Finding hope escrita por nje


Capítulo 10
9: Força


Notas iniciais do capítulo

Eaí, pessoal (:
Mais um dia eu agradecendo pelo retorno, pelos comentários, incentivos.
É tão realizador saber que se identificam, se sentem representados, que a fic consegue atingir e mudar a vida de vocês de alguma forma. É muito especial pra mim essa sensação!

Obrigada mesmo.
Sigo animada com essa história e tudo que ainda há por vir! Hehehehe



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9: Força

Shizune e os enfermeiros analisavam cada mensagem exibida nas telas dos aparelhos na sala da U.T.I (Unidade de Terapia Intensiva). Quando ela conversou com Kakashi, Iruka, Sakura e Konohamaru mais cedo naquele dia, a única informação que pôde passá-los era que Naruto encontrava-se em estado de coma, ou seja, entre a vida e a morte.

Antes de comunicar-lhes o parecer técnico detalhado sobre o caso do jovem paciente e os procedimentos necessários para salvá-lo, ainda estava mensurando a quantidade de sangue perdido, analisando amostras sanguíneas dele para verificar em qual tipo se enquadrava e se havia algum sinal de infecção. Todas as feridas já estavam limpas e estancadas. 

Durante o tempo em que aguardavam por uma resposta da médica, diferentes cenários se desenhavam na grande sala de espera. 

Em um sofá próximo da máquina automática de snacks, latas de refrigerante e outras refeições rápidas, Neji encontrava-se com os braços cruzados, o maxilar enrijecido e os olhos perolados perdidos em um ponto qualquer da parede verde-clara do local. Ele estava em uma ponta e Shikamaru na outra, totalmente imerso na pesquisa que fazia em seu celular, buscando todo tipo de informação possível sobre cortes, grande quantidade perdida de sangue e possíveis tratamentos. Encontrava-se bastante focado em sua busca quando ouviu a grossa voz de Neji, que se dirigia à ele:

— Shikamaru.. 

E então, Shikamaru tirou a atenção de seu aparelho móvel e voltou-a para Neji, que chegou mais perto do amigo e deu continuidade à sua fala no volume mais baixo que foi capaz:

— Eu vou ser pai. 

Shikamaru arqueou as sobrancelhas, arregalou os olhos e sua boca se abriu e fechou variadas vezes antes de conseguir elaborar uma resposta. Aquele não era o tipo de notícia que alguém deve compartilhar enquanto aguarda a recuperação de um amigo que está em coma. 

— Caralho, Neji. Que problemático! — Ele comentou com sinceridade. Queria poder parabenizá-lo, mas imaginou que o rapaz não estava lá muito contente levando em conta o tom preocupado dele ao contá-lo a novidade. — Quem é a mãe?

— A TenTen.. — Neji respondeu e Shikamaru assentiu. Já estava à par do lance que o amigo tinha com a garota. 

— E seus pais? Como reagiram?

— Muito mal. Meu pai quase me botou pra fora de casa, mano.— Ao dizer isso isso, Neji recordou-se a reação de Hizashi e contou detalhadamente como foi.

— Que decepção! E eu achando que você seria o meu orgulho. Que mudaria a história da família e não seríamos mais o lado vergonhoso. Mas agora, tendo um filho tão jovem e de uma garota que não é sua noiva, nem mesmo sua namorada.. Vão nos ridicularizar ainda mais. —  Hizashi esmurrou a mesa de madeira. A testa estava franzida e as sobrancelhas unidas. As bochechas levemente coradas pela raiva. — O mínimo que você nos deve é casar-se e ir morar com ela!

Neji nutria pelo pai imenso respeito e fora difícil ouvir aquelas palavras. 

— Sinto muito por te decepcionar, pai. Mas não posso. Ela não quer e, honestamente, eu também não. Entre a gente é só.. atração física. Sexo. — Pior ainda foi ter de contar-lhe esse tipo de coisa. Entretanto, não via outra alternativa que não fosse ser sincero e encarar a ira do pai. — Vou cuidar da criança tão bem como se morasse com ela, eu prometo.

O homem mais velho ficou indignado com a revelação do filho.

— Não me importa. Na hora de fazer foi bom, não é mesmo?! Agora arque com as consequências como um homem. Pouco me importa se não se gostam. O que me importa é que não rebaixe ainda mais o nosso lado da família tendo um filho com uma mulher que não é sua esposa. 

A voz fina de Harumi soou no ar, chamando a atenção dos dois para ela: 

— Meu bem, nosso filho já disse que irá assumir e cuidar da criança. Isso mostra a integridade dele. Ele poderia ter fingido que nada disso aconteceu, virado as costas para a menina e nunca ter nos contado nada. Mas está encarando de cabeça erguida, se responsabilizando. Isso é motivo de orgulho e não de vergonha. Não podemos virar as costas para ele diante disso.

Hizashi respirou fundo e deu de ombros.

— Que seja. Vou sair para esfriar a cabeça. Vocês que se virem sobre essa criança, então. Não vou ajudar em nada. Mal consigo nos bancar..

Hizashi não esperou uma resposta e saiu sem dizer mais nada. Todas as vezes em que o homem encontrava-se à beira de um colapso, a docilidade de sua esposa conseguia acalmá-lo. A mulher possuía uma admirável tranquilidade e capacidade de apresentá-lo outras perspectivas.

Neji ajoelhou-se diante da mãe, segurando as mãos dela entre as suas e agradecendo-a."

— Eu não esperaria outra reação do seu pai. — Comentou Shikamaru, que jogou os braços para trás de si e entrelaçou as mãos na parte de trás de sua cabeça, apoiando-a sobre elas e refletindo sobre a situação do amigo.

Neji assentiu e não disse mais nada. Não queria prolongar o assunto e muito menos que alguém ouvisse sobre o que conversavam. Quem estava mais próximo a eles era somente Sasuke, inclusive notavelmente deslocado. Sozinho, encostado em uma parede com as mãos dentro dos bolsos com expressão de quem não sabe bem o que fazer ou dizer.

Shikamaru acompanhou o olhar de Neji, notando que ele encarava o garoto solitário. Então suspirou profundamente. Poderia se arrepender pelo que estava prestes à fazer, mas o seu bom coração por vezes falava mais alto que a razão.

— Ei, Sasuke? Por que não se junta a nós?! 

Houve um vislumbre de surpresa na expressão de Sasuke, que não demorou para se recompor. Ele assentiu e logo chegou mais perto dos dois.

— Qual é o tipo sanguíneo do Naruto? Provavelmente vai precisar de uma transfusão sanguínea.

Shikamaru e Neji se entreolharam e em seguida voltaram o olhar para Sasuke.

— A gente não sabe. — Neji se pronunciou. — O que te faz pensar que sabe do que Naruto vai precisar?

— Ele perdeu muito sangue. É a melhor opção. — Respondeu o rapaz.

—  Pior que o Sasuke tá certo, Neji. Acho que assim como eu, ele deu uma analisada na situação e começou a pesquisar. —  Ao dizer isso, Shikamaru olhou pelo canto do olho para Sasuke, que assentiu concordando.

— De qualquer forma, é melhor a gente evitar perguntar isso pros pais dele ou comentar com alguém. Sei lá, pode alimentar falsas esperanças. — Observou Neji.

Os outros dois consentiram e o trio seguiu conversando sobre tipo sanguíneo, tranfusão de sangue, Naruto e toda aquela situação. Nenhum dos três falava muito, mas o assunto acabou por render e a antipatia que Neji e Shikamaru nutriam por Sasuke — e Sasuke nutria pelos dois — foi diminuindo aos poucos.

Ainda no mesmo cômodo, mas um tanto afastado deles, Iruka tentava se controlar, manter a fé e não demonstrar fragilidade; ainda assim algumas lágrimas permaneciam escapando de seus olhos, mas Hirochi não deixava de dizer-lhe palavras de conforto e incentivo.

— Meu amigo, é o Naruto. Se tem alguém nesse mundo que é forte e que vai lutar pela vida até o fim, esse alguém é ele. Além disso, o menino é filho de não somente um, mas de dois casais de guerreiros. Tá na genética e na criação a força dele. — Hirochi disse em tom adocicado e ainda assim firme. Um dos rechonchudos braços brancos envolvia o amigo, que chegou perto de sorrir ao ouvir as palavras dela.

— Eu avisei para a Kushina o que aconteceu. Ela tinha o direito de saber. Se fosse eu no lugar, sem dúvidas iria querer que me avisassem.. — Confessou Iruka. 

— Você fez a coisa certa, Iruka. Você é um bom homem! Mas do jeito que a Kushina é impulsiva, sabe que é arriscado, não é mesmo? — A preocupação fez-se evidente no tom de voz de Hirochi.

—  Sei. Mas o Minato é mais ponderado. Acredito que ele não aceitaria uma atitude tão impensada. Se ela simplesmente aparecesse aqui, iria contra tudo o que eles mesmos nos pediram. 

—  Tem razão. Não vamos nos preocupar com isso. Vamos continuar aqui, orando para que o Naruto fique bem. E ele vai! A Shizune também é uma médica muito capaz, Iruka. O pequeno está em boas mãos. 

Iruka riu fracamente ao ouvir Hirochi referindo-se ao filho dele como "pequeno", levando em conta que o rapaz era alto e forte. É que ela, assim como o próprio Iruka, ainda tinha forte a lembrança de quando ele era apenas uma criança levada que pregava peças junto aos amigos e ao seu cachorro. A partir disso, como uma tentativa de tentar se acalmar e deixar o clima menos triste, Iruka passou a relembrar as diferentes aventuras do pequeno Naruto. E seguiram nesse assunto por um bom tempo.

Já quanto à Kakashi, este se recompôs após a chegada dos amigos. Comeu com muito gosto o café da manhã que levaram para eles e foi para casa tomar um banho, dormir por ao menos uma hora e alimentar Kurama, o cachorro de Naruto que já devia ter revirado todos os móveis da casa e estar inclusive surtando pela ausência de seu dono. Agora que o marido, o filho e a potencial nora já estavam sendo devidamente consolados, sentiu que não precisava mais ficar suprindo ali as necessidades de todos. Respirou aliviado. Poderia ir para o seu lar e lá estravasar, deixar-se fraquejar um pouco para depois se recompor e voltar ao hospital com uma nova atitude. Mais leve, talvez.

Após a chegada de Ino, Sakura conseguiu se acalmar um pouco. A amiga obrigou-lhe a comer um pão e tomar um gole que fosse de chocolate quente. Além disso, insistiu para que encostasse em um sofá qualquer por ali e descansasse por alguns minutos. A rosada teve uma noite e tanto, de emoções em sua maioria bastante negativas.  

— Trouxe umas flores. Uma pra você e outra pro Naruto. Trouxe essas Lavandas. Minha mãe sempre me disse que além de lindas, elas também servem pra melhorar o ambiente já que soltam uns óleos essenciais que fazem muito bem pro ser humano. — Ino pegou a mochila que já encontrava-se entreaberta e retirou duas flores separadas e envolvidas por um plástico de proteção semelhante ao de um buquê.  A loira pegou e entregou uma delas à Sakura. — Em partes porque cê tá sofrendo por ele, e em partes porque cê tá sofrendo com a falta de apoio dos seus pais. Chegou a falar com o Killer Bee?

—  Sim. Mandei um áudio dizendo que aceitava a proposta dele, que daria sangue, lágrimas e suor se fosse preciso. Contei também sobre o Naruto. Aí ele respondeu feliz pela minha resposta e me incentivando, mas sobre o "meu namorado" comentou que desejava melhoras e que enquanto eu aguardava ele se recuperar poderia ir estudando na minha casa mesmo. Daí ele me passou uns nomes pra pesquisar e atividades para treinar com os programas que eu já tinha no notebook. —  Contou Sakura com a empolgação que lhe foi possível naquele momento.

—  Ai, será que eu vou ver minha amiga brilhando em um palco?! Sempre pensei que cê acabaria se tornando médica ou enfermeira, Sakura.. Me impressionou ter seguido por um caminho tão diferente. —  Confessou Ino, com um sorriso divertido no rosto —  Fazendo música, ainda mais rap. Apesar da aparência de descolada, cê é tão certinha, tão estudiosa.. 

—  É, eu também sempre pensei que ia acabar fazendo medicina ou enfermagem, mana. Talvez até Psicologia, como a Tsunade. Só que sei lá, quando conheci a história do Killer Bee e de outras pessoas do rap, me senti muito tocada, sabe? A identificação com as letras, com as batidas. Daí comecei a fazer, a estudar e a gostar cada vez mais.. É claro que eu tenho consciência de que sou branca e tenho lutas diferentes da maioria dos rappers. Não quero invadir nem tomar espaço de ninguém. Mas me fez pensar que talvez eu também tenha uma mensagem pra passar, alguma vida pra mudar...

—  Seja na medicina ou no rap, no que for que te fizer feliz, torço por você, viu?! Fico empolgada pelos seus progressos! — A loira bateu palmas e deu pulinhos. Então colocou as mãos na cintura e encarou-a com um bico formado nos lábios ao prosseguir: —  Agora pode ir dormir! Aposto que não tirou nem mesmo um cochilo... 

— Antes de eu ir dormir, só me tira uma dúvida.. — Sakura encarou a loira com um risinho discreto no rosto e o olhar desconfiado. Conhecendo-a como conhecia, Ino já até poderia imaginar qual seria a continuidade da frase da amiga — O que o tal do Sasuke Uchiha tá fazendo aqui?! 

 — Não vou nem enrolar pra falar... A gente ia ter meio que um encontro hoje, Sakura. — Ino levantou as mãos como se estivesse se rendendo — Eu sei, ele parece ser um babaca, né?! Quietão, só fala quando é pra afrontar os outros..

— É, eu notei. Mas não sou cega e percebi que ele é um gato também! — Sakura passou os olhos pelo local e avistou Sasuke. 

— Eu sei, amiga. Vamos ver, né?! Vou ao menos tirar uma casquinha.. —  Ino deu uma risadinha e Sakura acompanhou-a. — Se nada der certo, ao menos posso dizer que já dei uns beijos em Sasuke Uchiha..

— Você não se interessa fácil por qualquer um. Mas quando se interessa, é pra lá de atirada, não é mesmo?! — A rosada provocou a amiga. Elas tinham essa relação. Se amavam, se apoiavam, mas sempre que tinham uma chance de se alfinetar de alguma forma, assim o faziam. 

— Bom, pelo menos eu tenho atitude. Não passo, sei lá, uns dezessete anos trocando ideia com o mesmo cara e sendo apaixonada em silêncio, sem nunca chegar a ficar com ele.. — Ino retribuiu à provocação, mas sabia que falar sobre Naruto novamente era um ponto delicado. Sendo assim, tentou contornar — Fica tranquila, tá?! Ele não pode ir embora desse Plano sem ter experimentado a sensação de estar com o amor da vida dele. Seja lá quem for que rege o mundo, essa Entidade num poderia levar alguém cheio de luz e bondade como o Naruto sem nem mesmo ter essa chance, né?! Eu acredito nisso..

Aquelas palavras tocaram o coração de Sakura. Ela queria muito acreditar nelas e assentiu com vêemencia, apertando as mãos da amiga e agradecendo-a. Ino insistiu que Sakura dormisse um pouco e prometeu que se houvesse qualquer novidade no caso, lhe acordaria de prontidão. E embora contrariada, as necessidades fisiológicas estavam gritando que precisavam ser atendidas e por esse motivo, ela acabou por seguir o conselho da amiga. Logo se retirou e foi para um sofá em um local mais isolado tentar dormir um pouco, refazer-se. Orava para acordar com boas novas.

Em uma lanchonete próxima do Hospital Particular de Konoha, três jovens conversavam em uma mesinha próxima da janela. O rapaz comia um lanche cheio de cheddar e bacon. A de cabelos negros e olhos perolados ao lado dele optou por tomar um milkshake e a do cabelo castanho-claro e bochechas rosadas escolheu somente por um chá gelado.

Estes eram Konohamaru, Hanabi e Moegi. 

Enquanto comia, o garoto contava para as duas a história da perda de seus pais, do avô, do tio e agora o risco que corria de ver o irmão partindo também. Ao mesmo tempo em que rasgava o lanche com seus dentes, cheio de frustração e raiva, também se mantinha falando de boca cheia.

As meninas estavam tão envolvidas no que ouviam que o desconforto com relação à cena que viam era o de menos. Era possível notar que o garoto se segurava para não debrulhar-se em lágrimas. Konohamaru era bastante orgulhoso, gostava de passar uma imagem de durão e tinha fixo na mente uma ideia de que chorar na frente dos outros poderia ser um sinal de fraqueza, por esse motivo resistia até o final. 

— Fico até sem saber o que falar. Nunca passei por nada parecido... Acho que cê já sabe, mas o que posso ressaltar é que cê pode contar comigo, viu?! Pra te entender e tentar te consolar. — Hanabi pousou sua delicada mão no ombro de Konohamaru e apertou-a ali. Ele terminou de comer, limpou rapidamente a boca e deu-lhe um beijo gorduroso no rosto.

Foi um tanto quanto difícil para Moegi presenciar essa cena. Desde que conheceu Konohamaru, andava um tanto encantada por ele. Entretanto, não pretendia mover um dedo que fosse a esse respeito; não faria nada  que pudesse atrapalhar a felicidade do rapaz. Sabia que ele só tinha olhos para Hanabi, que por sinal também parecia uma garota legal, do bem. Sendo assim, apenas teria de superar aquela possível paixão e seguir com sua vida.

Deu tudo de si para esboçar um sorriso e camuflar o incômodo. 

— Eu tenho os meus pais por perto. Mas já perdi os meus avôs, que eram mais presentes na minha vida que os meus próprios pais. E sei como é ruim lidar com a saudade e com o medo de perder alguém querido de novo.. — Admitiu Moegi, com a cabeça baixa e dando um longo gole no seu chá gelado antes de retomar a sua fala — Mas Konohamaru, cê tá correndo o risco de perder, não perdeu ainda. Não fica falando e agindo como se o Naruto já tivesse partido. Ainda tem chance, menino. E em vez de estar lá apoiando sua família e torcendo por ele, cê tá aqui choramingando pra sua namorada e pra sua amiga. 

Konohamaru fez um bico ao ouvir essas palavras e Hanabi olhou para Moegi com certa repreensão. Ainda assim, ela não se arrependia nem um pouco do que disse e manteve a postura firme, encarando os dois.

O rapaz levantou-se em silêncio, pegou a bandeja e levou-a até o local indicado. Voltou para a mesa e por fim se pronunciou a respeito do que havia ouvido da amiga.

— Tô indo pro hospital. 

Moegi sorriu e Hanabi também. Por mais que não tivesse concordado com a forma ríspida da outra garota de falar, se o resultado foi aquele, então no fim das contas Konohamaru precisava de um chacoalhão. Hanabi, em qualquer outro caso, teria se posicionado de maneira semelhante à Moegi. Mas quando tratava-se de Konohamaru, ela se derretia. 

— Valeu, Moegi. Apesar de cê parecer uma boneca toda delicada e na real ser meio bruta, eu tô ligado que eu precisava desse toque e que cê age assim por querer o meu bem. — Konohamaru direcionou os olhos de tom azul-escuro à Moegi. Foi até onde ela estava e bagunçou os cabelos da garota, num gesto que expressava o carinho de irmão que sentia por ela. — Agora eu vou. E queria que cês me acompanhassem, não vou negar. Mas sei lá, sinto que preciso fazer isso sozinho.

Ele se afastou de Moegi e abraçou Hanabi rapidamente. Nos últimos dias, andavam se vendo com mais frequência fora do colégio. E cada vez mais a amizade deles ia se colorindo. Ocasionais beijos no canto da boca, abraços, apelidos carinhosos. É só que Konohamaru achava Hanabi boa demais para ele, e por esse motivo ainda não havia tomado uma atitude com relação à ela. Já Hanabi também tinha suas próprias questões de insegurança e medo da rejeição. Mesmo que fosse evidente para ambos que havia interesse, eles avançavam com muita cautela.

Hanabi retribuiu ao abraço dele, segurando-o um pouco mais e apertando os braços ao redor do tronco de Konohamaru, que sorriu com essa atitude.

— Vai lá! Depois me manda mensagem contando como foi. 

Então o rapaz despediu-se novamente das duas e foi rumo ao hospital. As garotas mantiveram-se ali, um tanto constrangidas, mas na tentativa de se aproximarem e quem sabe até mesmo chegar a uma amizade.

ღ 

— Porra, tinham que interromper nosso amorzinho com uma notícia dessas?! — Jiraiya tinha em seus lábios um grande bico. Dirigia o carro com a camiseta verde escura do avesso e os cabelos grisalhos mais desgrenhados do que nunca.

—Seu pervertido! O nosso menino à beira da morte e você pensando em sexo! — Tsunade disse com raiva enquanto ajeitava os seios fartos no sutiã. 

— Minha gata, é do Naruto que a gente tá falando. O cara já enfrentou bactéria no olho que se chegasse ao cérebro poderia matá-lo. Pneumonias. E o principal: sobreviveu ainda quando bebê à um acidente que matou os pais dele. E saiu intacto. Como eu num vou botar fé num moleque desses?! — Por mais que doesse pensar no quanto Naruto havia sofrido naquela noite e ainda poderia estar sofrendo, Jiraiya tinha fé em seu afilhado. Era como um neto para ele. Tanto pela relação que tinha com o falecido Minato, quanto com a relação que tinha com Kakashi. Relações de pais e filhos.

— Só quero que você esteja certo, Jiraiya. — A loira dos cabelos curtos e aparência jovial respirou fundo. Fazia movimentos circulares com os dedos nas laterais da testa, pouco acima dos olhos. Uma vez alguém lhe dissera que essa atitude ajudava a realinhar os chackras ou algo do tipo.

— E alguma vez eu já estive errado, benzinho?! — Jiraiya sorriu confiante. Tsunade revirou os olhos.

Todas as vezes que apostavam algo ou divergiam em seus pontos de vista, Jiraiya não sossegava enquanto não comprovasse que tinha razão e que Tsunade estava equivocada. Ainda que na maioria das vezes o grisalho pervertido de fato acertasse em seus palpites e ideias, a mulher teimosa e orgulhosa não dava o braço a torcer.

— Todas as vezes. — Ela respondeu para contrariá-lo. O homem riu gostosamente. Conhecia a sua esposa e sabia que ela nunca estaria disposta a admitir que ele era um ótimo analista das situações. Tsunade era excelente em sua vida pessoal e também profissional. Mas era uma azarada de primeira qualidade. Pouco intuitiva e um desastre com apostas. 

— Vamos apostar?! Assim é garantido que o Naruto vai se recuperar. — Jiraiya propôs. Tsunade sorriu e não disse mais nada. O homem prosseguiu — Quem cala, consente. Vou tomar isso como um "sim".

Eles estavam já se aproximando do hospital quando a loira apertou os olhos e visualizou um casal hesitante, ora dando passos em direção à porta de entrada, ora retrocedendo. 

Tsunade ficou pálida e trêmula, como se estivesse vendo algum tipo de assombração. E era essa a sensação que tinha ao deparar-se com aquela mulher de longos e chamativos cabelos vermelhos e um homem loiro de olhos azuis que assemelhava-se assustadoramente à Naruto.

Jiraiya olhou para sua esposa e percebeu a expressão de choque dela, então acompanhou o olhar de Tsunade e compreendeu o motivo. 

— É impressão minha ou aquele casal na frente do hospital é parecido demais com o Minato e com a Kushina?! — Ele se pronunciou e Tsunade apenas assentiu, sem fala. Então o homem acelerou o carro e aproximou-se dos dois. — Ei, vocês aí!

Então, Minato e Kushina voltaram o olhar para o carro e os estranhos que estavam a lhes chamar. E se deram conta de que não tratava-se de estranhos, pelo contrário. Aqueles dois foram como segundos pais para eles.

— Jiraiya! Tsunade! — Foi Minato quem pronunciou-se. Fazia por volta de 19 anos que não se viam. O loiro estava com trinta e seis anos, mas ainda se parecia muito com o rapaz de dezessete anos que Jiraiya e Tsunade se recordavam. Os cabelos amarelos arrepiados, olhos azuis vibrantes e dentes brancos, bem alinhados. Linhas de expressão começavam a surgir em sua testa e abaixo de seus olhos. Essa era a única e principal mudança. Já Kushina nem mesmo nesse nível havia mudado. Aos trinta e quatro anos, sua pele mantinha-se impecável. Talvez a única alteração do que recordavam-se era que ela estava um tanto acima do peso que tinha quando a viram a última vez. Lindíssima, como sempre fora. 

— Vocês tem muito o que nos explicar! — Tsunade desceu do carro e deu cascudos¹ na cabeça dos dois, que reclamaram da dor e logo em seguida riram e abraçaram-na.

— E vamos! Mas agora, podemos entrar nesse hospital e ir de encontro ao nosso filho?! Cês chegaram como a força que eu precisava pra criar coragem de uma vez e ir até lá! — Kushina falava rápido. Sua voz era fina e estridente.

— Tudo bem, tudo bem. — Concordou Jiraiya. — Só porque é uma situação extrema. Mas cês não vão escapar do sermão que vão ouvir da gente depois que isso tudo passar. O Iruka e o Kakashi sabem?

— Sabem que a gente tá vivo. Mas não que estamos aqui. — Minato respondeu coçando a cabeça, um tanto sem jeito. Era o hábito dele quando estava desconfortável.

— Que problemão cês vão se meter agora.. — Disse Jiraiya, pegando Minato e Kushina pelas orelhas como se fossem duas crianças e puxando-os para dentro do hospital entre queixas.

Tsunade seguiu-os ainda enfurecida.

Ao chegarem na sala de espera, todos estavam com a atenção totalmente voltada para Shizune. Não notaram a aproximação dos quatro, que mantiveram certa distância exatamente com esse objetivo de que não percebessem a presença deles. 

— Já terminamos de realizar todos os exames, estancar e limpar todas as feridas. A boa notícia é que não há nenhuma falência de órgaos internos e que pela quantidade de sangue perdida não ter chegado no limite de perda máximo possível para o ser humano, ainda há procedimentos que poderão ser feitos para salvá-lo: uma transfusão sanguínea seguida de soro introduzido diretamente na veia. Ele teve um choque hipovolômico e esses são os únicos tratamentos possíveis nesses casos. Porém, o índice de sobrevivência em caso de transfusão sanguínea bem sucedida são altos! — Ela falava sem parar e todos mantinham os olhos e ouvidos totalmente focados no que Shizune dizia —  A má notícia é que pode ser que ele fique incapaz de andar por algum tempo. Além disso, o banco de sangue está escasso. As pessoas não têm realizado muitas doações. E o sangue de Naruto é O-, um tipo que só pode receber doações de quem também seja O-. E infelizmente não temos nenhuma quantidade dele aqui. A não ser que um de vocês seja desse tipo sanguíneo e possa doar agora para a transfusão. 

Rapidamente todos os amigos e parentes de Naruto ali presentes começaram a conversar entre si. Grande burburinho se fez. Entretanto, foi com desânimo que Kakashi, que havia voltado fazia pouco tempo, agiu como porta-voz:

— Infelizmente nenhum de nós possui o sangue O negativo. 

— Eu tenho! — Kushina aproximou-se quase gritando. Imensa surpresa se fez evidente na expressão de cada um dos que estavam ali presentes, inclusive até mesmo de Shizune, que a conheceu quando a mulher ainda tinha apenas quinze anos.

— Kushina! — Kakashi e Iruka disseram em uníssono. Os mais jovens ficaram sem entender nada. Nunca antes tinham visto aqueles dois que estavam com Jiraiya e Tsunade.

— Quem é ela? — Indagou Shikamaru, curioso e intrigado como o de costume.

— Kushina Uzumaki. A mãe do Naruto. E esse é Minato Namikaze, o pai. — Ela apontou para si e em seguida para ele. — Quer dizer, um dos pais, né?!

E então ela olhou para Kakashi e para Iruka. Os dois homens se entreolhavam em partes contrariados, em partes confusos. 

— Depois vocês conversam, resolvem o que tiver pra resolver. Eu tô surpresa também! Mas agora o que eu preciso é levar essa mulher imediatamente pra uma análise e em caso de aprovação, iniciar o procedimento da transfusão. — Shizune tomou a frente da situação, puxando Kushina pela mão e conduzindo-a ao centro cirúrgico.

Jiraiya e Tsunade chamaram Iruka, Kakashi e Minato para conversar em particular enquanto os médicos davam continuidade aos procedimentos necessários. 

Konohamaru,  Shikamaru, Sasuke, Neji, Ino e Sakura — que já havia acordado àquela hora — estavam todos com uma expressão bastante parecida. Olhos arregalados e a boca entreaberta, sem saber o que dizer ou fazer. Os pais de Naruto não haviam falecido num acidente quando ele era apenas um bebê?

 


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Notas finais do capítulo

cascudo: pancada com o nó dos dedos em algo ou na cabeça de alguém



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