origem estrangeira.

Para ele, é simplesmente surreal como tudo estava acontecendo entre eles. Quem sabe um dia não desse um filme! Se conhecer no metrô no dia dos namorados e se complementarem da forma que o fazem não pode ser apenas coincidência. Luke tem certeza que ele e a filha adotiva de Shawn nasceram para no mínimo ter um romance digno dos roteiros dirigidos por seu pai ou protagonizados por Jessie. Não que ele esteja dizendo que eles vão casar e ter filhos e serem felizes para sempre como nos contos de fadas, porém algo eles foram destinados a ter e ele sabe disso, porque nunca sentiu tanta vontade de proteger alguém e de beijar e acariciar e ficar de mãos dadas ou dançar na chuva. Piegas? Clichê? Caçoem como quiser, Zuri com certeza já falou coisas piores para ele, contudo ele não se importa. Seu coração acelera por Maya e é isso o que faz ele ter a certeza de suas escolhas.

— E está pronto! – Exclamou animado, apagando o fogo, chamando a atenção da loira que também estava dispersa em seus pensamentos.

Maya arqueou uma sobrancelha e mordeu o lábio inferior, se inclinando para ver o conteúdo da panela.

— Como é mesmo o nome que você falou? – Ela indagou após responder para ele onde ficam as colheres.

— Brigadeiro. – Disse de forma engraçada para a menina, que riu. – É uma receita típica do país que Ravi quer ir fazer intercambio ano que vem. – Acrescentou, enchendo uma colher e entregando para ela que ainda estava sentada no balcão. – Ele que me ensinou.

— Interessante. – A filha adotiva de Shawn tornou a morder o lábio, esperando o menino encher a colher dele.

— Vamos juntos, tá bom? – Ele disse e ela assentiu. – No três.

— Um... – Ele começou lentamente. – Dois...

— Três! – Gritou rápido Luke fazendo com que ambos enfiassem as colheres com a sobremesa ainda quente de sabor chocolate na boca, sujando um pouco, o cantinho da mesma.

Maya fez gestos espalhafatosos para indicar que estava muito quente e o irmão mais novo de Emma riu com a boca ainda cheia de doce, o que fez a loira querer o estapear. Porém, conforme foi esfriando, notou a quão saborosa é a receita.

— Ai. Meu. Deus! – Disse pausadamente. – É inconcebível que eu tenha passado dezesseis anos da minha vida sem comer brigadeiro. – Comentou, com ar de indignação. – Você tem que me passar a receita.

— Um mestre não revela seus segredos. – Respondeu Luke, enigmático.

— Mas a internet revela. – Ela sorriu debochada, balançando o telefone na altura do queixo com um sorrisinho.

— Sua chata! – Ele fez birra enquanto fazia um biquinho que fez ela quase apertar as bochechas dele de tão fofo.

— Você me ama que eu sei. – Retrucou convencida, com as mãos apoiadas no balcão. Luke se aproximou.

— Eu amo mesmo. – O irmão mais velho de Ravi e Zuri disse, mas antes que ela pudesse corar, acrescentou: - Só que eu amo mais brigadeiro.

— Aceitável. – Ela riu, aliviada por ele ter quebrado o clima. Deus é testemunha do quanto Maya quer beijar Luke, porém ela nunca se sentiu tão insegura com algo. Afinal, é seu primeiro beijo. – Brigadeiro é agora a razão número um do meu viver. – Dramatizou, de forma animada.

Luke riu.

— Bom saber... – Ele levou o indicador até o canto da própria boca. – Tá sujo aqui, loirinha. – Maya piscou, envergonhada e levou o dedo até a boca, porém errou o lugar. – Não, aqui... – Ele explicou mais uma vez e ela tornou a errar. – Posso limpar? – Questionou, e viu Maya assentir.

Luke se inclinou e com o polegar limpou a boca da menina que corou com a aproximação, fazendo ele sorrir por deixá-la nervosa. O Ross ama ver a loira com as bochechas vermelhas, ainda mais quando é por ele. Após limpar ele não se afastou, mas permaneceu estático olhando-a nos olhos, com uma de suas mãos na bochecha e outra na coxa.

Maya conseguia sentir o formigamento em sua pele pelo toque de Luke, a respiração quente dele em seu rosto contra seu rosto e suas maçãs do rosto queimando por um misto de vergonha e ansiedade. Seu peito batia rápido como bateu apenas uma vez.

Mais cedo, quando dançavam juntos.

— Luke... – Maya sussurrou enquanto desviava o olhar do chocolate dos lábios dele para seus lábios rosados.

A verdade é que houve muitas oportunidades para que Luke e Maya se beijassem, porém eles sempre recuavam. Luke sabia que a garota não estava preparada e depois da confusão que ela tivera com Josh na noite de seu primeiro encontro, decidiu que seria paciente, pois a filha adotiva de Shawn merecia algo especial como ela. Contudo, ali, naquele instante, enquanto observava cada ponto daqueles lindos olhos azuis-esverdeados dela, ele soube que aconteceria.

Ele sorriu de lado. Porém antes que pudesse falar algo, ela quebrou o espaço entre os dois e o beijou.

E nenhum dos dois nunca ia esquecer daquele momento.

Tocava Marry You do Bruno Mars no telefone de Maya e no ar havia uma mistura de aromas: brigadeiro, chuva e o perfume amadeirado de Luke. As mãos dele permaneceram, uma na coxa, outra na bochecha dela, enquanto as dela, brincavam entre o pescoço e a nuca dele. Ambos estavam tão próximos que já nem sabiam qual era o coração que batia mais forte. Tudo o que Luke e Maya conseguiam raciocinar naquele momento é que eram completamente estúpidos por terem demorado tanto tempo para se beijar.