Nosso Amor Único escrita por Lyssa Silver


Capítulo 4
Capítulo 04




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CHRISTIAN

 

— É sério isso? – inquiri, olhando-a atentamente.

— Sim, Christian. Desculpa não falar isso antes. Eu fiquei tão empolgada que esqueci de ser sincera com você – ela murmurou e eu fiquei encarando-a, avaliando se a mesma falava ou não a verdade – Acho melhor eu ir embora.

Ana se levantou e eu fiz o mesmo, já pegando em seu braço, fazendo a mesma me olhar e eu pude notar um pouco de medo em seus olhos, então a soltei, imediatamente.

— Isso que você falou, não é nenhuma pegadinha para zoar com a minha condição, é?

A vi franzi o cenho, com uma expressão confusa.

— Condição? Eu juro que não é pegadinha, Christian. Eu falei sério sobre mim.

— Tudo bem – murmurei, respirando fundo, a olhando – Eu sou transgênero também.

Seus olhos se arregalaram e sua boca se entreabriu, antes da mesma tapá-la com a mão, por alguns segundos.

— Ai meu Deus... É sério, Christian? – ela perguntou.

Assenti com a cabeça, levantando um lado da minha camisa, até a altura do peitoral, mostrando a sutil cicatriz da minha mastectomia.

— Agora eu estou entendendo sobre o lance de ser virgem – Anastasia comentou enquanto eu abaixava a camisa – Então não era por você ser tímido?

— Um pouco. Algumas mulheres já chegaram em mim, por eu ser pintor e expor meu trabalho em galerias de artes, mas quando descobrem sobre mim, elas se afastam, me acham uma aberração – falei, triste, abaixando o olhar.

Me sobressaltei um pouco quando Ana pegou no meu queixo, fazendo-me encará-la, notando que a mesma havia se aproximado mais, parando só a alguns centímetros de mim.

— Você não é uma aberração, Christian – ela disse, acariciando minha bochecha, parcialmente coberta pela barba – Longe disso. Você é um homem muito lindo, fofo, super simpático e com todo respeito, bem gostoso de corpo.

Sorri, corando sutilmente.

— Aberrações são elas! Se essas mulheres precisam de um pau para tratar você como um homem, então sinto muito por elas... quer dizer... Você é operado?

— Não.

— Ufa! Que bom. Assim não passo vergonha – Anastasia comentou, rindo, descendo sua mão, que ainda se encontrava em meu rosto, para o meu ombro.

Franzi o cenho, confuso.

— Você não é operada também não?

— Não. Bom... Já que vimos que vamos nos dar super bem, acho melhor a gente voltar a se sentar e tomar o nosso café da manhã. Concorda?

Assenti então nos sentamos, lado a lado, sobre a toalha de piquenique.

— O que você trouxe aí nesta cesta?

— Eu tentei fazer a torta de frango que você disse que gostava.

— Mentira! Sério mesmo, Chris?

— Sim – respondi, sorrindo, tirando uma pequena tigela de dentro da cesta, destampando-a – Tá meio morna ainda.

— Oh meu Deus! Ninguém nunca fez uma torta para mim no primeiro encontro. Não vou nem precisar tirar a sua virgindade, já quero casar contigo aqui e agora.

Não deixei de rir do seu comentário enquanto a via pegar a tigela, cheirando a mesma.

— O cheiro está maravilhoso.

— Espero que o gosto também.

Peguei dois garfos e dei um a ela, que começou logo a experimentar a torta à medida que eu ia tirando o resto das coisas de dentro da cesta, que incluía um pote de cookies, queijo e presunto em fatias, morangos e uma garrafinha de suco e outra de café.

— Nossa, que banquete! – Ana exclamou, com a boca parcialmente cheia – E isso aqui está divino, Chris!

— Que bom que gostou. Acordei de madrugada para fazer.

— Você o quê? Christian... Não precisava.

— Eu não conseguia pregar os olhos. Só cochilava e acordava. Daí resolvi cozinhar para matar o tempo – informei, pegando uma boa garfada da torta, já provando.

— Eu também nem dormi direito, passei a noite quase toda procurando uma roupa perfeita para o nosso encontro.

— Você ficaria perfeita em qualquer coisa – a elogiei e Anastasia sorriu para mim, corando pela primeira vez.

— Obrigada, Chris.

— De bebida eu trouxe café e suco. Qual você prefere?

— Vou tomar suco. Não sou tão fã assim de café.

— Eu gosto dos dois – comentei, dando de ombro – Então eu fico com a garrafinha de café.

Ela assentiu e pegou a pequena garrafa de suco, que eu lhe oferecia.

— Então, Chris... com quantos anos você se descobriu trans? – Ana perguntou à medida que comíamos.

— Aos 08 anos, mas desde cedo eu percebia que algo estava meio errado, porque eu odiava meu quarto todo rosa, minhas roupas e minhas bonecas. Mas só falei sobre isso com meus pais aos 10 anos. Eles e meu irmão mais velho não aceitaram muito bem e depois de alguns anos, eu saí de casa e fui morar com meu tio.

— Entendo. Eu também sempre soube, mas por ser homem na época e muito apegado ao meu pai, que sempre me ensinava coisas de homens, eu ficava na minha, até que não aguentei e aos 15 anos, contei como eu me sentia.

— Como seus pais reagiram? Ou melhor, como seu pai reagiu, já que você era mais apegada a ele? – indaguei enquanto ela bebia um pouco de suco.

— Fui o motivo deles terem se separado, porque meu pai não me aceitou, já minha mãe me deu total apoio e quando meu pai mandou ela escolher entre me expulsar de casa ou ele. Ela não pensou duas vezes e o expulsou na hora – Anastasia murmurou e riu, mas percebi que foi um riso triste.

— Você se culpa por isso, não é?

— Sim, porque eu vi como minha mãe ficou nas semanas seguintes. Foi difícil, emocionalmente, para ela se desfazer de um casamento de tantos anos com alguém que a mesma amava tanto.

— Veja pelo lado bom, Ana. Eu não vou precisar ter medo do meu sogro e nem você vai precisar lidar com os seus sogros, porque eu meio que morri para os meus pais. Isso se você quiser ficar comigo – falei, sorrindo.

— Isso por acaso foi um pedido de namoro? – ela inquiriu, depositando a tigela da torta, já quase vazia, sobre a toalha.

Assenti, timidamente, com um aceno de cabeça, então a vi se inclinar um pouco e eu fiz o mesmo, aproximando nossos rostos, lentamente.

— Então, eu aceito – Anastasia sussurrou, antes de seus lábios tocarem os meus, num beijo inicialmente tímido, mas que depois de alguns segundos, se aprofundou.

Acabei sorrindo entre nossas bocas, de tão feliz que eu me encontrava, por perceber que finalmente poderia ter achado alguém que me amaria sem se importar em como eu era fisicamente.

— Melhor beijo que eu já recebi. Nem a barba me incomodou – ela comentou, sorrindo, acariciando meu rosto à medida que eu colocava uma mecha de seu cabelo atrás da sua orelha.

— Eu digo o mesmo – murmurei, roubando-lhe um selinho, que a fez rir, fazendo assim eu me apaixonar pelo seu riso verdadeiro e cheio de alegria.


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