NósCinco - Porque Juntas Somos Melhores escrita por themcj5


Capítulo 1
Capítulo um




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Aos dezessete anos eu ainda mantinha a inocência no meu olhar, apesar dos olhos fortes e penetrantes. Era fácil me levar pela conversa, aliás, era fácil fazer o que quisesse comigo – e minha melhor amiga sabia bem disso. Tanto que, quando soube do concurso já havia sido classificada para a fase presencial.

Me chamo Lauren Jauregui, moro em Céu Pequeno, uma cidadezinha com um pouco mais de dez mil habitantes no interior de Goiás e nesta época estava no gozo dos meus plenos dezessete anos. Tinha acabado de me formar no ensino médio, então estava naquela aflição e correria de tentar passar em uma universidade pública, caso contrário, estaria fadada a levar a vida que minha mãe leva: trabalhar em casa e cuidar do marido. Nunca conversei a respeito disto com a minha mãe, mas penso que ela não teria o que reclamar, porém, esta não é a vida que eu queria levar. Queria ir para a cidade grande, Goiânia, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, qualquer cidade que tivesse mais que três supermercados e cursar publicidade e propaganda, mas aqui na minha cidade as pessoas sequer sabem o que é isto. Então, se eu quisesse mesmo sair de Céu Pequeno, eu tinha que sair com as minhas próprias pernas.

Meus pais nunca fizeram muita objeção sobre isto, desde que eu passasse em uma universidade pública, eu poderia me mudar para onde eu quisesse. Esta era a condição e o único modo financeiro que eles conseguiriam me manter na cidade grande. Passei todo o ensino médio me esforçando o máximo para conseguir boas notas e absorver o máximo de informações úteis para conseguir ir bem nos vestibulares e até consegui. Me formei com mérito sendo a melhor aluna da minha escola – o que foi uma grande honra para os meus pais.

Nas horas livres, eu me dedicava a minha outra paixão: a música, contudo, obviamente em segredo. Ao não ser meu irmão mais velho e minha melhor amiga, Érica, mas ninguém sabia disto. E preferiria deixar desta maneira. Entretanto, tudo começou a mudar quando Érica, de uma forma histérica e ofegante, chegou até a minha casa, segurando uns papeis em sua mão aos prantos. Na hora pensei que alguém tinha morrido e o que ela segurava era o atestado de óbito. Mas era pior do que isto. Estava na cozinha com a minha mãe e minha irmã mais nova, por isto, quando ela chegou, pedindo para conversar sozinha comigo, corremos para o meu quarto. Estava mesmo crendo que alguma coisa muita séria tinha acontecido. Érica era um livro aberto, ela contava tudo para todos, inclusive para minha mãe

 - Você não vai acreditar no que aconteceu – Érica falou, assim quando chegamos ao meu quarto. Eu dividia o quarto com a minha irmã, mas naquele momento ela estava aprendendo a decorar bolo com a minha mãe.

Ela me entregou os papeis que segurava e eu mal pude acreditar no que estava lendo. Me sentei na minha cama, enquanto lia aquelas palavras. “Cara, Lauren Jauregui, temos a alegria em dizer que você foi aprovada para a próxima fase do Concurso Garotas Brilhantes. Contamos com a sua presença no endereço e na data abaixo. Boa sorte”. Dentre outras mil palavras, era basicamente isto que eles diziam. Ao final da página havia o selo da XR Records e assinado por Xavier Ruiz, simplesmente o dono da maior gravadora do país.

— Que porra é essa, Érica? – perguntei.

— Eu te inscrevi em um concurso.

— Você o que?

Era visível que ela não sabia o que dizer, e muito menos o que fazer.

— Eu pensei que não fosse dar em nada, foi por isto. Mas eles aparentemente gostaram de você. Você tem que ir até lá.

— Ir até lá? Você só pode estar louca.

Reli a carta e vi que a data que eu deveria comparecer ao concurso era daqui há duas semanas – e em São Paulo. Não havia a menor chance de eu conseguir ir. Mesmo se eu quisesse.

— O que você fez para eu ser aceita? – quis saber.

— Então, eu enviei algumas fotos que eu tirei de você e também... bom... eu gravei escondido você cantando aquela música da Gal Costa. Eu tinha todo o material e achei que você merecia uma chance. É o seu grande sonho, Lauren! Eu só te ajudei – Érica se ajoelhou na minha frente.

— Eu não pedi nenhum tipo de ajuda – respondi. Eu precisava ser dura com ela por ter se metido na minha vida. – Eu nem ao menos sei que concurso é este.

— Este é o seu problema: você nunca sabe de nada, deixa todas as oportunidades da vida passarem bem diante do seu nariz, por isto fiz tudo isto – ela estava sendo um pouco rude, mas não estava mentindo, por isto, baixei a guarda.

— Que tipo de concurso é este? Pelo nome parece, sei lá, algum tipo de teste de novela infantil – falei.

Érica se levantou e sentou-se ao meu lado da cama.

— Eles estão à procura de meninas para formar um novo grupo feminino. Acho que estão tentando fazer um novo Namoradinhas.

Namoradinhas foi o maior grupo feminino brasileiro. O grupo era formado por 4 garotas na faixa dos seus 20 e poucos anos, cada uma exercendo a sua função dentro do grupo, entre dança e canto. Era até um pouco sexualizado. Eu não sei a visão artística que Érica tinha de mim, mas um grupo deste tipo não tinha nada a ver comigo e ela deveria saber disto.

— Não há a mínima possibilidade de eu entrar em um grupo deste tipo, mesmo se eu quisesse – falei a ela.

— Eles estão à procura de garotas realmente talentosas. E você é a maior de todas! Eu sei que você não é ligada à internet, mas procure saber a respeito do concurso. Você não vive dizendo que deseja sair de Céu Azul? Talvez esta seja a sua chance. Pense na quantidade de dinheiro que você vai ganhar. E mesmo que não ganhe, já é uma chance de conhecer São Paulo. Eles mandaram a passagem para você ir até lá. Para você e uma acompanhante. Converse com a sua mãe, tenho certeza que ela vai te apoiar.

— Minha mãe? Você realmente está louca.

Mais tarde naquele dia, me sentei frente ao único computador que tinha na minha casa e comecei a buscar todas as informações ao respeito do concurso. Parece que a coisa era mesmo séria. A maior rede de televisão do país iria televisionar e nomes importantes da música também estavam envolvidos. Lili Moraes, a mais famosa integrante do Namoradinhas era uma das juradas do programa. Na página do concurso haviam algumas fotos e vídeos de algumas garotas que haviam feito inscrição e Érica estava certa, de fato eu era uma das mais – senão a mais – talentosa entre elas (modéstia parte), então pensei que seria fácil ganhar aquilo.

Mas não.

Não.

Não.

Aquilo não era para mim.

Entrar em um grupo feminino? Cheio de garotas sorridentes, uma querendo chamar mais atenção que a outra? Eu não conseguiria trabalhar com pessoas assim. Desliguei o computador e resolvi que deixaria aquilo de lado. Sim. Aquilo não era mesmo para mim. Ponto final.

O dia seguinte correu perfeitamente bem, como sempre acontecia. Passei o dia em casa, ansiosa com os resultados do vestibular que só sairiam ao final do mês, daqui duas semanas. As horas se passavam e eu ajudava minha mãe em casa no que ela precisava, pensando que, se eu não passe no vestibular, assim seria a minha rotina: uma mulher feliz, amada pela família, mas sem muita ambição.

A noite, quando meu irmão mais velho, Chris, chegou do trabalho bati na porta do seu quarto e ele me recebeu com sorriso, apesar de sua feição cansada. Meu pai trabalhava na fazenda com meu pai. Ele cuidava da plantação de soja e chegava em casa sempre muito cansado. Ele não tinha muita vida social, o que deixava sua namorada um pouco irritada com isto.

— Posso falar com você? – perguntei a ele.

— Claro, Lauren, entra ai.

E entrei. O quarto de Chris estava sempre muito bagunçado, por isto era difícil achar um lugar para me sentar, então resolvi ficar em pé, enquanto ele sentou-se em sua cama.

— Diz ai – ele falou.

Entreguei a ele a carta da XR Records. Enquanto ele lia as palavras da carta, pude ver as mais variadas expressões no rosto de meu irmão. Surpresa, alegria, confusão, excitação. Além de Érica, ele era um entusiasta no que se diz respeito a minha voz. Ele fala que é um dom divino que precisa ser compartilhado com a nação.

— Isto é mesmo o que eu estou pensando? – ele perguntou.

— Depende. No que você está pensando?

— Que você vai ser famosa.

— Somente se eu for até lá e passar nos próximos testes.

— É claro que você vai. Você quer ir não quer? – ele perguntou para mim com um olhar eufórico, esperando uma resposta positiva e eu não queria contrariá-lo.

— Eu, de verdade, não sei. Não sei se é o que eu quero para mim.

Chris se levantou da cama e ficou em pé na minha frente. Ele pegou nas minhas mãos e fez a pose que ele sempre fazia quando ia dizer algo importante.

— Lauren, nós, os Jaureguis de Céu Pequeno, nunca temos muitas chances na vida, a começar por mim. Ralo o dia todo pra ganhar uma merreca. Todo o dia é uma batalha diferente, é exaustivo. Então, eu te dito para ir em frente. Agarrar esta oportunidade única. Eu falo com a mamãe, com o papai, com quem for preciso. Eles não vão te barrar, você pode ter certeza. Só vá. A sorte não vai bater duas vezes na mesma porta. Você não tem nada a perder.

No fundo, ele estava certo. Eu não tinha nada a perder e era mesmo uma oportunidade única. Eu só não tinha certeza se papai e mamãe seriam tão compreensivos assim. Fazer faculdade em outra cidade ok, participar de um concurso musical em outra cidade, quando eles ao menos sabem que eu canto, já era outra coisa.

Chris me abraçou e me fez sentir confiante. Talvez eu devesse mesmo tentar, jogar isto para o universo. Se meus pais concordassem eu iria, caso contrário, aceitaria os planos que a vida tinha para mim.

Duas semanas depois estava eu e mamãe dentro de um avião rumo a São Paulo. Nunca havíamos viajado de avião, então o nervosismo era grande, além da animação. Como Chris disse, não foi nada difícil convencer meus pais a me deixarem participar do concurso. Mamãe resolveu ir comigo, primeiro porque meu pai não poderia se desligar do trabalho e depois porque, nas suas próprias palavras, “seria bom tirar alguns dias de férias”. Apesar de explicar a ela de como funcionaria as fases seguintes do concurso, acho que ela não entendeu bem a ideia, mas caso eu realmente avançasse na competição, estes “dias de férias” seriam quase meses. Quando contei a Érica que havia aceitado participar do concurso ela ficou eufórica, eufórica demais, o que diminuiu quando disse a ela que era a minha mãe quem iria me acompanhar e não ela, que acabou se decepcionando. Pensei que era evidente para ela que uma adolescente não poderia ser acompanhante de outra adolescente.

Chegamos a São Paulo muito nervosas, com frio na barriga mesmo. Parecia que eu iria fazer xixi nas calças a qualquer momento. Era tudo tão grande e barulhento, parecia que estávamos dentro de um liquidificador. Minha mãe segurava a minha mão por ter medo de me perder (isto ainda dentro do aeroporto). Quando saímos do portão de embarque vimos um sujeito segurando uma placa com o meu nome escrito. A produção do concurso entrou em contato comigo na semana passada, para se assegurar que eu estava mesmo indo e contando que um motorista ia me pegar no aeroporto e me levar até o local onde iria ocorrer as gravações das próximas fases do concurso. Quando avisei o motorista, além de surpresa, fiquei um tanto envergonhada de ver meu nome estampado para quem quisesse ver. Pensei que esse tipo de coisa só acontecia em filmes de baixo orçamento.

O motorista nos tirou do aeroporto e durante o trajeto explicou que não poderia responder nada sobre o concurso, pois eu não deveria ser beneficiada com nenhum tipo de informação, mas que ficaria satisfeito em conversar sobre qualquer outro assunto. Pronto... Esta era a brecha que minha mãe precisava para encher o homem de perguntas: quem ele era, se tinha esposa, filhos, como era morar em São Paulo. Foi um batalhão de perguntas. Acho que o coitado ficou exausto. Mas minha mãe não podia evitar, ela adorava saber da vida dos outros. Claro que sem maldade. Era apenas um hobby.

Dentro do carro percebi que a grande cidade havia ficado para trás, isto porque os prédios altos e cinzas haviam sido substituídos por grandes montanhas e paisagens verdes. A viagem demorou cerca de duas horas. Duas horas da minha mãe tirando o máximo de informação possível do pobre motorista. Eu fiquei totalmente fora da conversa dos dois, porque comecei a me sentir nervosa e insegura por estar naquela situação. Talvez eu não devesse ter ido, será que ainda dava tempo de desistir? Isto de cantar era para ser um pequeno sonho, aliás, não era nem mesmo um sonho. Era para ser só algo que eu nasci com. Tenho a consciência de que nasci com uma boa voz, mas é isto. Não era para ser mais do que isto. Sempre tive este pensamento, mas agora, indo para o concurso percebo que ele reflete tudo aquilo que eu nunca quis: fama e estrelato.

Olhei para a minha mãe conversando com o motorista, ela estava tão animada. Ela nunca havia saído do nosso estado, então, aquilo deveria ser um dos pontos altos da sua vida. Ir para São Paulo, acompanhar a filha amada participar de um concurso musical era algo que ela sequer tinha imaginado. Eu não conseguiria acabar com a festa dela. Além do mais, eu já estava ali. Meus pais, meus irmãos, Érica, a produção do concurso, todos contavam com a minha presença. Eles tinham me levado até ali, então, não poderia amarelar.

Já sei...

Farei de tudo para ser eliminada na próxima fase, assim, ninguém se sentiria decepcionado por eu nem ao menos ter tentado. Eu vou ter tentado, mas não tão forte assim. Isto deve bastar a eles.

Minha mãe e o motorista pararam de falar quando o carro parou frente a grandes portões branco. Os vidros do carro eram escuros, e eu não conseguia ver muita coisa além dos portões. Notei que o motorista mostrou uma crachá para o segurança dos portões, que permitiu a nossa passagem. E assim cruzamos.

— Estamos dentro de um grande hotel da região. Eles vão filmar tudo aqui, todas as fases e seletivas, mas por favor, não contem para ninguém que eu disse isto.

— Claro. – minha mãe respondeu.

Demorou alguns minutos dos portões até a portaria do hotel. Quando saí do carro, levei um susto. Uma enorme câmara se enfiou na minha frente, e por não ter a mínima intimidade com elas, eu travei completamente, não sabia o que fazer. Minha mãe deve ter saído pela outra porta do carro e ter ido até mim, para me tirar daquela situação. Ela me abraçou e juntas fomo caminhando para dentro do hotel.

— O que foi aquilo? – perguntei.

— Não sei, filha, mas acho que vamos ter que nos acostumar com isto.

Foi Débora, uma das assistentes de produção, quem nos recebeu no saguão do hotel. Ela era uma mulher baixa, que se escondia atrás de óculos e parecia ter medo de falar, porque foi até nos com muita cautela, como se não soubesse ao certo o que fazer. Contudo, foi muito prestativa.

— Bem-vinda ao Hotel Ruiz, Lauren. – foi a primeira coisa que ela disse a mim. – Você deve ser a Clara – completou direcionando a minha mãe.

— Sim, sou eu – minha mãe respondeu.

— Bem-vinda, garotas. Eu sou a Débora e vou ser a sua assistente. Qualquer dúvida que você tiver, você pode me procurar.

Uau, eu tenho uma assistente, pensei comigo mesma.

— Minha função no dia de hoje é levar vocês duas até a acomodação e verificar que nada falte a vocês. Logo após, preciso que a sua mãe me acompanhe para resolvermos questões burocráticas, porque você ainda é menor de idade. Ao final da noite, você, e o restante das garotas, serão apresentadas aos jurados para começar de fato o concurso. O restante dos dias eu não posso dizer, mas será tudo maravilhoso. Estarei aqui sempre que você precisar de alguma coisa – Débora falou. Parecia que ela havia dado a vida para decorar cada virgula do que tinha dito. Apesar do esforço, conseguia sentir a tensão em sua voz.

Assim como havia dito, Débora me deixou sozinha no quarto e saiu para resolver as questões burocráticas com a minha mãe. Ela havia me informado que por enquanto eu não poderia sair do meu quarto, não até a apresentação dos jurados. Parece que todas as garotas tinham que se conhecer de uma só vez. Eu que não iria discordar. Sozinha no quarto do hotel, desfiz a mala que trouxera comigo e olhei ao redor para tentar entender o que estava acontecendo com a minha vida, em como eu tinha ido parar ali. Maldita Érica por me envolver nisto tudo. Era ela quem deveria estar ali – isto se soubesse cantar uma nota que fosse sem desafinar. Pelo visto aquela câmara que me recebeu na recepção do hotel era apenas um esquenta do que teria pela frente. Jesus... eu não iria aguentar. Precisava respirar.

Sabia que a regra era não sair do quarto, mas precisava sentir ar fresco e o da varanda não estava adiantando. Dei uma última olhada no número do quarto, para não esquecer, caso contrário ficaria perdida para sempre, devido ao tamanho do hotel. 1432, 1432, 1432. Pronto, agora que havia decorado eu poderia sair. Caminhei pelo corredor do meu quarto a passos leves, sem chamar atenção e para não ser pega por ninguém. Mas ao contrário do que eu imaginei que fosse, o lugar parecia deserto, por isto, foi fácil achar um lugar reservado e secreto no jardim.

O tal lugar era atrás de um grande arbusto. Mas que não era tão secreto assim, pois logo após entrar atrás do arbusto, avistei outra garota nele. Uma garota quase da minha altura, só que um pouco mais alta, porém, mais magra e incrivelmente bonita. Chegava a doer. Entre seus dedos um cigarro, e saindo de suas narinas, fumaças subiam ao céu.

— Desculpa! – falei rapidamente.

A garota se assustou.

— Porra! – ela falou, se virando para mim.

Acho que ela estava tão envolvida no seu trago, que nem notou a minha presença, por isto a susto. Ela rapidamente apagou o cigarro e vi que estava vermelha.

— Relaxa, não vou contar para ninguém.

— Você não é da produção, é?! – ela perguntou - Porque acho que não podemos fumar neste lugar.

Eu acho que ela estava certa. Se não podemos sair nem do nosso quarto, quem dirá sair para fumar. Ela estava vivendo perigosamente.

— Não – respondi.

— Que bom.

Ela escondeu a bituca de cigarro no meio do arbusto e ajeitou os cabelos castanhos e lisos.

— Meu nome é Lucy – ela se apresentou.

— Lauren – respondi.

— É concorrente? – ela perguntou.

— Sim, e você?

— Por enquanto, sim – Lucy respondeu. – A gente se vê por ai, Lauren.

Ela me deu as costas, saiu de trás do arbusto e desapareceu de visto, me deixando sozinha, sem ao menos ter a chance de me despedir. Não a conhecia, então, não poderia dizer com convicção, mas parecia que ela não estava tão empenhada em estar ali, assim, talvez, assim como eu, ela não fosse fazer questão de durar tanto tempo na competição. Quem sabe ainda sairíamos juntas.

Fiquei o tempo suficiente no jardim para não notarem a minha falta no quarto, e então voltei para o quarto. Quando cheguei notei que minha mãe ainda não havia retornado, o que me desanimou. Já era difícil ficar ali, ficar sem com quem conversar deixava tudo ainda pior. Pensei em tomar banho, para matar o tempo, e foi o que fiz. Tomei um longo e vaporoso banho e quando saí do banheiro, enrolada numa toalha, mamãe e Débora estavam a minha espera.

Obviamente, dei um grito de susto. Não estava à vontade de ver Débora me vendo naquela situação: enrolada numa toalha e com os cabelos molhados.

— Desculpa, querida. Mas estávamos te esperando – minha mãe falou.

— O que foi? – perguntei.

— Temos uma sessão de fotos para fazer agora – Débora disse.

— Quê? Sessão de fotos? Para que? – quis saber.

— Ora bolas, o país precisa te conhecer e a melhor forma disto é mostrando o seu belo e angelical rosto – Débora respondeu.

Avistei minha mãe atrás de Débora forçando um sorriso, claro que ela já estava ciente de que eu não iria gostar nada daquela história de sessão de fotos. Ao contrário de Érica, eu não deixo mais ninguém tirar fotos minhas.

— Querida, é melhor você se arrumar. Eles vão mandar uma maquiadora aqui – minha mãe disse sorrindo e percebi que ela estava se esforçando ao máximo para que eu ficasse confortável com aquela ideia.

— Se você precisar, podemos te mandar roupas... – Débora começou a falar.

— Não! – interrompi. – Eu prefiro usar as minhas.

Devo dizer que foi divertido. Quando Débora saiu do quarto, não demorou nem cinco minutos para que o maquiador chegasse até mim. Devo a ele o mérito de deixar todo o processo mais fácil. Otto, o maquiador, me deixou a vontade do início ao fim e não ultrapassou nenhum limite, fez o que eu pedi e realçou o que eu pedi para que fosse realçado, que eram meus olhos. Não gostava de cores fortes, então, ele fez uma maquiagem mais clara, porém, com brilho.

Otto também me ajudou com a roupa, eu mesma pedi. Senti que ele tinha experiência nessa área, então, achei que uma mãozinha seria bem vinda. Apesar de não dar muita bola para o concurso, fiquei com medo de chegar lá trajando uma roupa nada a ver com a situação e ficar parecendo uma idiota. As fotos seriam vinculadas em todos os veículos de informação do país, por isto quis parecer mais apresentável e Otto, mais uma vez, fez um ótimo trabalho.

Deixei com que ele mexesse em minha mala de roupas, e ao contrário do que eu imaginei que ele fosse escolher, que era um vestido florido e infantil, ele me fez usar uma blusa verde, uma calça jeans e um sapato de salto. Quando eu saí do banheiro usando a roupa que ele escolheu, vi o sorriso no rosto do homem.

— Isto mesmo, mana. Como eu pensei, essa calça levantou seu bumbum e você ficou um mulherão. É isto que eles estão buscando. Eu aposto com você que a maioria das meninas vão de vestidinho e sapatilha. Eles querem um grupo feminino, e não o novo Balão Mágico – e em seguida soltou uma risada afetada, rindo da própria piada.

Depois de pronta, esperei no quarto com minha mãe a chegada de Débora. Era ela quem nos levaria até o estúdio fotográfico. Minha mãe estava em silêncio e quieta, e quando olhava para mim, parecia não me reconhecer.

— O que foi? – perguntei.

— Com o que? – ela respondeu.

— Parece que você está segurando sua língua. Algo aconteceu?

— Não, filha, nada. É que... isto é grande! Grande mesmo – ela começou a dizer. – Você não tem ideia do tipo de contrato que eles me fizeram assinar. Isto aqui é bem maior que nós duas imaginamos. É uma oportunidade única.

— Mãe... e-eu... – falei, porém fui interrompida.

— ... Se você ganhar, nós ficaremos ricos! – ela disse com excitação – Seu pai e seu irmão vão largar aquele trabalho miserável, sua irmã poderá ter uma educação decente, nós não vamos mais passar nenhum tipo de dificuldade. Estou pedindo para que Deus coloque você no grupo. É mesmo uma oportunidade única.

Passei as mãos no cabelo e respirei fundo.

Abaixei o rosto e pensei no que minha mãe tinha me dito. Tudo começou a fazer mais sentido. A fala de minha mãe tinha me atentado para algo que eu ainda não havia percebido: dinheiro. De fato, se eu entrasse mesmo no grupo eu eventualmente ganharia algum dinheiro, mas pelo o que ela falou, deveria ser um bom dinheiro, um BELO dinheiro, algo que nós da nossa família nunca lidamos. Apesar da nossa família nunca ter nadado em grana, nós também nunca fomos miseráveis, apesar de boas economias que já fizemos, então, a possibilidade de mudar de vida, completamente, me fez ficar um pouco mais animada. Ainda mais em tirar meu pai e meu irmão do trabalho na fazenda.

Assim, já que eu não iria fazer aquele concurso por mim, iria fazer pela minha família. Eles merecem isto e eu daria isto a eles. Agora, aquele concurso o meu principal foco.

Estava sentada na sala de espera do estúdio. Eu era a próxima a ser fotografada e estava muito nervosa, porque nunca havia feito nenhum tipo de ensaio profissional. Dentro do estúdio eu ouvia uma música e várias risadas, indicando que a garota que estava lá dentro estava arrasando. O que era uma pressão ainda maior.

A porta do estúdio se abriu, porém, ninguém saiu de dentro dela.

— PRÓXIMA! – gritou uma voz de dentro da sala.

Ou seja, eu deveria entrar.

Quando eu cruzei a porta, um corpo bateu de frente com o meu. Apesar de assustada, levantei o rosto e vi o rosto da garota que estava lá dentro. Oh, meu Deus... ela era linda. Como eu superaria isto? Toda a confiança que eu tinha dentro de mim, antes de chegar naquele hotel, já não existia mais.

— Eu adorei a sua blusa – disse a garota que trombou comigo aos sorrisos.

Pensei que ia cair ali mesmo. Mas não caí, afinal, tinha um concurso para ganhar.


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