Projekt FORSH escrita por Raquel Severini


Capítulo 4
Capítulo IV: 안녕 챔피언


Notas iniciais do capítulo

Finalmente vamos descobrir o que aconteceu com o Kyo!
As coisas vão de mal a pior para ele, coitado.

Espero que gostem!



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IV. Mensagem Secreta

24/01/2046, Coreia do Sul, algumas horas atrás.

Dosakyo abriu os olhos, mas sua visão estava turva. Sentindo-se tonto, tentou mover os braços, apenas para descobrir que havia sido amarrado. Um alarme agudo apitava dentro de sua cabeça, lhe causando náuseas.

— Enfim, o campeão acordou! – Uma voz familiar soou, a alguns passos de distância.

Uma segunda voz riu em face a afirmação e Dosakyo escutou passos vindo em sua direção.

— Como está se sentindo, Kyo? – A última palavra fora empregada de maneira sarcástica.

Dosakyo finalmente conseguiu erguer a cabeça e observou Kyung Seo encarando-o com uma expressão de divertimento. Ao seu lado, um homem mascarado que ele nunca havia visto antes sorria com escárnio. Ele havia sido levado a uma espécie de galpão e fora amarrado em uma cadeira de metal.

— Kyung? O que está acontecendo? – Dosakyo questionou, com a voz falhando.

— Ora, Kyo... você deveria saber que tenho amigos perigosos. Ricos e influentes, longe do alcance da lei. – Kyung lhe deu um soco no rosto, fazendo a cadeira a cair no chão com um baque. – Devia ter se lembrado disso antes de atacar a minha filha!

— Atacado? Eu não a ataquei, eu...

— Não tente negar, seu miserável! – Gritou o treinador, cortando-o no meio da frase. – Na-Yeong me contou tudo! Admita e eu lhe darei uma morte rápida!

— Eu jamais machucaria a Na-Yeong! – Rebateu Kyo, em desespero. – Parem com essa loucura!

O segundo homem se aproximou, parando nas costas de Dosakyo.

— Kyung, Kyung... você está pegando muito leve com ele. Não é assim que se obtém respostas.

O sequestrador se afastou e Dosakyo pode ouvir o barulho de objetos sendo remexidos. Quando voltou, o homem puxou-o pelos cabelos com violência, colocando a cadeira de pé novamente. Sua expressão era de puro prazer enquanto o encarava com olhos negros e brilhantes.

— Agora... – Pediu ele, gentilmente. - Diga a verdade.

— Eu já disse! – Dosakyo berrou.

— Resposta errada.

Um pano foi colocado sob a face de Kyo enquanto o homem despejava água de dentro de um galão em seu rosto. Pouco a pouco, Dosakyo sentiu o líquido entrar em suas narinas e boca. Debateu-se freneticamente, tentando escapar das amarras que o prendiam, em vão.

Quando o tecido foi retirado, Dosakyo tossiu a água para fora dos pulmões e respirou o ar frio da noite de maneira desesperada. Seu corpo estava trêmulo e uma fumaça branca saía de seus lábios entreabertos. Kyung Seo aproximou-se, agachando-se em frente a ele.

— E então? – Questionou ele, com um sorriso.

Apesar de nunca ter passado por uma situação como aquela, Dosakyo permanecia extremamente racional. Seu cérebro - agora completamente livre do torpor que a pancada na cabeça causara – tinha total conhecimento de tudo que acontecia a sua volta.
Ele não conseguiria se livrar das cordas que o mantinham preso a cadeira. Tanto seus braços quanto as suas pernas tinham sido amarrados com um tipo de nó especial da marinha. Quanto mais ele se debatesse, mais apertado se tornava o laço. Ele não tinha ideia de como sabia de tudo aquilo, mas sua única saída era aguentar a tortura até o momento ideal da fuga. Se Dosakyo se mantivesse consciente, seu plano poderia dar certo.

— Confesse, bastardo! – Kyung Seo lhe desferiu um soco na boca, deixando-o tonto.

Dosakyo, por sua vez, cuspiu o sangue que escorria dos lábios no rosto do treinador, recusando-se a gritar ou pedir por ajuda. O outro homem riu, fascinado.

— Parece que ele não está propenso a falar... ainda. – Comentou, alongando os dedos das mãos. – Pois bem... faz algum tempo desde que alguém esteve disposto a me divertir tanto... – Pegou um martelo e aproximou-se, sorridente. – Diga-me, campeão. Suas mãos são importantes para você?

Antes que Dosakyo pudesse pensar em responder o homem atingiu seu mindinho com uma pancada violenta. Kyo gritou e se debateu freneticamente na cadeira, sentindo as juntas em pedaços. Era como se os fragmentos de ossos estivessem lhe rasgando a pele lentamente. Alguns minutos se passaram até ele recuperar o fôlego. Determinado, encarou o agressor com olhos de desafio. Este, por sua vez, riu e acertou-lhe, dessa vez no dedo anelar.

A tortura continuou por cerca de quarenta minutos. Dosakyo já havia sacrificado os cinco dedos da mão direita quando decidiu que era de colocar seu plano em prática. Ofegante e com o corpo latejando de dor, esperou o agressor se aproximar o suficiente e jogou-se no chão, trêmulo.

— Kyung, veja isso! – O torturador riu. – Parece que finalmente vamos ouvir uma confissão.

Enquanto os dois esperavam por respostas, Kyo forçou as cordas presas em suas pernas contra um dos pés da cadeira. Ele havia reparado na primeira vez que caíra que um dos suportes já estava fragilizado o suficiente. Um pouco de força no local certo e ele poderia arrancá-lo, assim se livrando das amarras. Tudo que ele precisava agora era tempo.

— Está bem. – Disse ele, ofegante. – Estou pronto para confessar.

— Eu sabia! – Kyung Seo bradou, furioso. – Eu sabia desde o primeiro momento! Você é um miserável e um covarde! Por isso sua família o abandonou, não é mesmo? Conte, desgraçado! Conte! – Chutou-o na barriga.

— Naquele dia... – Murmurou Dosakyo, com falta de ar.

— Fale mais alto, campeão. – O torturador pediu, em tom de escárnio.

Kyo cuspiu um pouco de sangue no chão para limpar a garganta antes de voltar a dizer:

— Dae-Won e Chang-Hoo faltaram a aula. – Contou ele, com alguma dificuldade. - Eu e Na-Yeong estávamos sozinhos na academia...

— Miserável... – Kyung murmurou, com os punhos serrados.

— Eu pensei que seria uma aula como outra qualquer, mas a Na-Yeong... ela queria outro tipo de luta... o tipo que acontece entre um homem e uma mulher. – Parafraseou. – Na cama.

— Desgraçado, eu vou mata-lo! – Kyung Seo gritou, puxando-o pela gola do kimono ensanguentado furiosamente.

Nesse momento, Dosakyo conseguiu quebrar o pé da cadeira e soltou-se das amarras. Com uma mão completamente inutilizada pelas agressões, usou a que lhe restava para socar o homem. Uma, duas, três, cinco vezes.

— Solte-o, agora mesmo! – A voz do segundo torturador se fez ouvir, alta e clara.

O homem apontava uma Desert Eagle prateada em direção a Dosakyo, com a mão no gatilho. Kyo encarou-o e então empurrou o treinador semiconsciente em sua direção com um chute. Ambos caíram no chão, fazendo a arma disparar para o alto durante a queda.

Sem perder tempo, Dosakyo aproximou-se e desarmou o homem com a agilidade digna de um oficial treinado. Imobilizando-o com o peso do corpo apoiado no joelho, apontou a arma para a cabeça do sequestrador e disse:

— Me dê o seu celular.

— Espere... – O homem implorou, com medo.

— Me dê agora ou eu juro por deus que enfio uma bala na sua cabeça! – Dosakyo gritou, furioso.

Assim que ele conseguiu o aparelho, teve que largar a arma para discar o número da emergência. Ferido e exausto, não percebeu que o sequestrador se remexia de maneira suspeita abaixo de si. Puxando um pequeno canivete do bolso, o homem enterrou a lâmina na coxa de Dosakyo com um movimento rápido. Enquanto Kyo gritava de dor agarrando o membro ferido, o agressor se levantou, ajeitou as roupas e pegou a pistola calmamente.

Dosakyo caiu no chão, incapaz de se mover. Seu sangue jorrava lentamente para fora, formando uma poça abaixo dele.

— Parece que eu atingi alguma coisa importante, não é? – Riu o homem, apontando a arma em direção a cabeça dele. – Será que você não gostaria de confessar antes de morrer? – Fez uma pausa teatral, certo de que a vítima em estado de choque não conseguiria responde-lo. – Não? – Questionou, de maneira retórica.

Dosakyo encarou-o, percebendo que o mundo parecia em silêncio. Acolher a morte causava um sentimento estranho, um frio na barriga. Embora já houvesse pensado em cometer suicídio, Kyo não imaginava que morreria de forma tão trágica. Era até mesmo engraçado pensar onde havia errado para que sua vida se transformasse naquele caos.

Tudo bem. Ele estava pronto. Estava pronto já a algum tempo. Encontrando um lugar de paz interior dentro de si mesmo, Kyo parou de lutar contra seu destino. Aos poucos, sua visão se esvaiu, dando lugar a uma tela negra e vazia. 

— Adeus, campeão. 

E então veio o tiro.

...

Um corredor branco aproximando-se em alta velocidade. O bipe de um aparelho cardíaco. Falta de ar. Uma mulher falava com ele, mas Dosakyo não conseguia entender o que dizia. Escuridão. Luz. Escuridão novamente. Luz de novo. Vozes soando distantes.

— Seu cérebro foi afetado?

— Não, mas os exames detectaram uma coisa estranha...

— Ei, ele está acordando!

Escuridão.

 

Luz. Ao abrir os olhos, Dosakyo ficou momentaneamente cego. Alguns segundos se passaram até que ele percebesse onde estava. Perguntando-se como havia parado em um hospital, sua mente lhe respondeu com curtos lapsos de memória. Ele e Na-Yeong brigaram, então Kyo caminhou durante algumas horas. Voltou para casa, mas alguém lhe agrediu com um golpe na cabeça.  
Kyo sentou-se lentamente. Seu corpo parecia frágil e pesado, difícil de controlar. Seus sentidos estavam desordenados. Levou uma mão em frente ao rosto, tentando cobrir a fonte de luz que lhe causava náuseas.

— Ele acordou! – Alguém gritou, mas sua voz parecia distante.

Duas mãos empurraram seus ombros suavemente, fazendo com que se deitasse. Ele estava fraco demais para reagir, de modo que deixou o corpo cair sem oferecer resistência.

— Consegue me ouvir? – Perguntou a voz.

Kyo encarou a dona da voz, notando uma mulher na casa dos quarenta anos, com roupas hospitalares. Ela lhe ofereceu um copo d’água e o ajudou a beber lentamente. Um médico surgiu atrás dela, com uma prancheta em mãos.

— Farei algumas perguntas. Tente responder tantas quanto puder, ok? – Pediu o homem. – Qual é o seu nome? 

A voz de Na-Yeong soou de maneira clara na cabeça dele. Kyo! Dosakyo!

— Dosakyo Komei. – Respondeu ele. Sua voz não passava de um sussurro.

— Quantos anos você tem?

Eu tenho trinta e três anos e sou seu professor...”

— Trinta e três.

— Em que ano estamos?

— 2046.

O médico fez algumas anotações na prancheta, antes de tirar uma pequena lanterna do bolso.

— Olhe para a luz, senhor Komei.

Durante alguns segundos, o homem mexeu a lanterna de um lado para o outro, conferindo os reflexos de Kyo de maneira atenta. Por fim, guardou o objeto no bolso e disse:

— Você é um homem de sorte. Seus reflexos estão normais e felizmente o cérebro não foi afetado. Dentro de alguns dias poderá ir para casa.  

— Então, doutor... já posso interroga-lo? – Indagou uma terceira voz.

Kyo não havia notado que havia um policial ali até ele se pronunciar. Ele era alto e magro, com cabelos grisalhos e expressão compenetrada. Vestia um sobretudo preto e desgastado, com um botão a menos. Em um crachá digital pendurado em seu pescoço, lia-se: Investigador Kim Soo Hyun.  

— Não o pressione demais ou ele pode acabar entrando em estado de choque. – Avisou. – Vamos deixa-los a sós, Hyu Jin.

Assim que o médico e a enfermeira deixaram o cômodo, o homem se sentou em uma cadeira ao lado da maca, cruzando as pernas. Ele puxou bloco e caneta do bolso e apoiou-os no joelho antes de começar.

— Senhor Komei, pode me explicar em detalhes o que aconteceu ontem?

Naquele momento, imagens do sequestro invadiram a mente de Kyo. Agora ele se lembrava. Havia sido raptado e levado inconsciente a um galpão escuro. Foi torturado, esfaqueado e, por fim, baleado. Baleado?

— Espere um momento... – Pediu ele, tentando processar as informações. – Eu fui baleado?

— Imagino que o senhor esteja um pouco confuso. – Rebateu Soo Hyun, pacientemente. – Não lembra o que aconteceu?

— Havia um homem... usando uma máscara. – Dosakyo afirmou. – O que aconteceu com ele?

— Apenas o treinador Do-Kyung Seo foi encontrado no local. – Contou o investigador. – Agora... será que você poderia me explicar o que aconteceu?

Foram horas de depoimento até o investigador dar-se por satisfeito. Ele era um homem de poucas palavras, cauteloso e detalhista. Quando o policial finalmente deixou o cômodo, Kyo ainda tentava descobrir o que exatamente havia acontecido na madrugada anterior.

Kyo definitivamente ouvira o som de um tiro, mas não havia sido alvejado. Apenas ele, o treinador e o sequestrador estavam dentro do galpão. Dosakyo se ferira gravemente e Kyung Seo parecia inconsciente. Se o agressor mascarado não havia efetuado o disparo, quem poderia?

De acordo com as informações do investigador, o treinador saíra ileso, exceto por uma leve concussão. A polícia não tinha conhecimento do segundo agressor, logo ele poderia ter escapado ou... poderia ter sido morto.

Antes que Dosakyo se afundasse em mais questionamentos, foi interrompido pelo som de passos. A enfermeira de nome Hyu Jin aproximou-se nas pontas dos pés, como se estivesse prestes a lhe contar um segredo. Ela parou a alguns centímetros de distância, retirou um pequeno papel do bolso e colocou-o na mão de Kyo.

— O que é isso? – Indagou ele, encarando-a.

— Sua namorada ligou para cá hoje de manhã e me pediu para lhe entregar um bilhete.

— Minha... namorada? – Repetiu ele, como se não tivesse ouvido bem.

A mulher riu.

— Ela disse que você reagiria assim. Parece que os dois se conhecem bem.

Dito isso, Hyu Jin acenou e saiu, deixando-o a sós com seus pensamentos. Por um momento Dosakyo se perguntou se a “namorada” a quem ela se referia poderia ser Na-Yeong, mas não fazia sentido. Por que ela se arriscaria a lhe mandar um bilhete logo após ter causado todo aquele incidente? Por outro lado, fora Na-Yeong, quem mais lhe enviaria uma mensagem se passando por sua namorada?

Com esses questionamentos em mente, Kyo abriu o pequeno pedaço de papel, deparando-se com a letra da enfermeira e os seguintes dizeres:

“Estão te tratando bem? Gostaria de visita-lo, mas papai está me vigiando. Talvez eu compre um celular novo para nos falarmos em segredo. Lembre-se, nosso amor não é descartável. Não acredite no que as outras pessoas dizem. Nós ficaremos bem em qualquer lugar, desde que não tenha ninguém por perto nos atrapalhando.

Boa sorte em sua recuperação.

Gabriella C. Haiyato.”

Kyo encarou o papel, perplexo. Nada fazia sentido. Ficou parado durante alguns minutos, encarando a folha aberta em suas mãos. Leu e releu, até que algo lhe chamou atenção: o nome da pessoa que assinara. Chamou o primeiro enfermeiro que passou por perto e lhe pediu uma caneta. Virando a nota do lado avesso, escreveu:

Gabriella C. Haiyato.  

Com o pensamento acelerado, riscou as letras, percebendo que se tratava de um anagrama. Depois de inúmeras tentativas, Kyo se deu conta de que o código não era um substantivo ou adjetivo e sim um nome próprio. Suas mãos tremeram de expectativa a medida em que ele completava o quebra-cabeças. Ao terminar, observou o nome na folha:

Gabriella C. Haiyato

Tayla Abigail Chroe

A mulher com a qual vinha tendo pesadelos sabia quem ele era e estava lhe mandando um recado. Aquilo era um pouco assustador, porém - em face aos acontecimentos recentes - Dosakyo se sentiu reconfortado ao perceber que não havia inventado toda aquela loucura. Seu dia havia sido tão longo que ele simplesmente não tivera tempo para investigar sua descoberta a respeito de Tayla. Mesmo assim, lá estava ele, internado em um hospital e segurando uma mensagem secreta enviada de Hamburgo. Só posso estar louco, pensou.     

Respirando fundo, leu o bilhete novamente, riscando as partes que não faziam sentido e destacando as palavras restantes.

Estão te tratando bem? Gostaria de visita-lo, mas papai está me vigiando. Talvez eu compre um celular novo para nos falarmos em segredo. Lembre-se, nosso amor não é descartável. Não acredite no que as outras pessoas dizem. Nós ficaremos bem em qualquer lugar, desde que não tenha ninguém por perto nos atrapalhando.

Boa sorte em sua recuperação.

Gabrielli C. Haayato

Tayla Abigail Chroe.”   


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Notas finais do capítulo

Finalmente um contato entre o Kyo e a Tayla!! O que acharam?



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