“Eu sou apenas amiga dela, não vou pra ficar com ela, só vou pra conhecer ela uai” – Eu disse para o meu amigo que duvidava que eu fosse pra cidade da menina só para conhecer ela e ficar na amizade.

“Vocês vão acabar ficando” – Ele disse.

“Não vamos não! – Eu negava meu próprio desejo. – Ela é pra casar Tiago, ela é a menina certa que eu sempre quis, mas a gente é só amiga e ela nem tem certeza do sente por mim.”

Nessa altura do jogo havia um misto de sentimentos em mim e a Giulia causava algo que eu não imaginava que iria sentir de novo, o interesse em conversar e conhecer e encontrar tantas coisas em comum, mas tantas coisas em comum... Isso não podia estar acontecendo, parecia uma pegadinha, não era possível que eu ia me apaixonar de novo por uma menina de outra cidade que queria ir fazer faculdade em outro estado... Isso simplesmente não podia acontecer.

No dia em que fui ver ela eu estava tensa, tive que mentir para os meus pais sobre aonde eu ia porque eles ainda não me aceitavam como lésbica, o que era uma grande merda porque eu estava para fazer 19 anos sendo que desde os meus 14 eu me assumi para eles e começou um inferno em minha vida. Então com a ajuda do meu amigo Tiago eu consegui mentir e embarcar no ônibus para ver essa menina que estava começando a tirar a minha paz.

Durante o percurso via a paisagem, ouvia músicas e conversava com ela, ambas estavam ansiosas e tensas para esse momento e eu só conseguia pensar em controlar meus sentimentos. A viagem durou uma hora e meia mais ou menos para chegar na cidade dela e quando chegou fui ao encontro dela. A gente não se encontrou imediatamente porque eu tinha me perdido legal naquela rodoviária que era grande, mas quando eu vi ela de longe vindo em minha direção eu não soube aonde eu enfiava a cara, estava com muita vergonha.

Ela era mais linda ainda pessoalmente, mais baixa que eu (e olha que eu sou baixinha), ela vinha com o rosto envermelhado pela vergonha e um sorriso contido, tímido, os cabelos soltos, cacheados... Definitivamente meu coração estava acelerado e minhas mãos suavam, não sabia nem como cumprimentar direito ela, nos demos um beijo na bochecha e um abraço tímido e com uma duração curta até. Para piorar minha timidez a avó, o tio e o primo dela apareceram na rodoviária também e nessa altura do jogo eu já estava parecendo um pimentão.

Como a viagem foi um pouco longa e eu não tinha comido ainda, tive que comer um salgado, sentamos numa mesa e eu juro que nem comer direito eu conseguia de vergonha, eu sempre fui muito tímida e o pessoal acha que eu sou antissocial as vezes, mas é só timidez exagerada mesmo, igual ela, que mal falava e só me olhava as vezes e quando eu a olhava nos olhos ela se sentia invadida e ficava vermelha, sorria e falava:

“O que foi?”

“Só tô vendo o quanto você é linda” – Pensei comigo mesma, mas acabei falando que não era nada não.

Quando acabei de comer, fui escovar meus dentes e logo depois fomos andar por aí, conhecer um pouco a cidade e uma a outra. Eu não tive nenhum receio de pegar na mão dela na rua, pelo ao contrário, queria logo fazer isso pra sentir ela. As mãos dela eram pequenininhas e gostosas, ela não para de sorrir um riso tímido e contido.

Demorou um pouquinho para eu começar a me soltar, porque apesar de ser tímida, quando estou sozinha com alguém que me sinto a vontade eu tendo a ser palhaça e a conversar muito. Ficamos andando um pouco e enquanto isso ela não parava de implicar comigo, era a forma dela dizer com gestos o que não estava conseguindo dizer com palavras... Ela mexia no meu cabelo, ficava me mordendo, mas principalmente bagunçava muito o meu cabelo e ria. Decidimos sentar em uma praça, o tempo estava nublado, mas mesmo assim estava calor, a gente conversava e implicava uma com a outra, o toque da mão dela em mim me causava arrepios, coisas que me faziam sentir um tesão inexplicável. Eu deitei em seu colo e ela ficava mexendo no meu cabelo e conversando comigo até que começou a chuviscar e decidimos ir para outro lugar.

 Ficamos alguns minutos andando e enquanto andávamos nos abraçávamos também, havia horas em que  eu dei um beijo no rosto dela e quando ela retribuiu e me deu um beijo no rosto também, bem perto da minha boca, eu não conseguia resistir mais, só que ela se afastava e me deixava com a maior cara de boba. Foram várias vezes que chegamos a centímetros de se beijar mais nada acontecia. Até que foi chegando a hora de eu pegar o ônibus de volta para casa, então voltamos para a rodoviária e ficamos ali numa pracinha bem perto esperando o horário do ônibus chegar, eu já tinha aceitado que iria embora sem beijar aquela menina linda, inclusive nem podíamos nos beijar, certo? Éramos amigas. Até que levantamos para ir pegar o ônibus e ela me deu um beijo na bochecha que demorou mais que o esperado, então ficamos uma de frente para a outra, meu coração queria pular pra fora, as minhas mão estavam na cintura dela, eu a queria e ela também, ela não se afastava dessa vez e ficou naquele clima de romance até ela me dar um selinho rápido e eu a puxei de volta para um beijo. Eu não consigo descrever com precisão o que eu senti, mas a boca dela era macia, o beijo era calmo, parecia o certo.

Quando eu entrei no ônibus senti uma enorme vontade de ficar ali com ela e não a soltar... Mas o que estava acontecendo? Eu queria ficar com ela, mas ao mesmo tempo sabia que não podia cair nessa de novo... Não... De novo não.