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Capítulo 4
3 - Quando em 2039


Notas iniciais do capítulo

Olô

Turu bom por aqui?

Dessa vez não demorei, né? Né?!

Então, espero que esse capítulo possa tirar as dúvidas de vocês quanto ao futuro que descrevi no Prólogo. Vão conhecer bem mais do James e da realidade em que ele vive em 2039.
Eu não tenho um ator específico pra ele porque não consegui encontrar alguém que fizesse jus à imagem que eu tenho dele, e que aparentasse ter 14 anos (a idade do James aqui). Mas segue como capa uma das ilustrações dele no Google, e quem assistiu Next Avengers saber como ele é.

Boa leitura ♥



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Capítulo 3

Interis, 2039

James Rogers

 

Eu arfava. Meu peito tentando recuperar todo o ar que eu não deixei entrar em mais de cinco horas de treinamento seguidas. Meu uniforme estava completamente molhado de suor, mas meu corpo pedia por mais. A espada de Torunn se chocou contra o meu escudo, produzindo um ressoar alto. Empurrei-o em direção a ela com toda a força, que voou até o outro lado da sala e parou de pé.

— Eu sei voar, James. Quando vai aprender isso? — ela riu.

— Como posso esquecer, com você me lembrando toda hora?

Pelo canto do olho, vi Howard se preparando para atirar por trás de mim, como se ele conseguisse fazer qualquer coisa silenciosamente com aquela armadura. Ela ainda precisava de muito aperfeiçoamento, como silenciadores e os propulsores, que Howard nunca conseguia fazer com que funcionassem. Sempre que ele tentava fazê-la voar, algo explodia e ele ficava frustrado. No treinamento, isso era uma grande vantagem quando estávamos em lados opostos, mas quando tivéssemos que enfrentar um inimigo de verdade, aquela pequena falha poderia custar nossas vidas. Olhei para Francis, caído aos pés de Torunn e seu arco já fora de seu alcance. A lança de Starr tinha caído no chão para longe dela, mas a taser estava firme em suas mãos. Me coloquei em posição de ataque, como se fosse investir para cima dela e fingindo não perceber Howard atrás de mim, mas, no último segundo, me esquivei para o lado bem a tempo de desviar do tiro dele e fazendo-o acertar Torunn, que despencou no chão, desacordada.

Aproveitei a brecha para dar uma rasteira no perplexo Howard, que encarava a amiga desacordada de boca aberta. Ele não me viu chegando, e caiu com tudo no chão quando minha perna o derrubou. Starr gritou assim que começou a correr na minha direção, joguei o escudo para cima dela impedindo o contato da taser, e a derrubei em seguida, deixando-a caída em cima de Howard.

— É, acho que temos uma vitória — a voz de Henry soou no auto falante.

Prendi o escudo no braço e fui até Howard, oferecendo a mão para ajuda-lo a se levantar. Ele se apoiou nela e me deu um tapinha nas costas, sorrindo.

— Bom trabalho, James.

— Cara, que treinamento foi esse? Você acabou com a gente, James — do outro lado da sala de treinamento, Francis se levantava do chão, meio atordoado. Ele olhou para Torunn desacordava ao lado dele, e chutou as pernas dela. — Torunn, anda, levanta. Acabamos.

Ele insistiu por mais alguns minutos antes dela abrir os olhos lentamente e se levantar. Ela olhou em volta e, quando se lembrou do que tinha acontecido, seus olhos faiscaram para Howard.

— Você atirou em mim!

— Foi sem querer! — ele se defendeu. — James me enganou!

— Chama-se estratégia, meu amigo — respondi. Eu estava exausto, com fome e todo sujo. — Eu preciso de um banho, e vocês precisam treinar mais. Estão desatentos e baixando a guarda.

— Treinar mais? — Francis questionou, assustado. — Estamos a cinco horas presos nessa sala, James! Eu nem comi ainda desde que acordei!

— Porque é burro. Todos vocês são burros – Starr se levantando chutando o ar, irritada. Seu esporte favorito era xingar, o que às vezes se tornava engraçado devido à sua altura. — Como quer vencer uma batalha de estômago vazio?

— Desculpe, verdinha, eu não vi você ganhando também. Estava no chão tanto quanto eu.

As bochechas dela ficaram vermelhas, como sempre acontecia quando ela ficava irritada. Ela bufou e foi buscar sua lança no chão.

— Vamos recomeçar logo essa droga.

Francis e Howard olhando para mim com desespero.

— Não precisa ser agora – os acalmei. Eu estava cansado também. — Mas precisamos melhorar muita coisa.

— Acho que estamos indo muito bem até agora — disse Torunn, com a cara emburrada. Ela prendeu seu longo cabelo loiro em um rabo de cavalo, cruzou os braços e me encarou. Ela estava claramente irritada por ter sido atingida por seu próprio parceiro. — Tirando o fato de o Howard ser burro e do Francis ter sido abatido com uma de suas próprias flechas, levamos horas para conseguir te derrubar sozinho.

— Torunn, você não conseguiu nem perceber um tiro vindo na sua direção! Devia ter percebido que Howard pretendia atirar atrás de mim, deveria ter me distraído!

— Eu pensei que você ia me atacar!

— Porque era o que eu queria que você pensasse! — frustrado, lancei as mãos ao ar e bufei. Torunn era muito orgulhosa, confiava mais do que deveria em si mesma, se esquecia de quem estava lutando com ela. — Olha, pessoal, nós somos bons. Lutamos muito bem, temos bons reflexos e muita resistência. Mas vocês precisam de mais atenção, estão dispersos!

— Estamos preocupados — Howard sussurrou.

— Isso não pode ser uma desculpa, Howie. Também estou preocupado.

— Concordo com James — Henry surgiu, vindo da sala de controle, com uma prancheta na mão. — Na verdade, parabéns amigo. Subiu sua média em 25% hoje, e seus reflexos estavam excelentes. Nunca te vi tão concentrado.

— Ele não está concentrado, está surtando. Ele sempre faz isso quando está mal e não quer pensar no assunto — Francis exclamou e se virou para mim. — Você vira um maníaco ditador quando algo ruim acontece. Quando tivermos que sair para lutar de verdade, vou matar mais alguém pra ver se você usa toda essa raiva e foca no Thanos, e não em nós!

A sala ficou em silencio. Nem eu tive coragem de respondê-lo. Apertei meus lábios em uma linha fina e olhei para os meus amigos, minha equipe. Henry e Starr encaravam Francis boquiaberto. Howard encarava o chão, sem coragem para me olhar nos olhos. Torunn me observava com pena e Francis parecia arrependido assim que as palavras saíram da boca dele. Tentei não ficar chateado com ele, porque eu sabia que ele também estava abalado. Ele só tinha a maneira errada de expressar.

— Tudo bem — suspirei. — Não querem treinar, não treinem. Vou deixar vocês em paz.

Virei as costas e fui em direção a porta de saída, mas antes que eu alcançasse o exterior, senti alguém vindo atrás de mim. Me virei, e era Henry, com sua inseparável prancheta na mão.

— James, eu... É...

— Está tudo bem, Henry. Não quero falar sobre isso.

— Não, não é isso. É sobre o treinamento — ele ajeitou seus óculos no rosto e apontou para a prancheta em sua mão. — Não o seu. O do Darien.

— O que tem ele?

— Ele está exausto. Está tentando por dias, sei que ele vai acabar conseguindo, mas tenho medo de ser poder demais para ele.

Darien era, sem duvida, o mais poderoso de toda a nossa equipe. Com os poderes do pai e da mãe dele combinados em sua genética, ele é bem perigoso quando os usa. Mas ele sempre fica muito cansado quando utiliza energia demais, ainda não tem controle sobre tudo o que pode fazer. Tenho insistido para ele treinar mais o físico, fazemos sessões de luta corporal e exercícios, o que vinha melhorando e muito o desempenho dele. Mas abrir um portal no tempo e espaço talvez estivesse além das suas habilidades.

 — Vou ir vê-lo, depois. Ele realmente fez falta no treino — eu disse, e então me lembrei de outra pessoa que tinha feito falta no treino. — Hey, onde está Caty?

Será que eu estava mesmo tão focado no treino que não percebi a ausência de membros da minha equipe? Sim, eu sabia que Darien estava ausente porque precisava treinar com o pai na abertura no portal. E eu só precisava checar se havia algo errado quando Georgia aparecia nos treinos. Mas Caty deveria estar ali com o irmão, como sempre. Quando entrei na sala, coloquei todo mundo em ordem, gritei a divisão das equipes e partimos para o treino. Acho que herdei dos meus pais a necessidade de lutar quando algo não ia bem.

— Ficou no quarto dele bancando a babá — Henry franziu o cenho. — Algo sobre a pressão ou algo do tipo.

Assenti.

— Mas Fitz está bem? — questionei, preocupado. Já tivemos mortes demais por uma semana.

— Não faço a menor ideia.

Fiz uma careta. Claro que não sabia. Eu podia tentar dar uma lição de moral em Henry sobre como devemos valorizar a família que ainda nos resta enquanto eles ainda estão aqui, mas eu não estava mesmo no clima e os problemas dele com o pai não eram da minha conta. Então, apenas dei um tapinha solidário no ombro dele.

— Diga ao Darien que vou passar no dormitório dele mais, tarde. Obrigada, Henry.

Me virei para ir embora novamente. O ar fora da sala de treinamento era muito mais fresco, porém mais abafado. Passei pelo campo que circundava a área de treinos até chegar ao pavilhão comunitário cheio de pessoas, sem prestar muita atenção no que acontecia à minha volta.

— Cara — fui interceptado por Francis. — Me desculpa, tá legal?

Olhei para ele. Sua roupa já estava limpa, ele já tinha trocado o uniforme; o cabelo loiro despenteado, porem, ainda denunciava que ele havia acabado de passar por horas de luta. Aquela expressão irritante de preocupação e pena estava em seus olhos, a expressão que acompanhava todo mundo que olhava para mim na ultima semana.

 — Tanto faz — respondi.

Continuei andando, tentando ignorar Francis, que passou a me seguir. Passei pelo pavilhão, pelo pátio e pelo jardim até finalmente chegar ao meu dormitório. Eu não sei se dormitório era a palavra certa, levando em conta que o lugar tinha quatro cômodos e mais o banheiro. Estavam mais para abrigos. Abri a porta do meu quarto, joguei o escudo sobre a minha cama e cai ao lado dele. Finalmente olhei para Francis, parado no batente da porta, com os braços cruzados e os olhos fixos em mim.

— Por que está me seguindo? — perguntei e ele.

— Eu moro aqui também, se você se esqueceu.

Para reforçar o argumento, ele se jogou na cama do outro lado do quarto, que pertencia a ele. Geralmente eu gostava do fato de Francis morar conosco, mas nessa última semana eu tinha desejado muito que ele sumisse.

— Mora no dormitório, e não na minha sombra. — suspirei. — Para onde eu vou, um de vocês me segue.

— Só estamos preocupados com você, cara.

Revirei os olhos e me sentei na cama. Eu não precisava que ninguém pegasse leve comigo ou se distraísse no treinamento só porque minha mãe tinha nos deixado. Francis ainda estava em sua postura desleixada escorado na parede da cama. Com raiva, chutei o cobertor que tinha caído no chão.

— Não precisam se preocupar, tá legal? Minha mãe morreu, e daí?! A sua também! E a do Howie, e a da Torunn, e a do Darien, a da Starr, e a dos gêmeos...

— Você sabe que não é a mesma coisa.

— É a mesma coisa.

— Não é. Com a tia Nat é diferente — ele disse, finalmente saindo de sua posição e vindo em minha direção. — Perdemos nossas mães há anos e ela cuidou de todos nós. Cuidou de mim. E agora ela morreu, recentemente, e você fica aí bancando o filho que não se importa.

Meu amigo estava para explodir, eu sabia. Ele sempre teve uma personalidade muito forte, muito expressiva. Ele não era o tipo de pessoa que guardava as coisas e remoía dentro de si, ele fazia mais o tipo que quebrava vasos na parede até se acalmar. Eu, por outro lado, cresci aprendendo a ter foco, ainda que por dentro estivesse devastado.

— Acha que eu não me importo que minha mãe tenha morrido? — debochei. Francis andava de um lado para o outro, denunciando a sua frustração. — Acha que não sinto a falta dela todas as noites, desde que ela saiu pra essa missão idiota? Eu sinto, Francis! Ela era quem nos mantinha de pé. Só que ficar chorando e me lamentando não vai trazer ela de volta. E agora eu tenho Sara para cuidar, e uma equipe para liderar. Minha mãe era forte, era focada, era imparável. E agora eu só quero honrar a memória dela e fazer tudo da maneira que eu sei que ela ficaria orgulhosa de mim.

Surpreendentemente, Francis me abraçou. Ele não chorou, assim como eu, mas retribui o abraço. Eu sabia que ele estava abalado e precisava jogar um pouco de sua frustração fora também. Eu aliviava a dor batendo nas coisas, e Francis xingando os outros. E eu sabia que ele sentiria tanto a falta da minha mãe quanto eu e Sara. Ela o tinha praticamente adotado quando os pais do Francis morreram, alegando que tio Clint teria feito o mesmo comigo se fosse o contrário. Desde os oito anos de idade, eu e Francis vivíamos como irmãos.

— Me desculpa, cara. É que a tia Nat, sabe, ela... — ele não encontrou as palavras certas, então desistiu. — Você já falou com a Sara?

Sara, minha irmãzinha caçula e inocente que a essa hora devia estar saindo da escola. Como é que eu ia falar isso pra Sara? Fiquei com a responsabilidade de explicar a uma criança de seis anos que agora ela era órfã. Valeu mesmo, mãe.

— Não, não falei com a...

— Jay! Jay! Jay! Jay! Jay! Jaaaaaaaaaaay!

— ...Sara.

Antes que eu pudesse terminar a frase, um furacãozinho de cabelos loiros passou correndo pelo quarto direto para os meus braços. Eu a abracei protetoramente. Ela era inacreditavelmente amorosa demais sendo filha de Natasha Romanoff. Minha mãe dizia que ela puxou isso inteiramente do meu pai, mesmo que ela não o tenha conhecido. Agora, ela era tudo o que me restava, e eu faria de tudo para mantê-la segura.

— Hey, princesa. Como foi a aula? — perguntei.

Ela pulou dos meus braços e começou a quicar.

— James, eu aprendi a fazer O GIRO! — ela guinchou. Ela sempre falava assim quando estava animada ou muito feliz, gritava as ultimas palavras da frase na voz mais fina e doída possível.

— Aprendeu? — fingi entusiasmo, para deixa-la feliz. — Então me mostra que eu quero ver!

— Olha, olha, OLHA!

Ele se afastou alguns passos de mim, ficou na posição e girou o que suspeitei ser um movimento perfeito. Ela tinha muita coordenação e equilíbrio, herança genética do soro dos nossos pais que também corria em nossas veias. Quando terminou, ela sorriu de orelha a orelha e eu aplaudi.

— Você é a melhor bailarina que eu já vi na vida, Sara! — elogiei, como se eu tivesse conhecido muitas na vida. — Parabéns!

— Cassie vai levar a gente para tomar sorvete! — ela exclamou, empolgada. — Vim deixar a mochila. E pegar vales!

Ela abriu um sorriso culpado e eu sabia que ela queria os meus vales, porque já tinha gastado os seus há muito tempo. Todos os habitantes de Interis recebiam um número de vales por mês, para diferentes itens, que usávamos para trocar por comida, roupas e tudo o mais que precisássemos. Não precisávamos pagar por eles, mas cada habitante recebia um numero igual de vales para que pudéssemos ter controle dos estoques e das necessidades de cada um. Um vale de roupa, por exemplo, não poderia ser usado para comida. Um vale de sorvete não poderia ser usado para uma pizza. Dessa forma, sabíamos todos os recursos seriam usados sabiamente.

Me levantei e fui até a sala pegar um vale de sorvete para Sara no pote. Ele me seguiu, pulando animadamente à minha volta. Me abaixei na frente dela.

— Chuta — instrui. Coloquei meu braço em frente ao peito, em posição de defesa.

— Jaaay, agora não! — reclamou.

— Agora sim — toquei a ponta de seu nariz com o dedo. — Se não chutar, não ganha os vales.

Ela suspirou demonstrado sua frustração, mas se colocou na posição de ataque inicial. Seu chute veio rápido e preciso, no ângulo certo como eu havia ensinado. O impacto teve força suficiente para empurrar meu corpo para trás. E doeu. Ótimo.

Sara e eu não tínhamos herdado só a agilidade e a resistência que o soro dos nossos pais deixou em nossa genética, tínhamos a força também. Meus pais tinham me ensinado a lutar desde pequeno e, depois que Sara nasceu, eu e minha mãe tentávamos ensinar a ela o máximo possível para sua pouca idade, sem poupá-la da sua infância. Se algo acontecesse, ela não podia ficar indefesa.

— Mas que menina mais forte! — sorri e entregue os vales na mão dela. Ela pegou e já se virou para sair, mas eu a segurei pela mão. — Quando você voltar, precisamos conversar, tudo bem? — perguntei.

Ela assentiu com a cabeça, dando pouca importância para o que eu disse. Ah, como eu queria ser criança agora, totalmente inerte para os problemas que nos cercavam, focada na sua única grande ambição de tomar sorvete. Eu queria que fossemos irmãos normais, como tantos que vejo por ai. Que se provocam, que se irritam, que brigam. Quando minha mãe ficou grávida, eu até fiquei com ciúmes no inicio, mas, além disso nós nunca tivemos a chance de sermos normais. Sara tinha nascido no auge da guerra contra Thanos, e com a perda recente do meu pai, minha mãe tomou como prioridade nos proteger, e eu tomei como prioridade proteger as duas. Antes de morrer, meu pai tinha me feito prometer que cuidaria delas se algo acontecesse com ele. E aconteceu, e desde então eu nunca consegui ver Sara como a irmã caçula chata, mas como um tesouro que precisava ser cuidado e protegido de tudo o que nos aguardava lá fora.

Dei um beijo na testa dela e a deixei ir, observando-a correr porta afora até Cassie e Andy Lang. Cassie acenou para mim através da porta aberta e eu acenei de volta. Eu tinha que me lembrar de agradecer Cassie mais tarde, por entreter as meninas. Ela estava na mesma situação que eu: sua mãe dada como morta e uma irmã pequena para cuidar. Talvez eu pudesse conversar com ela mais tarde, seria bom falar com alguém que entende. Quando voltei para o quarto, Francis estava empoleirado na minha cama, com as mãos sorrateiras quase tocando no meu escudo.

— Pode ir tirando as mãos dai!

— Desculpe, desculpe — ele levantou as duas mãos para o alto, rindo. — Um dia vou usá-lo, você sabe.

— Nos seus sonhos, talvez — eu ri. — Agora, a menos que queira me ver pelado, sugiro que saia do quarto porque vou me trocar.

Isso foi o bastante para fazê-lo desaparecer porta afora.

Mais tarde, de banho tomado e barriga cheia, achei que era a hora de eu procurar saber como Darien estava. Mais uma vez eu tive que atravessar o campus, porque os dormitórios ficavam afastados das zonas de treinamento. Interis era como uma cidade pequena, com uma baixa população, mas muito bem organizada. Tínhamos parques, escolas, todos os habitantes tinham uma atividade a desempenhar, como se fossem empregos, mesmo que não houvesse dinheiro. Ali tínhamos agentes da Shield, heróis e humanos civis comuns, misturados; crianças tinham nascido e crescido ali, famílias formadas, amigos, uma vida. A Shield administrava e os heróis treinavam para a proteção dos civis que eram os últimos sobreviventes da terra. Cada família tinha sua casa, todas pequenas, chamadas de abrigo ou dormitório, e depois de seis anos ali todos tínhamos aprendido a conviver como em uma boa sociedade. Minha mãe tinha dado muito duro com a Shield para que o projeto desse certo e Interis era o lar que ela tinha construído para nós.

Cheguei à base de operadores da Shield, também chamada de Sede de Interis, onde ficavam a base de operações, os laboratórios, onde se tomavam as grandes decisões e tudo o mais. Darien provavelmente estava na ala de simulações, o local mais seguro para treinar o que ele precisava. Ao entrar na base, dei de cara com Maria, que estava com o rosto enfiado em alguns papéis.

— Bom dia, diretora — saudei.

— James! — ela exclamou. — Que bom que apareceu.

— Quero ver Darien — declarei.

Ela assentiu.

— Imaginei. Venha comigo.

Seguimos por um corredor estreito até chegar a uma das salas de simulação, onde Darien se encontrava no meio do cômodo, com as mãos esticadas na frente do corpo, abrindo e fechando círculos de energia. Sua testa estava toda suada e suas pernas tremiam, mas seu rosto possuía uma concentração que nunca vi antes. Stephen estava próximo a ele, observando o filho com preocupação. Nós ficamos na porta, observando e esperando.

Darien sustentou a energia por mais alguns minutos, e então circulo de luz alaranjada brilhou mais forte e se apagou, de repente. Ele cambaleou para trás, mas parou de pé.

— Você está bem, Darien? — perguntei. Ele parecia exausto.

— Estou, estou — ele respondeu entre arfadas. — Consigo manter o portal aberto por tempo suficiente. Vai dar certo.

— Strange? — Maria questionou, olhando para Stephen, que provavelmente sabia mais sobre as condições do filho do que ele mesmo.

— Ele tem ido muito bem. Os portais estão mais fortes e mais consistentes, e ele tem resistido muito bem à sobrecarga de energia. Claro que estamos treinando com portais de espaço, não de tempo, mas acredito que os poderes dele combinados ao da joia, vão deixá-lo ainda mais forte.

— Então, ele está pronto?

Pai e filho se olharam, e Darien assentiu.

— Sim, ele está — Stephen deu o veredito.

Maria os encarou por um tempo, parecendo ter dificuldades em tomar a decisão. Com minha mãe e May longe, ela era a única a decidir tudo por ali. Maria era durona, mas a responsabilidade por todos nós a assustava um pouco.

— Então estejam prontos, amanhã pela tarde vamos abrir o portal — ela informou. Darien concordou, e ela se virou para mim. — James, prepare a equipe. Quero todos uniformizados e pronto para um combate caso algo dê errado e não seja Wanda a sair desse portal.

Arregalei meus olhos, surpreso. Toda a equipe? Howard, Torunn, Francis, Henry, Caty, Starr, Cassie e Georgia? Juntos para algo que não era só um treinamento? A equipe ia gostar daquilo, com certeza. Eu, porém, tinha minhas inseguranças. Ainda estávamos despreparados, eu pensei que teria mais de um mês para treiná-los, e não só um semana! A infinidade de coisas que podiam dar errado durante a abertura do portal eram imensas. Ela não podia liberar a abertura, não ainda. Antes que eu pudesse seque concordar, porem, Hill já tinha virado as costas e saído.

— Diretora, espere! — corri atrás dela.

Alcancei-a já no saguão de entrada. Ela se virou para mim e eu parei, com as mãos ao lado do corpo.

— O que foi, James?

— Eu gostaria de solicitar mais tempo, Diretora. A equipe não está pronta.

Ela revirou os olhos, saindo da pose séria.

— Quando era criança, você me chamava de tia, sabia? — Deixei um sorriso escapar no canto dos meus lábios. Em uma época bem distante, onde eu era uma criança e Maria era apenas a amiga dos meus pais que nos visitava, eu a chamava de tia Maria. Antes da guerra, antes das mortes, e antes de ela virar minha superior. — Você já falou com a Sara?

Solei um suspiro, resignado.

— Por que está todo mundo me perguntando isso? Não, ainda não falei!

— Então fale — ela decretou, voltando a atenção para a prancheta.

— Você acha que o Darien vai errar, não acha? — questionei, chamando a atenção dela novamente. — Acha que ele vai trazer uma ameaça ao invés da mãe dele de volta.

— Eu já vi o que as joias do infinito podem fazer com alguém, quando tentam manipulá-las. Strange está contando com o fato de a joia somar poder a Darien, mas e se ela não o fizer? Ele é só uma criança — ela suspirou.

Fechei a cara. Eu não gostava quando chamavam ninguém da minha equipe de criança. Tínhamos pouca idade, sim, mas já éramos mais maduros e tínhamos mais experiência do que muitos adultos de Interis.

— Não somos crianças — murmurei. — Você formou a equipe por um motivo. Não nos chame assim.

— Vocês sempre serão crianças para mim, criança — ela abriu um leve sorriso, e apoiou a mão no meu ombro. — A sua mãe ia chutar a minha bunda se soubesse que estou te colocando na linha de frente do perigo.

Eu concordei, sorrindo melancolicamente. Hill e minha mãe tinham sido grandes amigas, e, embora ela nunca tivesse sido muito maternal ou carinhosa, ela sempre esteve por perto para ajudar no que precisasse. Maria Hill não tinha jeito com crianças, mas se importava, e isso é o que conta.

— Prefiro imaginar que ela ficaria orgulhosa de mim — respondi.

— Ela estaria, sim.

Ela soltou meu ombro e continuou andando, mas corri atrás dela novamente.

— Não, espere — chamei. Ela se virou. — Maria, eu... Não acho que estamos prontos. Quero dizer, somos uma boa equipe, mas todos ainda estão muito dispersos. Se algo der realmente errado, como você acha que vai acontecer... Eu não quero perder nenhum dos meus amigos. E nem quero colocá-los em risco porque eu não soube como liderar.

Hill colocou sua prancheta em cima do balcão ao nosso lado, e tirou algo do bolso do seu uniforme. Fiquei com medo de que ela fosse atirar em mim ou algo assim, mas ela apenas me estendeu um pedaço de papel. Peguei-o das mãos dela, trêmulo, e meus olhos se encheram de lágrimas. Era uma figurinha retratando o meu pai. Lá estava ele, pousando para a foto, provavelmente lá pela época da segunda guerra mundial levando em conta o quão velho aquilo parecia. Seu uniforme com as cores da bandeira brilhavam e, em suas mãos, o escudo que agora era meu. Em baixo, com letras enfeitadas, o título: Capitão América.

— Você tem a força da sua mãe, James, mas o coração do seu pai. E essa é uma combinação incrível — disse Maria, enquanto eu ainda encarava a figurinha. — Seus pais lutaram contra o inferno para te proteger, você é o bem mais precioso que eles tinham. E, se estou pedindo que assuma a linha de frente, é porque eu sei que você será ótimo. Confio em você, Rogers, e confio na equipe que coloquei em suas mãos. Agora, você só precisa confiar em si mesmo e sei que será um grande líder, como seu pai foi.

Concordei com a cabeça, deixando as lagrimas escorrerem sem vergonha. Eu sentia uma falta terrível dele, e do modo como sempre me sentia seguro perto dele, como se nada no mundo pudesse me ferir. Eu tinha muito orgulho de ser filho de Steve Rogers, mas muito medo de não ser o que ele esperava que eu fosse. Eu sabia que, se fosse ele, não hesitaria em cumprir a missão.

— Vou preparar a equipe — declarei. Ela assentiu, satisfeita. — Obrigada... Tia Maria.

Ela fez uma careta e eu ri.

— Ownt, como vocês são fofos — uma voz debochada e inconfundível soou atrás de nós. Georgia estava parada, encostada no batente, com os braços cruzados e os cabelos negros voando conforme o vento que vinha de fora batia nela. A julgar pela jaqueta de couro e a bota preta, ela não tinha acordado de bom humor. — Oi, James.

— Georgia.

— Georgia — Maria não parecia satisfeita em ver a menina ali. — Você não deveria estar no seu quarto, garota?

Georgia revirou os olhos.

— Você não é a minha mãe, sabia?

— E você não é a minha filha, mas ainda assim tenho que te aturar — Maria rebateu. As duas se implicavam desde sempre, mas no fundo se amavam. Se tinha alguém que sabia lidar com a personalidade da garota, esse alguém era Maria. Ela sabia lidar com todo mundo, na verdade. — Não tem permissão para estar aqui.

— Isso é muito engraçado ao julgar pelo fato de que eu moro aqui.

Georgia morava na base, com May, que tinha basicamente criado ela desde que sua mãe morreu, mas eles restringiam muito sua liberdade ali dentro. Georgia Johnson era do tipo que não pedia permissão para fazer o que queria, e isso deixava Maria e May de cabelo em pé na maioria das vezes. Foi por conta da sua instabilidade e impulsividade que ela não teve permissão para entrar na equipe por muito tempo. E porque May era um pouquinho superprotetora com ela, também. Somente recentemente ela tinha começado a se juntar a nós nos treinos.

— Você entendeu o que eu quis dizer! — Maria exclamou. — Agora saiam daqui, andem, os dois. Chispem.

Uma vez enxotado da base, fui caminhando a passos lentos de volta ao centro de Interis, para procurar a minha irmã. Ao contrário do que ela costumava fazer, se isolar das pessoas, Georgia foi seguindo ao meu lado, com as mãos nos bolsos da jaqueta e a cara fechada.

— Não vai demorar para abrirem esse portal idiota, não é?

Olhei para ela. Ela não parecia feliz com a constatação. Preferi nem tocar no assunto sobre a falta dela ao treino do dia.

— Vai acontecer amanhã. Maria me mandou reunir a equipe.

— Ótimo — bufou.

Ela chutava pedrinhas que apareciam em seu caminho. Com os olhos, tentei procurar Sara conforme chegávamos aos derredores de um dos parques principais da cidade. Ela gostava de balanços, mas não estava neles. Pelo canto de olho, voltei a olhar para Georgia.

— Você não quer que abram o portal — afirmei. Conhecia aquela morena teimosa desde sempre, ela era um ano mais velha do que eu, mas tínhamos crescido juntos. — Por quê?

— James, eu... — ela bufou, claramente contrariada. — Isso seria como perder a esperança. Você deve entender. Minha mãe e sua mãe, elas estão lá fora e a Maria está simplesmente desistindo delas!

Georgia Johnson nunca chamava May de mãe. Quando acontecia, era por um deslize, quando ela estava nervosa, o que me indicou que ela não estava bem. Timidamente, tombei para o lado e bati meu ombro no dela. Nosso sinal universal de “hey, eu estou aqui”. O canto do lábio dela se levantou em um meio sorriso, e ela bateu no meu ombro de volta.

— Maria não está desistindo delas. Elas se foram, Gie. Minha mãe nunca ficaria tanto tempo longe se estivesse viva — falei, ainda que a verdade me doesse também.

Georgia me bateu no peito, totalmente irritada.

— Elas estão vivas, James. Eu sei — ela insistiu. Georgia era a teimosia em pessoa, não ia adiantar discutir.

— Ainda que eles estejam vivas, baixinha, o portal ainda é um bom plano. Melhor do que ficar arriscando agentes em missões suicidas.

Ela me deu um soco no braço. Eu a soquei de volta. Nunca tive medo dela. Georgia tinha pose de malvada, mas era uma boa amiga por baixo de toda a agressividade e rebeldia. Mas ela só mostrava esse lado a poucas pessoas. Eu tinha a sorte de ser uma delas de vez em quando. E, Deus, como eu amava irritá-la.

— Eu não sou baixinha. Sou mais velha do que você!

— Mas continua sendo mais baixa, baixinha — baguncei o cabelo dela, sabendo que aquilo a deixava furiosa.

— Argh, pare de bancar o durão, você também! — ela reclamou. — Eu te conheço melhor do que você mesmo, James Rogers. Sei que não está bem. Devia chutar alguma coisa também.

— Eu não tô feliz, mas deixar as minhas emoções saírem de controle não ia ajudar em nada agora.

— Você não nega o sangue que tem, seu racional de uma figa. Uma vez filho da Viúva Negra, sempre filho da Viúva Negra, não é?

— Como se você pudesse falar alguma coisa, senhorita impulsiva — passei meu braço ao redor de seus ombros. — Sua mãe era tão impulsiva quanto você. Uma vez filha da Tremor, sempre filha da Tremor.

Andamos em silêncio por algum tempo, ambos pensando sobre nossos pais e o legado que eles nos deixaram, enquanto tentava avistar minha irmã. Ser filho do Capitão América e da Viúva Negra não era qualquer coisa, desde criança, ainda quando vivíamos na Terra, eu nunca fui visto como um criança normal, sempre esperaram mais de mim do que eu podia dar. A mãe da Georgia, Skye ou Dayse Johnson, tinha morrido em um missão de resgate a quatro anos atrás, quando ela tinha onze anos, mas o nome dela e tudo o que ela tinha feito como heroína permanecia na imagem da filha. Cada um de nós, filhos dos maiores heróis da terra, tínhamos uma responsabilidade que nos foi dada antes mesmo que tivéssemos condições de recebê-la. E nenhum de nós tinha uma história feliz, mas não nos focávamos no vitimismo. Aprendemos a nos unir e a crescer juntos, éramos uma família e protegíamos uns aos outros.

Por isso, quando May proibiu Georgia de se juntar à nova equipe, ela me pediu ajuda. Já treinávamos escondidos deles por anos, mesmo antes de eu saber que teríamos uma equipe. Eu passava para ela sempre que a minha mãe me ensinava algo novo. E então, eles nos juntaram e estávamos sendo treinados para sermos a nova linha de frente na proteção do que sobrou da sociedade. Os Novos Vingadores. Ao ponto em que estávamos na guerra, já quase não sobraram heróis da primeira geração, apenas alguns poucos heróis e mutantes, os agentes da Shield e o Dr. Strange. Hoje, Georgia estava provavelmente mais bem preparada do que um agente da Shield de nível 4 ou 3, talvez, mas ainda assim May não a queria na equipe. Ela alegava que Georgia era instável demais, mas sabíamos que o que ela queria mesmo era cumprir a promessa que tinha feito para a mãe da garota, que a queria longe dos perigos de uma batalha, aquela velha superprotetora.

— Onde raios Cassie se enfiou com a minha irmã? — reclamei, depois de ter rodados todos os parques próximos de casa e não ter visto nem sinal delas.

— Você não devia dizer a Sara que sua mãe morreu, quando não se tem certeza disso. Ela é só uma criança — Gie comentou.

— O que eu não posso é esconder isso dela e deixar ela esperando nossa mãe voltar, quando ela não vai.

— Você não sabe disso — ela me olhou, e eu pude jurar ter visto uma faísca em seus olhos esverdeados. — Eu preciso ir.

Sem mais, ela sumiu no meio das pessoas, na mesma direção de onde viemos. Provavelmente voltaria para a reclusão do seu quarto. Continuei a minha busca por Sara, sem me abalar pelo que ela tinha dito. Eu não podia deixar a faísca de esperança crescer. Minha mãe teria movidos céus e terra antes de nos deixar sozinhos aqui, se estivesse viva.

Continuei procurando por Sara pelo restante da tarde, sem sucesso. Ela não estava em nenhum dos parques, ou nas sorveterias, e nem no abrigo dos Lang. Eu já estava ficando preocupado quando a avistei, no último lugar que eu gostaria que ela estivesse naquele momento.

O Memorial dos Heróis.

Cassie me viu, de longe, e acenou. Ela estava em pé há alguns passos longe de Sara, com Andy à sua frente presa em seus braços. Já Sara estava na frente da estátua de mármore, com a mãozinha pousada no pé direito do nosso pai. O Memorial dos Heróis era uma grande área aberta situada nos limites do centro da cidade, com esculturas espalhas por ela, esculpidas em homenagem aos heróis que tinham caído durante a guerra, desde o inicio até hoje. Em alguns meses, provavelmente, minha mãe também teria sua imagem ali. Os Vingadores originais ficavam no centro, em uma pose heroica e imortal, com uma placa embaixo falando sobre eles.

Em frente a onde Sara estava, se lia:

 

Capitão América.

1920 – 2033

Grande herói, marido, pai e amigo. Seus feitos estarão sempre marcados em nosso coração.

 

— Por que a trouxe aqui? — perguntei a Cassie.

— Ela me pediu. Desculpe, James.

— Não tem problema. Eu cuido dela agora, obrigada — me despedi de Cassie e ela partiu com Andy, me deixando sozinha com minha irmã. Me aproximei dela devagar e me agachei — Hey, pequena.

Ela me olhou. Seus olhinhos azuis estavam brilhando um pouco, mas nenhuma lagrima realmente tinha caído. Forte, como todos os Rogers. Estiquei os braços em direção a ela e ela se aninhou ali, na curva do meu pescoço, suspirando.

— Queria ter conhecido o papai — ela resmungou.

— Ele também queria muito ter te conhecido. Quando você estava na barriga da mamãe, ele te chamava de 'minha guerreira' — contei.

— Eu sei — ela se desvencilhou do abraço, e voltou a olhar para a estatua. — Mamãe disse que era porque eu chutava ele muito.

— É verdade, sempre que ele chegava perto, você começava a chutar lá dentro — ri, feliz com a lembrança. Estávamos vivendo o inferno quando minha mãe estava gravida da Sara, mas meu pai ainda conseguia separar bons momentos com a gente.

— Ele parece comigo — ela comentou.

— Você é quem parece com ele — corrigi. De fato, Sara era a copia fiel do nosso pai. Cabelo, olhos, boca, queixo, personalidade. Tudinho.

— James? — ela chamou. — Quando a mamãe vai voltar? Estou com saudades dela.

Engoli em seco, buscando as palavras certas. Eu pretendia fazer aquilo em casa, com Sara dentro do quarto dela, de banho tomado e a cabeça limpa de problemas. Não na frente da estatua do nosso pai morto. Olhei para o céu, pedindo ajuda.

— Sara vem cá — peguei ela no colo e fomos até um banco próximo dali, onde sentei-a no meu colo, virada para mim. — Eu não sei se a mamãe vai voltar.

Ela fez um bico e franziu a sobrancelha, confusa.

— Ela prometeu que ia voltar. Ela não descumpre promessas.

— Já faz muito tempo que ela saiu na missão, pequena. Talvez... Talvez a mamãe tenha ido ficar com o papai.

Ela levou um segundo para assimilar o que eu disse, e depois cruzou os braços e fez cara de brava.

— Ela não morreu.

Suspirei. Como pude achar que palavras bonitas iam amenizar aquilo? Sara era inteligente demais para uma criança de seis anos apenas. Obrigada novamente, supersoro.

— Não foi confirmado, mas a Maria acha que sim. A missão em que ela foi era muito perigosa. Desculpe, Sara. Acho que a mamãe não vai mais voltar, mas eu sempre vou estar aqui para você.

Ela pulou do meu colo, sem nenhum vestígio de tristeza ou choro na expressão. Só indignação.

— Você não tá confiando nela. Mamãe sempre disse que a gente tinha que confiar nela.

— Sara...

— Ela não morreu, tá? Ela vai voltar. Você vai ver.

Ela saiu marchando na minha frente, e eu não tive alternativa a não sei segui-la. Voltamos para casa e eu ainda estava receoso com a reação dela. Um dia, aquela negação ia acabar, e eu é quem teria que ampará-la. Mas, por ora, eu estava feliz por ela ter essa força dentro dela. 

Ela tinha, sim, algo da minha mãe nela, afinal.


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Notas finais do capítulo

Deu pra entender ou ficou muito confuso? Espero que tenha dado pra sacar quem são os pais de todo mundo que foi apresentado aqui. Quem assistiu Next Avengers já conhece mais da metade, e os que eu inventei tem suaves dicas de quem são seus pais. Qualquer dúvida, podem perguntar nos comentários e eu respondo.
Aliás, me digam nos comentários quem vocês sacaram que é filho de quem, quero ver se acertam!

Eu tenho os atores para todos os outros, fora o James, também. Pretendo ir postando aos poucos, mas se quiserem é só pedir.

Aguardo vocês nos reviews, ansiosa pra saber o que acharam da loucura que se passa na minha mente ♥♥