Máscara Omega escrita por MrSancini


Capítulo 6
Encontro / Mestre




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Julio

A reação incrédula da Christie valeu a pena ter dado a notícia do encontro. Claro, eu estava falando com ela pelo telefone, então não tenho como saber a reação corporal dela.

—Pera, pera... – Christie recomeça. – Você vai ter um encontro com a Angela, como assim?

—Aparentemente, quando se ajuda uma pessoa três vezes no mesmo dia, ela te chama pra ir ao cinema. – Uso o meu tom mais cínico possível.

—Isso não faz... Ah, você está sendo sarcástico. – Ela cai em si.

—Eu também não faço ideia, sério. – Volto a falar normalmente. – Estávamos lá, eu, pronto pra me despedir, quando ela fala em me compensar por eu tê-la ajudado e me convence a acompanhá-la no cinema.

—Olha só, o meu menininho tá crescendo. – O tom de Christie é brincalhão.

—Preciso de ajuda, sério, Christie. – Minha voz é quase desesperada. – Nunca fui num encontro com uma menina antes e não sei como me comportar. Nem tenho direito o que vestir.

—Primeiro, se ela te chamou pra sair, deve achar que no mínimo é uma companhia agradável. – Ela começa. – O que, convivendo com você, descobrimos que é um erro... Tá, tô brincando, quando você não banca o gênio insuportável, você é um cara legal. Segundo, você só precisa relaxar e não ser exagerado. Pode parecer balela, mas tente ser você, deixe as coisas fluirem de maneira natural, não um cavaleiro de armadura artificial e nem um babaca, só seja uma boa pessoa com ela.

—Anotado... – Digo, pensativo.

—Não sei o que ela quer com você, se é apenas gratidão ou... – Christie começa a dizer algo, mas se interrompe. – Você precisa saber ler a situação, não ser agressivo, e saber quando deve realmente agir.

—Mas eu não sou um cara agressivo, e você sabe disso. – Protesto.

—Não esse tipo de agressivo, Julio... – A voz dela é meio convencida. – Como posso dizer? Algumas garotas não gostam de caras agressivos do tipo... Lembra de quando você encontrou a Angela e o Roberto? Ele estava sendo inconveniente antes de partir para a agressão. Esse inconveniente, é o que me refiro ao agressivo.

—Entendi... – Arregalo os olhos em compreensão. – Basicamente, não ser um babaca ajuda.

—Exato, o que vai ser difícil pra você, eu sei... Mas faz uma força pela garota. – Christie brinca, rindo.

—Tudo bem, a parte de não ser idiota tá no papo, mas e quanto a parte de me vestir? – Pergunto, olhando pra boa parte das minhas roupas completamente casuais. Tem uma coisa aqui e outra ali, que uso pra inverno ou festas.

—Sabe a combinação que você tava, quando meu tio te levou na academia? – Ela pergunta, me lembrando literalmente que James havia esquecido que éramos amigos há seis anos.

Claro, eu não fazia ideia de que o bico da Christie era na academia, porque apesar de mencionar que treina, ela não contou que TRABALHAVA LÁ. E eu tinha dado como garantido que James havia dito pra ela que eu era funcionário da clínica, mas ele manteve segredo mesmo disso.

—Sei... – Respondo, ainda pensando no que talvez o James ainda escondia da gente.

—Então, a princípio eu não reconheci você, até olhar pra sua cara. – Christie confessa e quase dou risada pelo telefone. – Sério, você estava bem impressionante.

—Eu tava era parecendo um personagem de um certo seriado de TV... – Dou risada, porque mais tarde eu havia me dado conta da semelhança da jaqueta branca com a camisa vermelha, só faltava a câmera. – Mas valeu pelo elogio.

—Você pode tentar um look parecido, pode dar certo. – Ela sugere. – Se quiser, a gente pode passar no shopping após a aula pra ver algo pra você.

—Pode ser... – Concordo sem pensar muito.

—Agora tenho que ir, ainda tenho umas coisas pra acertar aqui na academia. – Christie diz, apressada, como se estivesse olhando pra algum lugar da academia.

—Tudo bem, a gente se vê amanhã na escola. – Digo, me despedindo. Escuto a despedida de Christie e ela desliga o telefone, faço o mesmo.

Tiro meu jaleco, que por alguma razão eu ainda vestia, e me dirijo ao banheiro, um pouco confuso. Quando foi que a minha vida passou de "Ajudar a Christie a lutar com monstros" pra "romance adolescente" em questão de vinte minutos?

—Moleque, cuidado pra não dar de cara na parede de casa. – A voz de meu pai soa, animada. – O que aconteceu pra você parecer distraído assim?

—Bem, a questão é que eu vou ter um encontro nesse sábado, pai. – Confesso, parado na entrada do corredor.

—Finalmente tomou coragem pra chamar a Christie pra sair? – Seu Evair dá uma risada.

—N-n-não... – Digo, pensando justamente na Christie.

—Foi ela quem te chamou?

—Não, é outra garota da turma. A Angela Ferreira, que mora umas 3 ruas acima aqui no bairro. – Respondo, tranquilamente.

—Hm... – Meu pai coça o queixo. – Não vá estragar tudo hein?

Bem, pai... Até o fim do encontro com a Angela, e fazê-la não sentir mais que precisa me pagar por algo, é só eu não fazer besteira... Penso, enquanto adentro o banheiro.

 

Christie

Ah, finalmente em casa. O dia hoje foi literalmente cheio, do começo até o fim, não pensava que minha vida mudaria tanto, do momento em que saí da escola, até enfim terminar de derrotar o Scorpio. Mas, admito que foi legal ver o Julio se preocupando comigo porque me arrisquei.

Agora, me incomoda não saber quem estava por trás do Scorpio, mas deve ser alguém que tem poder, para literalmente conseguir destruir um ônibus só para infiltrar uma pessoa na cidade. Acho que não tem só isso no jogo, ninguém mataria mais de dez pessoas, encobriria como um acidente, para infiltrar uma única pessoa.

O pior é que nem posso pedir ajuda ao paranóico do Julio, porque ele tá excitado com o encontro dele... Dou uma risada, pensando em como deve ter sido. O Julio, naquele pensamento de "fiz porque achei que era certo" e a Angela tentando convencê-lo... Isso me leva a um questionamento: por quê a Angela chamaria alguém pra sair, tão pouco depois do fim de um relacionamento não muito saudável com o Roberto?

Não muito saudável é até um elogio. Pelas reações da Angela, e a maneira como ela se referia a ele como 'monstro'. Imagino como devia ser a relação deles, e a coragem que deve ter sido necessária pra ela enfim ter terminado tudo. Mas, só posso imaginar, porque nunca estive em uma relação.

É melhor eu deixar tudo isso pra lá, por enquanto. Eu posso perguntar pra Angela sobre os problemas dela, e quanto a quem está por trás do Scorpio... Creio que não é a última vez que veremos algo estranho na cidade.

Na manhã seguinte, felizmente nada de muito estranho ocorreu na noite passada. Ao invés de procurar pelo Julio, como faço usualmente (e ele me acha primeiro), vou atrás de Angela, porque aquilo ainda me incomoda um pouco.

Encontro-a conversando com a Carol, que era a amiga que ela estava estudando para as provas de sexta-feira. O papo era animado, pelo visto. Espero que ela não tenha falado nada sobre a maluquice de ontem, mas considerando que ela foi do exame de corpo de delito pra casa da amiga, provavelmente pode ser sinal de que ela possui equilíbrio.

—Oi, bom dia, Carol... – Chego um tanto desconfortável, porque é difícil interromper a conversa dos outros. – Posso pegar a Angela emprestada por alguns minutos?

—Tudo bem... – Carol, uma garota tranquila, assente, enquanto eu e Angela vamos pra um outro ponto do pátio.

—Er, Angela, você... – Começo, mas Angela me interrompe.

—Relaxa, não contei nada sobre ontem a ela. – Ela me tranquiliza, com a mão no meu ombro e sim, um peso enorme é aliviado. – Mas, tenho a impressão de que você não veio falar sobre aquela maluquice toda, estou certa?

—Bingo. – Respondo, rindo. – Olha, não precisa ser gênio pra saber que a sua relação com o Roberto não era um mar de rosas, tanto é que você terminou com ele... Mas, algo me intriga... Por quê você decidiu chamar o Julio pra sair? O que aconteceu a ponto de algo assim ter acontecido?

—Bem, acho que você como melhor amiga do Julio sabe muito bem que ele é um cara legal... – Angela fala, naturalmente. – Agora... Desculpe, mas... Ainda não estou pronta pra responder a segunda pergunta. Não é nada com você, eu só... – Os olhos verdes dela transmitem uma dor que não estava ali alguns momentos antes. – Não consigo.

—Tudo bem... – Sorrio, de maneira tranquilizadora. – Só cuida bem do Julio enquanto vocês estiverem no cinema.

—Beleza, vou devolver ele são e salvo pra você. – Angela brinca, rindo.

—Se quiser ficar com ele pra você, pode ficar. – Empurro-a de maneira brincalhona, até a Carol, que esperava pacientemente. – Obrigado, Carol.

—De nada... Eu acho. – Carol diz, antes de voltar a conversar com Angela.

Bom, acho natural ela não ter me contado tudo, mas pelo menos sei que houve algo. Não vou me meter na vida dela, quando ela estiver pronta, deve contar, se não pra mim pro Julio, ou alguma outra pessoa. E agora era hora de curtir o dia de aula, como qualquer outra adolescente do ensino médio que não tenha monstros pra lidar.

E as aulas passam de maneira tranquila, exceto talvez pelo fato de Angela e Julio terem passado o intervalo conversando bastante. Não me deixa incomodada, mas feliz pelo fato do Julio estar sendo um pouco mais ativo. Claro, ele sempre foi um cara que era fácil de conversar, mas ele sempre esteve mais passivo por causa do foco nos estudos e em fugir de bullies.

Na saída da escola, me aproximo de Julio, lembrando que tínhamos algo pra fazer. Ele estava, como durante o intervalo, com a Angela.

—Julio, é hora. – Digo, em três palavras, só pra dar uma interrompida na conversa.

—Aaah, é mesmo. – Ele se lembra que pediu a minha ajuda, ontem.

—Como? – Angela parece genuinamente confusa.

—Infelizmente vou ter que pegar o Julio emprestado por hoje. – Respondo, tentando não rir.

—É a respeito de... – Angela começa e abaixa o tom de voz. – Vocês sabem o quê?

—Talvez. – Julio responde, confundindo a mim um pouco.

—Tudo bem. – Angela abre um sorriso, tranquila.

Pegamos o ônibus para o Shopping, porque apesar da cidade ser pequena, ter que andar pra fazer tudo às vezes é um saco. Andando pelo shopping ligeiramente vazio por ser meio da semana, vou olhando as roupas que ficariam bem no meu amigo.

—Julio... Por quê você mentiu pra Angela a respeito do que faríamos? – Pergunto, levemente intrigada.

—Ah, eu não queria contar pra ela que pedi a sua ajuda pra me vestir no sábado. – Ele responde, envergonhado, a ponto de eu começar a rir. – Ei, isso não é engraçado! – Julio me empurra de leve, enquanto entramos numa loja.

—Pra mim é. – Confesso, ainda rindo. – Você tem a coragem de apostar corrida de moto com um monstro, pular um riacho com risco de se espatifar com a moto, mas quando se trata de garotas é meio medroso, não?

—Isso, chuta o cachorro morto mesmo, Christie... – Julio parece meio ofendido.

—Sério, eu elogio a sua coragem e tudo o que você escuta é eu ter falado da sua timidez? – Agora sou eu quem me sinto ofendida. – Não sei se você reparou, Julio, mas a Angela saiu de uma relação mega conturbada, onde houve agressão, e suspeito até mesmo de abuso. Agora, ela está depositando a confiança em um cara legal, acho que o mínimo que você devia fazer era confiar nela.

—Christie...

—Eu não vou estar a postos pra salvar o seu rabo o tempo todo, cara. – Continuo, vendo que Julio estava pensativo. – Então às vezes, você tem que fazer como daquela vez em que acelerou a moto pra evitar que os zibots atacassem a Angela e a Jéssica, ou como dedicou horas na criação do Omega Watch.

—Eu tenho medo, sabe? – Julio diz. – Uma hora, o encanto de ser "o cara que ajudou ela" vai passar e provavelmente ela vai perceber que eu sou um cara bem comum.

—E daí? – Dou de ombros. – Você não precisa provar pra ela que é um cara especial, mas sim que é um cara legal. Ninguém é perfeito, todos temos nossos defeitos. Lembra daquela conversa que tivemos sobre as coisas que fizemos um pelo outro? Ela se aplica aqui, cara.

—Não entendi...

—Você pode ser meio arrogante quando se trata da sua inteligência, mas nos momentos certos, tem o coração no lugar. Vai dar certo.

—Valeu, Christie. Espero que seja verdade! – Julio diz, batendo o olho em certas roupas. – E acho que já sei o que vestir no sábado.

—Bom, então é melhor sermos rápidos, porque eu tenho que ir trabalhar, e você também! – Sorrio, vendo a confiança dele restaurada. – A propósito, o que você e a Angela conversavam tanto no intervalo?

—Bem... – Ele começa a responder, pegando as roupas que quer. – Ela quer nos ajudar de alguma forma.

—Se ela conseguir fazer isso sem ser morta, vai ser bem vinda. – Comento, enquanto nos dirigimos ao caixa.

—Christie, sempre positiva... – Julio dá uma risada do meu 'otimismo'.

 

Julio

A semana passa voando, e como meu trabalho era basicamente ficar lá embaixo da clínica, monitorando a cidade, usei esse tempo para criar algo que ajude a Christie no trabalho dela como Máscara Omega. A Teoria não foi difícil, o difícil foi transportar isso para a prática, mas felizmente na sexta a noite, antes de ir pra casa, eu concluí.

Sábado, duas e meia da tarde e estou na praça de alimentação do shopping, aguardando Angela chegar. Eu uso uma jaqueta preta e uma camisa vermelha por baixo, além de uma calça preta. Decidi pelo menos não gritar que "O Espaço Chegou" na frente da Angela ou ela se assustaria. Finalmente a vejo.

Cabelos castanhos e curtos, olhos verdes, usando uma calça jeans e um casaco manchado verde e branco, com a estampa da cabeça de um ursinho na altura do lado esquerdo do peito, estava Angela. Com um sorriso, ela me reconhece e vem correndo até a mim.

—Julio! – Ela me dá um abraço longo. – Desculpe a demora, vamos perder a sessão e...

—Não vamos. – Tiro dois ingressos de meu bolso. – Eu passei aqui hoje cedo pra pegar os ingressos certinho.

—Boa! – Angela abre um sorriso novamente. – Aliás, você fica melhor assim com o cabelo pra baixo, do que tentando espetar eles.

—Não sabia que você gostava de coisas fofinhas. – Digo, apontando pro ursinho no casaco.

—Eu não costumo mostrar muito isso... – Ela diz, corando.

—Enfim, a sessão é em uns vinte minutos, vamos comprar algo? – Digo, andando lado a lado com ela.

—Mas pipoca de cinema é cara... – Angela comenta, preocupada.

—Sei disso, mas meu pai emprestou o cartão. – Dou uma risada. – Ele falou pra eu não me preocupar e nem gastar o dinheiro que ganho trabalhando pro doutor.

—Essa mentalidade pode causar um rombo financeiro.

—Uma vez só não vai matar a carteira de ninguém. – Dou de ombros e Angela ri.

Já lá dentro do cinema, com pipoca e refrigerante comprados, aguardamos o começo do filme. Na verdade ainda tem todos aqueles avisos ultra chatos de antes do filme e os trailers. Aproveitamos aquele tempo para conversar.

—Então, Julio, me conta... – Angela puxa assunto no assento ao lado direito do meu. – Qual a sua relação com a Christie? Porque tipo, eu vejo vocês sempre juntos e saindo juntos até mesmo da escola.

—Nós somos melhores amigos. – Digo, sem acrescentar o apenas, que era algo que eu queria dizer.

—Sério, nunca rolou nada? – Ela pergunta, interessada.

—Não. – Respondo, tentando manter a voz neutra. – Ela sempre foi focada no treinamento na academia. Você sabe como ela chegou aqui?

—Só fiquei sabendo por alto, tipo, a minha família se mudou pra cá em 2015. – Angela responde, sincera. – Ela perdeu a família no Dia Zero, não?

—Exato. Daí, no começo na escola, ela era tratada como 'especial' por ter perdido a família naquela tragédia, algo que ela não queria. Logo, ela não tinha amigas. Um dia, a chamei pra jogar Time Crisis no fliperama perto da minha casa e nos tornamos amigos.

—Hum... Entendi. – Angela assente, como a sala de cinema está escuro, fica difícil dizer qual a expressão facial dela. – E você gosta da Christie?

Oh boy, a pergunta que eu definitivamente não queria responder. A verdade é que eu não tinha total certeza dos meus sentimentos. Parece patético, mas eu sempre vi a Christie como a minha melhor amiga, tipo, a gente fazia nossas brincadeiras, eu sabia as coisas que ela gostava e vice versa, mas nunca tinha visto ela como possível namorada.

Só que ultimamente, eu tenho parado pra pensar nos menores detalhes, de como a Christie se expressa quando está decidida, ou a maneira que ela se move em meio a uma sessão de golpes. Era como se a Christie que eu conheço tivesse desaparecido e uma pessoa completamente diferente, mas igual a ela, tinha ficado no lugar.

—Promete que não vai ficar zangada comigo? – Peço, porque eu não quero magoar a Angela, porém não quero ser insincero com ela.

—Ih, então gosta... – Angela dá uma risada, mas sei que não é verdadeira pelo tom de voz.

—A verdade é que eu não sei. Queria que as coisas fossem simples, como sim e não, mas eu não sei. – Respondo, com toda a sinceridade que posso. – Eu sempre a vi como amiga, mas agora, eu não sei mais.

—Entendi... – Por quê a voz dela parecia mais feliz? Vou deixar de questionar e só seguir em frente.

Após o último tedioso trailer, o filme vai começar... Ou iria, já que escutamos uma explosão de fazer tremer os assentos do cinema, e a tela de projeção se apaga.

—O que foi isso? – Angela pergunta.

—Coisa boa é que não foi. – Algo me diz que pode ter algo a ver com o Scorpio, e me levanto.

—E o que você vai fazer? – Angela pergunta, claramente preocupada.

—Verificar. – Começo a me dirigir para a entrada da sala de cinema, e Angela me segue.

Nos corredores do shopping, uma correria. Muitas pessoas correndo para um lado em específico, o que significa que a encrenca está do outro lado. Seguimos na direção do problema, até que paramos em choque, na visão dos primeiros corpos.

—O... O que pode ter feito isso? Terroristas? – Angela pergunta, completamente chocada.

—Não. Caso contrário haveriam marcas de tiros e sangue... – Respondo, completamente sem base para meu próprio argumento, pelo fato de que eu desconfiava dos responsáveis, mesmo sem saber quem eram.

Continuamos seguindo, até que encontramos um grupo de zi-bots, liderados por dois monstros. Um deles era um humanóide cinza, com seis patas listradas nas cores preto e amarelo, como as patas de uma aranha e sua cabeça era como a de uma aranha também. Outro parecia um vampiro, por assim dizer, pelo menos era o que dava pra enxergar de costas, com a capa e o porte aristrocrático. Mas o mais impressionante era a aura de poder que ele emanava.

—Acho que encontramos os responsáveis... – Angela diz, recuando levemente.

—Sim... – Saco o telefone e aperto uma certa tecla que coloquei por emergência. – Vamos garantir que o pessoal do cinema não saia das salas.

—E isso aí? – Ela pergunta, se referindo ao meu telefone. – Creio que não é a polícia que você vai chamar, certo?

—É, não é a polícia. – Digo, esperando Christie atender o comunicador. – Christie, problema, enorme aqui no shopping. Zi-bots e monstros.

—É O QUÊ? – Christie grita, a ponto de provavelmente a Angela ter ouvido.

—Você quer que eu repita mesmo? – Meu tom é sarcástico.

—Tentem se manter em segurança e ajudarem o máximo de pessoas que puderem. – Ela assume um tom mais profissional. – Já estou a caminho.

—A cavalaria está a caminho... – Digo para Angela, enquanto continuamos correndo.

—Beleza, agora temos que proteger as pessoas que estão no cinema. – Angela diz, quando chegamos em frente ao cinema.

Ali, temos algumas pessoas feridas, outras confusas, todas amedrontadas. Confesso, eu estava com tanto medo quanto elas. Eu não era forte feito a Christie, nem tinha poderes, tudo o que tinha era a minha inteligência e ideias imbecis.

—Vamos deixar as pessoas dentro do cinema. – Angela conta a ideia dela. – Possivelmente não vão invadir o cinema, com ele estando fechado.

—Essa é uma ideia arriscada. – Coloco o contraponto. – Se ela der errado, você pode ter colocado as pessoas no ponto ideal para um massacre.

—Se elas continuarem aqui, elas vão SER vítimas de um massacre. – Ela não arreda o pé. – Lembre-se do que está a caminho.

Respiro fundo. A ideia de Angela possivelmente evitaria mais mortes. Eu só precisava de um último ingrediente pra esse plano, e como a bilheteria do cinema estava vazia, era perfeito.

—Angela, comece a levar as pessoas pra dentro das salas de cinema, eu preciso fazer uma coisa antes. – Digo, me dirigindo a bilheteria.

—Entendido. – Ela assente com a cabeça e corre até as pessoas que ali estavam, assustadas.

Aos poucos, enquanto ela vai conduzindo as pessoas pra dentro das salas, eu uso o computador da bilheteria pra tentar desligar as câmeras de segurança, porque se eu conheço a Christie, ela entraria no shopping com moto e tudo. Leva uns quatro minutos, mas consigo invadir o sistema de câmeras do shopping e as desligo.

Enquanto isso, Angela assume um tom calmo, mas urgente ao conduzir as pessoas pra dentro das salas de cinema. Assumindo que nós sobrevivêssemos aquele dia, ela seria uma heroína. Agora, teríamos que ocupar os caras lá na frente até a Christie chegar.

—O que faremos agora? – Angela pergunta, o medo na voz claro.

—Tentar não morrer. – Começo a correr na direção em que os zi-bots e os monstros estavam.

Sem opção, Angela me segue, até porque esse shopping só tem uma saída. Enquanto corremos, alguns disparos são ouvidos, o que quer dizer que a polícia já chegou. Isso... Isso não vai terminar bem.

Seguidos dos disparos, são gritos, o que literalmente confirmou meus temores. Quando chegamos lá, estão os corpos de pelo menos outras quinze pessoas, além de dez policiais, o que diminui muito a força policial da cidade.

—EI, VOCÊS AÍ! – Grito com toda a coragem que não possuo, e o grupo de zi-bots, mais os dois monstros principais, se vira pra mim e Angela.

—Hum... Mais insetos. – O vampirão olha pra mim e para Angela como se fossemos dois brinquedos levemente interessantes. – Desejam alguma coisa?

—ACHO QUE JÁ CHEGA, NÉ? – Tento reunir minha coragem, antes que ordenem o ataque.

—E agora, qual o plano? – Angela cochicha na minha cabeça.

—Qual o motivo disso? – Pergunto, indicando os mortos e perdendo minha coragem. A visão... Quantas famílias foram despedaçadas ali?

—Ora, quando você vai chegar em um lugar novo, é necessario se apresentar, não? – O Vampiro diz, sarcasticamente. – Esse é o nosso cartão de visitas, nós somos...

Um ronco forte de motor é ouvido do outro lado, e uma moto passa atropelando zi-bots em alta velocidade, jogando-os longe e ela freia, ficando entre nós e os inimigos.

A pessoa que estava na moto tira o capacete, revelando obviamente ser Christie, que já portava o Omega Watch em sua forma para transformação. Uma coisa que me chamou a atenção, foi a jaquela que ela usava, era preta com uma listra vermelha do pescoço até a ponta dos braços, e nas costas, a estampa de um par de asas vermelhas. Quando ela teve tempo pra isso?

—Angela, Julio... Bom trabalho em não serem mortos. – Christie diz, em tom brincalhão. – Como foi o filme?

—A gente nem... – Angela começa, até que cai em si. – Ah, você tá sendo sarcástica.

—Quem vocês acham que são? – Christie se vira para os zi-bots. – Vidas humanas não são brinquedo para vocês usarem a bel prazer.

—Nós somos o próximo passo da evolução. – O Vampirão diz, com um balançar da capa. – Nós somos a Cruz Mortífera, e sou o líder... Sanguini Equuleus, e esse aqui é meu soldado, Taranto.

—Líder, é? – Christie saca a chave e desce da moto. – Isso vai me poupar trabalho... – Ela coloca o braço esquerdo em posição de defesa, encaixa a chave na fechadura e a gira. – TRANSFORMAÇÃO!

Um traje vermelho com detalhes em violeta começa a cobrir o corpo de Christie, dos pés até a cabeça, que é coberta por um capacete, com um visor que lembra o de um cavaleiro medieval, mas pelo que ela havia me contado, a visão não é prejudicada, e aquilo é apenas estético.

—Julio, Angela... Mantenham-se em segurança. – Christie diz, preparando-se pra lutar.

—Taranto, zi-bots! – Sanguini ergue a voz. – Destruam a cobaia, depois lidaremos com o resto!

Os zi-bots e o monstro aranha se posicionam, cercando Christie rapidamente, mas ela permanece tranquila. E bem, se ela estava tranquila, eu não tinha motivos pra me preocupar, e de qualquer jeito, eu tinha um truque na manga para uma emergência delas.

—Podem vir. – Christie chama os adversários para a luta.


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