Finding hope escrita por nje


Capítulo 5
4: Laços


Notas iniciais do capítulo

Eaí, pessoal! (:
Fiquei muito feliz com os comentários no último capítulo.
É importante para mim saber a opinião de vocês.

Me deixou tão empolgada que esse capítulo acabou ficando gigante! hahahaha
Tive que cortar até algumas partes que inicialmente havia pensado para não ficar ainda maior.
Tentando ir com calma hahaha

Enfim, é isso. Boa leitura! Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778412/chapter/5

 Ele encostou a moto na frente da floricultura onde a garota já estava esperando-o. Era possível notar a ansiedade dela pelo roer frenético de unhas e o balanço nervoso de uma das pernas. 

Naruto olhou-a da cabeça aos pés e sorriu. A garota vestia uma de suas melhores roupas, que economizou muito para comprar. Tratava-se de um blusão da Adidas, metade de cima azul e a metade de baixo vermelha e o símbolo da marca no meio. Uma jaqueta corta-vento preta por cima e a calça jeans rasgada no mesmo tom da jaqueta. Uma faixa vermelha envolvia os cabelos róseos, com o laço no topo de sua cabeça. 

— Mulher, eu até poderia dizer que cê é a oitava maravilha do mundo, mas eu taria mentindo e cê sabe que num sou de mentir...

— Qual é, Naruto?! Tá querendo me botar pra baixo, é?! Passei um tempão escolhendo essa roupa! — A rosada colocou as mãos na cintura e encarou-o, chateada.

Ele riu gostosamente e deu continuidade ao que estava dizendo:

— Taria mentindo porque pra mim cê num é a oitava maravilha do mundo, Sakura, cê é a primeira! 

A garota ficou sem fala e suas bochechas foram tingidas de rubor intenso. Naruto seguiu rindo e entregou um capacete para ela, dando palminhas na garupa de sua moto com a outra mão em um gesto que a convidava a subir.

— Cê é um idiota, mesmo! — Ela aceitou o convite e colocou o capacete, montando em seguida na garupa. Apertou os braços com força ao redor da cintura dele, mais como um abraço do que por motivos de segurança. O loiro sorriu ao constatar isso. 

Então deram início ao percurso que os levaria até a gravadora de Killer Bee. Sakura tentava dominar o nervosismo. As dúvidas e a insegurança consumiam-na.

Passou o final de semana todo ponderando se deveria ou não comparecer na reunião da segunda-feira. As palavras de sua mãe dizendo que ela deveria focar em conseguir uma bolsa em alguma faculdade e esquecer do sonho de viver da música ecoavam em sua mente ainda naquele momento. Entretanto, pior do que tentar ter progresso na carreira musical e falhar seria se nem mesmo chegasse a tentar. 

O local de destino deles era localizado na cidade vizinha, a cidade do Relâmpago, em um bairro conhecido por Kumo. O bairro era de classe média, beirando a alta. Havia uma mistura de classes, cores, gêneros. O filho da faxineira frequentava a mesma escola que o filho do empresário. O pedreiro frequentava o mesmo hospital que o advogado. Era daquela forma que Tsunade e os outros diretores da ONG — bem como vários moradores de Konoha — idealizavam que fosse o próprio bairro. Não era perfeito. É claro que ainda existia a desigualdade e os preconceitos. Mas era em uma proporção bem menor. 

As casas eram bonitas e arrumadas, porém sem extravagâncias. Havia uma região de Kumo voltada especificamente para moradia e outra parte voltada para o comércio. Um comércio variado, inclusive. Que contava com diversidade de ramos: possuía desde cafeterias até oficinas mecânicas. Restaurantes, bares, lojas de roupas e de eletrodomésticos. Parecia muito com o centro de uma cidade. E de uma cidade das grandes. A gravadora de Killer Bee ficava dentro de sua casa. 

Dessa maneira, após atravessarem a região comercial do bairro acabaram na região residencial. A respiração de Sakura estava irregular e isso se acentuava conforme iam se aproximando do número que buscavam. Naruto era bastante observador e se deu conta do estado da rosada. Ele parou a moto um pouco antes da casa do rapper. Sakura desceu, tirou o capacete e logo em seguida Naruto fez o mesmo.

O loiro segurou as mãos dela entre as suas e encarou-a com seriedade. Seus olhos azuis vibrantes estavam fixados no par de belos olhos verdes-esmeralda da garota em sua frente.

— Cê tá muito nervosa. Vamo, respira fundo e lentamente comigo. — Naruto então tomou o máximo de ar que seus pulmões aguentavam e foi soltando com calma. Sakura foi fazendo o mesmo até parar de tremer e sua respiração atingir um ritmo mais regular. 

A rosada agradeceu pela delicadeza do rapaz em notar e tentar ajudá-la. Eles então foram caminhando até as grades brancas do portão da casa de Killer Bee. Era simples, porém graciosa. Um sobrado de tom creme e janelas brancas como o portão. Sakura apertou a campainha do interfone.

— Qual é a senha? — A voz de um homem soou através do aparelho.

— Senha? Que papo é esse?! — Sakura arqueou as sobrancelhas e já entrou em desespero. Em seguida ouviu uma intensa risada.

— Tô brincando, po. É aquele casal fofinho da inauguração da ONG, né?! — Era Killer Bee quem estava falando. Naruto empolgadamente confirmou o que ele disse e Sakura nem se deu ao trabalho de corrigir. O portão se abriu e eles adentraram a residência do rapper. 

Por fora, era um sobrado arrumado e mais tradicional, semelhante a tantas outras casas do bairro. Entretanto, o ambiente interno era totalmente diferente do externo. O primeiro cômodo após a entrada era a sala. As paredes estavam totalmente cobertas por graffites e pichações. Havia um luxuoso sofá roxo e puffs na mesma tonalidade espalhados pelo lugar. E de frente para o sofá, encontrava-se uma grande Smart TV LED de 50 polegadas, junto a grandes caixas de som e o videogame Playstation mais recente com algumas caixinhas de jogos largadas ao redor. Uma escada em espiral encontrava-se em um dos cantos da sala. E era subindo ali que ficava o espaço em que Killer Bee adaptou para tornar-se uma pequena gravadora. 

O homem musculoso apareceu diante deles vestindo um grande moletom no qual havia um polvo desenhado de maneira um tanto sinistra e uma calça preta da Nike. Estava descalço, bem à vontade em seu lar.

— Eaí, meus aliados, yo! — Killer Bee saudou com a empolgação que lhe era habitual.

— Salve, meu mano, yo! — Naruto logo se animou e deu uma palmada na mão de Killer Bee, seguida por um soco de leve. Era como os jovens se cumprimentavam em Konoha. 

— Salve! — Sakura saudou e repetiu com o rapper o toque que Naruto utilizou para cumprimentá-lo.

— Cês são mó style, hein?! — Comentou Killer Bee olhando-os com atenção — São mó presença, pode pá! 

— Valeu! Ó só quem fala! — Os dois responderam a mesma coisa e ao mesmo tempo. Killer Bee deu risada, mas não se prolongou. Apontou para a escada em espiral e orientou-os a subir. 

No fim da escada iniciava-se um grande cômodo dividido em duas partes. Um vidro temperado fazia essa divisão. Um dos lados era totalmente envolvido por isolamento acústico e havia nele alguns instrumentos e microfone espalhados. O outro lado contava com um grande painel com botões de diferentes tipos, tamanhos, cores e funções. As paredes eram pintadas com uma textura um tanto brilhante e marrom escura. Havia alguns puffs pretos distribuídos por lá. 

— Me mostra aí o que você tem! — Killer Bee dirigiu-se à Sakura. Ela tirou das costas a grande mochila vermelha que carregava e pegou dentro dela o seu notebook. O rapper pegou pequenas caixas de som e encaixou no aparelho da jovem para potencializar o volume e a qualidade do conteúdo que ela apresentaria.

Quando tudo estava pronto, Sakura soltou o play na música que gravou na noite de sábado. 

Sua melodia beirava a melancolia. A letra retratava a falta de apoio dos pais e o desejo de deixá-los orgulhosos e provar que seria capaz de prosperar através da música ainda que suas condições financeiras fossem bastante limitadas. Tanto Killer Bee quanto Naruto se emocionaram com a verdade que sentiram naquele som e os sentimentos e pensamentos transmitidos nele. 

— Po, menina, tu tem futuro! — O homem mais velho bateu palmas ao fim da canção — Por incrível que pareça, apesar da gente ser diferente pra caralho, eu me identifiquei. Quero investir, gravar um álbum seu! Mas assim, vou mandar a real.. 

Sakura assentiu. Ela e Naruto olhavam o rapper com toda a atenção e ele deu continuidade: 

— No começo vai ser muito foda, em um mau sentido. Cê vai trampar muito e receber pouco, tá ligado?! Vai precisar abrir mão de uma par de coisa, enfrentar uma par de gente, aguentar uma par de crítica.. Não é e nunca vai ser fácil. Menos ainda pra quem num tem grana. Mas vou te ajudar com a gravação e divulgação de um álbum. Curtinho, só pra gente ver como o público reage. Que que cê acha? Se disser que se compromete 1000%, só vamo!

A rosada impulsivamente iria responder que sim, com certeza! Entretanto, a razão brecou o imediatismo de seu coração. Como ela conseguiria conciliar o trabalho na floricultura, os afazeres domésticos e se dedicar fortemente à uma carreira musical? Sakura começou a roer as unhas nervosamente, procurando em sua mente alguma solução antes de responder.

— Posso pensar?! Tô ligada que é uma oportunidade única e tô muito grata, de verdade! Mas é que eu tenho minhas responsas, sabe?! E financeiramente e nos afazeres também precisam muito de mim em casa..

— Sakura, a gente dá um jeito, eu prometo! Tô contigo pro que for! — Naruto segurou as mãos dela entre as suas. Sakura sorriu fracamente para ele. 

— Cê é um anjo todinho, Naruto, na aparência e no jeito! — A jovem disse com carinho e Naruto arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos. Era tão difícil a amada elogiá-lo. E ela prosseguiu falando — Mas num é fácil assim, sabe?! Eu preciso mesmo pensar. Minha família precisa muito de mim em questão de grana e de presença.

Killer Bee assentiu e entregou o cartão dele para ela. Não deu nenhum prazo e compreendeu a situação.

— Tô ligado que o preço é alto, menina. Mas é o teu sonho, tá ligado?! Se você num bancar, se você num correr atrás e lutar por isso, num é teu namoradinho que vai, mesmo que ele queira. Pensa bem! Eu entendo o seu lado. Porém se num tiver disposta a encarar o chumbo, vai ser difícil conseguir..

Sakura abaixou a cabeça por alguns instantes. Limpou discretamente as lágrimas que se formaram em seus olhos e sorriu para o rapper.

— Valeu, senhor Killer Bee! Eu juro que vou tentar dar um jeito. Daí cê vai ter notícias minhas. Ele retribuiu o sorriso e então Naruto e Sakura se despediram dele. 

No caminho até a moto, Naruto procurou amenizar o clima e começou a contar uma das histórias sobre o que seu cachorro Kurama — que parecia com uma raposa laranja — havia aprontado dessa vez. O bichinho estava sempre a pregar travessuras em Naruto, como também em Kakashi, Iruka e Konohamaru.

Sakura a princípio deu risada, mas quando estavam parados em frente ao veículo, algumas lágrimas passaram a escorrer em sua face. Naruto ficou um tanto desesperado, mas quase de imediato envolveu-a em seu abraço apertado e afagou os cabelos róseos com todo o zelo e cuidado que pôde. 

— Tô sem rumo, Naruto. Se fosse só por mim é óbvio que eu já tava gravando nesse exato momento. Mas meus pais não vão aceitar, sabe?! Eu não sei se consigo conciliar trampo na floricultura, afazeres em casa e mais trampo na gravadora. Ainda mais sabendo que meus pais vão fazer de tudo pra dificultar isso... Colocar todos os empecilhos possíveis! Será se dou conta?! Será se consigo bancar isso tudo contra a vontade deles?!

— Sakura, eu num vou dizer que entendo sua vivência, porque num entendo. Minha realidade é diferente da sua, tá ligada?! — Naruto secava as lágrimas que insistiam em escorrer pelo rosto da rosada — Posso dizer que acredito em você. Mas isso num é o suficiente. Quem tem que acreditar e querer muito, e aguentar os b.os que a gente sabe bem que vão vir.. é você. Mas o que cê decidir, cê tá ligada que é nóis, mulher. Tem uma galera que corre contigo também. A gente num vai te deixar na mão.

Ela foi se acalmando e parando de chorar. E exatamente como o arco-íris que se faz no céu após uma tempestade foi o sorriso iluminado que se fez no rosto dela. 

— Vou pensar com carinho, Naruto. Vou tentar trocar uma ideia com os meus pais.. Vamo ver. Eu te conto assim que falar com eles.

Naruto sorriu de volta para ela e respirou aliviado ao ver o que o riso substituiu as lágrimas na face de Sakura. Um silêncio se fez entre eles, que ficaram rindo e se olhando por alguns instantes, desfrutando daquele momento. 

Entretanto, não demorou muito e a garota desviou os olhos, apontando para a moto e indicando que ele subisse. Naruto se frustrou, mas seguiu a orientação da rosada sem questionar. Logo em seguida a garota subiu na garupa, ainda em silêncio.

Ele não imaginava que estava ficando cada dia mais difícil para ela segurar os sentimentos e manter a relação entre eles somente na amizade.

Konohamaru voltava para casa andando todos os dias. Percorria o lado rico e o lado pobre, observava cada traço da desigualdade e sempre acabava refletindo sobre os motivos para que Konoha fosse assim. Sobre o que mantinha o bairro funcionando daquela maneira tão primitiva. Uns com tanto e outros com tão pouco! Ele ainda vivia bem. Kakashi e Iruka tinham sucesso em sua confecção de roupas. 

Entretanto, tinha amigos do bairro que por vezes não tinham nem mesmo o que comer. Faculdade ou um futuro promissor era fora da realidade deles. Com um ensino tão ruim na escola pública de Konoha, seria muito mais difícil conseguirem uma bolsa de estudos na faculdade. Pagar as mensalidades, então, era fora de cogitação! E investir em arte — ou algum outro segmento que não fosse mais padrão — vivendo em um contexto tão limitado?! Konohamaru muito se chateava ao pensar nisso. 

Confortou seu coração lembrar da ONG. Ao pensar nisso, faíscas de esperança ferveram em seu interior. Esperava que realmente tudo corresse bem e fosse uma alternativa para os moradores mais pobres conseguirem mudar suas realidades. Esperava que eles pudessem enxergar um futuro que não envolvesse o tráfico ou os roubos, que não envolvesse o crime em nenhum nível.

Perdido em pensamentos, levou um susto quando sentiu um objeto duro atingir-lhe as costas. Tratava-se de uma pedra.

— Ih, alá! O filho dos viadinho! — Um rapaz da mesma faixa de idade dele caçoava com outros dois. Todos vestidos com camisa pólo de alguma marca chique e a bermuda do uniforme do colégio particular de Konoha. 

— Que merda é essa, cara?! — Konohamaru virou-se e cruzou os braços, encarando-os. Logo em seguida aproximou-se dos rapazes, já cerrando os punhos para dar um soco na cara daquele que ofendeu seus pais. 

— Deixa ele, mano! A vida já castigou o bastante com pais baitolas e uma namorada gorda! — Um outro garoto disse referindo-se a Hanabi, rindo com deboche. Riso esse que foi interrompido ao sentir os dedos de Konohamaru atingirem o seu nariz com força. 

De imediato o rapaz caiu, urrando com a dor. Um deles colocou-se atrás de Konohamaru e segurou-o. O outro estava prestes esmurrá-lo quando foi imobilizado por uma garota e um garoto. 

Nesse instante de distração, Konohamaru conseguiu se desvencilhar daquele que o segurava, colocando-se novamente em posição de ataque. A garota pálida de bochechas rosadas e cabelos curtos de um tom castanho-claro aproximou-se deles, acompanhada do garoto de óculos e cabelos castanho-escuro. 

— Meu nome é Moegi. Ele é o Udon. Nós vimos o que esses babacas fizeram contigo! — Ela amigavelmente estendeu a mão para ele — Cê tá bem? 

Os rapazes que estavam caçoando de Konohamaru saíram correndo. Ele deu risada e apertou a mão de Moegi e depois a de Udon.

— Tudo certo. Tô acostumado já. Tava doido pra esmurrar esses moleque aí num era de hoje! Só não fiz isso antes porque tô quase sendo expulso da escola. Daí ia chatear muito meus pais e ainda ficar longe da mina que eu gosto.. — Konohamaru já sentiu-se à vontade com eles — Cês são dahora, valeu! Como é que eu nunca vi vocês por aqui?! 

— O Udon não é de sair muito. Mas desde que eu me mudei pra cá, tô levando esse menino pro mundão comigo! — Moegi deu risada e Udon balançou a cabeça para cima e para baixo confirmando, em seguida ajeitando os óculos no rosto — Mas por que eles tavam fazendo aquilo com você? 

— Ah, é que eu sou adotado por dois caras. Meus pais são muito gente fina e fazem o corre que for por mim. E a mina que eu gosto é gordinha. Ela é a coisa mais linda e foda-se o peso dela. É que esses idiotas vivem numa bolha, só conhecem o que é padrãozinho, tradicional.. Num respeitam e num apreciam o diferente.

— Po, cê é gente boa! Gostei de ti! — Moegi comentou ao ouvir o discurso de Konohamaru. Udon, embora fosse mais tímido e não estivesse se expressando a respeito, concordava com a ficante.

— Eaí, cês tão afim de colar comigo num pico que tem a melhor comida do mundo? — Konohamaru convidou, solícito. Por fim ajeitou os cabelos arrepiados castanhos e o piercing na sobrancelha, ambos estavam bagunçados após a confusão. 

— Bora! — Moegi aceitou de imediato e já deduziu que Udon iria com eles. E foi o que ele fez, de fato. Foram o caminho todo conversando sobre variados assuntos. 

Konohamaru estava feliz. Não imaginou que um momento tão desagradável poderia acabar tão bem. Fazia tempo que ele não conhecia pessoas que compartilhavam tanto das mesmas idéias que ele. Além de Hanabi, Konohamaru não possuía muitos amigos em sua faixa de idade. Costumava conviver com pessoas mais velhas, como o irmão e a turma dele. Era bom pensar que aquela poderia ser a sua própria turma. 

Ela estava na frente da floricultura que acabara de fechar. O nervosismo mais um dia a estava consumindo.

Ino entrou em contato com o pai naquela manhã e sugeriu que tomassem um café antes de ela ir para a aula. A garota estudava na faculdade particular de Konoha - que a mãe dela com muito esforço pagava as mensalidades - e por esse motivo, iriam à cafeteria próxima de lá, no lado nobre do bairro. 

Não teria tempo de hidratar e pentear cuidadosamente os longos fios loiros, então ela estava a prendê-los em um desajeitado coque. Usava um moletom roxo e uma calça jeans flareescura. Nos pés os confortáveis e preferidos tênis da Adidas, brancos com o solado amadeirado. 

Exatamente no horário combinado, Inoichi parou com o carro na frente da jovem. Ele desceu para cumprimentá-la e ia dar-lhe um abraço. Entretanto, Ino se desviou. E Inoichi compreendeu e respeitou, convidando-a a entrar no carro. 

No caminho, o homem tentava puxar variados assuntos. Perguntava sobre a vida dela, comentava sobre o clima frio daqueles últimos dias, sobre a ONG e qualquer tópico que pensava que pudesse entretê-la. Ino respondia, mas sem se prolongar muito em nada. 

De fato que esse não era o seu perfil. Pelo contrário, a garota tinha o hábito de falar muito; até demais. Mas não estava disposta a agir como se fossem uma família feliz e como se tudo já estivesse perdoado, porque não estava. 

Por fim, após apenas alguns minutos, já se encontravam adentrando uma graciosa cafeteria.

As paredes do local possuíam duas cores: a metade de cima era de um tom marrom que beirava o preto e a metade de baixo era de um tom creme tão claro que beirava o branco. Estavam espalhadas por ela fotos do bairro; somente da parte nobre, aliás. E de alguns clientes fiéis de lá. Inclusive havia uma de Inoichi mais jovem na companhia do pai e da mãe. E aquela foto fez com que Ino imaginasse como seria ter a presença de um pai e de uma mãe.

Sua mãe era a pessoa que ela mais amava e admirava no mundo. Mas por vezes ao ver outras crianças vivenciando a relação com um pai desejou experimentar dessa sensação também.

Acomodaram-se em uma cadeira de madeira com almofadas em um tom laranja desbotado. Não demorou muito para que viessem atendê-los e fizeram os pedidos.

O clima estava estranho. Ino não conseguia encará-lo e ficava apenas observando o ambiente ao seu redor. Inoichi estava sem jeito, não sabia como se aproximar. Por fim, a loira tomou coragem para dizer o que realmente estava em sua mente.

— Eu espero que cê não esteja pensando que porquê a gente tá tomando um café juntos isso queira dizer que tá tudo perdoado e vamos ser amigos, ter uma bela relação de pai e filha. Não é assim! — Ela encarou-o com seriedade. 

— Nem pensei que seria. Mas se eu não desse o primeiro passo, aí sim é que nunca teria o seu perdão.. — Rebateu Inoichi. Ele parecia sincero no que dizia — Me diga: por onde podemos começar? O que podemos fazer?

— Bom, isso aqui já é um começo.. — Ino disse fazendo um movimento com o dedo indicador apontando para ele e em seguida para ela — Mas talvez cê possa me explicar algumas coisas. Quem sabe ajude se eu tentar entender seus motivos.

— Tudo bem. Prometo responder tudo com a maior transparência possível. — Ele colocou uma das mãos sobre o próprio peito e a outra para cima, como se estivesse em um tribunal fazendo o juramento de honestidade. 

— Você amou a minha mãe de verdade? Ou era só uma fantasia de romance proibido com a empregada?!

— Ela foi a única mulher que eu amei de verdade, Ino.

— Então como cê conseguiu abandonar ela grávida e por dinheiro?! — A face de Ino estava ruborizada pela raiva que sentia naquele momento. Antes ele tivesse admitido que se tratava somente de uma fantasia. Entretanto, dizer que a amava e tê-la deixado daquele jeito?! Era difícil para a jovem compreender.

— Sinceramente? Eu era jovem e estúpido. Amava os meus pais e não queria envergonhá-los. Na época, eu acreditei que realmente seria uma vergonha para eles. Hoje já vejo o quanto me enganei, mas pensava que a vida era só status, dinheiro e farra. E vivendo só de coisas superficiais, chega uma hora em que você percebe que está vazio e sozinho, mesmo cercado de pessoas..

Ele aproveitava-se do silêncio dela para dar continuidade:

— Nunca vou conseguir desfazer o passado. Anos de ausência e pelo motivo fútil que foi.. Não é fácil de entender e de perdoar, eu sei! Mas ouvi no dia da inauguração da ONG várias pessoas falando que você acredita na humanidade, em segundas chances..

Algumas lágrimas escorriam pela face dela. Ela abaixou a cabeça e deixou-as correrem livremente.

— Tente se colocar no meu lugar, Ino. Fui criado por pais muito bons para mim, mas muito preconceituosos também. Cresci ouvindo e reproduzindo toda a discriminação que eles pregavam. É difícil mudar os conceitos, entende? Quando você está em uma bolha, é difícil se dar conta que está nela e que o mundo não é só aquele que você vê. 

Ino não conseguia responder a nada do que estava ouvindo. Era uma garota sensível, empática. Entretanto, o coração ainda estava machucado pela ausência dele e pelo mal que ele causou a sua mãe, principalmente. O que Inoichi ouviu sobre Ino era verdade. A jovem acreditava na mudança e no perdão. Mas agora, diante de uma situação que poderia aplicar essa visão de vida, comprovou que não era tão simples quanto no discurso.

— Acho que você ainda não está pronta para lidar com a minha presença.. — Observou ele. O homem levantou-se e afagou rapidamente os cabelos dela — Espero que um dia esteja.. Estarei aguardando a chegada desse dia.

Após dizer essas palavras, Inoichi retirou-se. Ino se manteve ali, chorando. Tomando o seu delicioso chocolate quente e deixando as lágrimas correrem. 

E então, diante dela se fez presente a última pessoa no mundo que desejaria que a visse naquele estado. Com a maquiagem borrada, um moletom qualquer e o cabelo preso em um coque de qualquer jeito. É óbvio que Sasuke Uchiha passaria por lá. Isso parecia algo bastante típico da vida.

Ele não disse nada. Apenas parou na frente da mesa em que ela estava e ficou encarando-a, analisando a expressão dela. A garota, num gesto desesperado, forçou-se a sorrir. Sasuke não retribui ao sorriso. Apenas direcionou-se até a atendente mais próxima e fez uma solicitação para a mesma. Após isso, ele foi embora e a mulher com quem o rapaz tinha conversado aproximou-se de Ino e entregou para ela uma embalagem de lencinhos para limpar suas lágrimas. 

Ino interrompeu o choro, arqueou as sobrancelhas e agradeceu. 

— Foi o senhor Uchiha quem pediu que fizesse isso. Eu nem mesmo havia notado. A senhora está bem? — A atendente perguntou, preocupada.

— Sim. Obrigada! — Ino respondeu sem se prolongar muito e a mulher assentiu e voltou a realizar suas tarefas no trabalho. 

A jovem manteve-se ali. Limpou o rosto com os lenços e retirou da mochila um pequeno espelho. Não gostou nada do que viu e correu para o banheiro, lavar o rosto e retocar a maquiagem. Era vaidosa e tinha dificuldade em aceitar que a vissem naquele estado.

Normalmente estava tão bem cuidada. As unhas feitas, o cabelo hidratado e solto ou amarrado num chamativo rabo-de-cavalo. Era muito irônico que quem a viu justo aquela tarde e naquele estado foi o primeiro rapaz que chamou a sua atenção em muito tempo. E mais do que isso, ficou intrigada. Sabia que ele era arredio e polêmico. Entretanto, o gesto dele não foi de todo de uma pessoa com esse perfil. 

Ino respirou fundo, jogou uma água em sua face e passou novamente a maquiagem.

Saiu do banheiro disposta a tirar da cabeça tanto a história com o pai, quanto o momento com Sasuke. Iria terminar a publicação que precisava fazer em seu blog, preparar algumas atividades da ONG e focar na aula daquela noite. Sabia que não seria fácil, mas iria se obrigar a fazê-lo. Precisava agir como uma adulta e empenhar-se em suas responsabilidades.

Já era noite. Pelas ruas do lado mais pobre de Konoha, Jiraiya dirigia seu carro antigo - e ainda assim querido - ao lado de sua amada. Observavam atentamente as ruas de lá. Infelizmente, havia muitos sacos de lixo espalhados pelo lugar, que se acumulavam pelo fato de que os lixeiros passavam naquela região somente uma vez por semana; isso quando passavam. Não havia um grande índice de roubos ou tráfico por lá. Ainda assim isso acontecia. Vez ou outra era possível ver alguém circulando pelas ruas e vendendo drogas ou carregando o celular que pegou de alguém.

Contudo, não foi isso que chamou a atenção de Tsunade. Ela apertou os olhos na tentativa de enxergar melhor. Havia um rapaz deitado com os olhos arregalados e abraçando as próprias pernas, rolando de um lado para o outro. Ao seu lado, um rapaz e uma moça pareciam desesperados, sem saber o que fazer.

— Jiraiya, meu bem. Eu bebi saquê demais ou está acontecendo algo estranho ali?! — Indagou a mulher, com uma expressão de choque em sua face.

Jiraiya imediatamente olhou na direção em que a esposa estava apontando. Eles estavam voltando da comemoração do aniversário de casamento deles. Como estava na responsabilidade de dirigir, o homem não ingeriu saquê naquela noite.

— Mulher, eu tô sóbrio e tô vendo um movimento suspeito. Vamo lá ver o que é! — Então ele parou o carro próximo da cena e desceu. Tsunade desceu logo em seguida.

Todos deviam ter por volta de 20 anos. O desespero era notável na expressão dos que estavam tentando socorrer ao rapaz em algum tipo de surto. A garota era bastante magra, branca e tinha exóticos cabelos roxos. Além disso, as íris de seus olhos eram de alguma variação da cor laranja. O rapaz ao seu lado, tentando acalmá-la, era bronzeado e tinha os olhos mais comuns, em um tom castanho escuro. Ruivo, com os cabelos alaranjados.  Já o que estava em agonia no chão era muito pálido e tinha os cabelos vermelhos como sangue. 

— O que tá acontecendo aqui?! — Jiraiya indagou. Em partes assustado, em partes preocupado.

— Num é da sua conta! — O rapaz de cabelo laranja protestou.

— Yahiko, não fala assim! Talvez eles ajudem a gente! — A garota repreendeu e um grande bico se formou nos lábios de Yahiko. Ela deu continuidade — O meu namorado.. Ele..

— Se drogou demais? — Jiraiya completou, deduzindo pelo estado do rapaz no chão e pela hesitação na fala dela.

— S-sim. A gente não sabe mais o que fazer..

— Vamos levá-lo ao hospital! — Tsunade esforçou-se para retomar totalmente a sobriedade.

Embora o hospital público de Konoha contasse com um atendimento demorado, talvez conseguissem resolver a situação com mais rapidez tanto pela urgência do caso quanto pela proximidade de Tsunade com Shizune, a médica responsável pelo hospital.

— Não! — Yahiko protestou, irritando Tsunade.

— Você é idiota?! Seja lá quem for esse cara pra você, se você se importa com ele o mínimo que pode fazer é aceitar que a gente leve ele pro hospital e ir junto. Achando bom ainda! — A mulher respondeu enraivecida, com os punhos cerrados. 

— Por favor, Yahiko.. — A garota do cabelo roxo disse em tom de súplica. Yahiko abaixou a cabeça. 

Jiraiya abaixou-se e tentou conter os movimentos do garoto pálido que se debatia. Em silêncio, Yahiko ajudou-o e levaram-no para o carro. Em questão de pouco tempo todos já estavam dentro do automóvel a caminho do hospital. Chegando lá, aconteceu de acordo com a previsão de Tsunade. Não havia muita gente e Shizune deu uma atenção especial ao caso daquele garoto agonizando. Ela e alguns enfermeiros colocaram-no na maca e levaram-no para um dos quartos.

— Agora acho que é hora das explicações, né?! — Jiraiya colocou as mãos na cintura e olhou para aqueles dois jovens — Qual é o nome de vocês? São de onde? Cadê seus pais?

— Eu sou a Konan e ele é o Yahiko. Somos do bairro Ame, na cidade da Chuva. Tanto os meus pais quanto os pais e avós deles morreram no caos daquele bairro. Bala pra tudo que é lado, brigas, drogas.. É tenso. — Konan explicou sem hesitar. 

Já Yahiko revirou os olhos e repreendeu-a.

— Cê tá falando demais, Konan. A gente nem sabe quem é esses comédia.

— Yahiko, tô falando na esperança de rolar uma ajuda. A gente tá vivendo pior que cão de rua, mano. 

— Vocês são parentes? — Indagou Tsunade, tentando compreender melhor a situação.

— Não. Yahiko é meu ex-namorado e Nagato é o atual. 

Tanto Tsunade quanto Jiraiya demonstraram surpresa. 

— A Konan era minha mina e o Nagato, que é como um irmão pra mim, se apaixonou por ela. Quando eu descobri, deixei o caminho livre pra ele. 

Konan não mostrou-se contente com a situação. Pelo contrário, quando Yahiko disse isso, a garota pareceu frustrada e abaixou a cabeça.

— E desde que rolou o que rolou com nossos pais e com os avós dele, mais ou menos um ano atrás, o Nagato tá muito estranho. Vendendo e usando muita droga. Muito possessivo pra cima de mim. Não aguenta me ver perto do Yahiko e tá brigando com ele direto..

— Entendo. E vocês fazem o que pra sobreviver? É ele que sustenta tudo? — Jiraiya e Tsunade não deixavam de fazer perguntas sobre aquele estranho cenário. 

— Eu levo jeito pra arte, faço umas esculturas. E o Yahiko tem a maior lábia pra vender, então a gente vai se virando assim..

Yahiko encontrava-se claramente atormentado, mexia as mãos e as pernas nervosamente. Quanto a Tsunade e Jiraiya, não deixavam de pensar em formas para ajudar aqueles jovens. 

O silêncio se fez entre eles. O tempo ia passando e nenhuma notícia por parte de Shizune ou de qualquer enfermeiro que fosse. Passou-se por volta de duas horas quando a médica responsável aproximou-se deles com uma expressão de tensão e seriedade.

— E aí, doutora? O Nagato tá bem?! —  Konan e Yahiko perguntaram em uníssono. A ansiedade deles era quase tangível.

Shizune demorou alguns segundos para responder.

— Não. Mas vai ficar.. — Ao ouví-la, os jovens respiraram aliviados. Entretanto, a médica alertou — Quer dizer, isso se ele não continuar fazendo uso de substâncias ilícitas. E que faça algum tratamento psicológico ou psiquiátrico. 

Konan suspirou pesadamente. Se essas eram as condições para o namorado ficar bem, isso dificultava e muito as coisas. Shizune relatou o que deduziam que tinha acontecido.

Em sua teoria, Nagato sofria de algum transtorno de personalidade. E o abuso de substâncias ilícitas desencadeou nele um surto. Após essa breve explicação, Shizune retirou-se e foi atender outros pacientes.

— Eu sou psicóloga. — Tsunade revelou ao dois — Quando o Nagato melhorar, vou tentar fazer uma análise do caso dele ou encaminhá-lo para algum de meus colegas.

— Onde cês dormem?! — Questionou Jiraiya.

— Quando a gente arranja grana, dorme em algum motel barato. Se não, na rua mesmo.. — Yahiko revelou. Notou que realmente aquele casal estava interessado em fazer algum bem para eles.

— A gente tem uma ONG. E no espaço da ONG tem uns quartinhos, pra caso um dia a gente precisasse mesmo abrigar alguém. Podemos ajudar vocês, mas não de graça. Queremos que trabalhem com a gente de alguma forma. E vai ser difícil manter o Nagato longe das drogas, mas vamos todos lutar por isso. — Jiraiya propôs. Olhou de imediato para Tsunade, tentando analisar sua reação. A mulher assentiu, incentivando-o em sua ideia.

Yahiko e Konan se entreolharam. Hesitaram por alguns instantes. Então Konan se pronunciou.

— Acho que é a melhor chance de continuar vivo que a gente tá tendo desde que deixou o bairro.. 

— Cê tá certa, Konan. — Yahiko concordou. E logo em seguida se direcionou a Jiraiya — Que tipo de trampo a gente tem que fazer, tio? 

— Por enquanto, a Konan poderia dar aulas de escultura na nossa ONG. E você, Yahiko, pode me ajudar na venda e na divulgação dos meus livros.. Cê sabe ler e escrever direito?

— Tá me tirando, tio?! Eu falo assim é que sou jovem né, da quebrada. Mas quando precisa falar sério, eu falo sério. Me formei na escola. Posso te ajudar com essas paradas sim. Sei até editar fotos, mexer nas redes sociais e pá..

Então, eles deram início a um diálogo consideravelmente animado dentro das possibilidades. Traçaram planos, estavam tentando se conhecer melhor. Konan contou sobre sua vida, Yahiko sobre a dele e de Nagato, que inclusive passaria a noite no hospital, se recuperando e em observação. Os quatro ficariam ali, na sala de espera, trocando idéias a noite toda e alternando entre quem dormia e quem ficava acordado velando pelo sono dos que descansavam. 

Konan e Yahiko sentiam-se aliviados e protegidos como não se sentiam há muito tempo, antes mesmo de ambos perderem seus pais. Aquele homem grande de cabelos grisalhos e sua bela — e irritadiça — esposa pareciam ser boas pessoas e para eles era tão difícil encontrar gente assim em seus caminhos. Seria aquele o início de tempos melhores?! A vida finalmente estava disposta a sorrir para eles? É o que queriam acreditar.

Quando Tsunade e Jiraiya saíram de casa dispostos a comemorar o tempo de casados, não imaginavam que a noite acabaria daquela forma. Ainda assim, o casal se sentia bem com a expectativa de ajudá-los. Era difícil mudar o mundo, mas era boa a sensação de que estavam ao menos tentando e fazendo a sua parte.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Finding hope" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.