Truth to Power escrita por Helena Lourenço


Capítulo 5
Estranha


Notas iniciais do capítulo

:)♥



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Estranha

 

Três semanas haviam se passado e, quanto mais o tempo passava, mas ansiosa eu ficava. Não sabia por que nem como, mas as crises que começaram a atormentar meus pensamentos minutos antes de a inconsciência do sono tomar de conta estavam fazendo com que eu perdesse a cabeça.

 E, sim, eu ainda dormia, comia, suava e todas as outras coisas que um humano normal – e um híbrido de humano – faz. A única real diferença fora o meu coração parar de bater, mas de uma estranha forma meu sangue ainda circulava por minhas veias. – Aro suspeita que o sangue não fosse exatamente sangue, mas puro veneno vampiro. Ele ainda estuda como ele circula sem o bombeamento, tenho certeza que descobrirá em breve.

E ainda existe a questão dos meus poderes.

Desde a transformação eu não tenho conseguido controlar meus poderes muito bem. Aro tem a tese de que a transformação intensificara meus dons e eu teria que treiná-los para obter o controle que eu tinha desde, bom, sempre.

Por isso, duas vezes por dia, eu me encontro com Aro e Marcus na biblioteca para treinamento mental.  Marcus, incrivelmente, sabe como conversar com alguém de forma que estimule a mente. Estranhamente, eu adorava conversar com ele. Talvez fosse a melhor parte do meu dia.

A pior: Alec.

Aro o designou, junto a outros dois vampiros, para meu treinamento físico. Segundo ele, eu deveria aprender a me defender e manter-me viva. Viva não é bem a palavra que eu usaria, mas não vou entrar nisso agora.

O vampiro era terrível. A rápida admiração que eu havia tido com ele no meu primeiro dia em Volterra fora assassinada a sangue frio no momento em que ele começou a me dar ordens e mais ordens durante os treinamentos. Eu tinha vontade de socar a cara perfeita daquele vampiro durante horas. Mas, como eu aprendi da pior maneira, isso machucaria mais ele do que eu.

Mas, eu tinha que agradecer ao vampiro por me fazer esquecer o que me fizera ir parar em Volterra em primeiro lugar; o ódio que eu sentia dele e de mim mesma por ter sido tão burra foram direcionados para Alec, e faziam com que eu esquecesse momentaneamente a dor que eu sentia no peito.

Ah, outro bônus da transformação: eu sentia tudo com mais intensidade.

Então, quando as lembranças voltavam, eu surtava.

Todo autocontrole que eu achava que tinha fora para o espaço. Eu havia destruído boa parte do meu quarto no castelo quando Alec entrou e usou sua nevoa branca em mim. Quando acordei, porém, eu estava em uma cama num cômodo que eu nunca havia visto com uma mulher loira me olhando docemente.

Mais tarde, eu descobri que seu nome era Sulpicia, esposa de Aro. Ela afagava meus cabelos e cantava para me manter calma. Pouco depois, outra vampira apareceu. Diferente de Sulpicia, ela era um pouco mais antipática, mas não me destratou. Ela trouxe um pouco de chá de camomila e sentou-se na cama junto aos meus pés.

Da segunda vez que eu surtei, eu estava nos jardins. Por sorte, dois vampiros estavam por perto e conseguiram impedir que eu destruísse a muralha que cercava aquele castelo – havia dois: o Palazzo dei Priori, na cidade, e este que os guardas e eu ficavam, dentro da floresta.

Eles me seguraram e me causaram alguns machucados no processo, mas conseguiram me levar para dentro. Sulpicia e o próprio Aro estavam comigo instantes depois. Desde então, os treinamentos mentais passaram a ter a presença dela, que conseguia me acalmar como ninguém.

Bem, talvez exceto por Alec e sua névoa.

Eu estava tão dependente dele que Alec passou a usar o quarto ao lado do meu. Aro não achava pudente que eu ficasse tão dependente de Alec, mas as crises tinham me atingido com força total na ultima semana e não havia outra saída a não ser me apagar.

Nesse momento, estou retornando a consciência. O cheiro de Alec – um perfume chamado Azzaro e era uma delicia – foi à primeira coisa que notei antes da escuridão de dissipar por completo. O quarto de Alec estava parcialmente iluminado e ele encontrava-se junto à janela.

Ele não olhou para mim quando falou:

— Estão cada vez mais frequentes, não é?

Engoli em seco. Murmurei um sim, sem conseguir de fato falar algo legível. Era verdade, minha ansiedade vem aumentando, os tremores e os surtos estão acontecendo cada vez mais frequentes e fortes.

Ao lado de Alec, eu pude jurar que vi Jacob me encarando, irritado e ao mesmo tempo desapontado. Como a expressão que ele fazia quando me via falando com algum outro membro da matilha. Uma expressão de ciúme. Mas, Jacob não só não poderia ter ciúme de mim como não estava aqui. Não era ele. Não era ele. Não era ele.

Mas, droga, parecia ele.

— O que está fazendo consigo mesma, Renesmee? — a ilusão de Jacob falou e sua voz era exatamente como eu me lembrava. Ele era tão real... Em comparação, Alec parecia o fantasma aqui. — O que está deixando eles fazerem com você? Eles estão te matando.

Balancei a cabeça. Não, eles não. Você.

Jacob aproximou-se, passos firmes e olhar duro em minha direção.

— A Renesmee que eu conheci não deixaria ser manipulada desse jeito. Não se deixaria abater. A Renesmee que eu amava jamais teria aceitado ficar com esses monstros.

— Isso é culpa sua! — gritei, sentindo meu corpo todo tremer. De raiva e de medo. Longe, escutei a voz de Alec perguntar o que estava acontecendo. Mas a imagem de Jacob riu com escarno para mim, como se a idéia fosse ridícula. — Culpa sua, culpa sua, culpa sua.

— Não, Renesmee — ele disse, sorrindo —, a culpa é sua.

Tapei meus ouvidos em uma tentativa de parar de escutá-lo e fechei os olhos. Mas a sua voz continuava martelando em minha mente.

Culpasuaculpasuaculpasua

Mãos me tocaram e eu lutei contra elas, mas elas eram fortes e estavam dispostas a não me soltar. Culpasuaculpasuaculpasua...

Gritei.

As mãos saíram de minha pele bruscamente. Somente o barulho de algo pesado colidindo contra algo e quebrando me trouxe de volta a realidade. Alec estava jogado ao chão sobre os destroços de madeira que um dia formavam uma escrivaninha. Ele me olhava assustado, como se eu...

— Como fez isso? — ele perguntou, atônito.

Das coisas que eu nunca pensei que veria na vida, Alec confuso estava entre elas.

Eu respirava com dificuldade.

A porta foi aberta e Demetri entrou.

— O que no inferno está acontecendo aqui? — ele pareceu notar Alec, que ainda estava jogado ao chão, me encarando, e voltou a perguntar: — Alec, o que aconteceu aqui?

— Renesmee — ele sussurrou. — De alguma forma ela fez com eu me jogasse contra a parede quando gritou.

***

Duas horas depois, eu estava na sala dos Tronos, sentada em uma cadeira com os mestres me avaliando como se eu fosse um experimento que eles não conseguiam concluir.

— Talvez a transformação tenha despertado algo dentro dela. — Marcus estava dizendo para os irmãos. — Isso explicaria o porquê dela ter arremessado Alec contra a parede.

— Despertado o quê, irmão? — Aro questionou.

— O poder dela é mental. Talvez a mente dela tenha expandido e aberto portas para trilhar caminhos diferentes para o poder dela. Veja, ela consegue colocar pensamentos nas cabeças de outras pessoas, talvez ela consiga comandar suas mentes. Alec disse que teve o impulso de jogar para longe dela e não como se uma força fizesse isso com ele.

Aro ponderou.

Mas foi Caius quem respondeu.

— Se isso é de fato o que está acontecendo, ela não consegue controlar.

— Por isso temos que trilhar o treinamento dela por outro caminho. Reeducá-la. Fazê-la controlar.

— E como pretende fazer isso, Aro?

— Quem melhor para ensinar a controlar poderes telepáticos do que outro telepata?

Por um momento, temi que ele dissesse que ia chamar meu pai aqui. Mas ele voltou a falar, antes que eu tivesse a chance de perguntar.

— Demetri — ele virou-se para o rastreador —, encontre Paolo.

A expressão no rosto de Demetri me assustou. Quem quer que fosse esse Paolo, não parecia ser muito agradável. Demetri saiu da sala na mesma hora, deixando-me novamente sozinha com os mestres.

E a imagem dos meus pais olhando para mim como se eu fosse uma estranha.


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