Máscara Omega escrita por MrSancini


Capítulo 17
Gamma / Exposição




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Jéssica

No momento em que me transformei, vi no olhar de Angela a confiança, ainda que por um segundo. A sensação de poder era enorme. Mesmo com pelo menos cinquenta zi-bots contra mim, aquilo não ia ser um problema, a não ser que Sanguini agisse de maneira inesperada.

—Você acha que vai me derrotar, se os três fedelhos não puderam? – Ele pergunta, lá do alto da escola.

Nem me dou ao trabalho de responder, pois há uma multidão de inimigos ao meu redor. Era hora de colocar minhas habilidades a prova. O primeiro zi-bot vem me atacar, acerto um golpe com a parte externa da minha mão, arrancando a cabeça robótica dele. É, esse traje é mesmo focado na força bruta.

Começo a lutar contra os outros, nem me preocupando em desviar dos ataques, mas recebendo-os e atacando mesmo assim, como se eu fosse um robô, pegando um zi-bot pelo braço e o girando, para acertar outros tantos. Me pergunto porque eles ainda usavam zi-bots, se eram só pra fazer número e eles os compram em saldão.

—Por quê você não vem lutar? – Pego outro zi-bot, o giro, acertando mais zi-bots e o arremesso na direção de Sanguini.

—Não me provoque. – Ele faz um movimento com a capa, e surgem três brocas, que vem em minha direção, uma atravessando o zi-bot que eu arremessara.

Salto para trás, duas vezes porque a brocas vinham em minha direção. As duas primeiras atingem dois grupos de zi-bots, causando explosões, e quanto a terceira, eu pegara dois zi-bots, um por cada mão, e os arremessara na direção da broca, causando a explosão da mesma em contato com os corpos.

Tudo bem, provocar ele não era uma boa tática, mas as brocas destruíram zi-bots, logo foi bem pensada. Só preciso enrolá-lo mais um pouco, então era hora de chamar atenção.

—A propósito, prefeito, diretor... – Aperto um botão no Gamma Belt e dou um salto muito maior que eu conseguiria normalmente. – Eu me demito.

Abro meus braços e pernas, e espinhos começam a sair tanto da pulseira de espinhos do traje, quanto da parte na altura da canela. Eles disparam na direção dos zi-bots restantes, explodindo-os. Claro, deu pena dos funcionários que limpariam os prováveis vidros quebrados.

Por fim, estou de pé. Cansada, porque aquilo exigiu de mim, mas certamente causou surpresa em Sanguini.

—E então, Santiago? – Provoco uma última vez. – Vai lutar contra mim?

—É só você, então é claro que... – Ele abre um sorriso, mas repentinamente arregala os olhos. – O quê?

No segundo seguinte, Christie, na forma Dash está do meu lado, com uma desamarrada Angela

—Disparar! – A voz de Julio é ouvida, para logo em seguida um laser atravessar Sanguini, e a explosão o arremessa para frente. A espada de Alice o atravessa, deixando-o paralisado no ar.

Só vejo Alice surgindo na ponta do telhado da escola e dando um salto, acertando uma voadora em Sanguini, que cai próximo de nós. Alice cai de pé, o prefeito não. Logo em seguida, Julio chega, saltando do alto do telhado.

—E então, Santiago? – Pergunto, de maneira debochada, enquanto ele se levanta, rodeado por nós quatro (e Angela, que não lutava, mas estava lá) – Vai lutar conosco?

—Vocês irão pagar por isso... – Ele cria um tornado de poeira verde e desaparece logo em seguida.

Por fim, missão cumprida. Eu, Alice, Christie e Julio retornamos a nossas formas normais. E Alice e Christie parecem um pouco surpresas de me ver ali.

—Jéssica? – Christie parece confusa. – Mas... Como? Aliás, como isso tudo aconteceu? E por quê diabos não estou gritando de dor por causa da forma Dash?

—Lembra do que eu disse sobre estar formulando um plano pra sairmos de lá vivos? – Julio começa. – No momento em que Alice nos contou a localização, eu comecei a pensar em todas as variáveis... Por quê repentinamente, depois de uma semana ou algo assim, procurando pela Alice, os zi-bots desapareceram da cidade? Pensei comigo, eles desistiram de levá-la de volta pro lado deles E PODIAM ESTAR APRONTANDO UMA ARMADILHA, CASO ALICE DISSESSE A LOCALIZAÇÃO.

—Você previu a armadilha? – Angela pergunta, incrédula.

—Eu só pensei na existência da armadilha. – Julio responde. – Não sou forte como a Alice ou a Christie... Ou a Jéssica. Me lembre de nunca brigar contigo. – Ele aponta pra mim, rindo. – Minha inteligência é a minha força. Então pensei comigo, apesar de tudo... Aquele que cria, sempre vai sentir uma espécie de amor por aquele que foi criado. Logo, Johann, apesar de tudo, ainda tinha carinho por Alice, logo, mesmo criando a armadilha, ele não ia querer que ela morresse daquela maneira, logo, ele deixaria algo para ela escapar da armadilha, nem que para isso, tivesse que salvar seus inimigos.

—Entendi, mas isso não foi tudo, foi? – Christie pergunta, abrindo os braços.

—Exato. – Julio continua. – Eu estava terminando o Gamma Belt, mas precisava lidar com dois problemas. Um era justamente encontrar um usuário, felizmente, Alice me lembrou que Jéssica é faixa preta de Judô, mesmo não lutando faz tempo... A outra coisa, era justamente a quantidade de energia que a forma Dash e o Gamma Belt exigiam. – Julio remove as minhas luvas, que ele havia entregue junto com o Gamma Belt. – Então, eu criei essas luvas aqui, que funcionam como isolantes da energia excessiva do cinto. E, pelo menos para essa luta, funcionaram pra conter a energia em excesso produzida pelo Dash Disc.

—As coisas estão começando a fazer sentido... – Alice dá uma risada. – Mas... Ainda tem mais, não?

—Sim, primeiro eu tive que arriscar algo importante pra mim, que foi basicamente forjar o sequestro de Angela. – Pela primeira vez, Julio não parece satisfeito com o plano. – Eu sabia que Sanguini iria atrás de alguém importante pra nós, seja o James, tio da Christie, ou Angela, minha namorada. Ele não iria atrás de meus pais porque isso colocaria o disfarce dele de prefeito em risco. Daí, pedi a Angela que se colocasse em perigo, e claro, tive que fingir preocupação super excessiva quando ele de fato a pegou e levou para a escola.

—Então aquele grito seu... – Christie diz, parecendo lembrar de algo.

—Foi legítimo, mas era uma confirmação que partes do meu plano estavam dando certo. – Ele confessa. – Eu estava com medo de verdade. E, por último, para nos salvar de sermos atingidos pelo fogo... Quando Christie agarrou a mim e a Alice no covil e nos levou para o corredor, eu tive que usar a Delta Shotgun e as cartas três vezes para derrubar o teto e impedir que o fogo passasse por ele, pois caso contrário...

—Viraríamos torrada... – Ela conclui o que Julio diz.

—Julio, você é um gênio. – Angela o abraça.

—Espero nunca mais ter que fazer esse tipo de coisa... – Julio confessa, cabisbaixo. – Não quero mais ter que colocar meus amigos, ou as pessoas que amo em perigo.

—Agora precisamos dar um jeito de expôr o prefeito, como o monstro que ele é. – Digo, lembrando do poder que ele ainda tem sob a cidade. – Não tenho dúvidas de que ele vai tentar manipular a opinião pública contra nós.

—Sim... – Christie concorda, enquanto pulamos o muro da escola para ir embora.

Nós mal andamos cem metros fora da escola, quando escutamos sirenes da polícia e bombeiros, provavelmente atraídos pela explosão no monte, e as mortes dos funcionários que ocorreram ontem a noite. Me pergunto quem mais vai morrer até que a ambição de Santiago seja detida. Quando chegamos na clínica, vazia por conta novamente da comoção na cidade, encontramos James. E a cara dele diz que algo não vai bem.

 

Christie

A cara de James quando chegamos na clínica.. O que acontecia?

—Pessoal, parabenizo vocês por terem escapado com vida da armadilha que Sanguini prepara, mas... – O tom dele era agourento, ele abre o navegador do computador da recepção. Ele estava num vídeo com o prefeito discursando.

A expressão do prefeito era solene, e o terno dele em uma cor vinho escura, como se feito do sangue de suas vítimas. Como sempre, muita gente da imprensa, puxa-sacos e a população presente. Como ele conseguira reunir isso para um anúncio de imprensa em tão pouco tempo, é impressionante.

—Nossa cidade era considerada uma das mais pacíficas do estado, local ideal para passar aquele fim de semana com a família, ou as férias de inverno... – Edson Santiago começa. – Mas, uma organização maligna surgiu e perturbou a nossa paz. A princípio, parecia que nós tínhamos defensores... Mas onde esses supostos defensores estávam, quando cinco pessoas morreram, em algumas noites? Onde esses defensores estavam quando vinte e cinco pessoas morreram ONTEM, aqui na prefeitura? Será que eles só defendem aqueles que lhes pagam? Só aqueles de determinada cor, credo ou sexualidade? Se você não se encaixa na definição deles, será ignorado quando algo lhe acontecer? Eles não são heróis, não passam de crianças com poderes e só defendem seu grupinho! Onde estavam, quando a organização causou uma explosão no Monte Cruz, causando danos a natureza nas proximidades? Eu vos digo, irei desmascarar esses heróis falsos e eles irão pagar pelas vidas que foram perdidas!

James fecha o vídeo, antes do prefeito continuar o discurso. Aquele... Aquele desgraçado estava jogando a culpa na gente, como se nós fôssemos responsáveis pela merda que aconteceu na cidade.

—COMO? – Grito, extremamente irritada. – Como aquele desgraçado está querendo colocar a população que estamos dando o sangue para proteger, contra a gente?

—Acalme-se. – Jéssica põe a mão no meu ombro. – O que precisamos fazer, é dar um jeito de mostrar a população, a verdadeira face de Edson Santiago.

—Nós temos a informação, mas como colocaremos ela disponível para o público? – Alice pergunta.

—Tudo o que temos são papéis, facilmente falsificáveis. – Confesso, suspirando sem animação.

—Peço a vocês, que se acalmem. – Julio diz, com um sorriso. – Sim, a situação é difícil, eu sei. Mas peço que confiem em mim, curtam o sábado de vocês como um outro qualquer.

—Mas... – Tento rebater, mas Alice pega na minha mão.

—Se é o Julio que vai pensar numa solução, eu confio. – Olho para Alice, cujo tom era confiante. – Ele disse que iria nos tirar do covil vivos, ele o fez.

—Acho... Que você tem razão. – Concordo. – Mas por favor, Julio, sem planos malucos. Aliás, Alice, tem um lugar que eu gostaria que você viesse comigo.

—Que lugar? – Ela pergunta, curiosa.

—É um lugar que eu gosto de passar meu tempo, quando estou um pouco estressada. – Digo, saindo da academia e Alice me acompanhando.

—É algum lugar especial? – Alice me pergunta, enquanto caminhamos pela cidade.

—Não diria que é especial, só é um lugar que me ajuda a relaxar. – Respondo, relaxada. O tempo na cidade estava bom, uma coisa que gosto da região é que raramente aqui a temperatura chega aos trinta graus.

Claro, mais uma vez, devido aos acontecimentos, havia pouca gente nas ruas. As vezes eu me sentia novamente como na época em que morava com meus pais no Rio, tinha dias que não conseguíamos sair de casa devido a guerra entre facções inimigas... A mesma guerra que num assalto levou a minha tia... Mesmos bandidos que mataram meus pais em meio aquele caos. Só de pensar nisso, fecho minha mão, ela tremendo de raiva.

—Christie... Fique calma... – Alice passa o braço ao redor do meu ombro. – Não sei no que você está pensando, mas evite...

—É difícil, Alice... – Apoio minha cabeça no ombro dela, enquanto caminhamos. – A minha Tia Erica, a esposa do James... Ela morreu num assalto, quando eu tinha uns dois ou três anos de idade. E pelo que soube dos meus pais, os dois não reagiram ao assalto, o bandido o fez por puro sadismo... Provavelmente por isso que ele não voltou mais pro Rio quando voltou do exterior.

—Ainda assim... Não gosto quando você fica triste. – Ela comenta, suspirando.

Finalmente chegamos em frente a academia, que estava fechada. Tiro uma chave do bolso e abro a porta principal dela, entrando, com Alice ao meu lado. Tranco a mesma, e se eu não estivesse enganada...

—Bom dia, Christie! – Escuto uma voz masculina vinda da gerência. Logo em seguida, Tiago, o gerente da academia aparece, vindo de uma porta.

—Tiago, o que você tá fazendo aqui, se o James decidiu não abrir a academia hoje? – Pergunto, o cumprimentando.

—Fazendo aqui a contabilidade que não deu pra fazer ontem por causa daquela confusão... – Ele responde, olhando pra Alice. – Quem é ela?

—Ah, ela é Alice, minha amiga. – Respondo, apontando pra Alice. – Alice, esse é o Tiago, o gerente da academia.

—Muito prazer, Tiago. – Alice abre um sorriso diplomático.

—O prazer é meu. – Tiago fica meio receoso. – Olha, acho que é a primeira vez que você traz alguém pra cá. Nem o Julio, seu melhor amigo, você trouxe pra cá assim. Enfim, vou deixar vocês duas em paz, tenho a contabilidade pra terminar. Só não destruam tudo.

—Tá legal... – Dou de ombros, enquanto Tiago entra na gerência e fecha a porta de lá. Vou até a área onde fica o saco de areia, é o local onde tem o maior espaço aberto da academia, que não é ocupado por equipamentos, e Alice me acompanha, ainda olhando ao redor.

—Sei que não é da minha conta, mas por quê a academia é um local especial pra você? – Alice pergunta.

—Bem, quando eu treino, eu consigo não pensar em nada. – Respondo, sendo sincera. – Quando eu cheguei na cidade, foram os treinos que ajudaram a manter minha cabeça sã logo após a morte dos meus pais. E claro, os professores de artes marciais que tive ao longo do tempo, me ajudaram a ter flexibilidade quando eu passei a lutar contra a Cruz Mortífera. Posso não ser inteligente como o Julio, mas quando estou lutando... Conseguir o contragolpe na hora certa não é difícil, eu consigo fazer o meu melhor.

—Mas por quê você me trouxe aqui? – Ela pergunta, sem maldade. – O Tiago disse que você não trouxe nem o Julio aqui dessa maneira.

—Bem, a verdade é que eu... – Coço a cabeça, um tanto corada. – Eu queria alguém pra treinar comigo, lutar no geral. E você é a pessoa ideal pra isso.

—Por quê sou sua clone? – Alice parece triste com a constatação.

—Não. – Respondo, rindo. – Isso não me passou pela cabeça, mas sim o fato de que você e eu temos em comum o fato de sermos lutadoras... E honestamente, a Jéssica é forte demais pra eu pedir isso.

—Se é assim... – Ela ri e tira a jaqueta, ficando só com a blusa preta que vestia por baixo. Honestamente, achei que ela estaria usando uma camisa violeta... Até que vejo que há uma estampa de violeta na camisa.

Tiro minha jaqueta e me levanto. Tanto eu, quanto Alice tiramos nossos sapatos para não dar problema. Não havia ninguém na academia, então poderíamos lutar a vontade ali.

—Pode vir... – Aceno com a mão e Alice vem pra cima de mim.

Nossos estilos de luta eram diferentes, como o Sol e a Lua, percebo isso quando ela ataca com a parte externa da mão, com o corpo ligeiramente de lado pra mim. Defendo como posso, e tento contra atacar com uma rasteira, mas ela salta para trás. Corro até ela e tento acertar um chute na têmpora dela, mas Alice defende uma, duas, três vezes, até segurar minha perna esquerda.

—Opa... – Deixo escapar, enquanto ela tenta dar uma rasteira, mas com meu pé ainda útil, pulo, com ela soltando meu pé em seguida e eu caindo de costas no chão.

Ela tenta pisar em mim, mas rolo pro lado e a derrubo, a pegando pelo pé e puxando. Aquilo estava ficando divertido. Levanto-me, assim como ela.

—Isso tá ficando legal... – Alice sorri, antes de vir pra cima de mim com uma voadora com as duas pernas, que me esquivo pro lado. E antes de cair, ela gira o corpo, colocando as mãos pro chão, evitando cair e se machucar, usando as mesmas.

Ela se levanta, e vou pra cima dessa vez, atacando com socos, que ela defende firmemente. Pra ser honesto, eu estava me divertindo como não fazia desde antes dessa loucura de Máscara Omega, eu sempre gostava de lutar com os professores.

—Ei, Christie... – Alice chama minha atenção, enquanto defende um chute meu.

—Pois não. – Digo, abaixando pra esquivar de um soco dela.

—Você nunca teve ciúme do Julio com a Angela? – Ela pergunta, segurando a minha mão, defendendo meu soco.

—Não, por quê? – Respondo, erguendo as sobrancelhas, e chutando na altura do estômago dela, pra uma defesa bem sucedida.

—É que certa vez, a Jéssica comentou que no início estranhou Angela e Julio juntos, porque vocês dois eram unha e carne. – Alice responde, atacando com um soco na altura do meu rosto, o pego. – E pensou que seria natural uma relação romântica entre vocês.

—Eu nunca pensei assim... – Comento, rindo. – Julio e eu sempre fomos melhores amigos. Ele pode ter sentido algo por mim, não sei, mas... Pelo que vejo, passou. E... Honestamente, acho que ele não faz o meu tipo.

—E qual seria o seu tipo de pessoa? – Ela pergunta, sem malícia alguma.

—Er... – Eu paro pra pensar e nisso, Alice consegue dar uma rasteira em mim.

Antes mesmo de cair no chão já sinto mentalmente a dor na cabeça pelo tombo, até que sinto um braço passando pelas minhas costas, impedindo que eu caia. Eu havia fechado os olhos, e quando os abro, Alice está me segurando e nossos rostos estão próximos. Naquele momento, o tempo havia parado pra mim. A expressão dela é indecifrável, até que ela abre um sorriso.

—Sério que ISSO te parou, Christie? – Alice pergunta, me colocando de pé.

—É... Bem... – As palavras me faltam naquele momento e tenho certeza de que meu rosto está vermelho.

—Então, interrompo algo? – Escuto a voz de Tiago, enquanto ele sai da gerência. – Era algo importante?

—N-não... – Digo, soltando a mão de Alice. – Estávamos treinando.

—Ah, que eu ia pedir alguma coisa pra comer, vocês vão querer?

—Claro.. – Aceito, colocando minha jaqueta e calçando o sapato, Alice faz o mesmo.

Agora, por quê aquilo acontecera? Por quê eu fiquei pensando nisso mais do que um segundo, no meio de uma luta? Deixa pra lá, bem... Foi proveitoso e divertido esse pequeno momento de luta aqui com a Alice, serviu pra me distrair do prefeito e suas maquinações.

—Aliás... – A voz de Tiago soa e ele sai novamente da gerência. – No que o prefeito está pensando? Ele quer colocar a população contra as únicas pessoas que podem defendê-la da Cruz Mortífera...

—Vai saber, nunca entendi muito de política. – Respondo, dando de ombros.

—Talvez ele tenha culpa no cartório. – Alice sugere, tentando não rir.

—É uma boa teoria, políticos sempre pensam no próprio rabo antes dos outros. Quando a comida chegar, me chamem! – Ele concorda com Alice, e volta pra gerência.

O fim de semana se passa e descobrimos que o plano de Julio é arriscado, mas certamente irá funcionar, só vai mandar nossas identidades secretas pras cucuias. Mas, se a suposição dele estiver certa, não só exporemos o prefeito como o responsável por todas as mortes e como membro da Cruz Mortífera, mas também provavelmente será a nossa última luta aqui na cidade, pra tirar esse louco do poder e trazer tranquilidade

Na segunda-feira, estamos na frente da escola eu, Julio, Alice e Jéssica. Eu e Julio não usávamos nossos uniformes nem trazíamos nossas mochilas. James e Angela estavam próximos, prontos para se posicionarem.

—Julio, você tem certeza disso? – Pergunto, uma ultima vez.

—Sim. – O tom confiante dele me deu certeza de que o plano daria certo.

Caminhamos até mais ou menos a metade do pátio externo da entrada da escola e atraímos olhares, principalmente Julio e eu, que somos estudantes, e Jéssica que era a secretária, única sobrevivente do "Massacre escolar" que havia vitimado dez funcionários da escola, dias atrás. Para dar um tom dramático, nós quatro erguemos a mão direita e estalamos os dedos, o sinal para que James e Angela se movessem.

Com uma buzina alta, chamando a atenção de todos, um caminhão fica exatamente na porta do colégio. O caminhão tinha a carroceria aberta e nela, estava Angela, com um vestidinho vermelho, maquiada e com um microfone nas mãos. Atrás dela havia uma tela de projetor, e dos lados, caixas de som potente. O aluguel foi caro, isso eu posso dizer.

—Bom dia, estudantes da Escola Central Trerriense! – Angela começa, no microfone, com uma voz ultra animada.

—O que diabos é isso? – Alguém ao meu lado perguntou, mas o primeiro objetivo tinha sido cumprido, a atenção dos alunos que chegavam para estudar.

—Por quê a Angela tá assim num caminhão? – Outro perguntava.

—Vocês devem estar se perguntando... O que deu na Angela pra subir num trio elétrico com um vestidinho elegante quando deveria estar estudando? – Ela continua, ainda animada. – Bem, tem uma pessoa muuuuuuito especial que eu gostaria que viesse até aqui. O nosso amado prefeito e diretor, Edson Santiago! Por favor diretor, venha até o pátio externo! – Nada acontecia, então Angela fez uma cara triste. E eu estava perplexa com a capacidade de atuação dela. – Aah, o diretor não quer vir? Será que ele vem se todos chamarmos juntos? Diretor! Diretor! – A cada vez que ela dizia diretor, batia as palmas das mãos uma vez. – Diretor! Diretor!

—Diretor! – Eu, Julio, Alice e Jéssica começamos a fazer o mesmo. – Diretor!

—Diretor! Diretor! – Os estudantes todos seguem, até termos um coro enorme de "Diretor!" pelo pátio inteiro. Mesmo alguns curiosos de fora da escola, que passavam por ali faziam o mesmo.

Um minuto depois, o diretor surge na entrada do prédio principal, e ele parece confuso, mas quando nos vê, por dois segundos, a raiva passa por seu rosto, até voltar a máscara de confusão de antes.

—O QUE DIABOS É ISSO? – O diretor grita, apontando para Angela. – Você devia estar estudando, mocinha! E você? – Ele aponta para Jéssica. – Você não se demitiu?

—Nosso convidado chegoooou! – Angela dá um pulinho, com uma expressão feliz e eu tenho que segurar a seriedade da minha cara. – Pessoaaaaal, uma salva de palmas para o nosso querido prefeito e diretoooooor... Edson Santiaaaaaaagooooo!

Comandados por Angela, todos começam a bater palmas, mesmo sem saber o que estava de fato acontecendo. Vejo Alice segurando a risada.

—Aliás, Diretor... – Jéssica começa. – Como assim eu me demiti se eu vim fazer o pedido formal hoje?

—O quê? – Santiago parece ter sido pego com as calças na mão.

—Antes de mais nada, pessoaaaaaaaaaal... – Angela continua, em sua melhor imitação de apresentadora infantil. – Hora de contarmos um segredinho, não é?

Era a nossa deixa, eu e Alice colocamos nosso pulso esquerdo como se fôssemos defender, enquanto Julio e Jéssica colocam os cintos na cintura e apertam o botão para as tiras deles se conectarem. Eu e Alice apertamos os botões nos relógios, uma modificação que Julio fizera, eliminando os objetos. Julio passa a carta no visor de LED de seu cinto, apontando o indicador esquerdo para o alto (exibido), enquanto Jéssica aperta outro botão no cinto, ficando em seguida, pronta para luta.

—TRANSFORMAÇÃO! – Nós quatro gritamos ao mesmo tempo, enquanto os trajes de Máscara Omega, Alpha, Delta e Gamma revestem nossos corpos.

Gritos de surpresa ecoam pelo pátio, alguns nem sabiam que haviam agora quatro guerreiros que defendiam a cidade. A maioria sabia sobre mim, alguns sobre Julio e outros sobre Alice, mas ninguém sabia sobre Jéssica.

—Agora que estamos todos devidamente vestidos... – Angela continua, como se nada tivesse acontecido. – Uma historinha sobre o nosso querido diretor e prefeito... – Angela chega para o lado e aponta para a tela de projetor. – Anos atrás, algumas empresas auxiliaram financeiramente a campanha de Santiago para prefeito... – Na tela, diversos logos de empresas aparecem. – Hackers muito habilidosos descobriram que essas empresas, beneficiadas pelos atos de Santiago, são parte da Cruz Mortífera. – Um diagrama complexo surge, esse diagrama levando ao logo da Transire Mortiferum. – A propósito, Transire Mortiferum é Cruz Mortífera em latim, para os que não sabem.

Todos os olhares vão para o prefeito, que continua com cara de tédio.

—Mas ainda não acabou... – Angela abandonara o tom de apresentadora infantil e agora falava de maneira totalmente séria. – Alguém, que saíra da Cruz Mortífera para não ter um destino horrível, confessou que Edson Santiago é Sanguini Equuleus, o responsável pelo massacre no shopping, colaborou para que Wilson matasse aquelas cinco pessoas inocentes, e assassinou vinte e cinco pessoas, afim de descobrir quem havia vazado a identidade secreta dele. Ele ainda tentou matar Máscara Alpha, Máscara Delta e Máscara Omega, causando a explosão no Monte Cruz, me sequestrou nesse sábado...

—E ele só sabia do meu pedido de demissão, porque eu, transformada em Máscara Gamma, o confrontei para ajudar Angela... – Jéssica diz, apontando para Edson.

—Agora, se os estudantes de verdade puderem sair da escola, isso vale para os professores também. – Angela continua, enquanto James tira o caminhão da frente da entrada da escola. – Porque agora as coisas vão ficar complicadas, fujam caso não queiram morrer.

—Isso é loucura... – Um estudante tenta argumentar, mas Edson começa a rir intensamente.

—Bem... Se é o que vocês querem... – Ele continua a rir, até se transformar em Sanguini.

Os estudantes começam a correr pra fora da escola, assim como professores e funcionários da mesma, restando somente eu, Alice, Jéssica e Júlio, um grupo de dez estudantes e o Vampiro, conhecido como Sanguini.

—Pessoal... – Me viro para meus amigos. – É a hora da luta final.

—Vamos colocar a Cruz Mortífera pra fora da cidade de uma vez por todas. – Alice assente.

—É agora ou nunca... – Julio saca a pistola.

—Nós não podemos perder. – Jéssica bate os punhos.

Os estudantes que permaneceram, os transferidos misteriosos, se transformam em robôs, parecidos com Sanguini.

—É o fim de vocês... – Sanguini diz, abrindo as asas, pronto pra lutar.


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