Amor Perfeito XIII - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 37
Encarnação do Diabo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Arthur Narrando

Esperei que Rafael falasse alguma coisa, mas como ele ficou em silêncio então fui eu quem teve que tomar a iniciativa.

— Sei que você está bastante chateado comigo... – ele me interrompeu.

— Chateado? Sério? Você vai usar essa palavra? – seu olhar se desviou rapidamente.

— Não entendo como aconteceu, mas eu não quis dar a entender que você não é importante, porque você é. Você é a única pessoa que consegue me fazer rir mesmo quando eu estou no fundo do poço e não vem dizer que só serve pra isso, também temos muitos momentos sérios. Além disso, quando você ficou mal pelo que aconteceu aquele dia com Alícia no banheiro eu fiz de tudo para você melhorar e não sai do seu lado. Amizade não é disputa de quem faz mais por quem e se eu errei você não pode julgar todo tempo que passamos juntos só por esse erro. Você está sendo radical demais.

— São os meus sentimentos.

— Eu sei. Eu te peço perdão por te fazer se sentir assim. Eu te peço perdão por ser do jeito que eu sou. Talvez no fundo você esteja certo, eu não consigo nem esquecer uma garota quem dirá ser um bom amigo. – me levantei para ir para o meu dormitório.

— Seu problema é ela. Tudo gira em torno dela e não importa se você vai magoar pessoas com a suas atitudes, tem que ser tudo por Alice.

— É. Não posso discordar.

— Não se ama alguém assim Arthur. Porque no final de tudo você vai ter só esse amor ou não vai ter nada.

— No meu caso não tenho nada. E ainda tenho esse amor dentro de mim.

— Guarde então. Quem sabe daqui uns anos quando os dois estiverem bem mais maduros não consigam se entender?

— Você está me dando conselho amoroso?

— Você me deu sem eu pedir.

— Tá bom. De qualquer forma obrigado. Vou ir tentar dormir.

— Eu a amo. – o olhei. Ele desviou o olhar para a mesa. – Ela é uma vadia. E eu a amo. – me sentei novamente e o fiz olhar pra mim.

— Ela não é uma vadia.

— O que ela fez assim que te viu? Abriu as pernas pra você. Não quero discutir sobre isso Arthur, porque eu a conheço e a mim ela não engana.

— Ela nunca gostou de mim. Ela se interessou, mas com certeza o interesse dela foi movido por ressentimento.

— Ressentimento?

— Ela guarda grande mágoa por toda ofensa que recebeu de você todo esse tempo.

— Ela já me fez me sentir culpado o suficiente aquele dia naquele maldito banheiro.

— Foi aí que tudo começou a mudar, porque ela viu que você não era o monstro que ela pensava. – ele ficou sem respostas. – E por que você acha que com tanto cara que ela poderia escolher para transar aquele dia ela escolheu você?

— Já te disse, porque eu sou seu amigo.

— Eu tinha quatro amigos naquela mesa. Ela poderia ter dado em cima de qualquer um. O Murilo iria fácil.

— Ela quis poupar o trabalho. Sabia que comigo seria certo.

— E por que seria certo?

— Porque eu gosto de transar com ela e nunca escondi isso.

— Porque você gosta?

— Para. Parece um interrogatório.

— Estou tentando te fazer enxergar o que está bem embaixo do seu nariz.

— O que? – nos olhamos.

— Responde por que você gosta.

— Porque ela é boa.

— Não é. Porque vocês dois tem química, o encaixe é único e a sensação é maravilhosa. Isso é fruto de uma relação com alguém que a gente gosta e é correspondido. Ela também te ama Rafael.

— Deu pra usar droga agora? Onde você está conseguindo? Por que eu e Murilo estamos tendo que... – o interrompi bruscamente.

— Não age assim! Não foge desse jeito. Você me lembra o Kevin às vezes. Ele também não aceita que as pessoas gostem dele.

— Mas quem vai gostar daquele esquisito? Só o Murilo mesmo.

— Não muda de assunto.

— Ela não me corresponde. Ela jamais saberia corresponder alguém e ela nunca seria capaz de sentir o que eu sinto.

— Você a acha mesmo horrível né?

— Acho. E eu não vou desfazer essa imagem dela.

— É engraçado... Quem vê de fora acha que é simples, só quem está dentro percebe o quanto é complicado. – fiz um paralelo com Alice e eu. – Respeito os seus sentimentos, suas experiências e não posso julgar porque nunca estive em seu lugar, em sua pele. Mas tenta se desprender disso aos poucos. Seria lindo se vocês dois se perdoassem.

— Você e Alice também.

— Mais uma vez eu não posso discordar. – sorri. – Estamos bem Rafael?

— Tem como não estar bem com você líder da paz?

— Eu tento mudar, mas não consigo.

— Relaxa, todo mundo gosta de você desse jeitinho chato mesmo. As coisas que eu disse foram tudo da boca pra fora, eu estava bem chateado.

— Vamos beber? – ele sorriu grande aceitando. Pelo menos por essa noite eu iria conseguir relaxar um pouco.

Kevin Narrando

Passei a porra do dia todo tentando falar com Murilo e cada hora era uma desculpa diferente. De manhã ele queria se concentrar para picar tomates. De tarde ele sumiu e a noite ele simplesmente foi dormir antes mesmo de jantar. Aquilo não estava certo. Cheguei em seu dormitório e sentei na beirada da sua cama, comecei a fazer carinho de forma bem suave em seu cabelo, mas como ele não estava dormindo abriu os olhos e ficou me olhando.

— Por que você está me evitando? – perguntei sem conseguir disfarçar meu incômodo e ansiedade.

— Não estou te evitando.

— Nem se esforça em mentir. – dei uma risada ácida. – Ele fez algo?

— Não. – ele respondeu impaciente.

— Sei que não é pela sua mãe, tudo aquilo te atingiu muito mais por ela ter me machucado, você não me evitaria por isso. Só pode ser o meu pai.

— Chega dele Kevin. - entendi tudo.

— Você cansou de mim por sempre ter ele no caminho. Pela primeira vez acertei na leitura.

— Eu estou cansado é dele te fazer tão mal. Isso nunca vai acabar.

— Quer terminar? – quase engasguei para perguntar aquilo.

— Sempre tão direto. - ele suspirou. - Quero pensar. Sei que ele vai existir mesmo sem a gente junto... Mas...

— Se tá te fazendo sofrer eu vou entender Murilo. Não tem que ficar comigo por achar que tem alguma responsabilidade por eu ter mudado por você. Isso não existe.

— Consegue entender que isso está acabando com tudo que nós temos?

— Não vejo assim, mas não posso ser tão egoísta, tenho que entender.

— Eu te amo tanto ao ponto de não aguentar mais te ver sofrer.  – fiquei olhando em seus olhos. – Ele não quer a gente junto e vai fazer de tudo para nos separar. E ele não é normal. Realmente não sei se vale a pena ficar nesse sofrimento.

— Meu pai é a encarnação do diabo. – tentei segurar tudo aquilo que eu estava sentindo.

— Hoje ele me disse que tem uma amostra do vírus e vai me contaminar ou contaminar a você se eu não terminar contigo, mas eu percebi que ele estava mentindo e consegui confirmar com Maísa que isso é impossível. Não é por isso que eu quero que a gente pense um pouco... É por saber que sempre vai ser assim. – ele parou de falar e deu um suspiro triste. – Você sabe que eu sempre tive certeza, não sabe?

— Sim, mas você precisa desse tempo. Não vou ficar atrás, apesar de nem imaginar como vai ser a rotina aqui sem você. – fiquei olhando pra ele e ele desviou o olhar. – Vou deixar você dormir. – levantei.

— Não pede ao seu pai para trazê-lo de novo. – o olhei descrente.

— Você sabe que não é nada fácil entrar e sair daqui. Até mesmo da cidade. E eu nunca faria isso. Entendo querer se afastar por causa do meu pai, mas isso não te dá direito de falar besteira.

— Tá bom, foi mal. – o olhei por menos de dois segundos e segui adiante. Fui para fora respirar um pouco e encontrei Arthur e Rafael juntos.

— Fala bandidão, cadê o seu companheiro? – Rafael perguntou rindo.

— Acho melhor você parar de fumar a maconha do Murilo, ele vai ficar puto porque agora ele vai querer fumar o dobro.

— O que tá pegando? – eles me olharam.

— Estamos dando um tempo. – os dois arregalaram os olhos. Arthur franziu a testa parecendo não entender.

— Caleb. – ele logo processou a informação.

— Ele não aguenta mais o meu pai infernizando a gente.

— Ele fez alguma chantagem!

— Fez e ele já descobriu que ele estava blefando. É o desgaste disso tudo que o incomoda. E tá certo, ele não é obrigado a passar por isso.

— Acho que ele quer um romance mais leve. – meu irmão concluiu e respirou fundo.

— Na verdade ele não quer um romance, nunca quis. – Rafael falou e nos olhou. – E se aconteceu mesmo assim, tão de repente e por acaso é porque é verdadeiro. Eu acho que vocês vão se acertar. Aquele idiota é louco por você.

— Só não quero fazer mal a ele. – meus olhos ficaram úmidos e eles fizeram aquela expressão de pena que eu odiava. – Eu to meio sem rumo. O que vocês estavam fazendo? Conversando?

— Sim, aproveitando enquanto os babacas estão comendo. Daqui a pouco todos estão aqui também. – Rafael brincou e riu.

— Acho que o tempo foi curto demais. – Arthur falou me olhando e apontou a cabeça para a o lado. Murilo estava vindo.

— Separados, mas juntos? – Rafael perguntou e riu. Ele chegou e pegou o isqueiro no bolso do Rafael e acendeu um cigarro ficando em pé.  E não falou nada.

— Oi também Murilo, tudo bem com você? Comigo tá tudo bem, obrigado. – Arthur falou em tom de brincadeira.

— Interessante por que outro dia mesmo você estava mal pra caralho.

— Rafael me faz mais feliz. Precisei dele dar um chilique pra ver isso. Quer dizer, eu já sabia... Só não que as semanas passaram e eu esqueci um pouco.  – o loiro deu um soco nele. – Por que você tá estressado, o que está te incomodando?

— A existência do seu progenitor. – ele respondeu com deboche e tragou o cigarro. - Mas vai passar. – soltou a fumaça.

— Incomoda a mim também. Muito. E se ele conseguir separar vocês dois vai incomodar infinitamente mais.

— É cedo ainda pra dizer se ele vai conseguir isso ou não. – sua resposta me fez ficar olhando para ele. – Qual vai ser a primeira coisa que você vai fazer quando sair daqui? – ele perguntou ao meu irmão.

— Provavelmente arrumar minhas coisas para voltar para a universidade. – ele respondeu e riu. – Por quê?

— Estava pensando nisso hoje. Acho que eu vou dirigir, estou morrendo de vontade.

— Se fosse um tempo atrás eu diria que você iria fazer outra coisa. – meu irmão falou e riu. Murilo revirou os olhos e depois ficou olhando para os lados. – O que foi? Senta aí.

— Cadê todo mundo?

— Estão jantando, você não sabe que horas são?

— Nem imagino. Seu irmão me pediu desculpa. Ele tá mesmo doido com a Sofia né?

— Completamente. Yuri é... Estranho. Quando a menina estava o tempo todo demonstrando interesse ele queria a irmã dela, quando ele conseguiu desanima-la aí ele mudou de ideia.

— A lei da demanda. Oferta e procura. – Rafael falou não surpreendendo nada.

— Ah não, você não vai comparar relacionamento a uma compra e venda.

— Arthur não começa a ser chato igual a sua irmã. E você aí irmãozinho mal, só fica calado. – ele me empurrou com o ombro já que estávamos sentados lado a lado.

— Para, não enche o saco dele hoje. – Arthur falou me fazendo dar uma risada.

— Se afaste porque meu irmãozinho é muito protetor. – eles riram também, menos Murilo.

— Oi! – Sofia chegou animada e abraçou o primo por trás, virando o rosto de lado para nos ver, depois mordeu a cintura dele.

— Para caralho. – ele reclamou com ignorância. – Sai, dá um giro. – ele tirou as mãos dela do corpo dele.

— Nossa, que stress. Seu alivio está vindo. – vimos Fabiana com Alícia e Alice.

— Resolveu voltar ao convívio social? – ele perguntou assim que elas chegaram.

— Sentiu minha falta? – ela tentou disfarçar a felicidade pelo interesse dele, mas falhou miseravelmente.

— Senti, você sumiu ue. – nem preciso dizer que a felicidade dela aumentou consideravelmente. Mas não havia maldade na fala dele, parecia uma preocupação de amigo.

— Nem tinha motivo né? – ele ficou olhando para ela. – Pode assumir que gostou, não precisou ficar fugindo de mim.

— Ah Fabiana para com esses papos vai. – ele ficou incomodado instantaneamente.

— Eu tô mentindo? – ela o encarou erguendo a sobrancelha.

— Você vai começar com esse papo eu vou sair fora. – seu aviso soou como uma ameaça. – Só perguntei se resolveu voltar a conviver com as pessoas, não precisa fazer drama por isso.

— Drama? Você já precisou esquecer alguém?

— Você sabe que não! Então não é para eu dirigir a palavra a você?

— Você faz o que quiser, é livre. Ou não?

— Tô namorando? – ele perguntou debochadamente dando uma risadinha. – Não sabia.

— Nem eu. Tá? – eles ficaram se olhando. – Quer se fazer de doido, faz.

— Você que tá se fazendo doida.

— Pra que quer saber de mim? Se quisesse falar comigo tinha me procurado.

— Então não posso mesmo falar com você, beleza.

— Não vou falar contigo. – ela deu um sorriso irônico.

— Fica a vontade.

— Isso é porque a gente tem intimidade o suficiente para não ficar fazendo média um com o outro.

— Não estou fazendo média. Só falei contigo, mas de boa, não falo mais. E nem você, como mesmo afirmou aí agora. Mas se mudar de ideia e quiser falar eu estou disposto a escutar.

— Você é contraditório.

— Você está procurando motivo para discutirmos e não tem.

— Não te preocupou meu sumiço Murilo?

— Eu sabia que você precisava ficar longe de mim. Até por isso mesmo não fazia sentido te procurar.

— Fiz isso, pois na minha vida nunca forcei nada, já estava ficando ridículo demais o que eu estava fazendo com você. E eu não quero mais te constranger. – ela não via que estava fazendo isso agora?! – E fiz também porque estava todo mundo olhando pra mim com pena e falando de mim pelas costas.

— Foda-se o que as pessoas acham.

— E o que você acha?

— Eu só quero te ver bem Fabiana. Você é minha amiga. Mesmo com isso tudo eu nunca mudei com você, isso é o que basta.

— Fala o que você quer porque me ver bem não é muito especifico. - ela queria que ele dissesse que a vontade dele era beija-la ou algo do tipo?!

— Nada. Eu só tentei ser legal. Sou assim, sociável, converso com todo mundo. É o meu jeito e eu não vou mudar por ninguém.

— Acho que isso está bem claro, já que fugiu de mim por medo de se comprometer.

— Na verdade havia o fator de não corresponder também... – ele respondeu bem sem graça.

— Então você não tem medo de compromisso? – aquilo era no mínimo desagradável, ela o olhou erguendo a sobrancelha. Estava começando a ficar bem incomodando, principalmente porque ela como boa esperta que era sabia da gente e eu entendi sua pergunta.

— Não Fabiana.

— E onde você estava nesse meu sumiço? Com alguém? – ele ficou visivelmente irritado. – Quero analisar as chances de compromisso. Não faz essa cara, fica difícil saber com sua ampla rede de possibilidades.

— Pra que? Por que essa cobrança? Não tô casado com ninguém aqui não. Eu falo com todo mundo. Vou ser bem sincero, não gosto dessa pressão não.

— Tá vendo? Você não se compromete. Na primeira encurralada você corre. E eu acerto tudo. – ela fez uma expressão de vitoriosa.

— Quer um prêmio? – ele perguntou com ironia.

— Um abraço. – ela sorriu e ele respirou fundo.

— Irritante. – ele a abraçou e ela o agarrou pelo pescoço e ficaram assim por bastante tempo. Disseram alguma coisa no ouvido um do outro que não deu para escutar. Ignorei a cena e olhei para Arthur que me olhava, ele queria saber se eu estava com ciúme, fiz sinal negativo. Os amiguinhos se separaram e Rafael se levantou me encarando.

— Não sei qual é o truque mental gedaico que você faz, mas eu quero aprender. – fiquei olhando para ele inexpressivo. – Você fez sinal negativo para Arthur, respondeu alguma coisa a ele, como sabe o que ele queria saber se ele não disse uma palavra?

— Conexão de irmãos. – Alice respondeu, falando algo pela primeira vez naquela noite.

— Não fode. Ele sempre faz isso. Se fosse eu ele faria. Quer ver? O que eu tô pensando Kevin?

— É ciência e não vidência. Você tem que expressar algo pra mim e não ficar me encarando. – respondi com o máximo de preguiça que eu tinha dentro de mim.  

— Você me faz ter medo de você.

— Sei fazer análise não verbal. Não é uma coisa de outro mundo. Quantas vezes vou ter que falar isso? – me levantei. – Vou ir dormir, boa noite. – sai andando lentamente. Pelo jeito eu teria que aguentar agora Murilo e Fabiana amiguinhos. A única que eu podia fazer era esperar e ver se esse tempo seria definitivo ou não. 


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