Inside Energy escrita por Caroline Lopes
Notas iniciais do capítulo
Mais um capítulo. Esse é um extra da semana para os curiosos. :*
Não percebemos as horas voarem com o planejamento dos próximos dias. Lucas e eu brigávamos constantemente sobre qual atitude deveríamos tomar.
— Você não tem noção de como eles são fortes. Nem seu irmão, que era muito treinado, conseguiu passar desapercebido por eles.
— Nós conseguimos. Você vem me treinando desde o dia que chegou. - insisti.
— Precisamos chegar ao poço vivos. O que faremos primeiro é sair da barreira. Vamos até a cabana onde Diana está de guarda. - ao falar “Diana”, sua feição mudou imediatamente. Mesmo sem conhecê-la, a impressão que tenho é que Lucas é apegado a ela de alguma forma – Farei algum plano com mais detalhes, verei algumas meditações. Conversaremos amanhã.
Foi um convite nítido para me retirar de seu quarto. Eu posso ver o cansaço nos olhos dele e ele, as dúvidas no meu silêncio. Demoro até me levantar olhando bem fundo em seus olhos.
—Está bem.
Aproveito o momento de solidão em meu quarto relembrando os treinamentos que tivemos enquanto eu ainda não tinha minha memória restituída. Lucas sorria, esbanjava força e sabedoria. Sabia várias técnicas e meditações. “Imagino que tenha treinado muito, ainda mais após a morte de meu irmão”, pensei.
Meus pelos se arrepiaram imaginando as cenas de Lucas treinando e logo espantei essas ideias. Ele é meu melhor amigo e corre tanto risco quanto eu nessa jornada.
***
Acordo no meio da noite com o barulho de trovões e muita chuva, uma tempestade fortíssima. Eu transpiro e o pressentimento corre minhas veias. “Algo está errado”.
Vou até o quarto de Lucas apressadamente. Sentado no meio do quarto em posição de meditação, em um tipo de transe, seus olhos brilhavam e não piscavam.
—Lucas?
Chego perto para entender o que estava acontecendo, mas uma corrente elétrica impediu que me aproximasse muito. Quanto mais o tempo passava, mais a chuva ficava forte.
Num ato desesperado, jogo-me sobre ele. Lucas foi ao chão e a corrente elétrica passou pelo meu corpo se dissipando. Nós nos entreolhamos. Ele não diz nada, apenas respira ofegante. Seu hálito quente vem em direção ao meu rosto. Eu me levanto e retiro-me para o meu quarto.
Tranco a porta assim que entro. Uso-a de apoio enquanto sento no chão. Minhas bochechas ardem. Apesar de tudo que ocorreu o que me incomoda, na verdade, foi a proximidade de nossos lábios.
“Eu quase o beijei. Eu quase o beijei”, escondo meu rosto entre as pernas. “Ele pode pensar que eu me aproveitei dele ou”. Eu estou nervosa, não consigo pensar direito com a cena se repetindo em minha mente em câmera lenta.
— Camille! Abra a porta! - as batidas eram fortes – Me ouve! Você está bem?
— Estou bem.
—Pelo universo. Ainda bem... Interferir daquele jeito é perigoso. Pode abrir a porta para conversarmos?
— Não. Vo...vo...cê está bem?
— Sim. Abra a porta.
—Não posso. Amanhã nos falamos.
— Se você não abrir, vou derrubar. - respirei fundo e destranquei a porta – O que está havendo? Você se assustou?
— Não me assustei.
— Tenho novidades. - ele empurrou a porta e entrou no quarto – Eu fui até o entorno do poço.
— Hum?
— O que você estava vendo, era a minha energia corporal, minha áurea, vagando. Não consegui voltar por conta de alguma magia. Eles estão aprontando alguma coisa e não consegui ver Diana. - aflito, caminha de um lado a outro do quarto. - Eu tenho o plano. Nós vamos amanhã. Estamos aqui há muito tempo depois daquele ataque, mas não retornaram, por quê? E... você está me ouvindo?
— Sim. Vamos amanhã.
— Era o que você queria, por que essa desanimação?
— Vou deixar muitas lembranças com meu irmão para trás.
— Camille, eu...
— Boa noite. - o intimei.
Sem dizer mais nada, Lucas saiu. Eu estava triste e aflita por deixar as lembranças, mas o que realmente me incomoda é como ele não sentiu nada quando quase encontramos nossos lábios.
Levo minha mão ao peito refletindo na situação.
***
— Acorda, temos que ir. Pegue somente o que é mais relevante porque a caminhada será longa. Estou na cozinha preparando as coisas para levarmos. Lembre-se, roupas confortáveis e boas para o frio. - foram as palavras dele antes de sair do quarto.
O dia não havia amanhecido e já partiríamos atrás do desconhecido. Mesmo que consigamos chegar ao poço, como vamos voltar a Illíare e o que fazer quando chegarmos lá? Era uma jornada sem volta.
Levanto-me enfim e começo a me ajeitar. Esse será o último banho confortável nessa casa, depois disso só o universo saberá quando teremos esse sossego. Seco-me com a toalha, visto a roupa e separo os itens que vou levar. Olho para minha foto com meu irmão na cabeceira, sorrio levemente. Olhando para o quarto em que vivi os últimos anos lembro-me de pegar algo valioso: meu cordão. Não usava havia anos e lembro-me de ter achado no jardim. Não tínhamos visitas, não conhecíamos ninguém. Apenas, um cordão.
— Camille? Está pronta?
— Sim, estou descendo.
—Preparada? Assim que sairmos, a barreira irá se dissipar e não demorará para que venham atrás de nós. Apenas não olhe para trás e corra sem parar.
—Entendi.
Fomos até o limite da barreira no jardim, Lucas recitou algumas palavras de meditação e eu pude, finalmente, ver a barreira. É enorme e reluzente. Alguns movimentos de Lucas abre uma fenda e assim que passamos ela se quebrou como um vidro craquelado.
—Vamos.
Lucas agarrou em meu pulso e pôs-se a correr. Corria muito, enquanto eu me cansava rápido. Ele para e eu esbarro logo atrás. Faz o movimento de silêncio e aponta para uma árvore próxima. Uma sombra densa se formava, mas eu mal podia identificar o que era. Então, Lucas agarrou-me por trás e tampou minha boca. Recitou algumas coisas em meu ouvido. Uma sensação ruim toma meu corpo, como se a própria morte se materializasse perto de nós. Minha respiração queria ficar mais pesada, mas a mão de Lucas apertando minha boca e seu corpo prensado no meu impede que eu realize qualquer movimento. Passei a me concentrar nas palavras que soavam em meu ouvido, alguma meditação. Meu coração se acalmou aos poucos e a sensação passou.
Lucas me soltou e somente mexendo os lábios disse “Manilla”. Então, aquilo é um Manilla. Provavelmente, ele já sentira aquela sensação e sabia que o mesmo aconteceria comigo.
Continuamos a percorrer o caminho correndo. Ainda não estávamos na metade e continuávamos correndo sem parar para que conseguíssemos alcançar a cabana antes do pôr do sol.
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Huumm....