Deitada em sua cama, Daenerys pensou mais uma vez em tudo o que aconteceu com ela nos últimos tempos, desde sua chegada a Westeros até o momento atual, ela sabia que as decisões que teria que tomar não seriam fáceis e precisava reunir forças para enfrentar os lordes e acima de tudo, o povo.

No dia anterior, após a conversa com Verme Cinzento, montou Drogon e sobrevoou a costa de Porto Real, quando passou pela cidade conseguiu ver os estragos que a guerra, que ela, tinha feito, quase conseguia sentir o cheiro de corpos queimando, quando fechava os olhos a noite podia ouvir gritos de crianças pedindo ajuda, choro de homens e mulheres. A conversa que teve com o imaculado trouxe novamente algumas inseguranças que teve quando acordou, como ela voltaria para Westeros e ajudaria os inocentes quando tinha matado tantos? As pessoas teriam medo dela e não era isso com que sonhava para seu reino, ela gostaria que eles a respeitassem e a amassem.

A rainha que tanto lutou pelo trono estava cansada e pensou em desistir, e assim como o imaculado perguntou, tinha desejado ficar nas cidades de Essos, mas além do seu destino escrito pelo Senhor da Luz, ela deveria, ao menos, tentar compensar pelas mortes que aconteceram. O lema da sua casa é "Fogo e Sangue", mas Dany nunca quis que ele incluísse as pessoas inocentes, algum dia ela conseguiria que seu reino fosse próspero e quem sabe assim, isso aliviaria sua alma.

Depois de chegar do seu passeio em Drogon, ela havia ido direto para o quarto que estava pronto a sua espera. Alguém tinha deixado uma mesa preparada para que ela pudesse se alimentar, mas sabia que não conseguiria comer por isso passou direto pela mesa, começou a se despir e deitou em sua cama. Não lembrava dos momentos que sucedeu o ataque a Porto Real, como tinha se sentido estando naquele lugar, mas sabia que deitada naquele quarto não queria outra coisa a não ser fugir.

Quando acordou naquela manhã, sentiu que seria um dia difícil e que deveria ser forte na frente de todos, não poderia demonstrar fraquezas. Uma serva bateu na porta antes de entrar e se oferecer para ajudar, Dany aceitou a ajuda, mas logo percebeu que tinha sido um erro, a criada fez tudo certo, no entanto a rainha conseguia sentir o medo dela transbordando em cada poro da menina, quando a serva terminou logo foi dispensada.

Ficou um momento sozinha, aquele breve encontro com uma pessoa comum tinha desestabilizado a rainha, ela não tinha dúvidas que as pessoas tinham medo, mas não imaginava o quanto, tentou naquele momento se concentrar que em um futuro, ela desejava que fosse o mais próximo possível, as pessoas conseguiriam enxergar ela como uma rainha que não queria o mal da população e sim os ajudar.

Escutou uma batida na porta antes de Verme Cinzento entrar e informar que todos já estavam esperando por ela na sala do conselho. Eles caminharam em silêncio, Dany ainda estava muito tensa mas antes de entrar na sala do conselho conseguiu se recompor, não deixando com que nenhum dos presentes vissem algo de errado.

"Bom dia, senhora e senhores" Dany os cumprimentou entrando na sala, eles se levantaram e fizeram uma reverência, cumprimentando ela de volta. "Vejo que todos estão presentes, sendo assim podemos começar a reunião. Alguém gostaria de começar?"

"Se Vossa Graça permitir, gostaria de começar." Começou Quentyn Martell, recebendo um aceno afirmativo de Dany. Ela não sabia muito sobre ele, Ellaria não tinha o mencionado como sendo alguém perigoso, só como um jovem aventureiro que, segundo alguns sussurros, estaria atrás de algo muito precioso a mando do seu pai, Doran Martell, mas que desde a morte deste ninguém tinha tido notícias. "Como todos sabem, sou herdeiro de Doran Martell, o homem que Ellaria Sand matou, gostaria de receber justiça, não sei sobre o destino dela, mas quero um julgamento pela morte de meu pai e dos guardas que ela matou."

"Infelizmente não poderei conceder um julgamento ao senhor." Dany conseguiu ver a revolta nos olhos do Martell, ele foi esperto o suficiente para não deixar nenhuma palavra sair dos seus lábios. "Ellaria tinha sido capturada pela Lannister e quando cheguei aqui, fiquei sabendo que a Lannister tinha a trancado no porão para ver sua filha morrer, como uma vingança pela morte de Myrcella. Quando nossos guardas foram verificar, encontraram o corpo de Ellaria pendurado em correntes em frente a filha dela, eles contaram que ela deve ter rasgado sua mão com seus próprios dentes e tentado chegar até sua filha, mas acabou morrendo pela perda de sangue."

As pessoas presentes pareciam desconfortáveis com o relato, mas nenhum ousou soltar algum ruído, quando Dany terminou eles olharam para o Martell esperando sua reação.

"Não era o fim que eu esperava para ela, mas não há nada o que podemos fazer, agradeço mesmo assim, Vossa Graça." Quentyn, ao que parece, estava satisfeito com o fim cruel da assassina de seu pai.

"Algo mais?" Ela dirigiu a pergunta para todos os presentes, que se olharam antes de lorde Arryn começar a falar.

"Vossa Graça, percebemos que, além da senhora, somos em seis, acho que falo por todos quando pergunto como ficará a divisão das terras, quais serão os protetores dos territórios." Ele terminou de falar e Dany se surpreendeu com a postura que o jovem lorde tinha, apesar de pouca idade e pela infância que teve, ele conseguiu demonstrar segurança pelo seu posto.

"Acho que essa é a questão principal dessa reunião, certo?" Todos afirmaram com suas cabeças. "Todos os senhores ficarão responsáveis por suas terras, sendo Robyn Arryn, o protetor do Vale e das Montanhas; Gendry Baratheon, o protetor das Terras da Tempestade; Quentyn Martell, o protetor de Dorne; Edmure Tully, o protetor das Terras Fluviais e Sansa Stark, a protetora do Norte. Antes de chegar a Westeros, eu e Yara fizemos um acordo em que as Ilhas de Ferros seriam independentes e minhas aliadas se seguissem algumas condições, então Yara Greyjoy não é somente a protetora das Terras Insulares como a rainha delas, e nossa aliada."

"E os outros territórios? A Campina e as Terras Ocidentais?" A Stark perguntou, Dany via que ela estava descontente com as Ilhas de Ferro sendo independente e o Norte não.

"Da última vez que soube, Wyllas e Garlan Tyrell ainda estão vivos, já pedi para que fossem chamados para cá e devem estar chegando nos próximos dias, os Tyrell continuaram como protetores da Campina." Dany se surpreendeu em como ninguém tinha conhecimento que eles estavam vivos, ao que parece o anão realmente esperava que eles estivessem mortos para colocar um mercenário como protetor daquelas terras, a rainha se perguntou se ele realmente achava que os vassalos de lá aceitariam Bronn como o suserano deles. "O Rochedo irá passar para o comando de lorde Westerling, um dos antigos vassalos dos Lannister."

Todos estavam surpresos por Dany já ter tudo pensado, assentiram para suas palavras e já esperavam uma permissão para se retirarem.

"Antes de se retirarem gostaria de informar que após os lordes Tyrell e Westerling chegarem e formarmos o conselho, iremos ter o julgamento do bastardo Aegon. Vocês podem se retirar, menos lorde Baratheon, gostaria de ter uma palavra com o senhor." Dany viu a surpresa na expressão de todos por saber que teria um julgamento para o regicida, todos se retiraram em silêncio, Sansa antes de sair trocou um olhar com Gendry, que acenou para ela.

"Gostaria de falar comigo, majestade?" O Baratheon estava nervoso mas tentava se controlar.

"Sim, quando te legitimei não pensei sobre como isso iria ser colocado em prática, admito que deveria ter pensado com mais cuidado." Dany pensava sobre isso há um tempo e finalmente encontrou um modo para que os vassalos aceitassem um bastardo que foi legitimado.

"Vossa Graça se arrepende de ter me legitimado?" Por mais que tentasse esconder, a rainha conseguia ouvir a tristeza e raiva na sua voz.

"Não se preocupe, Gendry, não vou te deslegitimar e nem me arrependi. Me arrependo de não ter pensado nas consequências mas acho que podemos resolver isso juntos." Ela viu o jovem se acalmar. "Como deve saber, os nobres de Westeros são muito orgulhosos e assim como os vassalos de Jardim de Cima não aceitaria um mercenário como senhor, penso que os lordes de Ponta Tempestade não aceitariam de bom grado um jovem que foi legitimado a pouco tempo."

"Vossa Graça tem razão, mas não vejo como poderei os convencer." Ele respondeu cabisbaixo.

"Aconselho o senhor que poderá tentar um casamento com alguma filha de algum dos seus vassalos, isso poderá criar alianças por lá, que é o que você precisa no momento." Essa foi a única solução que Dany imaginou, esperava que funcionasse.

"Casar? Com alguém que eu não conheço? Sempre fui um bastardo com nada e quando ganho um nome, tiram de mim a possibilidade de escolher com quem vou me casar?" Gendry falou como se fosse perder algo de grande valor casando com outro e Dany imaginou se ele não teria alguém especial em mente para se casar, ficou triste por ele. "Agradeço o conselho, acho que terei que pensar sobre isso."

Dany acabou o dispensando quando percebeu que havia falado tudo, agora a decisão seria dele se aceitaria seus conselhos ou não.