A Primeira Cor do Céu escrita por JMBLUEBUBBLE


Capítulo 4
Capítulo Três




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Quem eram os Corvos? O nome me é familiar... Corvos…

         Mais uma vez George confere o relógio. Do lado de fora ouvimos alguém bater na porta da frente. George pula do sofá e corre para abrir.

         – É agora. Ela precisa ir.

         – Não, mãe... – Começo a me agoniar. Como assim? Agora? Quando eu volto? Eu vou mesmo sair do país? MEU PAI ACABOU DE MORRER! Ponho a mão sobre o coração para acalma-lo.

         – Ei! – Ela faz biquinho e começa a acariciar meus cabelos. – Eu te amo. Okay? Lembre-se disso independente de tudo. Eles vão conseguir que me ligue. Eu te amo. Você vai ficar lá por pouco tempo, é só o funeral e os amigos do seu pai vão estar com você e...

         Com um baque na porta e um suspiro, Merriellie, a metida, intrometida e ridícula da Merriellie William Harris aparece.

         – PRONTA!

         – Quê? – Pergunto a mamãe mas ela só dá de ombros, se vira e abraça Will chorando muito mais que o necessário. Esse é o fim.

         Se eu já estava pensando em me jogar na frente do trem antes imagina agora. Merriellie? Sério? Ela vai me acompanhar? O que minha mãe tem na cabeça? Perder as duas filhas pro mundo? O que Merriellie tem a ver com a droga do funeral do Antônio?

         Isso é demais. Antes que George pudesse me agarrar pelo braço e me puxar pelos cabelos fujo até o quintal dos fundos da casa. Estou pronta pra pular a cerca e visitar Beatrice quando reparo na nossa fonte. Meu meio-irmão estava lá. Deprimido e… jogando moedas na fonte? MAS O QUE ESSE MERDA TEM NA CABEÇA?

         Corro até Max e arranco o pote das mãos dele. Ele não se assusta, nem tenta se explicar, apenas me encara com… pena?

         – O que você estava fazendo? Recolha essas moedas – Ordeno, Mas Max apenas fica parado, me encarando. – O que foi?

         – Vi na TV que seu pai morreu. Eu só… Jill me disse que antigamente as pessoas jogavam dinheiro em fontes pra realizarem desejos e…

         – E…? – Ele estava com a mesma cara que minha mãe de cachorrinho abandonado mas com Max era fácil lidar, ele se parecia mais com o George e pela raiva que estou dele… – Acabamos de presenciar a Terceira Guerra Mundial e você está desperdiçando moedas com baboseiras só porquê a ridícula da sua robô não ensina história como deveria?

         – Ei, ela ensina sim! – Ele cruza os braços e faz bico. Estava elevando a voz

         – Se ensinasse você saberia o tanto de gente que morreu por falta de dinheiro! – Falo mais alto e empurro o pote até ele. – E POR IGNÔRANCIA!

         – Eu só queria trazer seu pai de volta! – Ele berra.

         Isso. É isso que ele queria… Ele só tem 8 anos, Calanta, ACORDA! Talvez... fosse isso o que eu precisava também. O que estou fazendo? Eles precisam de mim lá. Antônio não tem família no Brasil. Eles querem falar com A Herdeira. Meu Deus, um país parlamentar acaba de perder seu Primeiro-Ministro amável e lendário e eu aqui o recriminando por ser um péssimo pai. Antônio já fez tanto por aquele povo… Que por isso estava ocupado de mais… pra cuidar de mim? Não, balanço a cabeça. Esse garoto é minha família e ele quer meu bem e está chorando por mim. Ele precisa de mim. Mas… talvez o Brasil precise mais.         – Eu preciso ir – Abraço Max o mais forte que posso e o beijo como se nunca fosse o ver novamente.  — Mas vamos nos ver de novo. Prometo. Me desculpe por te fazer chorar… – Max sorri pra mim e começa a catar as moedas         – Eu te amo – Ele deixa escapar baixinho. Seu rosto estava sereno e apenas um pouco corado por chorar. Beijo sua testa rapidamente e sussurro:         – Obrigada, pelo seu desejo.         – Não demora – Ele pisca um dos olhos e espana um dos peixes da fonte com a mão.         Com uma última olhada e um último beijo, dou adeus a meu meio-irmão que valia muito mais pra mim do que qualquer joia. Mas Max não era o único com o qual precisava me despedir.

         Já na porta o vejo (mesmo que no carro mais precário que deva existir). Como sempre ele está vestindo um terno mais elegante do que a ocasião realmente pede. Rugas suaves de expressão se deixam ser vistas em seu rosto e cabelo está mais branco do que me lembro quanto a última vez em que nos vimos. Não sei porquê mas me assusto com caras mais altos do que eu. Acho que nem é isso, talvez eu admire; vai entender.  A alguns metros de mim Matt Jackson me encara e seus olhos escondem certo sentimento e isso me da arrepios. Fazemos o sinal da cruz e me afasto. Nos últimos anos a igreja católica praticamente “dominou” o planeta. A grande maioria das pessoas eram católicas. Apenas lá para o lado oriental é que ainda se encontra um grande formigueiro de pessoas que praticam outras religiões. Não sei o nome delas – as religiões -, sinceramente só conheço a católica. É legal. Mamãe vai todo domingo com o resto da família para a igreja. Sempre tive um certo medo de sair de casa (nessa situação não foi diferente), desde que me conheço por gente estudei em casa e tudo era em casa. Tudo. No fundo sei que estou assustada por conta do Brasil. Antigamente eu gostava de estudar em casa, mas agora... Quando pergunto à minha mãe o porquê de não poder estudar fora ela se estressa e George seria meio inútil também. É por isso que tenho um professor particular, um médico particular e um lugar no meu quarto especial para reza (confesso que essa parte é por birra). É lá que aprendo.

         O que mais gosto em Matt é que ele possui uma estrela escondida sobre as grossas camadas do paletó. Descobri isso uma vez, enquanto ele me dizia algo a corrente havia soltado e o pingente balançava freneticamente enquanto ele se mexia. Aquilo me irritou e eu pedi para ele consertar. Ele ficou surpreso e sorriu. Disse que eu era a única que sabia daquilo e que eu não podia contar a ninguém. Eu dei de ombros. Aquilo era comum em minha vida. Eu sabia guardar segredo muito bem. Dias depois observei em um canal proibido (porque tudo o que é proibido é mais gostoso) a mesma estrela no pescoço e paletó de algumas pessoas estranhas e em uma missa mais estranha ainda mas tive que desligar porque Merriellie invadiu o meu quarto.

         Conclusão: Não entendi aquilo. Deixei e ainda deixo passar. Isso não faz diferença contanto que não se saiba e eu tenho que fingir que não sei, então…

         – Mãe? – Chego mais perto dela. Ela está chorando muito, o que é realmente desconcertante. Ninguém gosta de ver uma mãe chorando mas ver a minha mãe chorando é diferente. Aurora Harris nunca se descontrola. Nunca. Mas parece que é realmente o fim dos tempos. – Mãe por que a Merriellie acha vai comigo?

         Mamãe começa chorar ainda mais e se vira de costas quase caindo no canteiro de rosas. Bufo e procuro George… que estranhamente parece estar procurando alguém também.

         – O que está fazendo? – Chego perto dele e pergunto. Ele se assusta e coloca a mão no coração para se acalmar.

         Ao nosso redor Matt conversava baixo e rapidamente com Merriellie enquanto Max tenta consolar mamãe.   

         – Só estou vendo se não estamos chamando muita atenção… – George passa os olhos ao redor novamente. Ele provavelmente ía dizer mais algo, mas Matt o interrompe.

         – Precisamos ir agora antes que a nova onda de carros passe. – Ele abre uma das portas e pisca pra mim.

         Dou uma olhada nas pessoas ao nosso redor. É isso. Vou virar uma criminosa de 16 anos pra ir no enterro do meu pai. Adorável.

         Dou um rápido abraço em todo mundo e me aproximo do carro. Merriellie já estava estirada no banco de trás o que me deixa com uma certa pontada de raiva.         

         – Será que a vadia poderia me dar um espaço? – Pergunto. Merriellie arregala os olhos e mostra a língua para mim. Tudo sem sair do lugar. Bufo e me dirijo ao banco da frente.

         Do banco do motorista Luigi pisca pra mim e sussurra:

         – Sinto muito.

         Não. Algo dentro de mim não acredita nisso.


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