Inside Energy escrita por Caroline Lopes


Capítulo 2
Peludo ou Lucas?


Notas iniciais do capítulo

Eis o segundo capítulo.

Boa Leitura!



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Abro meus olhos devagar, demoram a ganhar foco. Estou em meu quarto, deitada em minha cama, mas não sei como cheguei ali. Não posso ter caminhado até aqui. Lembro-me muito bem de ter desmaiado a caminho da cozinha. 

Tento sentar devagar, mas meu corpo falha ao sentir uma pressão subindo através da nuca. Pisco diversas vezes tentando manter-me alerta. No gaveteiro um copo d’água e analgésicos.  

— Camille? - falou um rapaz que, após bater na porta, entrou com certo cuidado. 

— Não se aproxime! - assustei-me ao vê-lo entrando. 

— Calma. 

— Não chegue mais perto ou eu te mato. 

— Tudo bem. Tudo bem. Apenas se acalme.  

Apesar do medo de ter uma pessoa desconhecida em minha casa, mantive minha postura ereta e a concentração alerta. Uma tentativa de aproximação e eu fervo a água do corpo dele derretendo-o de dentro para fora. 

— Estou avisando, não se aproxime. Quem é você e o que quer? 

— Vai ser difícil acreditar, mas sou o Peludo. 

— O quê? - fiquei confusa, mas tive um vislumbre do episódio do pingente. - Mostre o pingente.  

Devagar, o rapaz abaixou a gola revelando o pingente que dei a Peludo quando o resgatei machucado na floresta ao redor da casa.  

— Acredita em mim agora? 

— E que diferença faz. Apenas vá embora, já ajudou o bastante. 

— Camille, eu sei que é difícil de entender... 

— Não precisa explicar nada.  

— Você está correndo perigo e, por isso, virei humano novamente. 

— Eu não quero que explique, apenas saia do meu quarto. 

— Entendi, estarei por perto se precisar. - fechou a porta vagarosamente.  

Apesar de não parecer, realmente estou tendo um surto. Após uma noite intempestiva, acordo pela manhã e meu gato vira um homem, e... Não sei que reação ter e nem no que acreditar. Apesar de tudo, não é difícil que um gato vire um ser humano já que manipulo líquidos. 

Olho para o quadro de meu falecido irmão com ternura. Ele havia me preparado para essas surpresas quando alertou que meu dom era especial. “Você ainda irá descobrir o propósito de ser diferente, irá até salvar o mundo”, ele disse. Percebi estar sorrindo com a lembrança carinhosa. 

— Esse dia chegou.  

Há anos me preparava para algo diferente acontecer e quebrar a minha vida pacata e normal. Não era novidade, dentro de mim pressentia que algo estava se aproximando. Espero que essa jornada na qual sempre me preparei seja surpreendente. 

Após refletir bastante, resolvi me levantar e tomar um banho quente e demorado. A água possibilitaria relaxar meus músculos e trazer o momento de paz que precisava. Fechando os olhos me deixo levar àquele sonho recorrente no meio da imensidão azul de água. Sempre me reconforta imaginar-me mergulhando sem rumo. 

Apagar a tensão e saber que chegou o momento de encarar o Peludo. Não convivo com ninguém desde que meu irmão morreu e ter uma outra pessoa envolvida nisso me desestabiliza.  

Escolhi uma roupa confortável, respirei fundo e olhei-me no espelho. “Você consegue. Você consegue. Você consegue.”, essas palavras representam o temor que estou tentando esconder. “Você precisa ser forte”, lembrei as palavras de meu irmão no leito do hospital. 

Desci e encontrei Peludo na cozinha preparando algo cujo cheiro não consegui identificar.  

— Você apareceu. Espero que esteja melhor. - disse balançando a frigideira. 

— Sim. Precisamos conversar. 

— Precisamos sim, mas vamos comer. Fiz ovos e torradas. Cortei algumas frutas também. - sorriu gentilmente. 

Sentei-me a mesa já posta e o aguardei juntar-se a mim em silêncio. Não conseguia pensar em mais nada além de “tem um estranho cozinhando e que antes era um gato”.  

— Não quero te pressionar. - disse me servindo um prato de ovos – Sei o quanto isso deve estar sendo estranho para você, mas preciso que seja paciente e me deixe explicar. - apenas balancei a cabeça consentindo – Primeiramente, meu nome é Lucas. Eu fui incumbido de cuidar de você pelo seu irmão. Tenho te acompanhado como gato todo esse tempo por ordens dele e instruído somente a me revelar em situação de risco. Temo que esse dia chegou. 

Seus olhos verdes penetraram minha alma com tamanha seriedade. Eu podia sentir no fundo deles um temor que subia pela minha espinha.  

— Eu convivo com você tempo o suficiente para saber que apesar de séria e forte está com medo e que pode sentir meu temor também. - senti-me despida, vulnerável - O que você presenciou ontem é o que eu e seu irmão temos lutado por muitos anos para que não cheguem até você. Camille, você é especial e muito importante. Não só para esse mundo, mas para todos os universos. Eu sei que nesse momento parece muito, mas aos poucos irá entender. 

— Você despeja toda essa baboseira de “você é especial, é importante” e não vai direto ao ponto por medo de alguma coisa. Quero que me conte o que aconteceu ontem e por que estou em risco. 

— O que você viu ontem foi um ataque dos Manillas à barreira que eu e o seu irmão erguemos ao redor da casa. - olhei-o esperando mais informações - Os Manillas são uma “classe” banida em outro mundo, outro reino. A única coisa que precisa entender é que eles estão querendo você morta. 

— Ainda está escondendo coisas de mim.  

— No momento é o que precisa saber, não posso contar mais nada. 

— Então, você não terá o meu apoio. 

Levantei da cadeira deixando Lucas terminando o café e fui até o quarto de meu irmão. Peguei uma roupa dele no armário e deitada em seus travesseiros me debulhei em lágrimas. Deixei tudo escapar pelo choro silencioso, mas ofegante. Não consigo controlar minhas reações, não sei como agir, não sei o que pensar, não sei o que sentir. 


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