Amor Perfeito XIII - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 2
Ar


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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— Precisamos trocar uma ideia. – Kevin chegou a meu quarto enquanto eu saia do banho.

— Não preciso trocar ideia nenhuma com você. – o ignorei e comecei a me vestir.

— Se afasta dela. Você me acha ruim, mas eu nem comecei a ser. Então faça o que estou dizendo.

— Você deu um beijo nela por causa de uma brincadeira Kevin, menos.

— Ela escolheu a mim e não a você. Aceita. E se afasta. – assim que ele virou as costas respondi antes que ele saísse.

— Vai precisar muito mais que ameaças para me manter longe dela. – ele me encarou com um sorriso muito diabólico.

— Ok, tudo bem, eu tenho algumas ideias. Só não esqueça que foi você que escolheu assim.

— Sai daqui antes que eu arrebente a sua cara.

— Agora eu não saio, vai ser legal ver o bonzinho ser mal não só em seu interior, mas diante de todos. Você é um personagem Arthur, você finge ser o que não é, mas somos filhos do mesmo pai e partilhamos um DNA que... – meus dedos o fizeram se calar. Era o único jeito.

— ARTHUR! – minha mãe chegou ao ouvir aquele idiota gemer de dor. – Posso saber por que fez isso? – ela levantou Kevin e ficou me olhando. – Você não é assim!

— Talvez eu não seja como você pensa. – sai antes que ele se recuperasse e dissesse mais alguma coisa que me fizesse perder completamente a cabeça.

— Mandou mensagem querendo me ver domingo de manhã... Que coisa mais atípica. – Aline disse ao entrar em meu carro. – Ainda estou chateada contigo. Queria ter ido ao aniversário da sua irmã.

— Meia irmã. E já disse que não quero levar o que temos a esse nível.

— Falar disso me deixa estressada. Diga o motivo de querer me ver.

— Você já está estressada.

— Arthur... Chegou até a mim uma coisa...  – respirei fundo. – Eu me nego a acreditar, mas preciso te perguntar.  A cidade inteira sabe que sua prima Alice é diferente... Já falamos sobre isso. Mas... Sentir algo por ela seria... Horrível. Você sabe disso né?

— Por que horrível? – a olhei mesmo não querendo.

— É como querer uma criança. Ela não pode sentir nada que sentimos. 

— Ontem ela beijou o Kevin, por decisão própria. Alice está melhorando cada vez mais. E ela pode não corresponder a ninguém, mas vai ter pessoas que vão sentir algo por ela.

— Você é uma dessas pessoas.

— É você quem está dizendo isso.

— Seu olhar está me confirmando. – fiquei em silêncio. – O que eu preciso fazer para você sentir por mim o que sente por ela? – peguei sua mão e entrelacei a minha.

— Vou ir almoçar com os meus tios. Só passei porque eu queria te ver um pouco.

— Arthur... Tudo bem não querer falar sobre isso com a garota que você dome... Mas precisa desabafar.  – ela disse e deu um sorriso bem triste. – Só quero o seu bem. Não precisa conversar comigo, mas tem que conversar com alguém. Seus segredos machucam mais que a verdade. – sua boca veio até a minha e depois ela saiu do carro, me deixando sozinho. Assim que cheguei a casa dos meus tios, fui para cozinha onde sabia que encontraria Murilo.

— O que foi? – ele perguntou assim que me notou o observando.

— Você sabe que cozinhar não tem nada a ver contigo né?

— Não me rotula Arthur. – ele revirou os olhos e continuou o que estava fazendo. – Isso me acalma, você deveria achar algo para fazer que também tenha o mesmo efeito em você, estou sentindo daqui sua tensão.

— Quero conversar contigo.

— Não. – ele fez sinal negativo. – Se for para falar que devo ir devagar com a Sofia nem perde seu tempo.

— Seria um bom conselho, mas não é isso.

— O que foi então? – ele franziu a testa. – Que merda eu fiz? São tantas. – ele sorriu grande e depois voltou sua atenção para as panelas.

— Não vou chamar sua atenção. É coisa minha.

— Estou acabando. Aguenta esperar?

— Claro. Vou lá pra sala. – encontrei o motivo da minha conversa sentada ao lado de Yuri.

— Sua mãe está contando que você e Kevin brigaram antes de vim pra cá, o que aconteceu? – meu tio Vinicius perguntou me olhando com seriedade. – Você é tão calmo Arthur, estou mesmo curioso do que ele possa ter dito para conseguir te irritar. Alice?

— A mantenham longe dele. Kevin não tem boas intenções.

— Ele fez alguma coisa contigo Alice? – Raíssa perguntou com doçura olhando para a garota.

— Não. – ela respondeu sem demonstrar nenhuma emoção perceptível.

— Vamos ficar de olho. Também não confio nele. – meu tio avisou e me deu um sorriso cúmplice.

— Mãe vai servir a mesa. – Murilo disse ao aparecer. – Vem Arthur. – fui atrás dele em seu quarto.

— Se você for me bater, avisa para eu me defender? – pedi antes de começar a falar.

— Você acabou de fazer dezoito anos, eu tenho quinze. São três anos de diferença, quem devia ter medo aqui sou eu.

— Olha de quem você é filho. – dei de ombros.

— O que você fez que eu possa querer te bater? – ele se levantou e chegou mais perto de mim. – Descobriu que eu estou pegando Otávia e a proibiu de me ver?

— Você tá pegando a Otávia? – o olhei surpreso.

— Porra Arthur! Fala logo o que é se não daqui a pouco vou entregar tudo tentando adivinhar.

— Faz algum tempo eu tenho sentido algo muito forte por alguém que eu sei que não devo.

— E o que eu tenho a ver com isso? Quer desabafar sobre romance não sou a melhor a pessoa meu caro, você devia saber disso.

— Murilo... Essa pessoa é a sua irmã. – ele ficou pensativo. Acho que nessa hora ele esqueceu que só tinha uma irmã.

— Algo forte? Especifica a porra que você está sentido!

— Eu a amo.

— Por que resolveu me contar isso?

— Recebi um conselho que preciso falar sobre o que sinto e como não posso falar para ela...

— Não vou te bater. – ele viu que ainda esta na defensiva. Relaxei os ombros. – Sinto muito. Não posso nem imaginar o que você passa... Amar Alice é... Deplorável. Como você deixou isso acontecer?

— Não deixei. A culpa é toda do Kevin! Sempre ele. Quando eu passei a protegê-la das maldades dele eu comecei a sentir algo diferente, maior que a necessidade de proteger.

— Não acho que a culpa seja dele. Parece que aconteceria de qualquer jeito. Agora você tem que esquecer.  Não é por mim, não é pelos meus pais, não é por você ser primo dela... É por ela. Ela é incapaz de entender o que você sente.

— Como eu faço isso? Como eu a esqueço?

— Você nunca teve nenhuma desilusão amorosa?

— Não. Para ser bem sincero esse algum tempo que gosto dela é bem maior que parece.

— Evite-a. Vocês são muito grudados. Isso não ajuda em nada. Pode deixar que eu cuido dela.

— Sabemos que isso não vai acontecer. Você não vai cuidar. – nos olhamos. – Você não vai deixar de se divertir para ficar de olho em sua irmã.

— Você acha que ela vai querer ficar com Kevin de novo?

— Não. – Alice chegou e abriu a porta ouvindo a pergunta. – Sei que “ela” na pergunta sou eu. – ela se sentou ao meu lado.

— O que você tá fazendo aqui?- Murilo perguntou de forma impaciente.

— A mamãe mandou chamar vocês para irem almoçar. – ela disse e se levantou e saiu.

— Não fale assim com ela. Ela se magoa. Ela não entende muito bem e não sabe explicar, mas dá uma sensação ruim nela, ela já me disse isso.

— É difícil pra mim. Alice sempre foi como um objeto sem vida.

— Que coisa mais horrível Murilo, para mim ela nunca foi assim.

— Por isso que você cuida melhor dela que eu. Olha... Esquece o que disse. Não se afasta. Eu não vou saber lidar com Alice e tem os meus pais, eles iriam cobrar demais... Preciso de você.

— Você sabe que eu não posso continuar fazendo isso. Proteger Alice foi tudo o que eu fiz nos últimos anos e olha o que isso causou... Ontem deu vontade de matar o Kevin quando a beijou.

— Eu estou do seu lado no que decidir. Se o melhor para você for isso... Entendo.  Vou me esforçar para dar o meu melhor.

— Obrigado. – seguimos para a mesa e nos sentamos almoçando com todos.

— Ansioso pela faculdade? – meu tio Vini perguntou me olhando quando acabávamos de comer.

— Um pouco... Inclusive mãe, eu decidi ir para a faculdade que passei primeiro.

— Sério? Tão longe. – ela fez uma expressão de sofrimento. – Tudo bem meu filho, faça a escolha que seu coração mandar.

— Nem sempre... Às vezes temos que ser racionais. – suspirei. – Amanhã já começo a olhar alojamento.

— Vou sofrer a síndrome do ninho vazio! – minha mãe reclamou e fingiu um choro.

— Eu estou em casa ainda, caso não se lembre. – meu irmão se fez de ofendido. – Posso ficar com o seu quarto? É maior que o meu.

— Eu vou estudar fora e não ir embora pra sempre, eu hein, garoto esquisito.

— Ainda não entendi... – Ravi posicionou o rosto entre as mãos e ficou me olhando. – A gente conversou semana passada e você estava decidido a estudar aqui. O que aconteceu?

— Acho que lá vai ser melhor. Andei pesquisando... O ensino tem mais referências.

— É onde o seu pai estudou... É por causa dele?

— Se for saiba que ele só estudou lá para ficar longe de mim e me trair com mais tranquilidade. – minha mãe me olhou séria.

— Qual a parte do “EU ADMIRO O MEU PAI” saiu da minha boca em meus dezoito anos? Porque eu não estou lembrando.

— Por que você está nervoso? Você é tão calmo.

— Você está achando que eu fiz a escolha da minha faculdade baseada em meu pai, que eu mal convivo e o abomino por ter te traído.

— Arthur... – Ravi me olhou preocupado. – Já conversamos sobre isso. As pessoas erram. Você não deve odiar o seu pai.

— Odeio mais o filho dele que é falso, dissimulado e mau caráter.

— Kevin é um garoto extremamente problemático, mas não gaste sua energia com isso. – concordei, não queria mais que durasse aquela conversa. Fui para casa providenciar as coisas para a minha matricula e para a minha viagem, que seria em poucas semanas.

Fevereiro começou e com ele o aniversário de Alice. Agora ela iria ter quinze anos. E eu esperava que fosse a última vez que eu a olhasse com aquele sentimento dentro de mim. Faria de tudo para esquecê-la e sei que se me esforçasse muito poderia conseguir. Ela não quis festa. Alice odiava ter todas as atenções direcionadas a ela. Mas os pais e amigos fizeram uma comemoração intima em sua casa.

A cidade em que eu iria morar para estudar ficava três horas e meia de Torres, era uma distância que dava para eu ir dirigindo como eu tinha dezoito anos e carteira de motorista, diferente dos meus amigos, que cometiam irregularidades como se fosse normal... Era costume dos nossos pais, não posso falar muito porque comecei a dirigir antes da idade correta.

O fato é que tive que ouvir as orientações da minha mãe, do meu padrasto e até do tosco do meu pai.

— Você está indo para um mundo onde não existem limites. Faça o que fizer não perca o foco. Sua carreira é algo importante. Ouviu? – ele perguntou olhando em meus olhos. Ele não valia nada, mas não podia dizer que não sabia o que era foco profissional.

— Tudo bem pai, não se preocupe com isso.

— Camisinha. – dei uma risada nervosa. – Quantas vezes vou ter que te dizer que me apaixonei por Kira?

— Tchau pai. – entrei no carro e fui ao meu destino. Já havia me despedido do meu irmão e dos meus amigos. Era impossível não pensar nela... Esperava que Murilo fosse capaz de cumprir sua promessa e cuidar de Alice da mesma forma que eu cuidaria. Já estava com saudade dela. Daqueles olhos amarelos, que mesmo que na maioria das vezes não expressassem nada, conseguiam me dizer tudo. Eu a entendia como ninguém. E era esse o lance complicado. Ninguém conseguiria protegê-la sem entendê-la. 

Sabia que seria um erro. Mas não tinha como voltar atrás. Esquecer Alice seria minha motivação diária. Não havia futuro para nós dois. Só me restava aceitar isso.

O alojamento era enorme. Custei a achar o bloco ao qual meu quarto pertencia. Iria dividir o quarto com mais um cara. Esperava sinceramente que ele não fosse barulhento.

— Olá. Sou Fabiana. Mas pode me chamar de Biana. Sei que você esperava alguém do sexo masculino, mas acho que eu e você esquecemo-nos de desabilitar a opção unissex. – fiquei parado olhando a garota de cabelo rosa a minha frente. – Por mim não tem problema, mas se quisermos chance de uma troca temos que ir rápido preencher o relatório de pedido de mudança.

— Odeio burocracias. Acho que podemos nos adequar. – tirei meu moletom e sentei na cama olhando as duas malas enormes que eu teria que desfazer. De um lado havia uma cama de solteiro e um armário embutido sem portas e no outro a mesma coisa. Bem a frente era a porta do banheiro. O quarto era grande.  Também havia duas mesas de estudo em cada lado. A janela atrás das camas era enorme e toda de vidro.  Ainda bem que já havia cortina que cortava a luz. Claridade me acordava facilmente.

— Tá bom. – ela se sentou em sua cama sorrindo e fez perna de índio. Reparei em seu rosto e vi que ela tinha um piercing acima do lábio bem ao centro. Suas orelhas traziam alargadores. – Quais são as regras de convivência?

— Você é rockeira? – perguntei curioso.

— É bem a cara de quem veio de cidade pequena classificar as pessoas por aparência.

— Desculpa! – fiquei totalmente sem graça. Ela deu uma risada alta.

— Não me incomoda. Sei que sou chamativa. É... Eu gosto de Rock. Mas também gosto de outros estilos musicais. E então... Você não disse nem o seu nome.

— Arthur. – ela deu um sorriso.

— Posso te chamar de Ar?

— Ninguém nunca me chamou de Ar.

— Serei a primeira. – ela se levantou em um pulo. – Gosto de dar apelidos para as pessoas. É uma forma legal de começar uma amizade. Prazer Ar. – ela estendeu a mão e eu apertei.

— Você é elétrica demais. Sou mais calmo e contido. Dite as regras. Estou vendo em seu rosto que está louca para falar sem parar. – me deitei na cama e fiquei olhando para o teto.


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