Resgate escrita por Tulipa


Capítulo 5
Cinco


Notas iniciais do capítulo

O que vocês fazem qdo o dia tá ótimo pra não fazer nada?
Eu escrevo =)



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A viagem até em casa pareceu uma eternidade, e a todo momento eu olhava pro homem ao meu lado.  Eu já o perdi tantas vezes em momentos diferentes da vida. Eu já perdi meu chefe, amigo, o homem que eu amava em segredo, perdi o namorado,  e o fato dele sempre voltar me deixou mal acostumada.

Estranhamente quando perdi meu noivo, mesmo com grande parte das pessoas do mundo desaparecendo,  algo me dizia que ele estava vivo. Foi então que descobri que ele estava vivo dentro de mim, e mesmo que ele nunca mais voltasse nós estaríamos ligados pra sempre, mas pensar que ele não veria o bebê nascer, não ouviria a primeira palavra dele, não o veria andar doeu todos os dias, até eu vê-lo saindo vivo daquela nave. Quando contei da gravidez, Tony se afastou de tudo,  nós apostamos num para sempre, ele se tornou o meu marido, e meses depois nos tornamos três. Eu devia desconfiar que algo aconteceria, porque nós somamos, enquanto todas as famílias haviam perdido alguém, e depois de cinco anos o perdi novamente. Era pra ser definitivo, e mais uma vez ele estava de volta. Ele está mesmo de volta.

 

—Como você acha que ela vai reagir?— ele perguntou ansioso quando parei o carro diante de casa.

 

—Como todas as vezes em que você voltava de uma viagem.— respondo, embora ele tenha viajado a trabalho no meu lugar poucas vezes —Só espero que ela fique bem logo.  

 

Happy não demorou a aparecer na porta, com certeza por ouvir o barulho das rodas do carro nos cascalhos no jardim  —Ainda bem que você chegou, estava preocu...— ele se calou ao ver quem desceu do lado do passageiro.

 

—Feche a boca, Happy, estamos no meio do mato, vai entrar um mosquito aí.— Tony gracejou.  

 

—Como isso é possível?— Hogan pergunta.

 

—Vivemos num mundo bem louco,  meu amigo.— Tony o abraçou —Obrigado por cuidar delas.

 

—Fiz o melhor que eu pude.— Hogan respondeu modestamente.

 

—Como ela está?— perguntei.  

 

—Dormindo, a febre baixou um pouco, mas ela não quis comer.

 

—Tenho certeza que ela vai melhorar agora, fica pro jantar?— pergunto.

 

—Melhor, vou comprar o jantar enquanto vocês a mimam.— ele responde Agradecemos, Happy não podia ser um amigo melhor.

 

Quando subimos, os degraus da escada rangeram e eu tive que rir. Entramos no quarto, sentamos na cama, cada um de um lado. Coloquei a mão na testa da Morgan, ela está quente, afaguei seus cabelos, me aproximo ainda mais sentindo o seu cheirinho, beijo seu rosto e roço meu nariz ao dela como faço sempre que a acordo.

 

—Filha— eu chamo —Filhotinha.— ela ronrona como um filhote e abre os olhos —Oi, princesa da mamãe.— ela pisca sonolenta.

 

—Você buscou o papai?— claro que essa seria a primeira pergunta que ela faria ao me ver.

 

—Feche os olhos.— eu pedi, então fiz sinal pra que o Tony viesse ficar ao meu lado.

 

—Posso abrir?— ela pergunta ansiosa.

 

Tony bateu palmas da maneira que sempre fazia pra chamar a atenção dela —Pode abrir, Maguna.

 

—Papai!— ela grita,  e eu tenho certeza que o brilho daqueles olhinhos poderiam iluminar o mundo inteiro —Você voltou pra mim.— ela pula nos braços dele.

 

—Voltei pra ficar com o meu amorzinho.— ele a manteve muito apertada em seus braços e beijou os seus cabelos.

 

—Eu tava com tanta saudade. Porque você viajou muito?— ela pergunta com a voz chorosa  —O Dindon falou que você não ia mais voltar. Briguei com ele.

 

—O papai se perdeu no caminho, mas a mamãe me encontrou e trouxe de volta.— ele respondeu.

 

—Mas mamãe também disse.— ela comentou  —E depois a gente chorou muito e ficou triste.

 

—A mamãe estava triste porque ela não sabia como encontrar o papai.— me justifiquei.

 

—Mas ela descobriu porque é muito esperta.— Tony  apoia o queixo na cabecinha dela, me olha e sorri —E agora ninguém precisa mais chorar e ficar triste.  

 

—Não viaja mais, por favorzinho?

 

—O papai vai fazer o possível pra não ter que viajar tão cedo.— ele promete —Eu amo você e a mamãe.  

 

—Três mil, né?

 

—Muito mais.— Tony responde.

 

—Mil milhões?— ela pergunta.  

 

—Uau, mil milhões é bastante.— eu comento.  

 

—Amo vocês duas mil milhões.— Tony  confirma.

 

—Filha,  vamos tomar um banho morninho pra baixar um pouco mais essa febre?— eu pergunto.  

 

—Não, quero ficar com o papai.—ela agarrou o pescoço dele.  

 

—Então o papai vai dar banho em você porque a minha princesa precisa ficar bem logo.— ele diz.

 

—E depois nós vamos comer, o Dindon foi buscar o jantar.— eu avisei.  

 

Tony a levou pro banho enquanto escolhi a roupa pra Morgan vestir.  Há muito tempo não fazíamos isso. A nossa pequena já estava numa fase semi-independente, e nem sempre deixava que a tratássemos como um bebê,  ela adora dizer que "Já era grande", mas agora ela era apenas a nossa filhotinha. Quer dizer, dele, ela vai ficar grudada nele.

 

Encostei no batente da porta do banheiro e fiquei os observando. A ligação deles é tão forte que Tony sonhou com ela antes que eu tivesse qualquer sintoma de gravidez. É tão reconfortante vê-los juntos, porque houve uma época em que eu achei que nunca aconteceria.  

 

—Lavamos tudo?— Tony perguntou, ela murmurou em afirmação —Então vamos sair daqui porque alguém precisa comer, não é?  

 

—Olha, bem na hora.— eu observo ao ouvir a buzina do lado de fora —O jantar chegou.

 

—Será que é cheeseburger?— ela pergunta.

 

—Não sei, mas eu adoraria que fosse.— Tony comenta.

 

Depois de ficar sem comer por quase dois dias não era a refeição ideal, mas Happy gosta tanto de agradá-los que eu posso apostar qual é o cardápio. Enquanto Tony a ajudava a se vestir eu desci.

 

—Happy, você é previsível demais.— comento ao chegar à cozinha.

 

—Quem bom, né?— ele rebate —Alguém precisa equilibrar as coisas porque vocês Stark são totalmente  imprevisíveis.— eu ri da observação —Eu estava, estou, tão atordoado com o Tony aqui de volta que só pensei em algo que ele gosta. Além disso, preciso agradá-la também porque a Morgan deve estar achando que eu menti esse tempo todo.— Happy argumentou —Como isso pode estar acontecendo?— ele se sentou, eu me sentei e contei tudo o que vivi em um único dia —Viagem no tempo?— ele perguna boquiaberto,  assenti —Steve Rogers agora tem uns 80 anos?

 

—Na verdade ele já tinha, né?— eu ironizo —Agora ele deve ter uns cento e muitos.— nós rimos.  

 

—Vocês sabem que precisam destruir essa máquina do tempo, né?  Imagina se isso cair em mãos erradas?

 

—Está destruída.— Tony disse ao surgir na cozinha trazendo Morgan nos braços —E só eu posso reconstruí-la.

 

—E você não vai fazer isso, certo?

 

—É claro que não!

 

—E nem vai deixar nada na garagem dando sopa pra uma certa mocinha encontrar?— Happy pergunta.

 

—Sopa? O jantar é sopa?— Morgan fez careta.

 

—Devia ser, mas não é.— eu intervi —Vocês podem falar disso depois?— os repreendi, e eles baixaram as cabeças como duas crianças.

 

—Não briga com eles.— Morgan diz.

 

—A mamãe não está brigando.—Tony me defende —Ela só não quer que o nosso jantar esfrie.

 

—E o que é o jantar?— a pequena pergunta.

 

—O que é que você mais ama?

 

—Eu amo o meu pai, né,  Dindon?— ela diz, achei o comentário ingênuo e fofo, mas isso não me impede de sentir muito ciúme —E a mamãe é meu amor também.— ela conserta após Tony cochichar algo em seu ouvido.  

 

—Bom, já que eu estou sobrando vou me consolar comendo.— Happy brincou.  

 

Morgan amou o jantar,  assim como Tony. Hogan o colocou a par dos últimos acontecimentos, os dois falaram muito sobre Peter e o quanto o garoto também sofreu nesses últimos dias. Meu marido manifestou o desejo de vê-lo, mas eu logo o dissuadi,  com a justificativa de que deveríamos ter mais tempo juntos antes das pessoas saberem de sua volta. Na verdade eu quero mantê-lo o mais longe possível de qualquer coisa que remeta ao Homem de Ferro. E acho que os dois homens na sala notaram isso. Então dei a desculpa de ter que levar a Morgan pra cama, já que ela havia dormido no meu colo.  

 

—Deixa que eu faço isso.— Tony disse após Hogan se oferecer pra levá-la.  

 

—Então eu vou indo.— Happy diz —Foi um dia bastante cheio.

 

—Se foi.— eu suspirei, beijei a testa da minha filha e ela já não tinha mais qualquer sinal de febre.

 

—Obrigado,  mais uma vez, Happy.— Tony disse antes de subir com a Morgan. Os degraus da escada rangeram.

 

—Você acha que ele vai arrumar a escada agora?— nosso amigo pergunta.

 

—Espero que sim.— respondo. Nos despedimos e mais uma vez eu o agradeci por tudo —Você pode não contar a ninguém  que ele voltou?— pedi e Hogan aquiesceu antes de se dirigir ao seu carro.

 

Fechei a porta, acionei o sistema de segurança, fui à cozinha e me servi uma taça de vinho. Depois de tudo que vivi hoje eu mereço esse momento. Quando deixei a cozinha encontrei  com o Tony sentado ao sofá na sala.

 

—Você disse que esteve em 2010 e com isso mudou o nosso primeiro beijo, não foi?— movi a cabeça em afirmação —Era isso que você queria mudar?

 

"Não era ele que não queria saber?"  eu pensei —Naquela coletiva você contou algo mundo inteiro...

 

—Então sua volta em 2010 foi pra me impedir de dizer que sou o Homem de Ferro?— ele perguntou, assenti —Você sabe que isso não muda o fato de saberem, não é? Confirmei depois, várias vezes.— assenti novamente —Então porque você fez?

 

—Eu estava ansiosa com a possibilidade de te trazer de volta, angustiada porque o Banner ficava falando que todos sabiam que você era você, então eu pensei que mudar aquele momento seria crucial, que magicamente apagaria as lembranças das pessoas de você ser você— eu justifico —Mas estava enganada.

 

—Nós estávamos sentados nesse sofá quando você me disse que o seu único erro foi tentar me impedir de ser quem eu sou. E agora você quer me afastar das pessoas que me fazem lembrar que eu sou o Homem de Ferro,  por isso você agiu estranho quando falamos do Peter.— ele conclui.

 

—Isso foi antes de te ver morrer.— eu falei.

 

—Amor, querer conviver com eles não quer dizer que eu vá voltar a encarar missões ao lado deles.— ele me disse, e eu bufei descrente.

 

—Tony, você mal havia voltado e já queria saber como Os Vingadores ficariam sem o Capitão América.— acusei.

 

—Pepper, ter voltado não muda o fato de que em algum momento eu vou morrer,  pode ser daqui dois meses, ou em vinte anos, morrer é uma consequência de estar vivo.   

 

—Eu sei disso.— digo irritada —Não te busquei  porque não posso viver sem você, é claro que eu posso, só não quero, porque eu eu te amo.  Só que há alguém que eu amo mais que você, e eu não podia ver a minha filha sofrer e definhar sabendo que eu poderia fazer algo pra mudar e não fiz.— a minha voz embargou —É muito fácil você querer criticar as minhas intenções quando deixa uma droga  mensagem dizendo pra eu seguir em frente, mesmo culpada.

 

—Não era pra vocês terem visto aquela mensagem.

 

—Estranho, pois parece que você queria que a gente visse, afinal uma criança de 4 anos achou o seu esconderijo.— ironizei.

 

—É uma mensagem de 5 anos atrás,  as circunstâncias eram outras.— Tony se defendeu.  

 

—Só que nós só a vimos há alguns dias.— repliquei —Você literalmente não viveu o que nós duas vivemos nos últimos dias, principalmente nas 48h antes de você voltar. Era algo irreversível,  a gente tinha apenas que aceitar, mas eu não conseguia dizer que ela nunca mais veria o pai, não podia acreditar que eu nunca mais te veria, então descubro que Steve voltou no tempo e mudou a história dele com a Peggy, eu tinha que tentar.— começo a chorar —Tinha que tentar resgatar a nossa história. Agora se você não consegue viver sem o Homem de Ferro fique à vontade pra continuar. Só espero não encontrar mais nenhuma mensagem…— parei de falar quando ouvi o barulho vindo da escada —Oi, meu amor.— passo as mãos pelo rosto.

 

—Não consigo dormir sozinha.— ela disse, caminhou até o sofá e sentou entre nós.

 

—Ei, o que está acontecendo, você sempre dormiu sozinha?— Tony observa.

 

—Mas a mamãe dormiu comigo quando você viajou.— ela revela manhosa e sonolenta.

 

—A mamãe te deixou mal acostumada, não foi?— eu a puxei pra mim e a aninhei no meu colo.

 

—É.— ela concorda —Mas agora eu quero dormir com o papai. Tô com saudade ainda.— ela mudou do meu colo para o dele.

 

Nossos olhares se cruzaram, eu realmente espero que ele entenda quem mais precisa dele nesse momento, e que sejamos suficientes pra ele como nos últimos 5 anos.


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Notas finais do capítulo

Eu tô pensando em escrever o próximo capítulo pelo "olhor" do Tony.
Vamos ver.

Até mais.



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