O que eu fiz, Ogum? escrita por Evo Gonzales


Capítulo 1
O que eu fiz, Ogum?


Notas iniciais do capítulo

Temos no Colégio um cantinho intitulado "Cantinho da Leitura". Os alunos ficam lá, lendo. E eu escrevo...



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— Ogum, meu guerreiro - rezava Bento enquanto subia cedinho as ladeiras da Boa Vista. - Ogum guerreiro, me proteja no que tenho que fazer.

Ele sabia que havia feito algo errado. Algo muito errado, para ser mais sincero consigo mesmo.

Na noite anterior havia rezado pedindo uma luz. Acendeu velas a São Jorge, pediu bênçãos a Oxum e Iansã, rogou a Xangô e prometeu a Iemanjá que em 2 de fevereiro pularia sete ondas em sua homenagem.

Por fim, passava da meia noite quando acordou Pai Joaquim e lhe pediu bênção. Pai Joaquim já estava dormindo e estranhou o rapaz lhe procurando, batendo em sua porta uma hora daquelas para ser abençoado.

Mas sempre disposto para uma reza apesar dos quase noventa anos, Pai Joaquim pegou um ramo de arruda e rezou prece aos Orixás pedindo proteção ao rapaz.

Mas agora era ele. Ele só e seus santos subindo o morro para fazer o que tinha que ser feito.

E subia disposto. Cabeça erguida, passos rápidos, seguro. Se existia medo estava muito bem escondido sob a proteção de Ogum.

Enquanto subia procurava não pensar no que falar quando chegasse a hora. Sabia que ia ser difícil.

— Iansã que guie minhas palavras - rezava ele. - E se palavras não forem o bastante, que Oxóssi guie minhas ações - apertou o terço para acalmar as batidas de seu coração.

Havia se arrependido, mas esperava não ser tarde demais.

Por fim chegou. Viu Do Carmo pondo roupa para secar na soleira da janela e foi logo perguntando:

— Cadê Marieta? Quero falar com ela. - tentou ao máximo não parecer nervoso, mas apertava o rosário e pensava em Ogum.

— Nuntá. Saiu ontatarde, inda não vortô. Ela é anssimem, não dá sanstisfação donquevá nem quanvór – falou Do Carmo sem parar o que fazia nem se dar ao trabalho de olhar para Bento. E sem esboçar a mínima preocupação.

Aí o pavor cresceu e ele apertou mais ainda o terço. "Ogum, Ogum, que há que foi dela?" pensou. "Protege Marieta meu Santo. Faz que ela não me obedeceu senão minha vida tá acabada".

Saiu morro abaixo em desordem de pensamento. "Será que ela procurou mesmo Daniel? Ogum, Ogum, que ela não tenha ido!"

Escada abaixo encontrou Rosaneide. Pegou a moça pelo braço e logo perguntou: - Marieta! Tu sabe dela? - Falou quase gritando, já sem controlar o temor que sentia.

— Vi ela ontem à noitinha. Tava apavorada e ia procurar aquele carniceiro do Daniel pra tirar o que tu pôs nela. Se ela morrer a culpa é tua!

"Então ela foi mesmo" pensou ele. "Foi procurar Daniel como eu disse pra ir." Ficou paralisado pensando no que havia feito. Nem Ogum iria lhe ajudar.

Continuou correndo morro abaixo na esperança de ainda encontrar os dois vivos.

Quem sabe não seria um menino.


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