Máscara Omega escrita por MrSancini


Capítulo 9
Frustração / Delta




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Julio

Aquele momento durou bastante, ou pouco, eu não saberia dizer. Mas, enquanto durou, foi como se uma corrente elétrica passasse pelo meu corpo, era como se tivesse sido a coisa certa a fazer, mas ao mesmo tempo, uma culpa me corroía. Estaria eu brincando com os sentimentos dela? Sem contar que... Não, sem mas, Julio, aproveite o agora.

—Acho... Que temos que ir trabalhar. – Foi o que Angela dissera, após nossos lábios se separarem.

—Pensei que fosse eu a dizer isso. – Brinco, tentando aliviar o clima. – Eu... Tenho trabalho a fazer.

E o clima enquanto caminhávamos para a clínica era um tanto estranho, nem eu e nem Angela conseguíamos falar nada. Felizmente, eu tinha um trabalho a fazer lá embaixo. Quando chegamos na clínica, James parece meio preocupado com nossa postura.

—Nossa, o que aconteceu com você dois? – Ele pergunta, ao nos ver praticamente andando rígidos. – Relaxem, troquem de roupa porque o dia vai ser longo.

—Tem razão. – Concordo, lembrando do pendrive que Jéssica me dera. – James, a Jéssica me pediu para lhe passar um pendrive, eu vou copiar as informações lá embaixo e se quiser, só ir buscar depois.

—Tudo bem. – James assente.

—Só tenta não envolver mais gente. – Angela comenta, tentando relaxar. – Agora somos cinco em perigo, ainda mais com aquela outra pessoa com o traje igual da Christie. E os suspeitos transferidos são mais uma ameaça.

—Ei, foram vocês quem escolheram entrar pro time. – James se defende, indignado. – Mas a Jéssica me colocou a par das suspeitas dela, é melhor ela manter a descrição porque enquanto ela está na escola não podemos protegê-la.

Naquele dia, o que faço é conferir os arquivos que Jéssica me passara via pen-drive. E o conteúdo é interessante, pra dizer o mínimo. Algumas das medidas que nosso diretor/prefeito tomou, beneficiaram certas empresas ao redor do mundo, porém nenhuma delas parece relacionada com a outra.

E a campanha do prefeito teve doações pequenas de representantes dessas empresas, porém houve uma grande doação para a campanha dele, de uma empresa chamada Transire Mortiferum Limitada. Pera... Se eu pegar o nome dessas empresas...

Pego a lista de empresas e destaco a primeira letra, o que deixa as coisas sem sentido, então vou adicionando letras no quebra cabeça até ficar com o resultado final:

Transportes Epsilon – Localizada em Trerriense

Ansata Cross Vehicles – Localizada em Londres

Sir Edward Costumes – Localizada em Auckland

Modernos Ternos, para Modernos Jovens – Localizada em São Paulo

Reichstag Entreprise – Localizada em Berlim

Tokyo Illusion Records – Localizada em Tóquio

Indian Magic and Effects – Localizada em Nova Delhi

Ferdinando Festas – Localizada no Rio de Janeiro

Undead Corps: Comedy and Horror – Localizada em Los Angeles

Mein Unity: Party Business – Localizada em Joanesburgo

Bingo! As iniciais (ou algo do tipo) das empresas formam novamente o nome Transire Mortiferum, a principal doadora da campanha do prefeito. Pera, deixa eu abrir o Google Tradutor.

Abro o tradutor e jogo o termo "Transire Mortiferum." e a surpresa é enorme. Transire Mortiferum é Cruz Mortífera em latim, o que significa que a mesma organização que ataca a cidade, financiou a campanha para prefeito de Edson Santiago, o diretor do colégio. E vou admitir, ele nunca fez nada que chamasse a atenção de forma negativa para a administração dele.

Exceto tomar medidas que acabaram dando benefícios para as empresas que financiaram a campanha dele. Agora, o que será que é a Transire Mortiferum empresa? Pesquisas rápidas no google mostram apenas que eles se envolvem em pesquisas no ramo de biologia, e uma dúzia de caridades ao redor do mundo.

Engraçado como eles são morde-e-assopra, enquanto fazem caridade, modificam o corpo das pessoas... Em quem mais eles devem ter feito isso? A garota que se intitula Máscara Alpha pode ser outra das vítimas dela. O que me leva a Christie... Ela se sente um tanto frustrada, por não ter conseguido fazer nada contra o Sanguini e por ter alguém com um poder semelhante do outro lado dessa luta.

Eu queria poder ajudá-la... Mas sou muito fraco e não tenho nenhuma ideia do que posso fazer pra ajudá-la e... O que é aquilo ali? Um dos monitores mostra uma atividade incomum, vou até ele e vejo. É na porta do hipermercado, um grupo de policiais aguarda na porta dele, enquanto uma van da imprensa está próxima e filma.

Não me parece atividade da Cruz Mortífera, mas... Devo alertar a Christie.

 

Christie

Certamente isso vai ser descontado do meu salário. É o segundo saco de areia que arranco só hoje, em menos de uma hora de treino. O movimento na academia está menor que o de costume, pois as pessoas ainda estão com medo de sair de casa devido a tragédia do sábado passado. O mesmo valeu pra escola, alguns estudantes perderam a vida naquele massacre, outros tantos estão com medo.

Penso nisso, enquanto tiro o segundo saco arrancado do chão e o levo para a lixeira na parte de trás da academia. Preciso me controlar, eu tratei esses sacos de areia como se fossem meus inimigos mortais.

Ainda pensando no maldito Sanguini e em Alpha, além do monstro que a acompanhava, volto lá pra dentro, enquanto Tiago, outro funcionário da academia, terminava de colocar um novo saco de areia.

—Christie, cê tá com algum problema? – Ele pergunta, quando retorno.

—Um pouco estressada com algumas coisas. – Respondo, vagamente.

—Não é tensão pré-menstrual, é? – Tiago pergunta, chegando pra trás de maneira defensiva.

—Não, não estou "naqueles dias". – Dou uma risada, desdenhando da possibilidade. – Acho que estou com muita coisa acumulada na cabeça e não tenho onde descontar, acabou sobrando pros sacos de areia.

—Sim, mas não temos tantos sacos reservas assim pra você ficar arrancando eles na base da porrada. – Ele dá de ombros.

—Acho que vou dar por encerrada a minha sessão de treinos. – Digo, voltando pra gerência da academia.

—Os sacos de areia agradecem. – Tiago ri, e não deixo de rir também.

Assim que entro na gerência, naquele momento vazia, pois o gerente estava em horário de almoço, meu telefone toca. Olho pro visor e é Julio.

—Julio, o que foi? – Pergunto, estranhando. Julio não era de ligar pro meu trabalho, a não ser.

—Tem algo esquisito acontecendo no hipermercado da cidade. – Ele nem diz alô, já joga o problema na minha direção. – Não me parece ser a Cruz Mortífera, mas...

—Mas?

—Você anda frustrada, se forem bandidos, como acho que é, você tem uma boa chance de colocar sua raiva pra fora. – Ele completa, e se eu estivesse certa, Julio estava sorrindo do outro lado da linha.

—Tudo bem, só espero não me encrencar. – Suspiro, pensativa. – A gente se fala mais tarde.

—Qualquer informação, eu passo pra você. – Julio desliga, enquanto estou já indo até o Tiago.

—Tiago, você pode cuidar da academia até o Wilson voltar? – Peço, já que fora eu e o Wilson que é gerente, ele é o mais antigo da academia.

—Algum problema? – Ele pergunta, estranhando.

—Preciso resolver um problema na clínica, meu tio me ligou. – Minto, esperando que ele caia.

—Tudo bem... – Tiago assente. – Você me deve uma, hein.

—Beleza... – Saio da academia e vou para a parte de trás dela, transformando meu relógio no Omega Watch. Coloco meu braço esquerdo em posição de defesa, encaixo a chave na fechadura e a giro. – TRANSFORMAÇÃO.

O traje de Máscara Omega cobre meu corpo. Aperto o botão para trazer a moto e dou a partida, esperando que ninguém tenha me visto naquele momento. Tudo bem que correr a cidade transformada é um risco, mas como a Jéssica havia dito. Eu sou a única pessoa que consegue lutar por aqueles que não tem força o suficiente.

—Christie, você está aí? – Ouço a voz de Julio pelo mesmo canal que meu tio usa quando estou transformada.

—Pode falar. – Atendo, estando a cinco quadras do hipermercado.

—Peguei o resumo da situação. – Ele começa. – Quadrilha de bandidos tomou reféns dentro do hipermercado, temos um policial morto, dois civis feridos, vinte e oito sob custódia de pelo menos quinze bandidos armados.

—Que maravilha... – Não tem nada de maravilhoso no meu tom. – Decidiram no período de quinze dias, aumentar o número de homicídios da cidade. A propósito, duvida minha... E o desaparecimento do Roberto?

—Bem, os pais dele estão desesperados, já colocaram na conta da Cruz Mortífera. – Julio responde, era algo que havia ficado em branco.

—Você poderia deixar uma pista virtual, pedindo para exumar o cadáver do verdadeiro Roberto, se ainda tem algo lá. – Dou a sugestão, antes de parar próxima do bafafá todo. – Agora, se me der licença, tenho algo pra fazer.

—Tudo bem. Até mais tarde, e por favor, não mate ninguém. – Julio pede, temendo que minha frustração leve a melhor.

—Relaxa.

Quando desço da moto e começo a caminhar na direção do hipermercado, as pessoas começam a notar e vir na minha direção, assim como polícia e imprensa.

—Essa é uma área restrita. – O policial tenta me parar.

—Poderia nos dizer quem é você? – Um reporter estende o microfone.

—Você pode ficar no meu caminho e se machucar, ou deixar que eu faça o trabalho e evitar que mais alguém morra, como o oficial que tentou negociar. – Digo para o policial, passando por ele tranquilamente, outros policiais tentam me cercar, mas corro e salto por cima da barreira de proteção.

Já em frente a porta do hipermercado, eu entro. Mal dou dois passos, escuto um disparo. Não vem na minha direção, pelo visto foi um alerta para dizer que estão de olho em mim. Olho de um lado para o outro, vejo num ponto próximo dos caixas eletrônicos, o policial que havia sido morto.

—Não sabemos quem você é! – Uma voz soa, vinda de um megafone. – Mas se não veio negociar, vai terminar como o otário caído no caixa.

Ah, entrando um mercado com reféns, um morto e criminosos. Caramba, isso parece o começo de um filme antigo, mas não vou apelar para a icônica frase, apesar da vontade. O Julio teria cedido, eu não.

—Julio, você consegue invadir o sistema de segurança do hipermercado? – Pergunto em voz baixa, esperando que ele esteja na escuta. – Se puder, quero saber onde eles estão.

—Identifique-se, ou apelaremos para granadas! – A voz soa novamente, autoritária.

—Um minuto... – Escuto o barulho de teclas ali.

—EU VIM NEGOCIAR! – Grito, para ganhar tempo. – SE PUDER EVITAR ESSE NEGÓCIO DE GRANADAS, AGRADEÇO. NO MOMENTO QUERO EVITAR A EXPLOSÃO DE PREÇOS BAIXOS DO MERCADO.

—Ótimo, se puder ficar no meio do espaço de entrada, agradecemos! – O bandido parece levemente mais calmo.

—NÃO TEM NENHUM MEGAFONE PARA PODERMOS BATER UM PAPO? – Continuo, enquanto as teclas de Julio soam furiosas no comunicador. – TIPO, EU NÃO QUERO FICAR GRITANDO, POIS NÃO TROUXE PASTILHAS PRA GARGANTA!

—Amiga, você não vai nos ganhar com piadinhas. – Ele volta a ficar nervoso.

—Christie... A maioria está na seção da padaria, depois dos frios. – Julio se comunica comigo. – Dois estão atrás da prateleira dos corredores de salgados, lados esquerdo e direito.

—O que sugere? – Pergunto, em voz baixa.

—Neutralize esses dois, provavelmente eles que mataram o policial. Depois, coloque os outros num senso de segurança para derrotá-los em seguida. – Ele diz, cortando a comunicação.

Bem, hora de colocar meu treinamento em prática. Fecho os olhos e vou até onde o espaço que ele havia me indicado, no que percebo uma movimentação, rolo para frente enquanto duas rajadas de tiros acertam onde eu estava. E logo em seguida, vejo os atiradores confusos porque não me acertaram e depois com a minha aparência.

—O... O que é isso? – Um deles, deixa a arma cair. Aproveito a deixa para correr até ele e com dois socos, um no estômago e um na cara, o jogar numa prateleira, derrubando os biscoitos que lá estavam. Bem, eu nunca gostei de biscoitos recheados mesmo.

—Vamos brincar? – Me viro pro segundo, que ainda está tremendo e aponta a arma pra mim.

—Eu... EU ATIRO, NÃO CHEGA PERTO QUE EU ATIRO! – A voz dele está tomada pelo medo.

—Amigo, se eu der um passo, pode ter certeza que a sua calça vai ficar molhada. – Provoco, dando três passos na direção dele e acertando um chute na lateral de seu corpo, fazendo com que o mesmo derrube a arma, e ele indo parar alguns metros longe, acertando o local onde algumas garrafas de refrigerante estavam empilhadas em packs de seis. Felizmente ele não derruba tudo, ou seria mais trabalho pra turma da limpeza.

Vou até o primeiro, o pego pelo braço e vou arrastando até onde o outro está, e desse outro eu tiro um rádio comunicador da cintura dele.

—Olá, chefinho. – Digo, minha voz cheia de ódio. Aqueles caras mataram um inocente a toa. E pelas caras dos dois que nocauteei, não são habitantes da cidade. – Acho melhor, se você dá valor as vidas desses dois imbecis aqui, evitar seu planinho de granadas, pois no primeiro sinal de ataque explosivo, eu quebro o pescoço deles.

Minhas palavras eram reais, eu estava me controlando muito, pois se usasse força excessiva contra humanos, eu poderia matá-los com facilidade.

—O que é você? – O chefe pergunta, arrogante.

—Eu é quem deveria perguntar o mesmo. – Rebato, sem emoção. – Vocês vem aqui na MINHA CIDADE, tentam assaltar o mercado, tomam pessoas como reféns e atacam as pessoas que podem tirar vocês daqui com vida.

—Ora, sua... – Ele tenta falar, mas interrompo.

—Estou me sentindo generosa hoje. – Continuo. – Liberte os dois feridos que eu sei que você tem, e eu entrego seus amigos. Se tocar em algum outro refém, eu juro pela minha vida, que eu mato esses dois aqui e cada um de vocês.

Sem aguardar uma resposta, jogo o rádio no chão e arrasto os dois bandidos pelo braço até a seção da padaria, onde um grupo de pelo menos treze pessoas armadas, mantinham trinta pessoas como reféns. Duas delas sangravam, mas pelo menos os tiros que levaram foi ou na perna ou no braço. Ao me ver, os bandidos ficam surpresos, por ver talvez alguém saído de algum programa de TV ou filme da Marvel.

—Peraí, alguém me explica como uma Power Ranger apareceu e derrubou dois dos meus? – Pela voz, o cara no centro era o líder. Ele era um cara alto, negro e bem intimidador.

—Liberte os reféns, ou vocês não sairão daqui vivos. – Minha voz era muito mais calma do que quando eu falava pelo rádio. Aquelas vidas estavam em perigo, então, preciso ir um passo de cada vez aqui.

—O que você pensa que... – O líder aumenta o tom de voz.

—Por favor, não me faça repetir o que disse. – O interrompo, ainda calmamente. – Veja bem, a minha semana, e creio que a da maioria da população dessa cidade, foi uma porcaria. Não me faça aumentar as estatísticas de mortes ocorridas na cidade, então... – Jogo os dois bandidos que arrastava pro alto e os pego pelo pescoço. Bem, eu não me importava em causar alguns hematomas devido a queda. – Liberte. Os. Reféns.

—Libertem os feridos... – O chefe ordena, temeroso. Parece que ele tinha algum senso de perigo.

Os bandidos libertam os dois reféns que foram baleados. Felizmente, eles conseguiam caminhar apesar das feridas. Escuto um deles murmurar um "Obrigado." para mim, enquanto caminha pelo mercado.

—Cumpra a sua parte. – O tom do chefe já não era mais o mesmo de antes, ele tivera uma prova de minha força.

Coloco os dois no chão com cuidado, porque enquanto entrava no shopping e fazia o teatrinho, eu havia trazido a moeda que consigo transformar em bastão. E a mantive comigo o tempo todo, sem transformá-la na arma.

—Agora eu pergunto... – É o que o chefe dele diz, assim que coloco os capangas nele no chão. – Como você vai escapar de nós? – Todos os bandidos apontam suas armas pra mim.

—Assim. – Não me intimido, apertando o botão da moeda, fazendo com que o bastão surgisse na minha mão, o susto causa uma demora nas ações deles, então o jogo levemente para frente, segurando-o pela ponta e em seguida, atacando em um arco, bem na altura dos braços da maioria dos bandidos.

Eu havia ficado próxima osuficiente deles para poder atingí-los com o bastão. Esse é um dos problemas de ser amiga de um cara MUITO inteligente, você aprende as coisas. Agora, com os bandidos desarmados, nocauteá-los era uma tarefa fácil.

Primeiro, eles estavam atordoados e machucados, segundo, eu era muito mais forte que eles. Talvez eu tenha colocado um pouco a mais de força, mas não me arrependi de tê-los nocauteado na base dos socos e chutes. E de maneira nada cerimoniosa, acerto uma joelhada lá onde o chefe mais se importa, e um chute na têmpora, que o nocauteia.

Quando o último deles cai, as pessoas estão meio surpresas, porque se não me engano, a única vez em que ouviram falar de mim, foi na matéria que a imprensa fez sobre o massacre do shopping, e o prefeito não foi lá muito elogioso sobre mim. O que faz sentido, já que ele faz parte da Cruz Mortífera.

—Er... – Apesar de toda minha pose antes da luta, eu estava um tanto temerosa quanto as pessoas. – Podem sair em segurança, quando estiverem lá fora, avisem a polícia para vir prender os bandidos.

Assustadas, as pessoas começam a sair aos poucos, até que restam apenas uma mãe e seu filho pequeno, ele parecia ter seus 7 ou 8 anos de idade. Timidamente ele chega em mim.

—Moça... – Apesar de tímido, a voz dele não transmite medo algum.

—Pois não? – Pergunto, me abaixando ficando cara a cara com ele.

—Será que eu consigo ficar forte que nem você? – Ele pergunta, de maneira totalmente ingênua. – Eu quero defender minha mãe um dia.

Eu penso no que passei, em específico, as modificações do meu corpo. Meu instinto natural seria falar a verdade, mas a maneira com que ele falou... Eu costumava ser assim quando criança, pelo menos até perder meus pais.

—Não sei se você vai conseguir ficar forte que nem eu, porque bem... – Começo, num tom gentil. – Eu treinei muito, e tenho esse traje aqui, mas... Se você for um bom garoto, obedecer a sua mãe, quem sabe um dia você cresça e se torne um jovem forte o suficiente pra defendê-la e retribuir o carinho que ela te dá.

—Entendi. Obrigado! – O garoto abre um sorriso genuíno e volta pro lado da mãe. – Você é a melhor!

—Obrigado por nos salvar. – A mãe dele agradece e os dois caminham pra fora do mercado, e eu faço o mesmo, mas correndo e passando sem parar pra falar com polícia ou imprensa.

Enquanto subo na moto, voltando para a academia, penso em como nesse pequeno intervalo de tempo, a minha frustração foi embora... E não foi por eu ter derrotado aqueles bandidos. As palavras daquele menino, me lembraram o que Jéssica havia me dito. Eu era a única pessoa que poderia defender as pessoas da cidade da Cruz Mortífera.

Até então, eu realmente lutava porque era divertido, algo que eu sabia fazer. Claro, eu queria defender as pessoas, mas me parecia mais um resultado secundário das minhas habilidades e poderes. Agora... Eu PRECISAVA defender os sorrisos de pessoas como aquele garoto, ou a mãe dele.

 

Julio

Acompanhando pelas câmeras de segurança do shopping, não deixei de me surpreender com a habilidade de Christie. Ela evitou a saraivada de ataques com uma facilidade monstruosa, e ainda conseguiu dominar os bandidos sem titubear.

Se bem que honestamente, acho que ela teve medo de errar e fazer com que os reféns se ferissem, há um momento onde ela claramente ameaça os bandidos, isso foi essencial para a vitória.

O resto do dia passa num marasmo, onde vigio a cidade e penso no que devo fazer a respeito de Angela. Será que eu estava sendo um cara ruim por tê-la beijado em um momento de fragilidade?

Me pergunto como teriam sido as coisas se o Roberto tivesse ido atrás da Jéssica, se eu estaria com esse monte de coisas na cabeça.

O resto dos documentos sobre o prefeito não revela muita coisa importante. Logo, quem está frustrado sou eu, já que enquanto Jéssica se arriscou pra ter esses documentos e Christie se arriscou para salvar a vida daquelas pessoas, eu fiquei aqui olhando a cidade e fazendo aquele quebra-cabeça da Cruz Mortífera.

No fim do dia, vou sozinho para casa e nem falo com Angela, James ou a Christie, por mais que os dois primeiros quisessem falar comigo no fim do expediente. Me sinto mal por ter ignorado a Angela, prometo a mim mesmo que vou pedir desculpas a ela o mais breve possível.

Naquela noite, decido que pretendo investir na relação com Angela... Ao menos se ela quiser. E me lembro que não contara a Christie, ou mesmo a James, sobre o teor dos documentos que Jéssica me entregara. Bem, tem sempre o amanhã, então pego meu telefone.

—Julio, são 11 da noite, porque você está me ligando? – A voz da Christie revela que ela estava dormindo.

—Foi mal, Christie. – Peço desculpas, antes de começar. – É que eu queria ver você amanhã, porque tenho umas coisas pra te contar.

—E você não poderia falar elas aqui, já que me acordou? – Ela pergunta, levemente curiosa, mas ainda chateada.

—Não me sinto confortável pra isso. – Respondo, sincero. – Me encontre amanhã, meio dia, lá na pedreira.

—Tá legal, posso dormir agora? – Christie assente, rabugenta. Não a culpo.

—Pode, foi mal, sério. Até amanhã. – Me despeço, pedindo desculpas novamente.

—Até amanhã... – A voz de Christie é sonolenta, antes dela desligar o telefone.

No dia seguinte, lá estou eu, curiosamente com minha jaqueta branca e camisa vermelha, além da calça jeans. Curioso, porque eu usava essa mesma roupa quando a Christie descobriu que meu trabalho de meio período era pro tio dela. E Christie usava uma camisa preta sem mangas e uma calça Jeans.

Aliás, esse era um dos pontos positivos de se morar na serra fluminense. Podíamos usar jaquetas sem precisar suar feito porcos, ainda que estivéssemos no fim do verão.

—Então, o que você queria falar comigo? – Christie pergunta, enquanto nos sentamos naquele mesmo ponto da pedreira onde havíamos nos sentado depois da primeira luta dela.

—Bem, é a respeito do meu encontro com a Angela. – Começo, e ela ergue a sobrancelha, meio "Sério?" – Tem algumas ramificações disso que não te contei. Bem, logo depois de sairmos do cinema, ela me beijou.

—Sério? – Agora ela estava surpresa, e levanto a mão pra indicar que tem mais.

—Lembra que ontem durante o intervalo ela te olhava fixamente? – Pergunto e ela assente. – Ela sabe que somos melhores amigos, e se sentia meio... Enciumada.

—Isso parece surreal... – Christie comenta, rindo.

—Estávamos conversando antes de ir pra clínica e bem... Eu acabei beijando a Angela. – Continuo, corando um pouco. – E passei o dia todo pensando no que fazer, e queria o seu conselho.

—Conselho? – Ela ergue as sobrancelhas novamente.

—Você acha que eu devia seguir em frente e investir numa relação com a Angela? – Pergunto, sem rodeios. – Por quê eu ainda tenho duvidas, a última relação dela não era boa, principalmente dado o que o Roberto fez com ela.

—O que o Roberto fez com ela? – Christie parece saber, mas pergunta como quem precisa da confirmação.

—Lembra que ela disse que partilhou momentos demais com o monstro do Roberto? – Pergunto, e ela assente. – A parte do monstro não se referia ao Scorpio, mas ao que Roberto fizera com ela.

—... – Christie fica sem palavras ao perceber o significado das minha palavras.

—Por isso tenho medo... – Continuo. – Ela pode simplesmente estar precisando de alguém que lhe mostre afeto.

—De uma coisa eu tenho certeza, Julio... – Christie diz, passando o braço pelo meu ombro. – Você pode ser arrogante a respeito da sua inteligência, inseguro com relação a sua fraqueza, mas sei que o seu coração está no lugar certo. Eu não tenho como te aconselhar, faça o que achar que é certo pra você e pra Angela.

—E tem outra coisa que eu queria te contar, Christie... – Começo, mas Christie me empurra pro lado, se jogando pro oposto, quando duas rajadas de ácido atingem o local onde estávamos.

Olho para a direção de onde as rajadas vieram, e vejo lá embaixo na pedreira, um lagarto amarelo, um grupo de zi-bots e uma garota com cabelos meio rosados.

—E então, cobaia? – A voz da garota tinha um timbre familiar, não sei por quê. – Veio passear com o namoradinho? Vamos brincar.

E a garota aperta um botão na lateral do pulso e o relógio dela se tranforma em um similar ao Omega Watch. Ela saca uma moeda, coloca no local onde ficaria o visor do relógio e aperta.

—TRANSFORMAÇÃO. – O tom dela era calmo.

Um traje semelhante ao de Christie, mas em tons violeta e violeta escuro, ao invés do vermelho e violeta claro que ela usa, cobre o corpo da garota. Quando olho pro lado, Christie estava de pé, já com o Omega Watch pronto.

Ela coloca a chave no buraco da fechadura e gira.

—TRANSFORMAÇÃO! – Christie se transforma em Máscara Omega e sem pensar duas vezes, pula na direção da pedreira, para lutar com a garota, o monstro e os zi-bots.

Queria dizer que apesar da desvantagem clara, a coragem de Christie dera forças para ela vencer os inimigos, mas a luta não ia desse jeito. Christie tinha três adversários (ok, não eram necessariamente três) diferentes, e quando ela trocava golpes com um, os outros dois tinham abertura para atacá-la.

Eu... Eu queria não ser fraco, queria poder ajudar a minha amiga, mas se eu pular lá do jeito que estou, posso acabar morto e não vou ajudar em nada. Tudo o que posso fazer é ver Christie sendo surrada.

—AAAAAAAAAAAGH! – Grito, completamente frustrado, furioso, triste e desesperançado. – DROGA! – Soco o chão.

Depois de pelo menos quatro minutos de auto piedade, escuto um ronco de moto se aproximando de mim. E é a moto da Christie, sendo pilotada por alguém com uma roupa familiar. Com uma bolsa a tiracolo, vejo uma furiosa Angela vindo na minha direção.

—Você é maluco, cara? – Ela dá um tapa na minha cabeça, zangada. – Eu e o James querendo falar contigo ontem e você sai sem falar com ninguém?

—Eu tinha muita... – Começo a falar, mas ela cala minha boca com um dedo.

—Se você tivesse parado pra falar com a gente, a Christie não estaria apanhando agora. – Angela continua, tirando um negócio parecido com um desses HD's externos, um retângulo cinza, mas com uma espécie de tela LED redonda no meio dele. Reparo que ele tinha também um botão em um dos lados. – Tome, coloque ele na altura da sua cintura e aperte o botão.

—Então tá. – Faço o que Angela sugere, e coloco o dispositivo na altura da cintura, apertando o botão logo em seguida.

Dos dois lados do dispositivo, saem tiras de couro, que se unem através da minha cintura, formando um cinto. A tela de LED acende na cor amarela e na minha mão direita, se materializa uma carta, a viro e nela tem a letra grega delta.

—O que faço agora? – Pergunto, num misto de empolgação e curiosidade.

—Coloque a carta na frente da tela de LED e se transforme. – Ela responde. Antes de obedecer, a abraço.

—Obrigado! – Exclamo, dando um selinho nela. Ergo a carta de maneira teatral e a coloco na frente da tela LED, estendendo a minha mão esquerda. – TRANSFORMAÇÃO!

Naquele momento, sinto meu corpo ferver. Como se algo que sempre esteve dentro de mim fosse libertado. Vejo um traje vestindo meu corpo, pelo visto ele é amarelo e preto. Por um segundo, tudo fica escuro, para logo em seguida, ficar avermelhado e depois, normalmente. Olho para a lateral do meu corpo, e ali tem algo parecido com um deck de cartas.

Um estalo de memória dos projetos que roubei surge, mas era o Delta Watch e o que uso é um cinto. Ainda assim, lembro que o projeto dele era para um guerreiro que lutasse mais a distância, com armas de fogo. E as cartas possuem três tipos de armas distintas. Tiro três cartas e as observo, pegando a que preciso e guardando as outras duas.

—Delta Revolver. – Passo a carta no LED que ainda estava na cintura, e uma pistola amarela surge em minhas mãos.

—Agora é a sua hora, Julio. – Angela diz, piscando.

Faço um joinha com a mão esquerda, antes de dar um salto na direção do combate, atirando seguidamente nos zi-bots, no lagarto robótico e na garota com o traje violeta. Isso os faz recuar um pouco, surpresos.

—C-como? – A garota está surpresa.

—Hora de igualar o combate. – Digo, ajudando Christie a se levantar.

—Julio? É você? – Christie pergunta, surpresa.

—Hehe... – Dou uma risada.

—Quem é você? – Lacerta, o lagarto pergunta.

—Minha inteligência é a minha maior força... – Levanto meu punho esquerdo. – A justiça é trazida pelos meus disparos... – Atiro em três zi-bots, abrindo rombos nos peito deles. – O gênio atirador... Máscara Delta.


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