Amor Perfeito XIII - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 8
Possível Namoro


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Acordei e Fabiana estava acabando de se arrumar. Ela tinha aula nessa manhã, eu acho. Não sabia nem o meu horário, quanto mais o dela. Combinamos de nos encontrarmos no refeitório para almoçarmos juntos. Assim que ela saiu e fechou a porta meu celular vibrou. Era mensagem de Otávia, dizendo que Kevin e Alice estavam próximos demais. Ela previa um futuro namoro. Fechei meus olhos com força e continuei deitado. Minha respiração estava mais ofegante do que umas vinte horas atrás, quando eu estava transando com Fabiana. Percebi que eu não podia ficar sozinho. Quando não estou sozinho consigo segurar qualquer barra numa boa, como se tivesse pouco me fodendo. Sozinho, tudo vinha de uma vez. A cabeça girando, a garganta fechada, meu corpo todo quente, os olhos doíam bem no fundo. Acho que era vontade de chorar. 

Meu estômago estava fundo, fundo mesmo, parecia que eu tinha tomado um soco. Me encolhi e abracei meu próprio joelho pra ver se passava. Comecei a chorar. Não estava ligando de chorar mesmo. A gente cresce com essa de não poder chorar nunca. Desde quando é criancinha a gente nem sabe resolver as coisas se não for chorando, e os caras já começam a te cobrar que você é homem, e você não chora. Você acaba até criando uma resistência. Eu me lembro de todas às vezes em que eu chorei na vida. Foram poucas. Raras. Mas saber que Alice iria ser de Kevin era motivo suficiente. Não conseguia me imaginar perto dos dois. Podia ficar lá naquele cidade para o resto da vida. Existe mesmo esse negócio de chorar até desidratar. Fiquei lá por umas horas, com certeza. Até abrirem a porta.

— Arthur... – era Rafael, ele veio até a mim certamente assustado por me ver naquele estado. Não respondi nada. Tentei engolir o choro para que ele não percebesse, mas era em vão, meus olhos já estavam inchados demais. Enxuguei o rosto correndo, ainda não conseguia me levantar. – Você não apareceu para almoçar com Fabiana, ela pediu pra eu vim ver se estava tudo bem... Ela me deu até a chave dela... – ele estava nervoso, quase gaguejando. Devia ser difícil ver alguém que você não tem tanto intimidade se decompondo como eu estava. Ele se sentou em minha cama, perto da minha barriga. – Se você fosse meu melhor amigo, eu ia tentar te levantar, provavelmente com um chute nas costas, te dizendo pra virar homem. Mas não somos né? E apesar de você ser o mais próximo que tenho de um amigo aqui, sinto que devo respeitar seu momento, seja pelo que for que esteja mal. – ele disse sem olhar para mim e a gente não trocou nenhuma palavra, e nem precisava. Nós dois concordávamos que eu apenas precisava de tempo.

Acabei adormecendo. Quando acordei ainda estava no mesmo lugar, do mesmo jeito, mas Fael não estava mais lá. Fiquei deitado por mais um tempo, tentando imaginar que aquilo tudo tivesse sido um sonho daqueles bens ruins. Mas não. Meu rosto ainda estava molhado, minha cabeça doía. Alícia e Otávia foderam com a minha vida. As duas. De uma só vez.

Levantei disposto a apagar aquilo tudo, fingir que nada aconteceu e só mandar Alícia tomar no cu quando ele aparecesse. Provavelmente não ia aparecer tão cedo, então foda-se. Acho que finalmente eu devia aceitar que nunca teria Alice, e tudo ia ficar bem. Queria poder correr para o colo da dona Luna. Mãe é mãe. 

Enquanto me espreguiçava e sentia cada osso do meu corpo doendo pra caralho, vi um papel em cima da minha cama. Peguei o papel na mão, era um bilhete.

“Arthur, 
Quando estiver lendo esse bilhete, provavelmente eu estarei dormindo ou estudando na biblioteca da universidade. Não te acordei, mas estou preocupada, Rafael disse que você não estava bem. Seja o que for, você tem uma vida na sua cidade, então pensa nas coisas boas que tem lá. 
Te adoro,
Biana.”

Porra, pensar nas coisas boas que tem lá? Eu tenho um meio irmão filho da puta que quer a garota que eu amo e ele faz de tudo para destruir minha vida, só isso. Aqui também não está nada bom, tenho uma mentirosa do caralho atriz de proibidão que investiga minha vida e diz que não quero ser igual ao meu pai. Uma quase ex que me manda mensagem bêbada todo fim de semana e um quase amigo que é mais bipolar que eu e VAI TOMAR NO CU! Dei um soco na parede. Depois sentei na cama e fiquei tentando entender as coisas. O que eu ia fazer para esquecer Alice? Qual seria o plano mirabolante de Kevin? Que horas eram? Estava na hora da aula? Há quanto tempo eu não ia pra porra da faculdade?

Pensei em voltar para a casa. Por mais que Alice não entendesse o que eu sentia e que eu tivesse que continuar tentando esquecer, pelo menos eu estaria perto. Impediria aquele idiota de fazer alguma coisa com ela. Por mais que desconfiasse do sentimento de Kevin por Alice, era bem claro que o ódio dele por mim era maior. Isso não era uma tentativa dele conquista-la, era uma espécie de jogo psicológico comigo. Ele queria me atingir acima de qualquer coisa.

Minha vó ainda tinha a coragem de dizer que ele era um bom garoto. Minha vó Isadora era mesmo uma figura engraçada. Queria ter uma daquelas vovózinhas que fazem bolo pra gente, tipo a vó do Alê. Elas usam roupas de vovó e fazem meias de tricô. Minha vó usava roupas de marca e perfume importado. Estava me sentindo um viado tendo aqueles pensamentos. Eu estava precisando sair de onde eu estava, mandar um foda-se antes que eu ficasse louco. Coloquei uma roupa e fui para a faculdade.

Esqueci meu celular no quarto. Perguntei pra um cara na rua que horas eram, mas ele me ignorou. Eu devia tá com uma aparência péssima. Lembrei que era sexta-feira, mas aquilo não me deu ânimo algum. Já estava anoitecendo e se eu corresse dava tempo de pegar aulas da noite. Entrei na sala, e todo mundo parou de fazer o que estava fazendo pra olhar pra minha cara. Queria muito um espelho naquela hora. E um remédio pra dor de cabeça. Sentei no mesmo lugar de sempre. Encostei a cabeça na parede e fiquei ouvindo o professor falar qualquer coisa. Rafael fez sinal para sairmos da sala.

— Cara... – não sabia nem o que falar.

— Não precisa me contar. – ele me interrompeu.

Fiquei ali olhando pra cara dele. O Rafael era meu amigo desde que cheguei naquele lugar. E desde então estávamos sempre juntos. Todo cara sempre tem um amigo assim, ou pelo menos precisa ter. Não sabia o que dizer, mas nem precisava. A gente era brother pra poder ficar em silêncio um olhando pra cara do outro. Eu apertei os olhos e botei a mão na cabeça, estava doendo mesmo. Senti que ele iria me dar um abraço, desses bem rápidos, só pra dizer que estava ali. Eu estava esgotado. Acabei contando toda a história de Alice para ele e do quanto corria risco de eu voltar e vê-la namorando o meu meio irmão. Contei também sobre o meu pai, no quanto Alícia me fez reviver a minha aversão a ele.

Rafael ficou dizendo que eu tinha que quebrar o Kevin no meio e fazê-lo nunca mais olhar para a minha princesa dos olhos amarelos, coisas de Fael. Mas fiquei surpreso quando ele disse que iria para Torres comigo quando eu fosse, para que eu não segurasse essa barra sozinho. Confesso que me senti um pouco melhor depois daquela conversa. Nada tinha acontecido, nem mudado, mas eu estava enxergando as coisas de outro jeito depois de falar com ele.

Quando já havíamos acabado de conversar vimos uma gostosa passando e olhamos para a bunda dela. Ela se abaixou para tomar água no bebedouro que nem era tão baixo assim. Fazia para provocar mesmo. Puta que pariu. Queria olhar pra cara dele pra ver se ele estava de boca aberta, mas aí percebi que eu mesmo estava. Fechei antes que ela voltasse. Ela entrou de volta para uma das salas. 

— Tá vendo Arthur? Isso é que vida! – acabamos rindo. Pior que era mesmo uma boa vida, pelo menos naquela hora. E aí ele ficou contando da garota que ele pegou depois de fugir da amiga das meninas no bar.

— Tu sabe que aquela amiga das meninas tá muito afim de você né?

— Quem liga? Não sei como uma garota chatinha daquelas anda com a Fabiana, ela é tão interessante, é tipo...

— Nós transamos.

— Ela não parece ser dessas minas que ficam no pé da gente. Ela é diferente e... Que foi que você falou?

— Eu e a Fabiana. Transamos.

Voltamos para a sala e ficamos o resto da última aula rindo pra caralho. Ninguém imaginava uma porra daquelas. Não quis olhar para a Alícia pra não estragar o clima. Mas sabia que ela estava lá. Só não queria lembrar isso.

 A aula acabou e fomos comer em alguma lanchonete qualquer. De novo fiquei torcendo pra Alícia não aparecer. Talvez eu fosse um covarde mesmo. Comi um sanduíche qualquer, evitei frituras porque eu estava passando meio mal. Depois fui para o alojamento do Fael, ele chamou mais um colega dele e ficamos jogando. Podia tá liberando minha adrenalina fazendo algo mais intenso, mas era melhor pegar leve por enquanto.

Eu acho que os melhores momentos da vida são quando você tá jogando com os seus amigos, só vocês. Fazia isso com frequência em Torres. Começou a me dar saudade. E agora não era só de Alice e sim de tudo que eu tinha lá. Em pensar que horas atrás eu estava desdenhando desse “tudo”. Como os pensamentos mudam. Mas era bom estar ali. Com Rafael podia cair um meteoro, queimarem o meu alojamento, surgir um tsunami, qualquer coisa, que eu estava pouco me fodendo. Já em Torres eu era o mais velho, quem comandava tudo e tinha sempre que cuidar para que tudo corresse bem.

— Não tá afim de uma festa bem louca hoje? – Fael perguntou me olhando com aquele sorriso do coringa dele.

— Não sei...

— Você não tem escolha, você tem que ficar muito louco, cara. Tá precisando. Não se preocupa, a Alícia não vai tá por lá.

E era bom mesmo que ela não estivesse por lá. Não estava nem um pouco a fim de ver a cara dela, principalmente porque ia me lembrar de certas coisas que eu queria esquecer. Melhor, que eu precisava esquecer.

— Você tem duas opções. A gente pode ir na balada da Avenida principal, ou… - nos olhamos - Ou, tem a festa da Isabela.

— Quem caralho é Isabela?

— A amiga das meninas. – má ideia.

— Nem fodendo.

Para de ser viado, caralho. A Alícia não vai pular no teu pescoço se tu aparecer no mesmo lugar que ela.

— Não vai dar certo.

— Você tem que tomar essa festa de hoje como lição, entendeu? Pra superar. Tu tá precisando superar umas coisas pra se sentir melhor.

— O Fael já marcou de comer alguma mina por lá. – o colega dele que jogava com a gente concluiu. Óbvio.

— Cala a boca! – Fael mandou em um tom raivoso. Ele ficou nos mandando calar a boca enquanto a gente ria. 

— To afim de trombar com a Alícia não.

— Essa foi a coisa mais gay que já ouvi. – ele falou pausadamente.

— Fael você não entende.

— Você parece mina pô, não vai nos lugares por causa de alguém. – ele estava mesmo afim de ir. No mínimo ele devia tá atrás de uma que ele sabia que ia.

— Nem olha pra mim que eu não estou com humor pra festa nenhuma. – o outro garoto disse cortando na raiz qualquer investida que Fael pensasse em fazer.

— Vocês parecem duas bichas velhas! Por que vocês não namoram? Aí vocês adotam uma cachorrinha branca pra chamar de filha, já que são dois homens e não podem ter filhos. - ele ia longe nessas ofensas. Ficamos discutindo até anoitecer e ficar inevitável que a gente saísse de casa. Era sexta-feira, porra.

Fui para o meu alojamento e tomei um banho rápido, Fabiana estava se arrumando e mandou eu analisar trezentas roupas para decidir qual usaria. Lembrou a minha mãe. Ela também era assim, indecisa. Sempre que saiamos lá em casa ela se atrasava. Acho que eu tava sentindo falta de uma mãe, agora que a minha estava longe. Engraçado que eu pouco me fodia quando ela tava por perto.

Como o meu cabelo estava crescendo, Fabi deu opinião sobre a forma que eu devia deixa-lo. Não fiz o que ela sugeriu, claro. Semana que vem iria corta-lo, mantê-lo baixinho era o meu grito de liberdade e falta de horas em frente ao espelho.

Rafael chegou por lá e nós dois saímos pela rua sem um caminho certo. A gente só queria tá na rua. O céu tava bem bonito, com umas estrelas muito grandes. Lembro de estar deitado na grama do jardim da casa de Alice, na parte de cima, perto da mata. Colocamos um lençol no chão e deitamos. Ela sabia uma porrada de coisas dessas viadices de estrela, o nome delas, essas porras, e ficava me contando. Eu não entendia caralho nenhum, mas era legal ela me contar. Parei com aqueles pensamentos quando me lembrei que provavelmente veria Alícia.


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