Cabo Amaral escrita por P B Souza


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindas e bem-vindos a não-tão-pacata Cabo Amaral :)
Esse capítulo é aquele band-aid em cima da ferida sabe? Um adeus aos amores da nossa infância.
É tão triste né? Mas tudo passa, às vezes.



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O Abaporu estava ali, pendurado na parede de vidro, solitário e avesso dos Operários na sala ao lado.

O Grande Salão do Museus do Amaral era um cômodo de vidro, três das quatro paredes eram na verdade placas de vidro interligadas que deixavam o sol entrar de manhã e as estrelas serem vistas de noite, a visão dali era arrebatadora, podiam ver toda Cabo Amaral colina abaixo, mas normalmente ninguém que ia ali, ia para olhar apenas a paisagem. O Grande Salão tinha o papel fundamental de ostentar o orgulho de Cabo Amaral; o quadro mais importante da carreira da mulher que dava nome a pequena cidade; Tarsila do Amaral e sua obra definitiva; Abaporu.

As paredes tinham três metros de altura, o teto não possuía nenhuma lâmpada, pois também era de vidro e fazia-se curvado como um domo, a única parede de concreto era a da porta do salão, pintada de cinza, trazia poemas e trechos dos livros de Oswald Andrade, esposo de Tarsila. Fora esse detalhe o Grande salão possuía apenas dois móveis, um banco de praça feito em ferro fundido com o brasão de uma empresa inglesa que há muito deixara de operar no país, e o próprio quadro pendurado do teto com cordas de aço, fixado ao chão com outras cordas de aço, protegido por um cordão de proteção para impedir que curiosos chegassem perto demais.

O museu nunca ficava cheio e naquela época do ano raramente recebia visitas, sendo assim havia apenas duas pessoas solitárias em sua união, sentadas no banco gelado do Grande Salão.

— Quando eu voltar te encontrarei aqui. — Teodoro disse para Sabrina sem tirar os olhos dela. A vista da cidade e do mar era deslumbrante, a vista do Abaporu era um privilégio, mas poder olhar Sabrina era sua única vontade.

Queria olhar para ela por cada segundo possível, memorizar as curvas de seu queixo, a forma de seus olhos, o contorno dos seus lábios, queria eternizá-la na lembrança, para que nunca precisasse olhar uma foto, pois saberia sempre como Sabrina era. E como a poderia esquecer?

— Quando voltar eu estarei aqui. Te esperando como se não tivesse passado um dia sequer.

Os dois choravam, pois as escolhas nunca foram deles, como seria? Os dois tinham os rostos carregados da tristeza do primeiro amor rompido, dilacerado pelo acaso do destino que nunca os planejou juntos. Teodoro chorava em silêncio, tentando ser forte e fracassando miseravelmente nessa tentativa, seus dedos tremiam segurando as mãos de Sabrina nas suas e Sabrina chorava a ponto de soluçar, como se perder Teodoro fosse tão cruel como perder a si mesma.

O primeiro amor, dizem, é sempre o mais difícil de superar.

Com os lábios salgados das lágrimas os dois se aproximaram o suficiente para que um tocasse o outro, os olhos se fecharam uma última vez e foi intenso, foi caloroso e sútil, foi arrebatador, porém inadvertidamente calmo, foi o último momento que os dois se tocaram, se sentiram, íntimos naquele segundo que perduraria para sempre na memória…

E quando abriu os olhos Teodoro podia ver Cabo Amaral abaixo do museu, desde a parte mais nobre onde ficava as casas das grandes famílias, incluindo a sua própria, ao centro comercial com a Feira Local, até o residencial comum. Podia ver a torre dos bombeiros próxima do zoológico, podia ver o farol construído a partir das ruinas de um navio nas Rochas onde diziam que Iemanjá tomava banho de sol nos dias de verão. Podia ver o Abaporu pendurado pelas cordas de aço em sua moldura de pau-brasil, intocado há anos. Podia ver graças ao pôr-do-sol o reflexo dos poemas da parede nas suas costas, projetados nas paredes de vidro ao contrário, impossíveis de serem lidos assim. Só não via Sabrina através de seus olhos marejados.

Aonde ela está? Se perguntou. Havia voltado. Havia partido, mas havia voltado. Ele cumpriu com sua promessa e estava ali, esperando por alguém que nunca chegou. Cadê você?

O problema com o primeiro amor, dizem, é que pode ser difícil, mas alguns sempre superam. Alguns!


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Notas finais do capítulo

E que comece a antropofagia de Cabo Amaral! ♥
Espero que tenham gostado, e quem puder comentar, super ajuda o escritor a se motivar. bjs de luz e até o próximo.



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