Tristeza. Mais forte do que qualquer raiva que Daenerys poderia sentir, a tristeza estava alojada no fundo da sua alma. Dany achava que conhecia a tristeza depois da infância sendo humilhada pelo seu irmão, ele que a vendeu para seu sol e estrelas, a rainha sabia que a relação não tinha sido totalmente boa, especialmente no começo em que ela foi machucada mais do que tudo o que ela tinha passado. Mas aquele tempo havia passado e quando achou que poderia ser feliz, Drogo e seu filho Rhaego acabaram mortos, a dor foi tanta que ela desejou poder morrer com eles, no entanto o destino tinha outros planos e acabou ficando viva e se tornou mãe dos dragões.

Dany sempre perdeu coisas importantes durante a conquista dos seus objetivos, entretanto após perder dois dos seus três filhos, sua amada amiga e seu fiel protetor, ela não se sentia realizada em ter conquistado o trono, uma pequena fagulha de felicidade surgiu, mas que logo foi apagada por Jon Snow, o homem que ela aprendeu a amar, a apunhalando, ele não teve a coragem de a matar olhando nos seus olhos, a esfaqueou quando estava mais vulnerável. A dor da traição ainda queimava, se passasse a mão embaixo do seio esquerdo, conseguiria sentir a leve cicatriz.

Quando acordou a leste de Westeros, em Essos, não conseguiu entender o que estava acontecendo por um instante, mas suas memórias voltaram de repente e a dor de ser esfaqueada e da traição voltou novamente, por um momento desejou mais do que qualquer outra coisa matar Jon Snow com suas próprias mãos. Com o decorrer dos dias, enquanto se recuperava para voltar, pensou em todos os passos que daria, quais seriam as melhores estratégias a seguir e por mais que quisesse incendiar todo Westeros sabia que não deveria, se lembrou do que aconteceu quando tomou as decisões com base na raiva e em sua impulsividade.

Ela não negava que era impulsiva, mas em nenhum momento desejou ser um monstro como Cersei ou como seu pai, o rei Louco. Dany sempre teve medo que um dia a loucura do seu pai fosse despertada nela e depois do que ela fez em Porto Real, conseguia entender porque as pessoas tinham medo dela, mas no fundo ela sabia que não era louca e prometeu a memória dos seus filhos, Rhaego, Viserion e Rhaegal que não se tornaria uma rainha louca.

Quando Daenerys estava totalmente recuperada, voou de volta ao lugar que tanto trouxe dor a ela, mas dessa vez estava preparada e iria garantir que ninguém ousaria tramar contra ela e que, em meio de tanto mal, todo o reino seria próspero com seu governo. No meio de todos os traidores e conspiradores, ela sabia quem deveria morrer e quem deveria ser perdoado, por mais que as mortes fossem vistas como crueldade, era necessário para que ninguém ousasse cometer os mesmos erros.

Mesmo com tantos planos, ela não imaginava que encontraria o Lannister presidindo uma reunião para a escolha do novo rei, Dany nunca entenderia como funcionava as leis em Westeros, pelo menos as leis dos grandes lordes, mas também não precisava, pois ela não permitiria que essas coisas continuassem assim. Iria começar a mudança com pequenos atos, tão pequeno quanto o anão que Drogon carbonizou em seu comando.

A rainha não tinha dúvidas que Sansa Stark achava que iria ser morta também, Dany cogitou essa possibilidade, mas seria muito mais benéfico ela continuar viva, apesar de tudo, a Stark estava preocupada com seu povo e Daenerys admirou isso, ela seria uma boa senhora de Winterfell. A Targaryen não confiava no corvo, quando Kinvara, a sacerdotisa que a ressuscitou, lhe contou todas as histórias por trás do surgimento do corvo de três olhos, Dany não acreditou que seria possível, mas vendo o menino com seus próprios olhos, cada palavra dita pela sacerdotisa voltou em sua mente e a decisão de deixar Sansa viva e a tornar protetora de Winterfell pareceu ainda mais correta.

Em meio a tantos traidores, Dany ficou feliz em ver seu amigo, Verme Cinzento, bem e disposto a continuar a protegendo. A rainha também conseguia ver Yara Greyjoy, a aliada que fez antes de chegar em Westeros, ficou decepcionada por um momento por não encontrar nenhum tipo de resistência dela e de Verme Cinzento contra esses lordes, mas compreendia que eles nada poderiam fazer contra todos, não sem reforços, agora eles nada precisavam temer, ela estava de volta e Drogon era todo o reforço que precisavam.

Dany não conhecia três dos lordes protetores presentes, Robin Arryn, Quentyn Martell e Edmure Tully, dois deles pareciam de alguma forma ligados a família Stark, mas pela pressa que Tully estava a bajulando, a rainha suspeitou que ele não queria que essa ligação fosse notada. Robyn Arryn era um rapaz jovem, que tinha como conselheiro Yohn Royce, o homem que confirmou suas palavras sobre a anulação, o jovem Arryn parecia novo, mas inteligente o suficiente para se curvar quando necessário. O único que Dany estava intrigada era o dornês, Quentyn Martell, ela não foi informada sobre um príncipe, na verdade achava que a casa Martell estava morta pelas serpentes de areia, nesse momento se perguntou onde estaria Ellaria Sand.

"Bem, tendo agora a confirmação das minhas suspeitas, o bastardo, sendo filho de Rhaegar ou Eddard, permanece bastardo, sem nenhum direito ao trono" Dany fez questão de olhar para todos e terminar em Sansa, a rainha tinha a perdoado, mas isso não significava que a Stark não precisava ser colocado em seu lugar "Se esse assunto ficou claro, acho que podemos terminar a reunião de hoje, amanhã iniciaremos outra para decidir sobre os territórios dos senhores, vejo os senhores amanhã."

Por um momento todos estavam em choque, que logo foi substituído pelo nervosismo ao olhar para a enorme figura de Drogon, não hesitaram em sair apressados.

"Lady Sansa, se não se importa, gostaria de falar com a senhorita a sós." Dany falou suavemente, mas todos sabiam que aquilo não foi um pedido. Enquanto todos se retiraram, Sansa tentava se manter tão forte quanto aço, tentando não pensar que o aço não era páreo para o fogo, especialmente de dragão.