Família Hatake - MenmaNG escrita por Teleya Inshinda


Capítulo 2
Usagi Hatake - Parte 2 de 3




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Uma boa noite de sono pode fazer milagres ao humor de alguém, Kakashi constatou ao se espreguiçar pensando nos planos para aquele dia. Escorregou as pernas para fora do cobertor, espreguiçando-se sem pressa. Moveu o pescoço de um lado para o outro, ficou nas pontas dos pés, agitou os braços e... O coração falhou uma batida. Havia se esquecido que agora não morava mais sozinho.

O quarto da criança ficava no mesmo corredor que o dele, separados apenas por um banheiro. Atravessou o lugar a passos apressados, encontrou a porta aberta e o bebê dormindo calmamente no bercinho. As lembranças da noite anterior voltavam aos poucos e com ela a sensação de ser um idiota.

Tentou não pisar no Iruka, que dormia no chão ao lado do berço, em um futon improvisado com cobertas e almofadas, quando foi ver Usagi. Fez um carinho nos cabelinhos brancos, lembrando do que o outro dissera sobre parecer um coelhinho. A criança era muito parecida consigo, mas podia notar com certo incomodo o desenho do nariz e a cor dos olhos que eram da mãe.

— Ei, Iruka! — Virou para o moreno adormecido e deu-lhe leves chutinhos para acorda-lo. — Se ficar dormindo aí vai ficar todo dolorido.

Ainda confuso pelo sono, Iruka abriu os olhos com dificuldade e buscou o rosto de quem o chamava. A vergonha subiu-lhe o rosto o deixando vermelho e quente. Só podia estar sonhando e não havia pior dia para sonhar com isso, justo aquela casa. E, como se a visão que tinha não fosse tortura suficiente, a mão gelada de Kakashi tocou-lhe a testa.

— Estranho. Você parece um tomate, mas não está com febre. Sabia que não era uma boa ideia dormir aí com esse frio. Levanta e vai tomar um banho, que eu faço o café. — Quanto mais o encarava, mais ficava difícil de acreditar no que via, porém o toque era real. Definitivamente estava acordado e vendo Kakashi Hatake sem máscara.

— Vou à cozinha, sabe onde fica o banheiro, certo? Tem toalha limpa e deve ter uma muda de roupas lá também. — Ele falava, falava, mas Iruka não conseguia processar quase nada. — Deixe a porta aberta para eu poder ouvir se o bebê chorar, por favor.

Não era de hoje que ele reparava em Kakashi, mas sempre pareceu algo muito distante, quase inalcançável, agora por obra do acaso teria que morar com ele por um tempo e talvez cenas como essa fossem comuns. Um frio na barriga teimava em surgir sempre que pensava a respeito, rivalizando com o calor em suas bochechas.

Tentou ser rápido, afinal era uma visita, mesmo que estivesse lá para fazer um favor não queria abusar. Não precisava da roupa oferecida já que havia trazido suas próprias, mas não resistiu em pegar uma camisa emprestada. Prendeu os cabelos como de costume e foi até a cozinha para ver se o outro precisava de ajuda.

— Você tinha razão, nem é tão difícil. — Kakashi segurava Usagi nos braços, balançando levemente. — Só que com essa coisinha querendo colo, não consegui terminar o café.

Tentou controlar a cara de bobo, foi pegar a comida para servir. Era impossível não sorrir com aquela cena adorável. O bebê parecia muito confortável nos braços do pai desajeitado que o sacudia com mais animação do que necessário.

— Podemos revezar para comer, mas você não pode dar colo o tempo todo ou vai ser um coelhinho muito mimado — Agora tinha que se segurar pra não rir da cara de indignação que Kakashi fazia para si. Ele era muito expressivo quando estava sem máscara, Iruka nunca teria imaginado - Vou comer primeiro pra não ter que ficar trocando de colo.

— Pode ser, não estou com apetite mesmo. — Suspirou antes de voltar a fazer caretas para a criança.

De minuto a minuto, Kakashi olhava o colega pelo canto dos olhos e via que o moreno continuava o encarando. Tentou ignorar isso, mas era incomodo ver alguém não conseguir acertar a torrada na boca, enquanto te observava daquela forma.

— Já chega! O que tem de tão interessante na minha cara? — Temeu a resposta.

— A pinta. — Foi uma resposta automática da qual se arrependeu em seguida. — Quer dizer, eu nunca te vi sem máscara antes. Só fiquei surpreso.

— Sem máscara? — Levou as mãos até o rosto e sentiu um choque pelo corpo. Com o susto que levou ao acordar, havia esquecido de coloca-la. — Eu não percebi que estava sem ela, como não costumo acordar com gente em casa.

O silêncio seguinte foi desconfortável para os dois. Novamente aquela sensação de serem dois colegas não muito próximos, em uma situação íntima demais. Ambos sentindo que precisavam interagir, mas sem nada para dizer.

— Pelo menos não é dentuço como o Naruto tinha me dito. — Arriscou uma piada para aliviar o clima.

— Mas deve ter algo muito interessante na minha pinta, já que você não para de olhar pra ela - Devolveu um tanto malicioso se divertindo com a vergonha alheia — Já que não consegue colocar essa torrada na boca, por que não segura Usagi pra mim um instante?

— Claro. — Esticou os braços para receber o bebê. — Incrível como se parece com você.

— Também acho, mas desde que cheguei na vila, todos que nos viram tem perguntado onde achei o bebê. — Bateu os dedos na mesa divagando.

— Quando eu soube, também pensei que era adotado, mas depois que vi ficou claro que não. — Olhou novamente para Usagi em seus braços procurando as semelhanças, quando viu a pintinha e riu. — Acho que é difícil para as pessoas te imaginarem casado ou coisa assim.

Kakashi engasgou com o chá que tomava. Tossiu desesperado esperando ajuda do outro que não podia fazer nada, pois segurava o bebê, então tentou se acalmar até poder falar novamente.

— Eu não casei com ninguém. De onde você tira essas coisas?

— Desculpe. Eu nunca te vi namorando ninguém e de repente você chega com um filho. Na verdade é impossível não fazer umas teorias a respeito. — Apesar do comentário, a ultima ideia que ele tinha era de um relacionamento, afinal ali estava tendo que ajudar com o bebê justamente pelo Kakashi parecer sozinho e perdido, mas sentiu uma pontada de medo ao pensar que algo pudesse ter acontecido a mãe da criança. Se esse fosse o caso, ele precisaria ainda mais de uma amigo naquele momento.

— Você tem razão. Deve ser muito estranho, afinal nem eu acredito ainda. — O tom antes alegre começava a assumir novamente o mal humor da noite anterior.

— Deixa isso pra lá, Kakashi. Eu não devia ficar me metendo.

— Tudo bem, eu preciso mesmo falar disso. — Tomou um gole de chá desejando algo mais forte. — Usagi nasceu de um caso que eu estava tendo com uma moça de uma cidade próxima daqui. Não era nada sério, mas já nos encontrávamos devia ter uns dois anos. — Respirou fundo e prendeu o ar por um instante — Estava tudo bem até que nos descuidamos.

FLASH BACK

— O que queria me dizer que não pode esperar até nosso encontro? — Kakashi perguntou em parte curioso, em parte animado.

— Lembra que na nossa última noite nós não nos precavemos? Eu sei que eu disse que tinha feito os cálculos e que não tinha riscos, mas eu errei. Me desculpe, isso nunca aconteceu antes. — Sempre direta. Ela tinha essa capacidade de simplificar as coisas, as vezes beirando a insensibilidade. Ele gostava muito disso nela. Não havia jogos, nem dramas, era uma relação simples em que os dois sabiam exatamente o que queriam.

— Não acredito. — Ele esfregava os cabelos, aflito com a notícia - Você não está querendo dizer que está grávida, não é?

— Estou sim. Já tem um mês e meio. — Ela fitava o chão não por vergonha, mas por se sentir desconfortável em situações que requerem paciência e empatia. Queria apenas dar a notícia e tomar as decisões necessárias, mas sabia que embora não demonstrasse, Kakashi era um homem de emoção acentuada e que teria de esperar ele assimilar a informação.

— Tudo bem. Eu não queria isso também, mas vamos resolver. Fique tranquila. — Ele pegou as mãos da moça tentando passar um pouco de segurança — Só temos que pensar um pouco.

— Quanto a isso eu já pensei em tudo. — Ela o encarava com calma. — Vou precisar de uma quantia em dinheiro, mas sei que você sendo o Hokage não vai ter problemas com isso, não é?

Ele fechou os olhos e refletiu, ao que tudo indicava ele havia caído no velho golpe da barriga e, embora não estivesse preocupado com a questão financeira, algo dentro de si revirou ao ver que a melhor parte de sua vida nos últimos anos, aquela ilha de segurança que encontrava quando estavam juntos não existia realmente. Entretanto não era hora para lamentos, precisava resolver. Dinheiro, como ela mesma pontuou, não era um problema.

— Claro que vou te dar o necessário. Fique tranquila.

— Que ótimo, Kakashi. Sabia que você entenderia. Eu sou muito nova e tenho problemas com meu pai, seria complicado ter que sustentar uma criança. — Ela esticou os braços se alongando, aliviada. - A cirurgia está marcada pra semana que vem, só precisava do dinheiro pra confirmar.

— Cirurgia?

— Vai ser num lugar muito discreto, afinal você é Hokage e não vai querer fofoca. Só mais uma semana e nosso problema acaba. — Colocou a mão sobre o ombro dele e apertou com gentileza, queria dar segurança a ele, mostrar que poderia cuidar de tudo, tendo em vista todos os problemas que ele havia tido na vida e que ela conhecia tão bem.

O efeito era o oposto do esperado. Ser pai não estava em seus planos. Nem mesmo nas suas imaginações mais absurdas tinha pensado em uma criança em sua vida, mas não podia acreditar no que ela estava propondo.

— Você não precisa tirar esse filho. Eu posso bancar vocês dois. Isso não seria um problema, como você mesmo disse.

— Que fofo, Kakashi. Não conhecia esse seu lado, estou chocada. Só falta agora você me propor casamento. - Ela riu de maneira descontraída, mas parou ao ver o olhar sério do outro - De jeito nenhum. Eu sei que você não gosta de mim e eu também não gosto de você pra isso. Nosso lance é só diversão. — Ele sabia que ela estava certa. Nenhum dos dois queria isso.

— Não vou te obrigar a nada — Retirou uma quantia em dinheiro do bolso e entregou à ela - Aqui tem bastante, mas não deve ser suficiente ainda.

— Obrigada, Kakashi. — Ela agora tinha um olhar triste. — Estou me sentindo meio culpada, parece que você realmente queria que a criança nascesse, não é? Queria poder fazer algo por você. Sempre foi tão legal comigo.

— E pode. Vou mandar o dinheiro que precisar todo mês, por nove meses. Assim o seu problema acaba. Só precisa aguentar um pouco mais.

— Vai assumir o bebê sozinho?

— Não vou abandonar um filho meu. Se você não consegue entender isso vou respeitar, mas não quero mais continuar te vendo. Quando nascer, vou levá-lo pra Konoha comigo e não terá mais que se preocupar com isso.

— Que pena. Não era assim que eu queria que terminasse entre nós dois, mas depois de tudo que compartilhamos eu acho que sei o que você está sentindo. Vou te ajudar com isso. — Guardou o dinheiro em uma bolsinha que trazia consigo. — Espero que esse filho preencha um pouquinho a sua solidão.

FIM DO FLASH BACK

Iruka não sabia o que dizer, com o turbilhão de sentimentos crescendo dentro de si. Admiração, respeito, ternura, paixão, tristeza. Era uma visão totalmente nova do Hatake. Queria tanto poder descobrir mais a respeito daquele homem.

— Agora você já sabe. Tenho que para o trabalho. — Ele se levantou e saiu da cozinha a expressão mais vulnerável que teve desde que acordou aquela manhã.


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