Nosso Amor Único escrita por Lyssa Silver
ANASTASIA
— Estou um pouco nervoso – escutei Christian dizer, enquanto eu dirigia o carro dele, rumo ao bairro onde minha mãe morava.
— Relaxe, ursão. Minha mãe vai te adorar com certeza. Ela é mega protetora, porque a mesma tem medo de que aquilo que eu te contei, possa vir a acontecer de novo comigo.
— Entendo, amor.
— Posso falar a ela que você é trans, como eu? Assim minha mãe fica mais tranquila e te ama logo de cara.
— Pode, ursinha – ele falou, parecendo mais aliviado, o que me fez sorrir discretamente.
— Amor, seria precipitado demais falar que, se você quiser, eu posso abrir uma parte no meu closet para você colocar suas roupas, quando começar a dormir lá em casa?
— Ah... Vamos deixar para depois, meu amor. Não quero invadir o seu espaço assim tão de repente. Isso vai acontecer aos poucos, daí quando a gente menos perceber, vai ter mais roupas nossa no armário do outro.
Aquilo me fez rir, junto com Christian, à medida que eu estacionava em frente a casa da minha mãe.
— Ok, ursão. Chegamos – anunciei.
Saímos do carro, então peguei a sacola e a minha bolsa de mão, no banco de trás e segurei a mão dele, já sorrindo para o mesmo e sussurrando um “Relaxa, ursão” enquanto seguíamos rumo a entrada. Usei minha chave reserva e abri a porta, dando logo passagem para Christian entrar.
— Mãe! Cheguei! – gritei, já escutando um barulho na cozinha, segundos antes de ver minha mãe aparecendo no corredor, que terminava no hall de entrada, ao qual nos encontrávamos.
— Finalmente você chegou, filha.
— Antes de tudo, mãe... Quero que a senhora conheça o Christian – murmurei, sorrindo para ela e segurando a mão dele de novo, percebendo o mesmo muito nervoso.
Minha mãe logo estreitou os olhos, nos encarando.
— Christian? Aquele Christian?
— Sim – falei e olhei para o meu namorado – Amor, essa é minha mãe Grace.
— “Amor”? Já? – ela inquiriu, desconfiada, olhando Christian de cima a baixo à medida que eu me encontrava tentando não rir daquela situação.
— Prazer, Sra. Steele – ele disse, estendendo a mão para a mesma.
— É “Sra. Trevelyan”, rapaz – minha mãe o corrigiu, bem séria, já apertando a mão dele – Olha... Minha filha é meu mundo. É o meu tesouro mais precioso nesta vida, então é melhor você nunca machucar ela, rapaz. Eu sou médica, e pode ter certeza que eu sei usar muito bem um bisturi.
— Mãe...
— Ele precisa saber que você tem alguém que te protege e que fará de tudo para te ver feliz – ela ressaltou, fazendo-me sorrir e abraçar a mesma.
— Mãe, não se preocupe – falei, passando meu braço pelos ombros dela – Christian é, sem sombra de dúvidas, a minha alma gêmea. Ele é transgênero também. Do mesmo jeito que eu sou. Com a mesma escolha com relação ao órgão sexual – informei, sussurrando baixinho no ouvido dela a última parte.
Ela o encarou novamente e se desvencilhou de mim, já puxando Christian para um abraço mais caloroso e acolhedor.
— Oh, meu Deus! Agora eu sei que a minha filha vai ser muito feliz e vai conseguir formar a família que ela tanto deseja.
— Não se preocupe, Sra. Trevelyan. Eu gosto muito da Ana e nunca a machucaria – Christian garantiu, sorrindo, e olhando para mim.
— Ah, mas se você quiser, pode dar uns cascudos nela. Eu deixo, porque a Anastasia é meio irritante, às vezes.
— Oh, mãe! – exclamei, fechando a cara, mas ela me ignorou e levou Christian, que ria, para a sala de estar, já fazendo o mesmo se sentar no sofá.
Me aproximei deles e sentei ao lado do meu namorado, enlaçando o seu braço.
— Meu genro é muito lindo. Se deu bem, hein filha?
Apenas sorri enquanto Christian agradecia o elogio.
— Mas, me diga, meu genro lindo. Qual é a sua comida favorita? Estou fazendo o almoço, daí já preparo logo mais comida. Vocês vão almoçar aqui, não é?
— Desculpe, Sra. Trevelyan. A gente está indo almoçar com meu tio, mas podemos vir jantar hoje com a senhora. E eu como de tudo, viu?
— Ah, mas você deve ter alguma comida favorita. Ana, por exemplo, come de tudo, mas ama minha torta de frango. Come até a tigela, se eu deixar.
Rolei os olhos.
— Bom, eu gosto muito de macarronada, de lasanha e de tortellini. Sou descendente de italianos, então qualquer massa é nosso prato favorito.
— Pois então eu vou preparar um banquete italiano. Não lanchem para ter muito espaço na barriga. E traga o vinho, filha.
— Sim, senhora. Já está na hora, amor – lembrei Christian e o mesmo assentiu – Temos que ir, mãe – informei, levantando do sofá, sendo seguido por eles – As coisas estão na sacola. A senhora já sabe, né? Me diga depois tudo o que achou deles.
— Ok, filha. Foi um prazer conhecer você, Christian.
— O prazer foi todo meu, Sra. Trevelyan.
Eles se abraçaram, depois minha mãe nos conduziu até a porta da frente. Após nos despedirmos dela novamente, entreguei as chaves do carro de Christian para o mesmo e entrei no veículo.
— Minha sogra é muito legal – ele comentou à medida que colocávamos nossos cintos de segurança.
— Se eu fosse você, não comeria muito no almoço não, porque com certeza minha mãe vai fazer um mega banquete. E quando eu digo “Mega”, é mega mesmo.
Christian riu, já colocando o carro em movimento.
★ ★ ★ ★ ★
— Está nervosa, ursinha? – ouvi ele perguntar enquanto parava o carro em frente a um prédio de dois andares.
— Um pouco.
— Não fique. Meu tio é tão legal quanto a sua mãe. Ele vai gostar de você. Tenho certeza.
— Ok, meu amor.
Christian segurou minha mão e adentramos o prédio por uma porta que nos levou a uma escada. Subimos e percebi que o consultório pegava todo o andar de cima.
Paramos na recepção, rente ao balcão, onde jazia sentada uma moça loira, que abriu rapidamente o maior sorriso do mundo para o Christian, fazendo-me ficar logo com ciúme e abraçar o braço dele, para mostrar a ela que o mesmo tinha dona.
— Oi, Chris. Bom dia!
— Bom dia, Elena. Meu tio ainda está atendendo?
— Não. O último paciente saiu a alguns minutos. Você pode ir lá, se quiser.
— Obrigado – Christian falou e logo me conduziu por uma porta.
— Ele está na sala no final do corredor – avisou a recepcionista, então seguimos pelo corredor até paramos em frente a uma porta, que se encontrava meio entreaberta.
— Licença, tio – pediu Christian, já abrindo totalmente a porta, dando passagem para eu poder entrar também.
— Olha só, se não é o sumido! – o senhor exclamou, se levantando da cadeira e se aproximando de nós, com um sorriso no rosto – E quem é essa moça linda?
— É a Ana, tio. Minha namorada. Amor, esse é meu tio Carrick.
— Prazer – falei, um pouco tímida, estendendo a mão, que ele logo apertou.
— O prazer é meu, minha jovem. E me chame de Carrick, por favor.
— Tudo bem, Carrick.
— Namorada, hein? Desde quando você está escondendo essa informação de mim, Christian?
— A gente se conheceu ontem no site de relacionamentos, aí marcamos para nos conhecermos pessoalmente hoje de manhã e somos namorados agora.
Carrick nos parabenizou, dando um abraço em mim, depois em Christian e eu pude ouvir ele perguntar baixo ao sobrinho se eu sabia sobre o mesmo.
— Eu também sou trans, Carrick – informei, sorrindo – Christian será muito amado por mim.
— Ah, que bom. Esse menino merece muito alguém que o ame e que coloque rédeas curtas nele.
— Tio, não começa.
Apenas ri da cara emburrada do Christian.
— Já que está aqui, vamos dar uma olhada nesses seus dentes, filho? – Carrick perguntou, apontando para a cadeira, fazendo o sobrinho fazer uma careta.
— Oh, tio! Não me faça passar vergonha na frente da minha namorada.
— Cuidar da saúde bucal não é vergonha. Agora senta lá, menino! E você, Ana, fique a vontade. Depois eu vou olhar os seus também.
— Sim, senhor – murmurei, sorrindo.
Fui então me sentar na cadeira de acompanhante, no canto da sala, à medida que eu via o meu namorado resmungar sobre não precisar ser avaliado.
— Seja um menino bonzinho e se comporte. No final, prometo dar um doce sem açúcar para você – provoquei Christian enquanto pegava uma revista, já ouvindo o tio dele cair na risada.
— Gostei da sua namorada, filho.
— Se eu soubesse que seria examinado, teria marcado com o senhor no restaurante.
— Está com medo de eu descobrir que você andou comendo besteiras?
— Tio, eu não sou mais criança.
— Ok, Christian. Agora pare de agir como um bebê chorão e abre a boquinha pro titio ver os seus dentinhos.
Não me aguentei e gargalhei, tampando minha boca em seguida.
— Desculpa. Vi uma coisa engraçada aqui na revista.
— Uhum... Sei... – resmungou Christian, já começando a ser examinado por Carrick.
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