Amor Perfeito XIII escrita por Lola


Capítulo 55
Desnudar a si mesmo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Murilo Narrando

Estava preso no olhar de Kevin como aconteciam todas às vezes que eu o olhava de perto. Por isso estava evitando esse contato visual. De repente comecei a sentir uma dor muito forte na cabeça.

— Porra. – reclamei fechando os olhos.

— O que foi? – sua voz me fez sorrir e esquecer um pouco a dor, mas logo ela se fez presente de forma ainda mais forte.

— Uma dor na minha cabeça, vem da testa até aqui em cima. – passei a mão mostrando.

— Você usou alguma coisa? – o olhei com raiva.

— Não. – ele suspirou e Arthur passou a prestar atenção na gente.

— Para de beber vou ir buscar um remédio pra você. – vi meu primo erguer a sobrancelha e depois apontar com a cabeça para a entrada do abrigo.

— Vou com você. – deixei minha cerveja ao lado de onde eu estava sentado.

— Vamos. – notei que ele ficou desconfortável e não queria muito aquilo. Já que ele saiu andando em minha frente deixei que continuasse assim e fui atrás. Aquela dor realmente estava me matando. Os seus passos eram cada vez mais rápidos e os meus vagarosos. Quando entrei na enfermaria o vi procurando remédio no armário.

— Não precisa fazer isso. Sei me cuidar sozinho. – ele não deu ideia e continuou.

— Vai para onde ficam as macas, por favor. Tem uma câmera em cima da gente e eu preciso que você vá pra lá. Não questione, só faz isso. – fiz, mesmo que o que eu quisesse era questionar. Fiquei andando em círculos até ele chegar. – Peguei esse que é de enxaqueca, se a dor tá muito forte deve ser... – não o deixei continuar falando.

— Quer explicar por que eu estou fugindo de câmeras? Até onde eu saiba não é proibido pegar remédios.

— Fiz o meu pai achar que terminamos. – ficamos nos olhando. – Sei que você odeia que eu aja como ele, mas eu não podia vê-lo destruir nós dois e não tentar fazer algo. – eu não conseguia dizer nada. – Só piorei as coisas né?

— Por que você me tratou daquele jeito ontem?

— Porque eu precisava fazer você estender esse tempo... Só que eu não aguento mais. Dois dias sem você é máximo que eu posso suportar.

— Eu já estava pirando. – baixei o rosto. – Acho que minha dor de cabeça é por não ter conseguido dormir.

— Vem cá. – ele me abraçou e eu iria chorar se não tivesse tão inebriado com o seu o cheiro.

— Como vamos fazer? Se agora ele acha que terminamos.

— Vai ser complicado. Ele não pode nos ver juntos de jeito nenhum. Já tive algumas ideias, estou obcecado em fazer dar certo, ainda mais agora depois disso tudo. Mesmo que eu confiasse na gente você me deu um susto e eu não quero te perder, não vou deixar meu pai estragar tudo. Gostaria de ser perfeito pra você e sempre vou tentar ser o melhor namorado que eu posso ser. Perdão por tudo que ele te faz passar.

— Ouvir isso é melhor que qualquer te amo. – o seu sorriso se iluminou e seus olhos ficaram me observando. O jeito que ele me olhou fez meu coração ficar acelerado.

Já quase hipnotizado e sem conseguir mais sustentar nosso olhar, me encostei a ele e depositei um beijo em seu ombro. Ele começou a passar sua mão por minhas costas de forma carinhosa e eu me senti instantaneamente em casa novamente. Era como se esses dois dias fossem feitos apenas para nos mostrar que o certo era estarmos juntos.

Ficamos um tempo assim. Apenas aproveitando esse momento. Eu tinha certeza que as conclusões dele eram as mesmas que as minhas. Quando abro os olhos ele está me observando, mesmo que poucos centímetros de mim. Segurei sua mão e com a minha outra mão fiz carinho em seu cabelo, tentando adivinhar agora o que ele pensava, inutilmente óbvio.

Segurei seu rosto e me inclinei para beija-lo, sabia que seria daquele jeito. A saudade fez com que o beijo ficasse ainda mais intenso. Fui descendo, beijei seu queixo, a extensão do seu pescoço, mordisquei seu ombro, passei a mão para as suas costas e ele segurou a minha cabeça com os dedos enterrados em meu cabelo. Era incrível como a gente passava de um clima para outro em alguns instantes.

Tracei o caminho de volta e o beijei novamente nos lábios, ele abaixou a mão vindo para o meu peito e descendo até a minha barriga, fui fazer o mesmo que ele, mas ele resolveu me torturar e pegou minha mão a voltando para onde estava antes. Não protestei, como ele com certeza esperava que eu fizesse. Deixei sua mão sobre o meu peito e o puxei para mais perto, ele foi descendo a mão que agora parecia estar meio trêmula para o meu ponto mais sensível, segurei seu pescoço com firmeza e joguei meu pescoço para trás.

Foi então que me perdi completamente. Soltei algum som pela garganta e voltei a fita-lo. Minha respiração era difícil e eu queria provocar o mesmo a ele. Agarrei seu ombro e o fiz ficar de costas para mim, colei meu corpo ao dele, só então percebi o quanto meu corpo estava quente. Ataquei seu pescoço, no encontro das costas com a nuca, o que o fez murmurar.

Após outro beijo e deslizar as mãos por suas costas, sua cintura e subindo pela sua barriga, senti seu corpo se contorcer, e a cada movimento que eu fazia provocava um novo tremor e a tentativa de me afastar e ao mesmo tempo pressionar mais o corpo ao meu. Ele sabia que eu estava me deliciando com as reações dele. Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo quando vi que ele perdeu o equilíbrio, abafei o seu suspiro que ficou ainda mais alto.

— Preciso de você, não aguento mais. – falei depois de um tempo, esperando ele se recuperar.

— Sofro da mesma agonia. – nos olhamos. - Não agora. Não aqui.

— Você pensa muito em lá fora. Por quê?

— Porque a vida é lá. Isso aqui é uma realidade paralela. E vai passar.

— Sua dúvida maior é: será que vamos passar juntos?

— Se eu tinha alguma dúvida esses dois dias tiraram todas. – fiquei aliviado, porém me sentindo um pouco culpado. – O que foi Murilo?

Sua seriedade me deixou com receio de fugir da resposta.

— Ouvi sua conversa hoje mais cedo com Arthur. – suspirei lembrando as falas. - Você disse que tinha medo que eu ficasse com alguém e que isso te quebraria muito e ainda disse que é diferente de mim, já que você não se envolve sem sentir nada e que a única pessoa que você ficaria está fora desse abrigo. Ele perguntou se era o seu ex e você disse que sim.

— E a parte que ele concluiu que eu disse isso da boca pra fora porque estava muito nervoso, pois você estava mal pela forma que te tratei ontem? Essa você não escutou né?

— Não mente Kevin. Você sabe que você ficaria com ele.

— Murilo... Mesmo se não existisse esse sentimento entre a gente e que não estivéssemos juntos, a partir do momento que você me ajudou a ver as coisas de outra forma e conseguiu ter o melhor de mim, eu percebi que eu não preciso dele. Já não o queria antes e não vou querê-lo nem se ficar solteiro.

— Preciso aprender a lidar com isso. Não sei mesmo como superar vocês dois. –ele ficou em silêncio, aposto que perdendo a paciência. – Eu não tive ex, é bem fácil para você.

— Quer terminar e namorar alguém? – fiquei o olhando. – Assim você termina e vai ter ex.

— Como se eu fosse sentir algo por alguém.

— Você acha que eu não me sinto mal vendo o carinho que você tem por Fabiana Murilo? Que se dane se é amizade pra você, ela já exaltou o sexo entre vocês de todas as formas possíveis. – dei um sorrisinho. – Te faz feliz que eu fique com ciúme? Sério?

— Não. É que você entende um pouco o que eu sinto.

— Entendo. Sempre entendi. Só não acho nem um pouco necessário. Eu... Amo é você. – ele diz a última frase rápido demais.

— Que vontade de gravar você dizendo isso. – digo sorrindo com os lábios colados aos dele.    

— Seu surto passou? Por que precisamos conversar sério.

— Ahhh... – fiz um beiço enorme. – Caleb. Caleb. Caleb. – resmunguei. – Não dá para nos tele transportarmos para um mundo onde o demônio mor não exista?

— Hã, hã. – sua resposta seguiu de um sorriso sutil.

— Tá bom. – me sentei na maca. – Vamos lá.

— Não quero esconder nada de você. Tudo o que fizer para o meu pai eu quero que você saiba, porque eu não posso deixar que ele crie um abismo entre a gente.

— O que isso significa?

— Significa que você vai ter que saber de muita coisa. Coisas que ninguém sabe. – pensei no quanto era complicado.

— Kevin isso não é necessário.

— Você faz parte da minha vida e eu quero que tudo que acontece comigo esteja bem transparente para você.

— Não vai te complicar e nem te fazer mal falar disso?

— Confio em você. E não tem como fazer mal levando em conta o motivo de estar me abrindo.

— Vá em frente então. – suspirei, esperando o pior.

— Esses dias eu estive conferindo o balanço patrimonial das empresas da família espalhadas pelo país e até fora dele.

— Isso é muito trabalho!

— Já está feito. Eu só estava revendo. Mas o fato é que meu pai estava desconfiado que Gustavo quer vender algum dos hotéis. Sem ele saber. Ele achou que algum ia mal e que eu descobriria alguma coisa escondida.

— Descobriu?

— Não. – ele desviou o olhar. – Só que ele quer que ele faça essa venda e está querendo montar um plano para isso. Ainda é algo que está na cabeça dele.

— Por que ele quer isso?

— Agora são as coisas que você precisa saber se a gente for mesmo ficar juntos. – senti meu corpo gelar. Seu olhar era sério. – O seu pai traficava drogas quando era novo e Gustavo o ajudava nisso...

— Eu sei disso. Vagamente, mas sei.

— Tá, calma. Não fica nervoso comigo porque eu não estou tentando fazer inferno nem nenhum tipo de manipulação. O fato é que a gente nunca abandona as raízes... Eles têm contato com o pessoal do morro ainda. E numa dessas o meu pai conheceu o chefe... - nos olhamos. - O meu pai é um narcotraficante Murilo. E ele usa o hotel para lavar dinheiro. O vídeo que eu tenho dele ocultando um cadáver ou sei lá o que ele fez aquela noite é parte dessa sujeira, e é por isso que não posso entrega-lo.

— Mas ele não anda pra lá e pra cá com caras armados igual aos filmes.

— Você vive em filmes? Estamos na realidade.

— Mas essas coisas nunca ficam ocultas Kevin!

— Por que ninguém sabe. Os únicos que souberam estão mortos.

— Como ele faz isso? Ele tem laboratório?

— Quanto menos você souber é melhor. Mas te garanto que não é nada disso que você tá pensando. Esquece séries e filmes.

— Claro que é, não sou burro, ele produz e manda. Eu quero saber como e pra onde.

— Ele não produz e manda, ele intercepta. Passa por ele. Antes de dizer que ele não é o que eu disse que é e falar que ele é apenas uma peça, saiba que essa cruzada é que dá continuidade ao negócio.

— Ele meio que coordena?

— Não. Não dá pra te explicar sem falar abertamente e eu não estou à vontade. Não queria falar disso e fui inocente ao achar que seria mais fácil. Estou te colocando em risco te contando essas coisas.

— As anfetaminas e estimulantes que você repassa você pega com ele? – ele ficou calado. – Por isso aquele dia você estava tão tranquilo! E ele dando aquele show todo. Desgraçados.

— Você tá focando muito na droga, não entendeu a parte que ele usa o legado da sua família para lavar dinheiro?

— É a família dele também. Se o meu tio Gustavo não vê as notas fiscais falsas ou o movimento todo que ele faz, quem sou eu? Foda-se.

— Você tá bem nervoso. Precisa se acalmar.

— Claro que eu estou. Seu pai não tem um pingo de caráter. E parece que a única coisa que ele soube te ensinar foi não ter também. – ele abaixou a cabeça e ficou em silêncio

— Eu não sou igual a ele. – ele falou depois de um bom tempo.

— Por que ele quer vender um dos hotéis? Está com problemas no paraíso?

— Ele é viciado em jogos. As apostas comprometem todo o dinheiro que ele faz dos negócios e do hotel.

— E ele anda por aí de terno e carro importados?

— Ele nunca vai deixar de ter o padrão de vida que tem, por isso ele já está pensando além.

— O seu pai é um ser asqueroso, você é o que restou da sanidade dele só que com a mesma maldade. – ele me olhou de lado ainda sério. – Não estou bem com isso tudo que ouvi e não sei se quero participar dessa loucura.

— Onde isso deixa a gente?

— Tá se fazendo de burro? Você entendeu muito bem.

— Por que tá sendo tão grosso comigo? Eu só quis ser verdadeiro. Você só está me ofendendo e me tratando mal.

— Ser verdadeiro é mostrar como vocês dois são podres.

— Pelo menos eu não vivo um faz de conta. – ele estava extremamente magoado e agora me magoaria feio. - Escrevo o meu futuro como eu quiser... Essa figura toda de garanhão e essa necessidade de sexo que você tem... Não é assim que você vai conseguir.

— Conseguir o que?

— Se encontrar. – ele se desencostou da outra maca e saiu da minha frente, sumindo como um vulto. A gente sabia que isso tudo era muito mais profundo que ficarmos juntos ou não. Entrei ali com a dúvida de como faríamos para sermos iguais duas pessoas normais, sem ter que ficar se escondendo por aí e sai cheio de dúvidas muito maiores, sobre as pessoas, sobre as coisas, sobre mim mesmo e até sobre a vida. Nada se limitava ao Kevin. Tudo era um plano bem maior. E eu sabia que com a inteligência dele ele já tinha várias respostas, mas eu precisava descobrir tudo sozinho. E acho também que é assim que iria ser.


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