O domingo que sucedeu a festa de Kate amanheceu acinzentado e isso só fez com que Riley resmungasse ao ver que horas levantou da cama. 5:35. A adolescente de longos e lisos fios de cor castanho-escuro já estava acordada há alguns bons 20 ou 30 minutos e sabia que não iria conseguir dormir mais, por tanto, com meias de joaninha nos pés, iniciou sua rotina matinal.

Após abrir as janelas, arrumar a cama e organizar o próprio quarto, a primogênita de Cory e Topanga usou o banheiro e tomou um longo banho quente antes de seguir para a cozinha afim de preparar café e se surpreender com a mãe que ali já estava.

Topanga digitava freneticamente enquanto conferia algum detalhe nas folhas de papéis a sua frente. A advogada já estava trajada para ir trabalhar e Riley se perguntou que horas a mãe se levantou para já estar tão ativa antes das 6:30, porém não se demorou refletindo sobre isso pois logo sentiu o aroma do café recém-feito e caminhou até a pequena cozinha de sua casa.

A esposa de Cory arqueou uma sobrancelha ao reparar a presença da filha mais velha ali, e então conferiu as horas antes de falar:

— Caiu da cama, querida? – O tom de voz doce da mãe fez com que a Matthews girasse os calcanhares para encará-la enquanto bebericava seu café.

— Perdi o sono. – A adolescente deu de ombros, caminhando até a mesa. – A senhora vai trabalhar hoje? É domingo...

— Sim, meu amor. – A mais velha suspirou, olhando nos olhos da filha. – Eu preciso agilizar os papéis desse caso, meu cliente não pode perder. – Constatou enquanto ajuntava alguns dos papéis com as mãos. – Eu tinha escrito um bilhete para você...

— Eu fico na cafeteria sem problemas, mãe. – A irmã mais velha de Auggie disse e a mulher a sua frente sorriu. – Na verdade, eu queria falar com a senhora sobre isso... – Riley mordeu o lábio inferior, ansiosa. – Eu gostaria de trabalhar fixamente lá e receber por isso.

— Riles, isso é por causa do Ravi? – Topanga inclinou-se um pouco para frente ao fazer a pergunta, e por um instante a mais nova duvidou da dualidade da pergunta da mãe. – Ele te inspirou a isso? – Indagou.

A namorada de Lucas soltou o ar que nem sabia estar prendendo, mas assentiu em resposta.

— Quer dizer, ele falou sobre adquirir experiência e essas coisas. – Riley divagou por um instante. – E eu estou quase fazendo dezessete anos e não reconheço muito em mim essas coisas. – Topanga arqueou uma sobrancelha com o comentário da filha que apenas deu mais um gole em seu café. – Até reconheço, mas... Enfim.

— Olha, meu bem. – A advogada sorriu gentil. – Eu acho muito bom você estar querendo adquirir experiência. – Pausou, vendo a filha ansiar pela continuidade da resposta. – Se você acha que está preparada. – Deu de ombros enquanto sorria com o brilho de animação no rosto da adolescente. – Mas não tenho condições de pagar sua mesada mais o seu salário, então...

— Tudo bem. – A garota sorriu, animada. – Um incentivo a mais então...

Topanga riu da filha, mas logo seu celular apitou ao anunciar uma nova mensagem e ela viu as horas. 6:27.  Já estava atrasada.

— Porém, quero que mantenha as boas notas, tá mocinha? – A advogada se levantou, e apanhou a pasta. – Uma nota vermelha e receberá uma carta de demissão.

— Sim senhora, capitã. – Riley respondeu para a mulher que já saía às pressas do apartamento.  

 ~ ♥ ~

Zay ouviu o tilintar dos sinos pendurados acima da porta do Topanga’s anunciar sua entrada, e sorriu para uma Riley atarefada que preparava o que ele deduziu ser um cappuccino enquanto atendia uma senhoria que o lembrava sua avó. O Babineaux sentou-se num dos banquinhos de forro escuro perto da bancada e esperou até que a amiga pudesse atendê-lo.

— Alguém está cumprindo hora extra? – O garoto fez graça e riu quando a outra rolou os olhos.

— Ajudando minha mãe que deve estar dando uma de superadvogada por aí. – A Matthews deu de ombros. O amigo de origens texanas era um dos únicos com quem sentia não precisar estar cem por cento feliz e encantada o tempo inteiro. – E você? Corrida dominical no Central Park?

— Corrida dominical no Central Park. – O melhor amigo de Lucas confirmou, não era o primeiro domingo que encontrava a Matthews encarregada da cafeteria. – Eu vou querer o de sempre e um conselho. – Sorriu para a irmã mais velha de Auggie que pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de pegar uma caneca azul.

— O de sempre saí por oito dólares, só que com o meu conselho... – Ela pareceu ponderar. – Como sou muitíssimo sábia saíra por quatro. – Brincou, enquanto enchia a caneca com creme de avelã e café. Zay mordeu a bochecha interna, se movendo desconfortável no banquinho.

— Então, Riles, eu não sei se o Lucas comentou... – Ele engoliu em seco antes de continuar, Riley terminava de preparar seu pedido e lhe lançara um olhar, como quem esperava por mais. – Eu terminei com Vanessa por causa de, por causa de uma menina.

— Não, o Lucas não comentou. – Disse a menina o entregando a bebida quente e um prato com cookies de chocolate. Zay sentiu uma ponta de raiva na frase, mas apenas continuou falando:

— E então essa menina está com outra pessoa. – Revelou. – Quer dizer não está, está, mas está tendo algo com essa pessoa e eu sei lá, não sei se seria egoísmo da minha parte revelar que eu terminei meu namoro com a Vanessa por ela, agora que ela está feliz. – Ele mordiscou um cookie. – O que você acha?

— Zay se você gosta de Maya e termi...

— Eu não disse que era Maya. – Ele a interrompeu, Riley arqueou uma sobrancelha.

— Zay! – Riley exclamou.

— Riley! – O Babineaux retrucou, ela o encarou por alguns segundos mais e ele suspirou. – Tá, é Maya. – A menina sorriu vitoriosa e logo tratou de continuar seu raciocínio:

— Se você gosta de Maya, e terminou com Vanessa por causa disso – A Matthews fechou os olhos, ponderando por alguns segundos. Riley sabe o quão feliz está Maya com Luke, mas Zay não pode esconder seus sentimentos por causa de algo que, por mais que Riley espere muito, não aconteceu e talvez nunca aconteça. – Você deveria falar com ela. – Respondeu por fim, surpreendendo o outro. – Ela ainda não está com Luke de fato, e você não deveria sacrificar sua felicidade em prol de algo incerto.

— Nossa... – O menino mordeu outro pedaço de cookie. – Riles, por favor, não comenta nada com ela, tá? – Pediu. – Eu ainda vou tomar minha decisão.

— Fica tranquilo. – Riley segurou a mão do amigo em apoio. – Isso é algo entre vocês, não vou me intrometer. – Sorriu, o confortando antes de sair para atender um casal recém-chegado na cafeteria. Zay a observou trabalhando e não pôde evitar sorrir, Riley é uma caixinha de boas surpresas.

~ ♥ ~

Josh nunca esteve tão no fundo do poço. Depois da briga com Maya na frente dos irmãos Ross, levou um chute de Emma, sermões de Cory e Topanga, além da garota Hunter o ter bloqueado em todas as redes sociais e a filha de Morgan e Christina espalhar pelo campus que ele estava se envolvendo com uma menina do ensino médio.

Diante de tais circunstâncias, é claro que se arrependera das palavras que saíram da sua boca no dia da cafeteria, se soubesse se controlar ainda teria Maya e Emma, e poderia pelo menos ir ao almoço de domingo na casa do irmão sem o constrangimento dos olhares feios dirigidos a ele pela sobrinha e pela cunhada.

O Matthews suspirou, enquanto rolava o feed do Instagram para longe de uma foto que Riley postou do grupo que compareceu a uma festa na noite anterior. Nesta, Luke abraçava a garota loira que jurava ser apaixonada por ele até dois meses atrás. Mentirosa, ele pensou.

— Você só tinha que me esperar. - Josh se exaltou. - Ia surgir o momento, Maya, só não agora. - Ele disse.

— Quando não alimentados seres vivos morrem, Josh. - Ela gritou ainda mais alto que ele. - Amores são como seres vivos e o que eu sentia por você morreu. - Disparou, fazendo-o a encarar com fúria. 

Josh balançou a cabeça afugentado as lembranças daquela noite, porém se Maya achou que aquilo acabou ali, ela estava muito enganada.

Ele sorriu pensando na inocência da menina.

Só acabaria quando ele dissesse que acabou.