Durante o tempo que ele estava preso, todos os dias ele ouvia alguns murmúrios dos seus guardas, alguns até tentavam conversar com ele, mas não se sentia digno em conversar com alguém. No entanto, essa manhã um silêncio impregnou o local, Jon Snow percebeu que seus guardas não eram os mesmos, estes nem tentaram iniciar alguma conversa com ele ou entre si, percebeu com certo espanto que eram imaculados, estar perto de homens que foram fiéis a mulher que ele matou não o trouxe medo, a presença deles trouxe lembranças da mulher que tinha amado e a rainha que tinha jurado servir, as memórias eram agridoces, lhe davam alegria por lembrar que alguma vez fora digno do amor de uma mulher como Daenerys, também ficava triste por lembrar o que tinha feito com todo amor e confiança que ela deu, ele foi forçado a matar a rainha, forçado não apenas por Tyrion mas também por sua honra, não poderia deixar viver uma assassina de milhares de pessoas, incluindo mulheres, idosos e crianças. Mesmo sabendo que havia tomado a decisão correta, não o impedia de sentir raiva de Tyrion, mas acima de tudo, de si mesmo.

Com a morte de Dany, foi a segunda mulher que Jon amou morta e Jon esteve presente nas duas mortes. A primeira tinha sido Ygritte, a selvagem diferente de qualquer outra mulher que Jon havia conhecido, ele aprendeu a amar, mas no final escolheu o dever e voltou para a Patrulha da Noite, e tempos depois, ela morreu lutando contra a Patrulha. A morte de Dany também foi ocasionada por Jon escolhendo o dever, o dever de defender o povo. Ele sempre colocou o dever na frente da sua felicidade e isso provou ser sua ruína.

Preso nessa cela escuro, Snow tinha tempo o suficiente para relembrar todos os detalhes da morte da rainha. Ele não pensava só no regicídio que cometeu, quando a dor se mostrava forte demais, ele forçava sua mente a vagar para outros assuntos, se lembrava da sua infância, da cumplicidade que tinha com Robb e Arya, do pequeno Rickon pedindo doce na cozinha, de Bran seguindo ele e Robb para todos os lados e até mesmo de Sansa o chamando de "meio-irmão", sentia saudades de quando sua única dificuldade era aguentar a tristeza de quando lady Catelyn o desprezava, sentia falta de seu pai, Eddard Stark.

Eddard Stark era um homem honrado, que havia o amado como filho, mas a mente de Jon insistia o lembrar de que ele não era seu pai, ele era seu tio. Toda sua infância, Snow quis saber a identidade de sua mãe e lorde Stark nunca quis lhe informar, agora que sabia quem era, desejou poder esquecer, pois tinha descoberto a identidade de sua mãe mas agora não sabia quem era ele mesmo.

Sempre acreditou que seu pai tinha sido um homem honrado, o mais honrado de todo reino, agora descobriu que era filho do príncipe Targaryen, Rhaegar, um homem que tinha uma esposa e dois filhos, mas havia decidido fugir com sua mãe, uma nobre que havia sido prometida a outro, Robert Baratheon, este que, como o pai e irmão de Lyanna, achava que ela tinha sido sequestrada pelo principe. A fuga dos seus pais tinha sido uma das causas da morte de tantas pessoas, seu pai não tinha pensado no seu dever como príncipe e futuro rei do povo, talvez os deuses decidiram que com por conta dos erros dos seus pais, Jon deveria pagar o preço e viver sua vida em prol do dever.

Eddard Stark tinha escondido a verdadeira paternidade de Jon Snow de todos, até da sua própria esposa, Jon imaginava como a vida dele seria diferente se lorde Stark tivesse dito a verdade a pelo menos sua esposa, talvez ela não o odiasse tanto e sua vida fosse menos miserável, ele não seria impelido a ir para a Muralha, estaria ao lado de Robb nas guerras, talvez pudesse impedir a morte de seu irmão ou ao menos recuperar o norte das mãos de Theon, conseguindo salvar Bran e Rickon. Eram tantos "e se" e "talvez" que Jon começou a se ressentir com o homem que tinha o criado.

Descobrir que era filho de Rhaegar, ao que parece, só serviu para afastar ele de Daenerys, por mais que a amasse, não conseguia imaginar se casando com sua própria tia, pensou que Eddard ficaria tão horrorizado com essa possibilidade como todos ficaram quando descobriram sobre o envolvimento de Cersei e Jaime, seus futuros filhos seriam desprezados por todos e com o passar do tempo, Dany e Jon começariam a se ressentir um com outro. Ele nunca se imaginou rei, mas acabou sendo proclamado Rei do Norte e sendo o herdeiro legítimo do trono de ferro, ele não mentiu quando disse para Dany que não queria o trono, ele não se considerava bom o suficiente para ser Rei de Westeros, ele só queria se mostrar digno para ser consorte da Rainha Daenerys Targaryen, mas essa possibilidade não existia mais, graças a ele.

Não importa o esforço que ele colocava, seus pensamentos uma hora ou outra voltavam para Daenerys, a rainha que tinha o salvado mais de uma vez e na primeira vez, acabou perdendo um dos seus dragões para o Rei da Noite, Jon imaginava que se Dany soubesse como iria acabar, não iria arriscar seus filhos assim, não tinha sido uma troca justa, a vida de um dos seus filhos, um dos três dragões vivos em mais de cem anos, pela vida de Jon.

Ainda podia lembrar com todos os detalhes do momento que ela morreu, ele conseguia ver em seus olhos a dor que ela estava sentido, desejou poder tirar sua dor, quis poder reverter o que tinha feito, se arrependeu no momento em que enfiou a faca em seu coração. Ele sabia como era a dor, não só a de ser atingido no coração, como a da traição, ele havia sido morto da mesma maneira quando foi Comandante da Patrulha da Noite, se perguntou se o Senhor da Luz havia o ressuscitado apenas para matar Dany da mesma maneira que havia sido morto.

Ele tentava colocar a culpa dos seus atos em qualquer um, no anão Lannister, no dever, nos deuses, no Senhor da Luz, na própria Dany, mas ele sabia, sempre soube que a culpa foi dele, sempre foi, pois não importa seu nome, Jon Snow ou Aegon Targaryen, ele era um traidor, um mentiroso e um regicida.