Fazia realmente muito tempo que Riley não ia até Coney Island. E mesmo sendo uma manhã acinzentada com um leve e gélido vento típico do início de março, ela nunca ia poder negar o quão bem aquele passeio lhe estava fazendo bem. Sentir a brisa do mar e pôr os pés na areia era realmente o que estava precisando para se acalmar.

Zay alternava o olhar entre o oceano e a garota ao seu lado. Nenhum dos dois falou mais nada após ele convencer ela a deixar o colégio e o único som que cortava o silêncio além da quebra das ondas era as músicas da playlist do Babineaux que tocava nos fones que eles dividiam. Dessa vez é Not A Love Song do Austin Moon, o que fez Riley olhar de soslaio para o rapaz ao seu lado, com um sorrisinho no rosto.

— Eu realmente amo essa música. – Ela disse, quebrando o silêncio estabelecido entre eles. Após alguns segundos de silêncio, Zay respondeu:

— É uma boa música. – Ele se moveu cauteloso na jaqueta que forrou no chão para ambos se sentarem. – Mas eu prefiro Can’t Do It Without You. ­— Revelou.

— Que ele canta com a Ally Dawson, certo? – Zay assentiu. – Das músicas dela, eu gosto muito de Dance Like Nobody’s Watching. — Falou, e o amigo sorriu.

— Essa música combina com você. – Riley piscou de modo fofo com o comentário, porém pareceu triste um pouco depois. – O que foi?

— Eu acho que ela combinava comigo. – A Matthews abraçou os próprios joelhos, voltando a encarar o mar. – Não sou mais a Riley do início do ensino médio. – Desabafou, e suspirou com os poucos segundos de silêncio que se seguiram.

— Isso é normal. – Zay a olhava. – Quero dizer, pessoas mudam, não é? – Indagou.

— O segredo da vida. – Riley riu fraco ao citar a constatação do pai. – O problema é que... Ser alguém diferente do que eu era me parece quebrar uma engrenagem importante de algo. – Ela revelou, colocando a cabeça sob os joelhos e o encarando, com alguns fios de cabelo lhe caindo sobre o rosto. – Como se para sempre eu tivesse que ser a Riley raio-de-sol que chora porque Plutão não é mais um planeta. – Riu fraco, com os olhos marejados.

Zay nunca sentiu tanto vontade de proteger alguém em sua vida. Riley era tão frágil e ao mesmo tempo tão forte, como Lucas pode tratá-la com tanta indelicadeza? Como ele pode não querer guardá-la num potinho? O Babineaux deu seu sorriso mais gentil a ela.

— Riles, todos amamos você. – O adolescente tirou os fios de cabelo que caíram sob o rosto dela. – Lucas, Maya, seus pais, os nerds e eu. Todos amamos você. – Sorriu mais uma vez. – Independente da versão sua que você seja, a essência ainda é a mesma.

— Ok. – Ela riu fraco, piscando impressionada. Não esperava algum dia ouvir essas coisas de Zay, o melhor amigo de seu namorado sempre foi muito mais próximo de Maya. – Olha, se eu fosse você cobrava bem mais que quatro dólares.

O adolescente de origens texanas sorriu e a abraçou de lado, e permaneceram assim, olhando o mar.

~ ♥ ~

— Algum de vocês viu a Riley? – Lucas perguntou, enquanto colocava sua bandeja vermelha em cima da mesa que estava Maya, Farkle e Smackle. A loira que mordia uma maçã com a cara emburrada, ajeitou sua postura, o olhando num misto de confusão e preocupação.

— Como assim ela não está com você? – A Hunter perguntou, se levantando. – Eu não falo com ela desde que chegamos na escola. – A constatação fez o grupo presente olhá-la como quem tem pontos de interrogação sob a cabeça. – Nós... Discutimos.

— O quê? Vocês também? – Lucas indagou e o casal de nerds trocou um olhar.

— Como assim vocês também? – Farkle indagou, com uma sobrancelha arqueada, arrancando as palavras da boca de Maya. Lucas suspirou.

— Nós discutimos entre o primeiro e o segundo período. – Revelou, o que fez a Hunter descruzar as pernas, agora realmente preocupada.

— Ela não tem aula com o Zay no segundo período as segundas? – Smackle observou, vendo os amigos trocarem um olhar. – Também não sabem onde está o Zay. Ótimo.

— Quem mais é dessa aula que nós conhecemos? – Maya indagou para os amigos e logo viram um estudante aparentemente baixo demais para estar no médio. – Yogi! – O grupo exclamou ao ver o rapaz, que com o grito, aproximou-se da mesa.

— Oi pessoal, como vai? – Cumprimentou de modo divertido, do qual Maya riria em outras circunstâncias. – Em que posso ajudá-los? – Perguntou por fim, ao reparar que os outros não pareciam estar de bom humor.

— Você tem química com o Senhor Jackson no segundo período de hoje né? – Smackle perguntou e viu o outro assentir. – Viu Riley e Zay?

— Na verdade, a pergunta seria quem não viu a Riley e o Zay. – O menino disse e assistiu o grupo se entreolhar. – Vocês não estão sabendo?

— Como assim? – Farkle questionou, preocupado com a resposta. – Sabendo o quê?

— O professor pediu para a Riley sair, ela estava com cara de choro. – Revelou o garoto e a namorada de Farkle encarou Lucas com fúria nos olhos. – Zay defendeu ela e ele também foi obrigado a sair da sala. Foram mandados para a direção.

— Nossa... – Lucas suspirou. – Valeu Yogi. – Agradeceu, sorrindo sem mostrar os dentes, vendo o pequeno colega se afastar logo em seguida.

— Direção? Será que eles estão lá até agora? – Maya se perguntou já se levantando.

— Não sei, mas acho melhor irmos lá procurar por eles. – O Minkus sugeriu, levantando-se também, seguido pela namorada, porém antes que pudessem se mover, viram a figura de um enraivecido Cory Matthews se aproximando.

— OK. – Ele disse assim que estava perto o suficiente para ser ouvido. – Eu preciso saber onde Riley e Zay estão e eu preciso saber agora.

~ ♥ ~

Zay riu de Riley que sujou todo o rosto ao comer um pedaço de cachorro-quente. Ele lhe indicou em vão onde estava sujo pois ela não achava e acabou por decidir ele mesmo a limpar, e com cuidado passou um guardanapo sobre o rosto da amiga. Eles trocaram um olhar, e sorriram um para o outro.

— E então... – O amigo resolveu quebrar o silêncio que se estabeleceu por alguns segundos. – Como se sente? Melhor? – Zay indagou, verdadeiramente se alegrando quando ela abriu um enorme sorriso e assentiu.

— Obrigada. – Ela o socou amigavelmente. – Eu estava mesmo mal mais cedo. – Disse. – Eu não sei se aguentaria outro discurso Cory Matthews naquela hora.

Zay olhou-a de lado enquanto brincava com a areia. Ambos estavam num quiosque pequeno de Coney Island.

— Não acho que esteja sendo dramática. – Ele continuou brincando com o canudo enquanto sentia o olhar dela recair sobre si. – Quero dizer, não acho que Lucas agiria tão diferente de você... Se fosse ao contrário.

— E você sabe quem é ela? – Riley abraçou os próprios joelhos, tornando a olhar o oceano. – Maybelle? – Indagou, e ouviu o amigo suspirar.

— Sei. – Confessou o texano. – Mas olha, não é o que parece. – Acrescentou, vendo a menina olhá-lo. – Lucas não está...

— Então o que é, Zay? – Ela perguntou, sentindo um nó formar-se novamente na sua garganta. – Por que Lucas esconde tanto essa garota de mim?

— Você vai ter que perguntar para ele, Riles. – O menino ofereceu um sorriso dolorido. – Porque a verdade é que eu também não sei. – Confessou, se sentindo mal pela amiga.

— Ele não conversa mais comigo. – Contou ela. – Pelo menos, não como antes. – Passou a brincar com o guardanapo, evitando contato visual com o outro. – Eu não tenho ideia do que ele está pensando, se está passando por algo, se eu fiz alguma coisa errada...  – Suspirou fundo, vendo os celulares começarem a vibrar em cima da mesa.

Mais uma ligação de Maya para Riley, mais uma ligação de Lucas para Zay. Sem contar as dos outros que foram igualmente ignoradas.

— Eles devem ter sentido nossa falta no almoço. – O adolescente comentou, vendo-a parecer perdida em seus próprios pensamentos.

— Nós precisamos voltar. – A Matthews comentou. – Eu tenho que cobrir minha mãe na cafeteria. – Pontuou, vendo-o conferir as horas. – O que foi?

— Temos que correr. – Avisou após deixar algumas notas sobre a mesa. – E aí, nós esperamos eles no ponto do metrô, como se só tivéssemos saído mais cedo.

— Você não acha que eles já devem saber que matamos aula? – Riley, indagou, se levantando assim como o Babineaux.

— Acho que eles podem acreditar que você apenas me fez almoçar com você porque estava chateada com Lucas e Maya. – O adolescente deu de ombros.

— Não custa nada tentar, né? – Ela arqueou uma sobrancelha e virou a cabeça, fazendo Zay conter o ímpeto de soltar um “Owwwwn” – Mas antes... – Ela caminhou até ele, e o abraçou. – Obrigada mesmo por hoje. – Beijou a bochecha do amigo e então passou a andar, sem perceber que ele permaneceu estático. – Zay? Você não vem?

— Claro. – O Babineaux sorriu e correu até ela, sentindo, de repente, um nervosismo percorrer seu corpo. – Você sabe que quando descobrirem vamos ouvir muito, né? – Ele indagou após um tempo em silêncio, enquanto eles observavam a paisagem do lado de fora do metrô.

Riley sorriu.

— Sinceramente... – Ela deu de ombros. – Eu não me importo mais. – Disse. – Se eu pudesse voltar atrás, eu faria de novo, porque valeu a pena. - Foi a vez de ele sorrir.

Zay não poderia concordar mais.