Dripping Blood escrita por Like a Boss


Capítulo 1
A Festa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778757/chapter/1

Quando elevei minha face pude notar que nosso castelo estava em chamas. A construção monumental de pedregulho e madeira agora ardia em labaredas avermelhadas com leves tons amarelados brincando em contraste.
Meu coração rapidamente se acelerou enquanto minhas mãos começavam a suar descontroladamente e tornarem-se frias.
Desespero tomou conta de mim quando notei que no pátio havia correria, nobres desconhecidos por mim corriam com os braços elevados e gritando alto em direção as saídas mais próximas. Quando sem que eu notasse diante de mim surgiu um homem alto, seus músculos eram aparentes em suas roupas e possuía uma espécie de lança, em sua mão direita, apertando a mesma tanto que fez com que as veias de sua mão se sobressaltassem, só que a arma era diferente, pois havia ainda mais uma lamina em formato meia-lua transversalmente pouco antes da ponta, ele a segurava como se ela pudesse escapar de suas mãos, e pronunciou palavras de ódio que no momento eu não consegui prestar atenção, afinal os gritos desesperados abafaram o som de sua voz. Ele segurou a arma com suas duas mãos, em frente ao seu corpo e atacou em um movimento de estocada com a mesma em minha direção, da mesma forma ágil que a lamina veio, em um piscar de olhos Norberth estava ali, suas vestes um pouco amassadas e com leves chamuscados nas extremidades, ele estava com os braços abertos e posicionado entre mim e o homem alto, que se sobressaía por de trás dele.
Uma alegria tomou conta de mim, quase não pude segurar a felicidade ao ver alguém conhecido tão próximo.
Por um momento dei um passo em sua direção, estendendo uma de minhas mãos, a fim de me aproximar, mas notei que uma mancha avermelhada começou a se formar sob a roupa de Norberth, me mantendo paralisada no lugar, aos poucos ela foi aumentando e então em um estalo em minha mente eu notei, a lança havia o perfurado, ele entrou na frente da mesma no momento em que me atingiria. Sua cabeça levemente inclinou-se de lado ao se virar pra mim, em sua face havia um sorriso e um pedido em seus olhos, para que eu fugisse, um calafrio percorreu todo o meu corpo, desde meus pés e a passar por minha espinha, enfim seus olhos ficaram vidrados em uma direção.
Tudo foi em um instante, mas eu pude entender que meu querido amigo havia se sacrificado para que eu pudesse viver, tudo o que eu pude fazer fora tentar retribuir o sorriso, mas no mesmo instante lagrimas se formaram em meus olhos, meu corpo não se movia e eu não consegui retirar minha atenção dele antes de seu corpo atingir o chão, o homem alto continuava diante de mim, em um momento ele levou seu imenso pé ate o corpo, forçando-o contra Norberth e retirou a lamina do cadáver, seu olhar frio e assustador fez com que outro calafrio percorresse meu corpo, e minhas pernas fraquejassem, quando seus olhos voltaram-se em minha direção eu pude perceber que seria a próxima vitima se não saísse do local o mais rápido possível, lutando contra o desespero e a loucura total eu me esforcei e me virei de costas para ele, começando a correr, minhas pernas estavam tremendo imensamente, e cambaleante eu consegui chegar ate o portal de pedra esculpida mais próximo, onde guardas de nosso reino aparavam as espadas de outros que eu nunca havia visto. Nossas armaduras eram prateadas e os adornos nas mesmas eram uma mistura de vermelho e dourado, que representavam nossa bandeira, já as suas armaduras eram prateadas e ao mesmo tempo adornadas com panos em cores azuis. Ao olhar pra trás pude notar que o homem alto de outrora mantinha-se a caminhar apressadamente em minha direção. Tentei não encarar por muito tempo o corpo de Norberth ao chão estendido, somente a lembrança já estava sendo dolorosa, portanto voltei à atenção ao portal e o atravessei em direção aos corredores.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Ao atravessar o portal de pedregulho adornado eu pude notar a quantidade de gente que havia ali. Todos estavam arrumados, moças trajando seus vestidos das mais variadas cores e rapazes em suas fardas de gala.
Os olhares se voltaram todos em direção à porta dupla de madeira rústica ornamentada que agora estava aberta e voltada para dentro do salão, mais especificamente em mim que a atravessava timidamente.
Meu vestido pinicava e os sapatos apertavam meus pés conforme eu andava um passo de cada vez. Meus cabelos estavam presos atrás da cabeça em uma trança feita especialmente por minha amiga Juliett, o vermelho natural realçava em uma franja que caía cobrindo parcialmente meus olhos. Em minha face uma máscara azul piscina estava posta, apenas revelando o verde claro de meus olhos.
Minhas bochechas ruborizaram quando notei que todos me encaravam e comentavam algo que eu não podia ouvir.
A musica era suave e o único outro som era do tilintar de taças de vidro que preenchiam o salão.
Levei uma de minhas mãos ao rosto, com intenção de retirar a franja da frente de meus olhos que estava bloqueando minha visão, ao mesmo tempo abaixei a cabeça levemente, encarando o chão.
Uma mão aproximou-se de minhas costas, me dando um leve empurrãozinho para que eu adentrasse melhor no salão.
Os músicos pararam por um instante de tocar e literalmente todo mundo naquele imenso salão de baile me encarou.
— Lady Emily, princesa de Tcheronvil!
Logo após eu ser anunciada a maioria dos olhares voltou-se para a festa, suspirei aliviada por ter sido esquecida tão facilmente.
Os músicos recomeçaram a tocar seus instrumentos e a deixar o clima mais animado, quando a porta atrás de mim se fechou e notei que estava por minha conta.
Não muitas pessoas ainda me observavam ali parada encarando o chão, mas por um momento quando elevei minha face notei que um rapaz aparentemente não muito mais velho que eu, utilizando uma mascara preta, combinando com seu vestuário, não tirava seus olhos de mim.
Meio inquieta resolvi me mexer e caminhar por entre o conglomerado de gente que dançava, bebia e conversava.
Não havia um rosto conhecido por ali, a maioria devia ser de outros reinos, afinal era uma festa para unificar e fortalecer a aliança entre nós.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

O vestido ainda pinicava, o farfalhar do mesmo o fazia ser arrastado pelo chão, e por duas vezes me fez pisar em sua barra e quase escorregar. Além da dor insuportável nos pés pelos sapatos apertados. O corredor além do portal estava tumultuado, diversos guardas armados trocavam espadadas com guerreiros de outro reino. Mesmo com lagrimas nos olhos, mesmo com dor nos pés e com meu corpo respondendo de forma negativa ao vestido eu corri, passei pelos guardas que iam caindo aos poucos, tanto do nosso quanto do lado oposto. Um nervosismo nunca antes sentido por mim tomou conta de meu corpo, uma sensação horrível fez minha alma gelar ao chegar ao final do corredor.
Segurei-me contra a parede, encostada com o ombro e braços sobre a mesma, e juntei toda a coragem disponível no momento para olhar pra trás. Aquele mesmo homem alto e forte ainda continuava a seguir pelo corredor, nossos guardas que se dispunham a ficar em seu caminho e barrar a sua passagem eram derrubados em poucos segundos pela lamina de sua arma, diversos aliados dele que lutavam em seu caminho também caiam devido aos seus ataques descontrolados. Sem muito tempo de pensar reuni a coragem que restava e utilizando um dos pés retirei um de meus calçados, logo em seguida fazendo o mesmo com o outro, enquanto levava uma das mãos aos olhos e enxugava as lagrimas, afinal se eu não escapasse naquele instante em que todos se sacrificavam por mim eu não valeria a pena ser salva. 
Mas... Por que eu valia a pena ser salva? Só porque era herdeira do trono? As vidas de todos aqueles seres e "soldados" não valiam a pena ser salvas? Mesmo com toda a situação nenhum deles sequer cogitou a possibilidade de se afastar do inimigo, apenas continuavam a ir em frente e ataca-lo, mesmo que não surtisse muito efeito, mesmo que nenhum deles o tivesse acertado uma única vez, eles continuavam, porque todo esse esforço em vão? Porque sacrificar suas vidas?
A minha era tão importante assim? O que me torna tão diferente de qualquer outra pessoa?

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

O que me tornava tão diferente de qualquer outra pessoa? Essa pergunta permanecia em minha mente enquanto eu caminhava cada vez mais pelo salão. Tantas outras garotas e todas tão mais bonitas que eu, mas o rapaz de antes não parava de me seguir com o olhar.
Seus olhos castanhos claros, quase mel me perseguiam, mesmo que ele tentasse disfarçar, estava realmente muito claro que ele estava me fitando.
Alguns passos à frente eu olhei em sua direção e percebi que o mesmo se mexeu no lugar onde estava, virando-se pra mim com o corpo, mas mantendo o rosto disfarçadamente entre o grupo que se encontrava.
Mais adiante olhando pela multidão havia outra pessoa tentando disfarçar sua presença, ele levava uma mão em frente ao rosto, achando que isso não o revelaria ali.
Com um tímido sorriso eu me aproximei e fiquei feliz em ver um rosto conhecido.
Quando notou que eu me aproximava o mesmo se remexeu no assento e virou-se de costas, ainda com a mão em frente ao rosto.
— Você deveria melhorar a sua tocaia, você é péssimo em se esconder.
Ele abaixou sua mão e voltou a se virar pra mim, abrindo um tímido sorriso.
— Ficou tão obvio? Achei que estava completamente escondido em meio à multidão.
Retirando minha máscara com as pontas dos dedos indicador e polegar da mão direita, devolvi o sorriso a ele e balançando a cabeça negativamente, enquanto mantinha a máscara sendo segurada ao lado do corpo.
— Deu pra te ver desde a porta.
Ele elevou suas mãos e as colocou entrelaçadas atrás de sua cabeça.
— Vou praticar mais então...
Ergui minha sobrancelha e cruzei meus braços.
— Pretende continuar a me vigiar nessas praticas?
Ele moveu sua cabeça encarando o teto.
— Agora que seu pai me nomeou seu guarda costas pessoal, acredito que seja minha função.
Uma felicidade me contagiou e me fez descruzar os braços, abrindo-os em um abraço enquanto me aproximei rapidamente dele 
— Serio mesmo? Não brinca comigo... Quando ele te nomeou?
Ele se controlou pra não se afastar de meu abraço e apenas abaixou os seus enquanto eu o abraçava.
— Hoje de manhã. Ainda não foi oficializado, mas os papeis vão estar no meu quarto pra eu assinar a noite.
Enquanto eu o abraçava dei alguns pulinhos que pareceram deixa-lo desconfortável.
— Isso é ótimo, a gente falava disso a tantos anos já...
Soltei o mesmo e me afastei levemente voltando a sorrir pra ele. Que continuava calado me encarando.
— Vamos comemorar! Estamos em uma festa...
Ele abriu a boca e por um momento parecia que iria falar algo, então se calou me encarando por alguns instantes, logo depois disse.
— Não acho que você vá se divertir comigo, já com o rapaz que te encarou desde a sua entrada ate agora...
No mesmo momento meu coração acelerou e minhas mãos começaram a suar, e senti uma vontade enorme de arrumar uma das mechas caídas de meu cabelo pra trás de minha orelha.
— Ele... Também parece... Péssimo em observar escondido...
Não sei por qual motivo, nem se fora relacionado ao que Norberth disse, mas senti meu rosto se aquecer e não pude conter o sorriso.
— Não sei... Eu nem mesmo conheço ele...
Norberth levou sua mão esquerda ao meu ombro e me olhou calmamente, tentando me tranquilizar. Sua mão repousava suavemente sobre mim quando ele disse.
— Curta a festa, tente fazer amigos... Afinal é com esse intuito que seus pais planejaram tudo isso.
Minha sobrancelha novamente se ergueu levemente.
— Para que eu me divertisse?
Então do meu ombro ele elevou a sua mão ate tocar levemente com seu dedo indicador na ponta de meu nariz.
— Também... É pra que todos se divirtam juntos e possam estabelecer esse laço entre os reinos.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Sacudindo a cabeça de um lado ao outro tentei não pensar naquelas coisas nesse momento, voltei a caminhar deixando os sapatos pra trás, com as mãos segurando as barras do vestido.
O corredor fazia uma curva à direita e logo em seguida se abria em um amplo salão.
Os guardas empunhando e aparando as laminas dos rivais continuavam a lutar e segura-los, tentando garantir a minha segurança. Tanto pelo corredor quanto pelo que pude ver ao me aproximar do salão.
Os passos pesados agora eram escutados por mim e se aproximava rapidamente, um calafrio permaneceu em minha espinha me impedindo de olhar pra trás um só instante, tudo o que eu tinha em mente era correr, encontrar com meus pais e fugir daquele homem.
Ao adentrar no salão notei muitos guardas caídos, além de outros lutando em desvantagem, com números muito inferiores para tentar nos proteger. 
Um guarda inimigo tentou vir em minha direção e outro de nossa força se pôs em minha frente, agitando a espada e me mandando seguir em frente.
Fiz um leve aceno em agradecimento e mantive-me a ser a fraca e assustada princesa... Continuei a seguir, mesmo quando outros inimigos puseram-se a lutar contra ele, ate mesmo quando aquele soldado leal e líder de uma família fora perfurado por diversas laminas, e quando ele fora ao chão e o barulho de seu corpo caindo e batendo com a armadura contra o chão ressoou pelo salão, enquanto os inimigos continuavam a lhe cortar e atacar, eu continuei a correr.
Escolhendo uma das portas para seguir em frente, ainda no meio do salão acabei por notar que no meio de tudo aquilo um rosto me encarava, no meio de diversos rostos que me seguiram brevemente com o olhar, um deles não me tirava de sua vista. Quando notei quem me encarava suspirei aliviada por alguns segundos, mas ao percorrer a vista em direção ao solo, ao que ele segurava. Aquele mesmo rapaz, que conversou comigo, mantinha uma espada empunhada de cabeça pra baixo, e a mesma fincada no peito de um dos soldados de nosso exército. E em sua face um olhar felino de puro ódio e malícia encontrava-se estampado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dripping Blood" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.