Máscara Omega escrita por MrSancini


Capítulo 12
Decisão / Aliada




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Christie

—Como você sabe disso? – É a minha primeira pergunta, porque Angela dissera aquilo com uma naturalidade.

—Ele me disse. – Angela responde, e fico impressionada.

—O Julio... Te disse? – Isso era surpreendente.

—Ele deixou implícito que sentia algo por você. – Ela comenta, como se não fosse nada. – Então... Não leve tão a sério, eu não tenho pressa.

Me espanto a maturidade com que ela está lidando com a situação, principalmente sabendo das coisas que ela passou. Penso em falar algo, mas as palavras não saem.

—Você não tem um trabalho a fazer, Christie? – Angela me traz para o mundo real.

—Tem razão. – Sorrio e saio do centro de comando.

Coloco meu braço esquerdo em posição de defesa, encaixo a chave na fechadura do Omega Watch e a giro.

—Transformação! – Grito, e o traje de Máscara Omega cobre o meu corpo.

Subo na minha moto e começo a percorrer as ruas da cidade, a comunicação com a Angela aberta, como sempre.

—Algum zi-bot avistado? – Pergunto, assumindo um tom profissional.

—Ainda não. – Angela responde, antes de bocejar.

—Cansaço? – Mantenho a conversa, passando pelo shopping, ainda em reformas.

—A semana não foi boa pra mim, nem pra você e nem pro Julio. – Ela diz, bocejando novamente. – Lutas, luta e mais lutas. Quantas aulas combinadas nós três assistimos? Eu assisti a mais filmagens da cidade do que o pessoal da segurança.

Por fim, aquele sábado passou e nenhum problema de segurança surgiu. Nenhum zi-bot, ou monstro atacando as pessoas por nenhuma razão. Queria eu não ter que ficar vigiando a cidade e poder sair, ou treinar de maneira despreocupada.

A semana seguinte passa sem zi-bots passeando pela cidade, mas... Um outro problema surge. Como não conseguimos ficar vinte e quatro horas vigiando a cidade, incidentes ocorrem. Mortes misteriosas na cidade, o que traz de volta a polvorosa de quando Felipe morrera, mais o pânico da época do massacre. As mortes tem acontecido sempre a noite, logo as pessoas ficaram com medo de sair depois do pôr do sol.

A sexta-feira na escola começa meio sombria, a frequência dos alunos caiu drasticamente, principalmente no período da tarde.

—Os heróis mascarados não podem fazer nada? – Escuto uma aluna conversando com um grupo de amigos.

—Eles provavelmente não podem ficar vinte e quatro horas acordados vigiando. – Outro responde.

—Pois deveriam. Já que a nossa polícia não consegue fazer nada e o prefeito só diz bravatas. – A garota retruca. – Eles são os únicos que tem o poder de nos defender desses monstros.

Com um suspiro, continuo caminhando pelo pátio externo da escola, aguardando Julio e Angela chegarem. Não sei quando eles vão oficializar a relação deles. Sei que Angela disse que Julio gosta de mim, mas... Ainda não consigo processar, pra mim, Julio sempre foi meu melhor amigo, um irmão praticamente.

Falando nos demônios, os dois chegam juntos, e não deixo de visualizar como eles realmente parecem um casal. Mas pela cara que os dois fazem, quando se aproximam de mim, algo não estava bem.

—Você escutou quando chegou, Christie? – Julio pergunta. – Agora querem que façamos o serviço de vigias da cidade vinte e quatro horas por dia. E a gente nem recebe!

—Calma, cara... – Tento acalmá-lo. – As pessoas estão com medo, pessoas tem morrido e bem...

—Eu sei. É frustrante. – Ele fecha os olhos, respirando fundo. Nem parecia aquele cara tímido do outro dia, que não conseguia colocar o que sentia pra fora.

—E pra completar a desgraça, o James vem tendo problemas com o projeto do dispositivo Gamma. – Angela diz, desanimada.

A situação não era animadora, pessoas estavam morrendo, Sanguini continuava mandando e desmandando na cidade, e tenho certeza que é ele quem tem manipulado a opinião da mídia sobre a nossa incompetência, e... Alpha continua sumida. Por quê eu ainda me preocupava com ela?

O dia de aulas é normal, descontando os alunos fofocando sobre a falta de ação dos heróis mascarados. Durante a tarde, eu vou para o meu turno de trabalho, enquanto Julio e Angela ficavam vigiando a cidade.

O movimento na academia estava baixo, alguns dos clientes foram vítimas dos ataques dessa semana, então tudo o que me resta é socar e chutar aquele saco de areia. Pelo menos dessa vez eu não corro o risco de arrancar o negócio dali.

Ah, como senti saudade disso. O impacto dos meus golpes, o saco de areia indo para trás e voltando, o peso dele. As vezes é bom voltar para uma velha rotina. Ainda que...

—Christie, você tá com algum problema? – Tiago pergunta, preocupado. – Sei que você esteve doente e não pôde vir trabalhar na semana passada, mas desde que voltou parece que não está 100%. Tem algo te incomodando? Não sou o Julio pra te oferecer um ombro como melhor amigo, mas...

—Relaxa, Thiago. É que essa coisa toda na cidade tem diminuido o movimento e as pessoas tem morrido... Simplesmente estou com muita coisa na cabeça. Mas obrigado por perguntar. – Sorrio, e novamente percebo que não posso me dar por vencida.

 

 

Julio

Eu ia ficar com a bunda quadrada de tanto dar voltas pela cidade com essa moto. Ainda bem que o projeto dela, assim como o da moto da Christie, faz com que as motos sejam movidas a eletricidade, porque o consumo de combustível ia estar nas alturas.

—Ei, Julio. – Escuto a voz de Angela.

—Algum problema na cidade? – Pergunto, esperando que algo faça eu tirar o traseiro do assento dessa moto.

—Não, é que semana passada, a Christie veio falar comigo sobre algo. – Ela responde, calmamente.

E eu tenho quase certeza do assunto. A Christie, veio me perguntar sobre o porque de eu não ter pedido oficialmente a Angela em namoro. A verdade é que eu não tive tempo, e nem foi por causa da súbita invasão dos zi-bots e monstros, mas porque eu tenho usado meu tempo livre em outra coisa.

—E você poderia me dizer qual foi o assunto? – Pergunto, esperando confirmação.

—É verdade que você planejava me pedir em namoro? – Angela pergunta, a voz neutra.

—Sim. – Sou franco, enquanto passo pela placa de entrada da cidade mais uma vez.

—E por quê não o fez? – Ela pergunta, dessa vez a voz cheia de ansiedade. – Foi por que ainda sente algo pela Christie?

—É O QUÊ? – Dou uma derrapada com a moto, devido ao susto.

Claro, eu havia confessado meio por alto que gostava da Christie, mas andei repensando bastante esses dias e... Bem, o que eu sentia pela Christie era aquela coisa fraternal. A gente passou por tanta coisa nesses quase seis anos de amizade.

—Na verdade, não é isso... – Continuo, enquanto piloto pela floresta, um sorriso embaixo do traje de Máscara Delta. – É que andei pensando numa coisa. Ainda que tenha eu e a Christie com esses trajes, e completemos o outro dispositivo... Ainda tem a questão de que Sanguini é muito mais rápido que a gente. Então, estou vendo algo pra ajudá-la nessa questão.

—É... É sério, isso? – A voz de Angela mal consegue conter a excitação.

—Claro. – Respondo. – Só não conta pra Christie, quero fazer surpresa.

—Você é um babaca, Julio. – Há um afeto no tom que Angela usara. – Alerta! Grupo de zi-bots avistado próximo ao hipermercado, é melhor você ir.

—Entendido! – Digo, acelerando a minha moto.

Como estou na floresta, o caminho mais rápido é voltar para a entrada e pegar a avenida principal, o problema é que não consigo fazer isso porque mal ando duzentos metros, quando um outro grupo de zi-bots me aguarda, com outros dois monstros juntos. Um deles é um humanóide com cabeça de leão e uma juba enorme, o outro parece um minotauro.

Freio a moto e desço dela, pegando uma das cartas e a passando em frente ao LED do Delta Belt. A carta se dissolve e se transforma numa arma ligeiramente fina.

—Delta M-Gun! – Começo a disparar em arcos contra os zi-bots. – Angela, estou com um pequeno probleminha aqui. Poderia mandar a Christie para o hipermercado?

—Entendido! – Ela nem hesita.

—Quem é você? – O Leão pergunta, sua voz lembra um rugido.

—Minha inteligência é a minha maior força... – Levanto meu punho esquerdo. – A justiça é trazida pelos meus disparos... – Atiro em três zi-bots, abrindo rombos no peito deles. – O gênio atirador... Máscara Delta.

Os monstros partem para cima de mim, felizmente eu havia melhorado um pouco meu condicionamento físico para suportar o esgotamento que o traje me causa. Logo, eu consigo desviar de seus golpes, enquanto ataco os zi-bots, com alguns socos e tiros.

Apesar da desvantagem numérica, consigo evitar boa parte dos golpes, seja bloqueando os golpes, ou saltando e esquivando dos mesmos. Só de pensar no cansaço que meu corpo vai sentir após a luta, já visualizo a dor.

—E com isso... – Dou uma saraivada de tiros nos dois últimos zi-bots. – Só restam vocês dois!

—E você vai descobrir que estávamos controlando nosso poder! – O Leão salta pra cima de mim, dando um soco, enquanto o minotauro começa a arrastar o pé, como o que touros fazem antes de arrancar.

Defendo o soco do Leão, que continua com a mão ali, forçando o meu braço. Quando percebo o que eles pretendiam, é tarde demais, o minotauro partiu em arrancada, o Leão pula justamente antes do seu parceiro tocar seu corpo, o que me deixa aberto ao ataque.

O minotauro não me dá um soco ou chute, mas me acerta com o impacto do próprio corpo, fazendo com que eu seja arremessado longe, e com tal pressão, que quebra algumas das árvores dali. Levanto-me com um pouco de dificuldades.

Saco uma carta do deck e a passo na frente do LED do meu Delta Belt.

—Delta Shotgun! – A carta e a Delta M-Gun desaparecem, com a Delta Shotgun, uma pistola mais parruda surge. – Hora de contra atacar!

Corro pra cima do Minotauro, que volta a arrancar, eu começo a disparar, mas ele deflete meus disparos com a mão, até que salta por cima de mim e vejo que o Leão o acompanhava. O mesmo começa a acertar socos em mim, finalizando com um gancho, que me ergue um pouco.

Caído no chão, vejo dois pés descendo na minha direção, caindo bem nos meus peitos. Eram os pés, ou cascos, do Minotauro.

—Bem na minha área de ataque! – Aponto a arma para ele e disparo três vezes, jogando-o um pouco para trás. Me levantando, tento pensar em algo para derrotar dois monstros de uma vez. – Por enquanto, três a um para os visitan... – O Leão me dá uma joelhada, seguida de um chute na altura da têmpora.

Logo em seguida, os dois monstros passam a me usar como saco de pancadas, com um segurando, enquanto o outro dava uma sequência de socos, para depois trocar de lugar. Droga... Eu... Eu devia ter avançado com a Angela, eu só precisaria de cinco minutos.

Não, eu não posso me dar por vencido. Mas a situação tá bem difícil. Os dois monstros estão brincando comigo.

—Acabou a brincadeira... – O Leão saca uma espada que estava nas costas dele. – Minos, empurre-o para mim!

—Certo, Leo... – Minos, o Minotauro me agarra pelo pescoço e me joga na direção de Leo, que começa a caminhar na direção do meu corpo.

—Aaaaaah! – Escuto um grito feminino, até que um vulto surge, numa voadora em Leo, que cai e obviamente não me acerta com a espada.

Eu caio no chão devido ao arremesso (felizmente não empalado), e olho para a pessoa que dera a voadora em Leo e salvara a minha vida. Pelo que vejo de costas, a pessoa usava uma calça preta, uma jaqueta preta e o cabelo era, rosado, num rabo de cavalo. Cabelo rosado...

—VOCÊ! – Eu, Leo e Minos exclamamos ao mesmo tempo.

A pessoa que me salvara se vira e estende a mão para que eu me levante. Cabelos rosados e olhos da mesma cor, mas uma expressão diferente de quando eu havia a encontrado da outra vez. Ali, salvando a minha vida e oferecendo a mão para que eu me levante, estava Alpha.

—Anda logo. – Alpha parece apressada. Pego na mão dela e me levanto.

—O que você faz aqui? Como... – Eu estou sem palavras.

—Sem tempo. – Ela saca e coloca uma moeda onde estaria o visor de seu relógio e aperta. – TRANSFORMAÇÃO!

O traje de Máscara Alpha, semelhante ao de Christie, mas violeta e roxo ao invés de vermelho e roxo, cobre o corpo de Alpha.

—Eu cuido do leãozinho, você acaba com o gado. – Alpha saca sua espada.

—E depois de tanto tempo procurando, você vem até nós. – Leo diz, partindo pra cima de Alpha.

—Eu tenho muitas perguntas, mas elas podem esperar. – Digo, trocando da Delta Shotgun para a Delta Pistol, que tinha tempo de recarga menor.

Eu ainda estava ferido, meu orgulho estava quebrado por conta daqueles dois, e um pouco cansado, mas ver que eu não estava só naquela luta, me deu um gás para continuar.

—Usualmente numa tourada, eu torço pro Touro vencer, mas hoje... – Aponto a pistola para Minos. – Não é um desses dias!

—Ora, seu... – Ele parte arrancando pra cima de mim.

Aquilo não passava de mais uma fase de Time Crisis, Minos era só mais um chefe chato. Mirando com cuidado, dou três tiros, salto para o galho de uma árvore ao meu lado, me viro e dou mais três tiros, pulando em seguida para uma voadora nas costas de Minos, derrubando-o de cara no chão.

Os tiros haviam sido certeiros, com cada uma das saraivadas arrancando um dos chifres dele, que agora fumegavam no chão, partidos.

—Malditooooo! – Ele muge alto, levantando-se e soltando fumaça pelas narinas.

Minos abre a boca e arrota um jato de chamas em minha direção, eu pulo fora daquele galho e atiro novamente nele, três vezes, acertando a narina esquerda. Aquela foi por pouco, eu não sabia que minotauros cuspiam fogo, o único que eu conhecera até então era lutador de artes marciais mistas, e tinha menos pelos que esse aqui.

—Como? – Minos pergunta, o nariz sangrando e sem chifre, os olhos cheios de ódio. – Nós estávamos prestes a te matar!

—Deveriam ter me matado... – Troco da Delta Pistol para a Delta Shotgun, e insiro as outras duas cartas na parte de trás da arma. – Pois uma vez que o Gênio Atirador aparece, ele é invencível! – Puxo o gatilho, e um raio laser fino atravessa Minos, o explodindo logo em seguida.

Enquanto eu estava cuidando de Minos, Alpha trocava golpes de espada com Leo. O estilo de luta de Alpha era admirável, ela podia até não estar conseguindo atacar tanto, mas defendia com maestria cada tipo de investida dele.

—O mestre Johann vai ficar tão feliz quando a levarmos pra reprogramação... – Leo dizia, com uma felicidade aparente.

—Eu não vou mais ser uma marionete... – A voz de Alpha era calma. – Eu... Eu vou dar um novo passo e finalmente ser alguém!

Leo salta por cima de uma espadada e acerta um chute na cabeça de Alpha, a derrubando. Ele vê a oportunidade para tentar acertar uma espadada em Alpha, na altura da barriga, mas ela segura a espada com as mãos.

—O quê? – Leo fica atônito. E a surpresa fica ainda mais evidente, quando Alpha usa a perna esquerda para envolver as pernas do oponente, e com a direita dar uma sucessão de chutes, enquanto segura a espada dele com as mãos.

—Eu irei ser livre... – Ela empurra a espada de Leo para cima, acertando o próprio com o cabo, solta as pernas dele e rola para o lado, pegando sua espada.

Alpha saca uma moeda e a coloca na parte de baixo da própria espada, que começa a brilhar, na cor roxa.

—Alvo travado... – Alpha faz um circulo no ar com a espada, para esse círculo surgir como um anel roxo. – Mira ativada! – Ela atira a espada no círculo, tal qual um atleta olímpico atira um dardo.

A espada atravessa o anel, assim como Leo, mas não faz nada com o monstro.

—Só fumaça e espelhos, eu vou... – Leo para no meio da frase, visivelmente amedrontado. – O que é isso?

—Isso é o seu destino... – Alpha dá alguns passos para trás, corre e dá um salto, com uma voadora atravessando o corpo de Leo, que explode, se transformando em pó.

—Obrigado, Alpha... – Vou até ela e retorno a minha forma normal, ela faz o mesmo. – AAAH! – A dor atravessa meu corpo e começo a cair por conta do cansaço, ela impede que eu caia no chão. – Valeu...

—Não se esforce, você já lutou demais. – O tom dela é tranquilizador, me lembra muito o da Christie.

Repentinamente escuto passos correndo pela floresta... Mais um inimigo? Não agora...

—SOLTE ELE AGORA! – Escuto um grito familiar, vindo de longe. Ah não...

Instintivamente, abraço Alpha e me viro de costas, sinto um punho parar a uns dois palmos de distância das minhas costas. Viro o pescoço e vejo Christie, transformada em Máscara Omega, parando um soco que era dirigido a Alpha.

—Relaxa, Christie... – Dou um sorriso. – Ela tá do nosso lado agora...

—É o quê? – Christie, surpresa, remove a transformação.


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