—  Que horas são? Eu não costumo beber tanto. Tenho que trabalhar cedo amanhã. — Iruka levantou do sofá com dificuldade, mas se esforçava em manter a dignidade intacta na frente do Hatake que ria balançando uma garrafa de saquê.

— É a sua despedida. Depois que for embora vai ser difícil ter outra noite assim. — Kakashi não estava botando fé na decisão do outro de voltar para casa, afinal já era a quarta tentativa frustrada, pois no fundo os dois estavam gostando de ter companhia, mesmo assim organizou a “despedida” como um bom pretexto para beber. — Faz vários meses que não me divirto assim, acho que desde que descobri que ia ser pai.

Iruka parou no meio da sala sem saber o que fazer. Estava exausto e teria problemas com a ressaca no dia seguinte, mas era tão raro ver o Hatake falando sobre seus sentimentos que parecia burrice desperdiçar aquela oportunidade. Voltou para seu lugar aceitando mais um copo, afinal uma vez só não faria tão mal.

— Você saía muito, antes do bebê? — Arriscou uma pergunta que pudesse puxar outros assuntos.

— Nem tanto, mas tinha alguma vida social fora da vila. A pessoa que me deu Usagi foi a última mulher com quem fiquei. Isso tem uns onze meses? Um ano talvez?

— Por que não sai com alguém? Quer dizer, você é pai, mas ainda é solteiro. ­­­­­— Lembrou-se que também estava sob efeito do álcool, se não tomasse cuidado falaria mais do que devia. — Eu cuido do bebê pra você.

— Eu bem que estou precisando, mas não tenho ninguém em vista. — Encheu o copo do outro que tentou recusar em vão. — E você? Nunca te vi com uma garota.

Aquela pergunta não foi aleatória, havia um brilho de curiosidade no olhar, mas Iruka temia que a resposta pudesse assusta-lo. Limpou a garganta para ganhar tempo e pensar.

— Eu gosto de relacionamentos discretos. — Sorriu sem jeito quando sentiu sua mão ser envolvida pela do Hatake — O que está fazendo?

— Vendo essa marca de aliança aqui. Parece antiga.

— Ah. Eu namorei uns cinco anos, mas não deu certo. Ainda não tomei sol suficiente pra ela sumir, mas já acabou faz um bom tempo. — O bom senso ia sumindo a medida que crescia uma euforia dentro do Umino, pois a curiosidade já havia sido saciada, mas Kakashi continuava segurando sua mão.

— E agora, está interessado em alguém?

— Sim, mas não é alcançável.

— Casada?

— Não é mulher... — O álcool o fez cair na própria armadilha.

— Então você gosta de homens? Já ficou com algum? — Riu da expressão do outro.

— Eu sou bissexual. — Levantou mais uma vez desejando enterrar a cabeça no travesseiro. — Vou dormir.

Kakashi terminava de servir o café da manhã na mesa quando viu Iruka entrar na cozinha. Iruka tinha os cabelos molhados ainda soltos e um sorriso radiante no rosto. Podia negar várias vezes a quem perguntasse, mas a verdade era que a companhia do outro lhe fazia bem, dava uma sensação de que tudo daria certo.

— Bom dia, amor da minha vida. Dormiu bem? — Iruka falou animado abrindo os braços. Estava de bom humor apesar dos acontecimentos da noite anterior.

— Bom dia. Preciso trocar o travesseiro, mas dormi sim. — Kakashi sorriu e também se preparou para um abraço, mas foi ignorado por Iruka suspirou e atravessou a cozinha...

— Eu estava falando com o bebê. — Acariciou os cabelos da criança e entregou a ela a pelúcia que estava caída ao lado do carrinho.

— E eu achando que finalmente tinha saído do armário e que estava declarando seu amor por mim. — Viu o outro revirar os olhos, adorava provoca-lo.

— Não sei se foi piada, mas eu sou assumido faz anos. Só não costumo comentar. E não tenho amor nenhum pra declarar, apesar que já deve ter notado que me sinto atraído por você. — Despejou tudo em um instante de coragem, precisava dizer aquilo.

Kakashi se engasgou com o susto. Bateu várias vezes contra o peito na tentativa de engolir o que quer que estivesse entalado na garganta. Usagi ria e batia palminhas para as caretas que o pai fazia.

— Por essa eu não esperava. — Ele parou para pensar por uns instantes. — Eu nunca fiquei com um homem.

Iruka corou e teve que lutar para se manter firme. Não queria que sua frase parecesse uma indireta ou algo do tipo, teria sido melhor ficar calado, mas agora precisava corrigir para evitar outro mal-entendido.

— Eu imaginava que não, você faz o tipo mulherengo. — Kakashi o olhava com uma expressão estranha, parecia esperar algo. — Esquece isso, não foi como se eu estivesse te propondo algo. Quero dizer... Eu só vim morar aqui pra ajudar com o bebê, e estou aliviado em poder voltar pra minha casa.

— Você quer ir embora por ter me dito que gosta de homens? — A expressão do Hatake era quase um deboche, o que só aumentou o constrangimento de Iruka.

— Isso mesmo. — Ele se levantou deixando Usagi novamente no carrinho e foi para a pia lavar um copo que já estava limpo. — Acho que as coisas vão ficar meio estranhas entre nós a partir de agora.

Enquanto deixava a água escorrer sobre seus dedos, tentando parecer ocupado, sua mente era invadida por pensamentos negativos. — Kakashi estaria irritado por ter dividido sua casa com alguém que nutria esses sentimentos por ele? Proibiria Iruka de ver Usagi? Contaria para várias pessoas da vila? Um pensamento pior que o outro, mas nenhum parecia ser o tipo de coisa que o Hatake faria, mesmo assim ainda temia o afastamento. — Sentiu seu braço ser puxado para trás fazendo com que se virasse para ver o que acontecia e, quando deu por si, estava sendo beijado por Kakashi.

Seu coração acelerou ao sentir os lábios do outro nos dele. O Hatake de olhos fechados, as mãos em sua cintura. O Umino de olhos abertos as mãos apoiadas na pia. As pernas de ambos encaixadas. Durou pouco mais de um minuto antes que Kakashi se afastasse e sorrisse para ele.

— Pra mim continua tudo normal e pra você? — Falou para Iruka que estava muito desconsertado.

— Você disse que não gostava de homens...

— Eu disse que nunca fiquei com um. — Kakashi se aproximou para um segundo beijo, mas o Umino se afastou, quase molhando as costas na água da torneira aberta. — Não faz essa cara de espanto, não te pedi em casamento nem nada assim. Eu te disse que estou sozinho faz um bom tempo. Por que não matar a vontade um do outro?

— Uma amizade colorida? — Iruka não sabia como reagir, aquele homem acabava com seu juízo. O Hatake forçou um pouco mais o aperto, não parecia esperar um não como resposta.

O segundo beijo foi mais intenso. Os dois afoitos querendo saciar aquele desejo. Iruka sentia seu coração disparado acompanhado pelas batidas do outro. Poderiam passar horas ali, se não fosse pelos gritinhos revoltados de um Coelhinho faminto.

— Parece que vamos ser bons amigos. — Kakashi falou rindo. Iruka preferiu não responder e disfarçou o sorriso bobo fazendo gracinhas para Usagi.