A Primeira Cor do Céu escrita por JMBLUEBUBBLE


Capítulo 5
Capítulo Quatro




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— Por que Merriellie vai conosco? Por que precisam tanto que eu vá conhecer os amigos do meu pai AGORA? E QUEM DIABOS SÃO OS CORVOS? – Quase grito enquanto esperamos no semáforo.

         Merriellie mais uma vez mostra a língua pra mim e Luigi passa a mão pela testa, um claro sinal de enxaqueca.

         – Querida, uma pergunta de cada vez.

         Penso… tem tanta coisa… AH!

         – POR QUE MERRIELLIE ESTÁ VINDO CONOSCO? – Grito

         Os dois me mandam calar e olham ao redor. Não há ninguém por perto.

— Primeiro: – Ele faz uma pausa dramática – Não é “conosco” e sim com você.— Bufo. – Calanta, você é inteligente. Entende a gravidade disso. Precisamos ser cautelosos. E eu devo isso ao seu pai.. Estou me arriscando muito aqui e…

— Deve isso ao meu pai? – pergunto. Por instinto olho pra Merriellie para ver se concorda com o que ouvi mas ela está em outro mundo enquanto observa as casas. – Suponho que nossas aulas de história e política tenham sido por causa disso. E… meu Deus! Eu achava que você era nosso amigo mas é tudo uma coisa de pagar uma dívida?

Matt se revira no banco e engole em seco. Eu não credito… que velho vagabundo! Todas as risadas… todas… as lições…

— Não é como se eu não gostasse de vocês… Mas… –  Ele respira fundo. – Entenda, querida… Seu pai já teria sacado se estivesse no seu lugar; o que aconteceu com o Brasil na Terceira Guerra… Foi…

— Culpa de vocês – Merriellie completa agora totalmente absorta.

Matt limpa a garganta mais uma vez como se se lembrasse que Merriellie está conosco.

— Por favor não deixem escapar. Prometam em nome de Deus.

Ótimo. Mais uma vez abusando de mim.

Olha… eu não me importo com o que aconteceu com o Brasil… Ou deveria… Foi trágico? Foi. Mas estávamos em uma guerra! Eles sempre mentiram pra nós… Então é isso. Na televisão nos contaram que a super bomba atômica que atingiu o Brasil fora culpa do outro lado… Como…?

— Olha… Eu sei o que o que a tevê contou pra vocês, mas é lógico que não poderíamos dizer que foi nossa culpa, não é? Não somos bobos. PENSE, CALANTA! – Agora ele fala mais rápido e tenho um pouco de dificuldade em entender.– A bomba que atingiu o Brasil foi o que nos fez repensar na Guerra e decretar trégua. Nós acabamos com a nossa maior fonte de oxigênio limpo e remédios! Ter perdido a Floresta Amazônica ainda vai nos custar muito, vocês vão ver!

“Fora que grande parte do país e o pouco de alguns outros foram atingidos. Isso… se tivéssemos assumido seis anos atrás nós seríamos crucificados por todos. Nosso povo não entenderia! Foi… Meu Deus que isso não saía daqui! Poucos sabem da verdade e seu pai era um deles. Sabe, devemos muito a Antônio Cromwell. Tudo aconteceu a partir de um espião nosso que estava infiltrado na França. Foi de lá que a bomba saiu. Descobrimos sobre ela antes e o papel dele era direcionar ela para o próprio Eixo, mas ele foi pego… Antes era pra ter pego as partes mais importantes do Brasil e da Argentina… Mas ele só trocou para apenas o Brasil… Que tragédia… Deus nos perdoe”

— Meu Deus… – Merriellie estava boquiaberta. – Como pode viver com isso? O que aconteceu com o espião?

Mas Matt apenas balançou a cabeça. Eu quero falar, mas…

— Sabe… – Matt seca as lágrimas teimosas que saiam de seus olhos. Isso me dá uma agonia então viro para o outro lado – Seu pai ficou sabendo. Maldito e abençoado seja Antônio Cromwell, ninguém consegue mentir ou esconder algo desse cara. Ele… Eu achei que iria nos denunciar ou… Ou pedir uma grande quantidade de dinheiro para ajudar a reerguer o país… Mas ele só pediu que eu cuidasse da família dele e principalmente de você. Porque ele sabia que não iria mais voltar.

Ah… Uma parte do meu coração se aperta, mas tenho certeza que meu cérebro está gritando de volta “NÃO! ELE TE ABANDONOU! TE ABANDONOU BEM ANTES DA GUERRA COMEÇAR! ELE NÃO TE PROCUROU!”

Balanço a cabeça, uma leve dor de cabeça começa a fluir… Já totalmente absorta na conversa, Merriellie pergunta:

— E depois?

— Ah… Depois vocês sabem – Ele dá de ombros e vira bruscamente em uma esquina. Bato com a cabeça na janela e começo a choramingar. – Desculpe, desculpe. Ok… Tivemos a reunião entre Chefes de Estado e decidimos a trégua. A ONU e a Igreja Católica supervisionaram tudo. Hm… Nunca mais vi ou falei com Antônio depois daquele dia. Foi uma conversa estranha. Mas parece que agora se encaixa…

Matt franze o cenho e Merriellie concorda. Bufo mais uma fez.

— O que o Eixo disse da bomba? – Merriellie chega mais perto.

— Bom… Não tinham provas… Estava tudo ao nosso favor. E foi culpa deles mesmo, na verdade!

Ficamos um tempo em silêncio até Matt me perguntar algo.

— O quê?

— Quais eram suas outras perguntas?

Penso um pouco e pergunto:

— O que Merriellie faz aqui?

Ela revira os olhos e responde por ele:

— Lógico que estou de acompanhando. Não pode ir sozinha! Estamos de férias, relaxa. Maior de idade falando! – Ela dá um sorriso orgulhoso e reviro os olhos.

— Ter 18 não te faz tão livre assim. – Comento.

— Para uma mulher… ou… – Matt sussurra e pigarreia. Ficamos em silêncio até Merriellie começar a cantar. Depois disso Matt e ela entram em uma discussão sobre qual faculdade ela deveria tentar entrar no próximo outono.

 

         – É aqui que descemos – Ele estaciona o velho carro. Estamos a duas quadras da Estação mas não deveríamos chamar atenção.

         – Calanta… Você está bem? – Percebo que estou com os braços cruzados e com um bico no rosto. Viro para o lado e abro os braços. Matt suspira. Ele olha Merriellie de soslaio esperando a confirmação dela. Ela dá de ombros e sai do carro. – Querida, eu sinto muito pelo o que aconteceu. Foi uma surpresa para mim.

         – O quê...?

         Ele não está sorrindo. Está sério e com várias rugas transparecendo no rosto. Ele sempre faz essa cara gozada quando vai falar algo sério ou nos passar uma informação (também séria).

         – Sinto muito pelo seu pai – Ele pisca algumas vezes. O que me faz piscar algumas vezes. DROGA, NÃO POSSO CHORAR NA FRENTE DO PRESIDENTE!

         – Tanto faz… – Encaro um dos seus grandes anéis. – Sinto pela morte do seu filho também. Acho que nunca disse isso.

         E eu apertei seu ponto fraco. Matt se agacha e começa a chorar.

Eu consigo ver agora em meio as suas lágrimas. Jackson é um homem com problemas demais. Eu sou o mais suave de todos eles. Ele parece cansado. Não se importa muito com os outros. Provavelmente algum ministro o aguarda depois daqui ou sua esposa... Precisamos ser rápidos, mas… é, eu tinha que ser estúpida e citar o maldito filho morto dele.

Creio que o nome do cara seja… Joseph… Isso, Joe Jackson. Morreu seis anos atrás na invasão a Alemanha durante a Guerra Mundial. É… a mamãe aqui sabe das coisas.

Parte de mim quer consolar Matt, mas… Não. Isso o que ele fez comigo… Ele não era amigo do Antônio. Mal falava com ele a não ser de coisas importantes! O que trouxe esse filho da mãe descarado aqui é apenas um acordo de guerra que ele fez com o meu pai. Um acordo que morreu junto com Antônio.  E eu que achava que ele gostava da minha família...

6 anos e ele ainda cai pela morte do filho e meu  pai acabou de morrer e estou em pé aqui. Maldito seja Jackson.

         – Temos que ir – Começo a sair devagar.

         – Calanta, por favor – Jackson pede para que eu sente mas ignoro. Eu o fuzilava com os olhos. Aquele imbecil... – Eu sinto muito. Eu continuarei mandando dinheiro para vocês. Te ensinei tudo o que podia sobre política e...

         – NÃO QUERO SEU DINHEIRO! – Berro.

         – Mas… seu pai… – Dou as costas e começo a caminhar. Eu e Merriellie devemos entrar pelo portão 10, nos fundos. Matt entrará pela frente e chamará a atenção dos funcionários. Claro, isso se eu não cagar em tudo antes.

         Minha cabeça dói tanto… Eu não quero isso. Sinceramente, o que estou fazendo?

         Encontro Merriellie escondida atrás de um poste perto do portão. Mais de 5 seguranças estão fazendo a ronda. Matt teria que trocar de carro em algum ponto por aqui.

         Puxo meu capuz mais pra cima e percebo que estou tremendo mesmo no calor absurdo que está fazendo. Começo a analisar a arquitetura da Estação enquanto aguardo e controlo o nervosismo.

         Ela já existe faz tempo mas foi reformada recentemente por causa do caos que ficou após a Terceira Guerra. Agora vidros ficam em alguns lugares e ela possui uma cor fraca por causa do sol. Não entendo muito de arquitetura mas sei que essa é bonita e recente. Em cima costumava ficar um lugar pra helicópteros, mas retiraram.

         – Quando esses cientistas vão fazer esse calor ir embora? – Merriellie murmura e começa a coçar furiosamente o braço, me despertando. – Que coisa.

         – Você é muito revoltada – Comento mas rapidamente limpo o suor do meu rosto. Merriellie me olha com cara de “não sou a única” e ignoro.

         Ouvimos uma buzina alta e sabemos que algo está acontecendo lá dentro. Anunciaram a presença do presidente. Agora é nossa vez.


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