− Danvers. – A porta da pequena sala foi aberta e a mulher do outro lado ergueu o olhar para o amigo, que carregava o pequeno elefante metálico nas mãos. – Pode segurar isso? Ao que parece não fui apenas eu quem recebeu um último recado.

− Espera... eu também? Tony Stark e eu erámos tão próximos quanto a Terra e Netuno. – Carol adentrou a sala, tomando o pequeno objeto em suas mãos e erguendo uma das sobrancelhas para Nick Fury.

− O inferno congelaria antes que alguém pudesse entender o Stark. – Ele suspirou pesadamente e pôs as mãos nos bolsos da calça, antes de voltar a encarar a heroína. – Eu vou tomar um ar. Quando terminar pode me encontrar lá fora. Algo me diz que será melhor você escutar sem que eu esteja aqui.

A porta bateu antes que Carol pudesse sequer retrucar. Ela analisou o pequeno elefante em suas mãos, que em poucos segundos começou a estalar numa tentativa de se mover. Instintivamente largou a peça que se partiu em vários pedaços ao se chocar contra o chão.

− Mas que grande merd... – Revirou os olhos quando achou ter quebrado o transmissor da mensagem, mas as peças simplesmente se reagruparam e começaram a brilhar. Uma luz azul intensa foi emitida da pequena tromba, escaneando a heroína antes que uma voz feminina pudesse ser ouvida.

− Reconhecimento concluído. Carol Danvers identificada. Função carteiro melancólico reativada. Carol Danvers, você acaba de receber uma mensagem de Tony Stark, deseja abri-la?

− Sim. – Disse com firmeza.

O elefante deu alguns passos, virando a tromba por trás da cabeça. A luz se concentrou em um ponto e tomou forma, até que Tony Stark se fizesse, mais uma vez, presente no local. Carol simplesmente ergueu uma das sobrancelhas, aquele homem realmente era uma caixa de surpresas.

− Muito bem, acho que isso já deve estar funcionando. Dando continuidade ao projeto blá, blá, blá... sentimentalismo é uma droga. – A heroína não pode deixar de sorrir. De fato, ele estava certo. A imagem holográfica cruzou os braços, sentado em uma cadeira, Tony, estranhamente, encarou o local exato em que Carol se encontrava. – Dessa vez para uma super sayajin espacial. É, Danvers. Quando decidi que deixaria essa mensagem para você, achei que finalmente tinha ficado louco. Mas... mesmo que eu volte vivo dessa missão, mesmo que eu possa continuar a carregar o título de Homem de Ferro, eu não sei se conseguiria. A verdade... a verdade é que a idade já começou a me alcançar. E, por baixo da carapaça metálica, eu sou um simples humano. Sem soros que me deixem mais forte e prolonguem minha vida, sem descendência divina, sem poderes imensuráveis vindos de pedras coloridas ou processos que me tornem meio alienígena... Eu sou só um humano. E tudo o que eu quero é que nossa missão dê certo, para então poder me dedicar a família que, depois de tantos anos, fui capaz de construir.

Carol fechou os punhos com força, os olhos semicerrados. Tinha plena consciência do que ele pretendia com aquele discurso, mas não adiantaria. O universo era grande demais e não se resumia apenas a Terra. Outros planetas precisam muito mais de sua ajuda. Não havia discussão.

− Então acho que já está mais do que óbvio o que eu venho lhe pedir. A Terra tem os vingadores, mas eles precisam de um pilar. Precisam de um novo líder. Você é esse Líder. E antes que saia por aí voando e destruindo coisas com esse seu poder incrível, eu vou lhe convencer de que, com toda certeza, eu estou certo. – Carol se impediu de revirar os olhos. Certamente teria tido problemas com o homem na sua frente se tivessem tido a oportunidade de se conhecerem melhor. – Escute bem. Não estaria pedindo isso, se não fosse a única opção. Mas tenho feito pesquisas... tenho estudado. 5 anos atrás o estalo de Thanos trouxe consequências. Consequências além do genocídio de metade do universo. A Terra tornou-se o epicentro de uma explosão de energia tão imensurável que... como posso dizer? Bom, quase rasgou o tecido da própria realidade. Mantive contato com Bruce, o não tão idiota verde, e juntos chegamos à conclusão que reverter o que a maldita ameixa ressecada fez pode acabar rompendo de vez o tecido da realidade e abrir portas para invasões na nossa realidade.

O rosto da heroína se contorceu numa careta. Aquela definitivamente não era sua área de atuação, além de que tudo havia sido resolvido. Então, obviamente o Stark errara nas suas conclusões.

− Meu tempo é curto, então ao fim de tudo, se ainda estiver vivo, Bruce irá lhe explicar o que viemos estudando todo esse tempo. Mas o que precisa saber, é que várias ameaças no mesmo nível de Thanos podem acabar invadindo a nossa realidade. E a Terra é a porta de entrada. Você não tem outro lugar, senão esse para estar. — Dessa vez a heroína recuou alguns passos até que alcançasse o sofá e pudesse se sentar. A imagem holográfica pareceu lhe acompanhar, junto com os movimentos do elefante. Tony suspirou e esfregou os dedos nos olhos, antes de voltar a falar. – Não irei dizer que essa é uma verdade irrefutável, mas as chances são enormes. E você deve estar aqui, pois a melhor resposta para um ataque é um ataque ainda maior. Sei que se preocupa com o restante do universo, mas se tudo der certo, ele estará bem protegido. Traremos de volta um grupo que um dia foi responsável pela proteção do cosmos, os Guardiões da Galáxia. Puta nome clichê, não acha? Mas tirando o Quill, eles são competentes e poderão dar continuidade ao seu trabalho, acredite em mim.

Ainda não era suficiente. Não haviam garantias, não podia ter certeza que esse grupo seria bom o bastante. Carol era poderosa e o suficiente por si só, e ela sabia disso. Não era uma questão de ego, mas sim de confiança nas suas habilidades. Confiança na herança deixada por Mar-Vell. Ela era eficiente no que fazia, e ter de mudar isso não era algo que de fato lhe agradava.

− Sei que pode ainda estar confusa, com raiva. Eu também não iria gostar de receber um ultimato ou algo do tipo, mas sinto que lhe dizer tudo isso é necessário. E se ainda não estiver convencida, deixe-me lhe deixar ciente de um último fato. Maria Rambeau. – Os olhos de Carol arregalaram-se. Não havia tido oportunidade de ver a amiga uma última vez, visto que viera falecer alguns anos antes de seu retorno a Terra. Ouvir seu nome num momento desses, era um tanto estranho. Como alguém como o Stark conheceria aquele nome? – Depois de nosso encontro cinco anos atrás, tomei a liberdade de me informar sobre o seu passado neste planeta. Não me leve a mal, faço isso com todas as possíveis ameaças. Mas em meio aos arquivos do Fury, acabei descobrindo sobre esta mulher. Ela estava em Nova York, mais de 10 anos atrás, quando pela primeira vez nós sofremos uma invasão. Quando pela primeira vez, a humanidade viu que era apenas um grão de poeira nessa enorme imensidão espacial. Maria já tinha a idade um pouco avançada e acabava de deixar o apartamento de sua filha que estava prestes a se casar. Ela acabara de entrar no táxi, quando o enorme portal se abriu no céu e a invasão começou. Nós ainda não estávamos prontos, os Vingadores. Não éramos uma equipe e não pudemos dar uma resposta imediata, nós falhamos e a cidade foi destruída. Pessoas perderam a vida naquele dia. Sua amiga... sua amiga foi morta, quando desceu do taxi para ajudar um grupo de crianças presas em um ônibus. Ela morreu porque não estávamos prontos, porque não tínhamos uma boa força de ataque para responder à invasão. Então eu lhe imploro. Como herói, como amigo, como esposo, como pai. Assuma esse fardo. Proteja a Terra. Não permita que mais vítimas como Maria Rombeau sejam feitas. Isso é tudo. Espero que faça a escolha certa.

A luz se apagou enquanto Tony sorria sem mostrar os dentes. Um sorriso sincero e que demonstrava quantas escolhas difíceis teve que tomar, mesmo que contra sua vontade. Carol Danvers passou a mão levemente sobre sua bochecha, sentindo uma única lágrima solitária se perder entre seus dedos. Amaldiçoou o antigo herói antes de sair daquele lugar, atravessando mais algumas portas para que pudesse encontrar Nick Fury na varanda.

− Tony Stark é um enorme idiota. – Sussurrou a heroína sem tentar esconder sua face emburrada.

− Devo presumir que ele lhe convenceu a ficar? – O ex-diretor voltou seu olhar para ela.

− Então você sabia? – O olhar emburrado de Carol atingiu o amigo que sorriu de lado, sem lhe responder de imediato.

− Ao longo desses anos, eu aprendi a nunca duvidar que Tony Stark sempre consegue o que quer.