Amor Perfeito XIII escrita por Lola


Capítulo 38
Quebra de confiança


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Murilo Narrando

Uma coisa que eu nunca vou entender é uma garota quando não aceita um fora. Fabiana se insinuava para mim de todas as formas, mesmo dizendo que iria superar.  Eu a achava muito legal e estava me sentindo culpado por fazê-la sofrer, com ela fazendo isso... Ficava ainda pior. Resolvi retribuir o olhar para ver se ela ficava sem graça e parava.

— Quem dera se a saudade batesse apenas uma vez... – ela disse e suspirou.

— Eita gente! – Rafael exclamou e riu.

— E eu perdi isso. – Alícia falou me olhando com desejo.

— Vocês não ficaram? – Fabi perguntou e olhou para nós dois.

— Não. Ele deu crise de consciência. Talvez ele seja menos cachorro que pensa.

— Quem faz como ele não é pouco cachorro não. – Fabiana discordou.

— Dá para vocês acabarem de jantar sem pensar no meu pau?

— É com esse tipo de coisa que eu tenho que lidar por andar com idiotas. – Ryan reclamou.

— Mas agora vou ter que defender ele porque as minas aí tão se jogando...

— Cala a boca Yuri, você sabe de nada.

— Bora pra sala de vídeo? Vai passar um filme da hora. – Alê chamou e todo mundo concordou. Que merda. Odiava ficar parado vendo filme, não conseguia de jeito nenhum, mas se eu ficasse de fora seria pior porque com certeza Fabiana daria um jeito de me achar e eu não estava querendo dizer a ela de novo que era melhor não ficarmos próximos.

— Para. – Kevin pediu segurando minha perna que eu insistia em balançar. Virei de lado totalmente para ele e mesmo com a pouca luminosidade fiquei o encarando. – Você quer tirar minha paz? – ele perguntou com aquele jeito irritado dele. Dei um sorriso e depois olhei para baixo, simulei um chutei que claro, ele defendeu com um ótimo reflexo, só que a ideia era desviar sua atenção, então puxei a cordinha de cima do seu moletom, o fechando completamente. – Você tem quantos anos? – ele perguntou enquanto eu ria.

— Seu pescoço vai ficar vermelho. – comentei ainda rindo.

— Lógico. Você viu a força que você puxou? Você é doente.

— Não gostei. – virei pra frente. Cruzei os braços e tentei prestar atenção naquele filme idiota. Abaixei meu corpo e apoiei a cabeça no encosto da poltrona e tentei dormir.

— Por que você não vai pra sua cama? – ele perguntou baixo perto do meu ouvido me fazendo quase gritar de susto. Eu o olhei com ódio. – Quer sair daqui? – sorri grande. – Vai, anda. – fui quase correndo. – Lembrei que você odeia filmes desde novo. – ele comentou e riu quando já estávamos no corredor.

— Essa porra é um saco. Eu gosto de poucas coisas que tem que ficar parado.

— Jamais me conte quais. – ele fez cara de nojo e sorriu. – O que você quer fazer? Nem a pau que eu vou ficar atrás de mulher contigo, esquece.

— Elas que ficam atrás de mim filhão, acorda. – sentamos no banco que eu o encontrei no dia que pedi para deixar Arthur em paz.

— Você não vai bolar isso não. – ele disse ao ver o que eu ia fazer.

— Falou o cara que vende a drogaria inteira. – o encarei com raiva.

— Alguém pode chegar Murilo.

— Uma erva inofensiva, não fode né? – dei de ombros.

— Você vê o quanto é contraditório? – ele perguntou e suspirou, se escorando no banco. – Quer que eu seja uma pessoa melhor, mas usa essas merdas.

— Ah não Kevin! Fumar isso e acabar com um relacionamento são dois extremos bem opostos. – ele ia dizer alguma coisa, mas não deixei. – Infernizar a vida de alguém e fumar isso apenas se prejudicando são diferenças inegáveis.

— Você virou a porra de um playboy chato cheio da razão.

— Não sou playboy. Playboy é quem tem vida fácil. – ele deu uma crise de riso me fazendo rir também.

— Você não é o que Murilo? – ele chegou mais perto ainda rindo.

— E você é o diabo. Filho do satanás.

— Na verdade eles são tudo a mesma coisa.

— Pra mim não. – olhei o cigarro que eu tinha enrolado. – Perfeito igual o papai. Tem isqueiro?

— Eu fumo Murilo?

— Não sei. Fuma?

— Raramente. - ele riu. Parecíamos dois retardados. – Tenho não. Você carrega isso aí e não carrega um isqueiro?

— Tá com a porra do Fael. – mandei mensagem para ele. – Agora é rezar para dar sinal direito e chegar rápido. – guardei o cigarro e o celular e escorei os cotovelos no encosto e o olhei. – Mas e aê, como está a nova fase da sua vida?

— Tirando a parte que tenho que te aturar tá boa. – puxei as cordinhas do moletom dele de novo. – Filho da puta, eu vou ficar sem pescoço.

— Deu sorte que não foi um soco.

— Eu menti? O Arthur já te falou para diminuir essa... Fixação com a minha pessoa. Mas você não consegue né?

— Ah... É legal. – apoiei meus cotovelos em minhas pernas e fiquei olhando para ele. – É da hora te fazer raiva, te ver irritado, te ver rindo, é da hora te ver sendo tão diferente e também sendo igual aquele antigo idiota as vezes. É da hora suas reações diante das coisas... Eu curto. – ele ficou calado e desviou o olhar. – O que foi?

— Nada. – ele olhou pra baixo e respirou fundo. – Quer dizer... Está acontecendo muita coisa nova. Não estou acostumado a receber elogios e agora aparece um cara que a namorada fica me olhando. E você e Arthur me dando tanta atenção... Não sei lidar com isso tudo.

— Tem que deixar as pessoas gostarem de você.

— Como eu faço isso?

— Não se segurando tanto. E não se prenda aos seus erros. Você foi uma pessoa horrível, mas passou. – ele sorriu e eu sorri em seguida.

— Qual é? – Rafael perguntou chegando. – Que climinha romântico de casalzinho é esse? Nem vem que você é meu. – ele sentou em meu colo me fazendo o empurrar com raiva.

— Se você tiver amassado a porra do... – ele me interrompeu.

— Ama mais essa merda que eu, tá vendo? – ele perguntou olhando para Kevin e depois sentou no encosto do banco. – A porra da Fabiana tá vindo aê.

— Ah não mano! Que merda.

— Ela perguntou onde eu estava indo, encheu o saco. Mas relaxa, ela não vem sozinha.

— Quem?

— Alê. – peguei o isqueiro da sua mão. – Ele tá mesmo dando uma com a Larissinha? – não aguentei e dei uma risada.

— Vocês são escrotos demais. – Kevin observou e revirou os olhos.

— Os quietinhos são os piores, você deve aprontar pra caralho e fica fazendo a egípcia todo misterioso. – ele olhou Rafael e depois desviou o olhar.

— Só aprontaria se sua mãe estivesse aqui.

— Mãe de quem? – Fabiana perguntou ao chegar enquanto eu acendia o cigarro.

— Você vai fumar essa porcaria? – ela me olhou enfurecida.

— Cheguei. – Alê se sentou ao lado de Fael. – Passa. – ele estendeu a mão para mim e eu ri.

— Relaxa cara, acabei de acender.  Bola mais. – joguei pra ele o resto que estava em meu bolso e ele ficou entretido com aquilo. – Alguém tá bem tenso. – falei olhando para Alê enquanto Fael fumava.

— Larissa. Quero transar com ela. O mais rápido possível. E não posso. Isso é uma merda! – ele estava muito puto. Comecei a rir e Fael também.

— Ninguém mandou trocar uma por outra. – Fabi deu sua opinião feminina.

— Quem chamou essa menina aqui mesmo? – perguntei e ela fez careta nem se incomodando. Fael se levantou e ficou em minha frente, pegou o cigarro da minha mão, deu uma boa tragada e segurou a fumaça na boca, percebi que ele não deixou que ela fosse para os pulmões. Fiquei o observando sabendo o que ele iria fazer. Ele abriu lentamente a boca para soltar a fumaça, sem expirar nem soprar jogou o lábio inferior para frente para manda-la para cima. Depois de solta-la, a mandou para o nariz e usou a língua para empurra-la para fora da boca. Por fim ele se posicionou mais perto do meu rosto se abaixando e puxou o ar pelo nariz até toda a fumaça sair da sua boca, passando para a minha.

— Tragada francesa? Sério? Vocês praticamente se beijaram. – Alê comentou assustado.

— Quase encostar uma boca na outra não é se beijar.

— Por que Murilo? – ele me olhou ainda muito surpreso. – A gente faz isso com garotas.

— Eu faria até com meu pai se ele fumasse. – dei de ombros.

— É porque você não sabe fazer. É um truque legal pra caralho e quando você aprende quer fazer com todo mundo. Foi o Murilo que me ensinou.

— Que porra de maconheiro é você que não sabia fazer uma tragada francesa? O Murilo vai ter que te ensinar a comer uma mulher também? Ah é, você não gosta!

— Alexandre você está sendo um idiota. – reclamei insatisfeito.

— Vocês tem um caso? – ele me olhou sério.

— O Arthur já transou com o Fael. – Fabiana falou fazendo todos nós a olharem. – Ah qual é?

— Não transei COM o Arthur. Foi um sexo grupal que ele participou. Não nos encostamos.

— Você fez ménage, mas não sabia fazer uma tragada francesa?

— Qual é a porra do seu problema em um cara passar fumaça para o outro Alexandre? Você é um gay reprimido? Tá doendo tanto assim?

— Não tem problema nenhum. Mas é estranho. Conheço vocês e sei que não são gays então se forem me contem, quero saber.

— Somos. – Fael sentou em meu colo e beijou meu pescoço. – Amor não deu pra esconder. – entrelaçamos nossas mãos e ele ficou me enchendo de beijos. Selamos nossos lábios e o Alê pirou.

— Vou começar a acreditar. Deem um beijo de verdade.

— Meu amorzinho é tímido. – não estava aguentando a voz afeminada de Fael.

 - Você é caricato pra caralho. – reclamei e o tirei de cima de mim.

— Desculpa por não saber ser gay querido. – ele falou com raiva.

— O que tá rolando? – Yuri perguntou chegando e Fael o olhou de cima a baixo.

— Se quer saber se eu fosse gay mesmo iria querer o Yuri e não você. Além de bonito ele é feliz. Você é igual sua irmã, chato.

— Que porra de me querer, sai fora. – Yu saiu de perto dele. – Cadê a Sophia? Ela vai mesmo assistir o filme até o final? Nem quem deu a ideia que é o Alê ficou.

— Larissa fica gostosa pra caralho a meia luz. Não aguentei ficar lá.

— Papo de homem! Saudade! – Rafael ergueu as mãos para o céu e agradeceu. Reparei em Kevin e vi que ele não estava de bom humor.

— Por que está com essa cara? – perguntei baixo.

— Foi a que Deus me deu. – ele respondeu acidamente, lembrando o Kevin de sempre. Fiquei calado, se eu dissesse algo iriamos brigar e isso só resultaria em uma regressão. Não queria isso. Ele me olhou vendo que eu ainda o analisava. – Vocês são uns babacas! – ele falou e desviou o olhar. – Vocês não tem a mínima noção do que um gay passa, do que é ser gay, do que essas brincadeirinhas ridículas e idiotas podem causar a uma pessoa que é gay e se reprime. Deveriam pensar antes de falarem todas essas merdas. Típico de heteros nojentos que só pensam em sexo. – fiquei sem palavras. Ele me olhou depois de um tempo. – Acho que eu vou ir dormir.

— Então me ensina. – falei de forma séria para ele não achar que eu estava brincando. – Realmente não tenho a mínima noção de nada disso. Mas posso aprender. Se você puder me ensinar. – ele ficou me olhando como se eu tivesse acabado de falar uma coisa totalmente absurda. – Isso vai fazer de mim uma pessoa melhor, eu tenho certeza. – expliquei e ele sorriu de lado.

— Tá bom. – ele suspirou pesado e antes de se levantar desviei meu olhar para dizer o que eu diria, já que não me sentia tão confortável assim.

— Ah, obrigado por se abrir.

— Quem disse que eu me abri? – ele perguntou e se levantou. Deixei que ele fosse. Não queria mais falar daquilo. Então em uma coisa pelo menos Arthur estava certo.

Alice Narrando

Não sabia pra que existiam aquelas aulas idiotas, hoje em especial eu estava mais desconcentrada que todos os outros dias.

— O trabalho é em grupo e a opinião tem que ser democrática. – Otávia reivindicou alguma coisa que as gêmeas disseram.

— Vocês são chatas pra caralho, na moral! – meu irmão resmungou e foi jogar em seu celular, como quase sempre fazia.

— Murilo. – Soph o chamou baixinho. – Murilo!

— Que? – ele a olhou e ela riu. – Retardada.

— Dani. – ela olhou disfarçadamente para a garota que estava há algumas cadeiras da gente. – Já? – ele olhou para ela e voltou a olhar Sophia. – Sabia que não. Ela não para de olhar para você. Se aparecer com ela seria uma forma de tirar Fabiana do seu pé, você costuma ser cruel mesmo.

— Que horror! – reclamei. Ele olhou para a garota de novo e deu um sorrisinho. – Você é ridículo.

— Ela não acha. – sua resposta me fez o encarar com mais raiva ainda.

— Você não disse que estava arrependido Murilo? Que não queria fazer ninguém mais sofrer?

— Minha cabeça e meu... Eles não se entendem. – ele explicou e fingiu estar envergonhado.

— Que seja nenhum homem presta mesmo.

— O Arthur presta. – Otávia discordou.

— Eu o vi em um papo bem intimo com a ruiva... O que é de se esperar, já que... – ela me interrompeu bruscamente.

— Ele te ama Alice. Seja como for que vocês se magoem, parece que esse sentimento não vai morrer. Então não fala merda.

— Namoraria você. – Murilo falou e a olhou por segundos. – Se eu namorasse alguém. Você é inteligente.

— Sou tão inteligente que nunca fiquei com você.

— Porque eu não quis.

— Qual o meu problema?

— Nenhum. Só medo do Arthur mesmo. – eles riram e eu continuei séria.

— Então sou bonita? – ela sorriu grande e depois riu de novo.

— Na verdade não namoraria não. – eles se olharam. – Sua beleza é exótica. Chama atenção demais. Sou ciumento.

— Que? – perguntei perplexa. – Que merda você tá falando Murilo?

— Tive ciúme da Fabiana com Ryan, não lembra?

— Ciúme? Poupa minha paciência. Você teve foi um ataque de ego ferido porque não era mais o único.

— Que seja. A mãe é ciumenta pra caralho, você também. Se eu gostar de alguém com certeza vou ser ciumento. – ele guardou o celular. – Vamos ir almoçar.

Assim que chegamos ao refeitório vimos nossos pais, pensei que havia acontecido alguma coisa, que tinham novidades sobre a doença, mas não era nada de mais, eles só estavam com tempo mesmo.

Antes de cuidar das plantas fiquei um pouco com meu pai e ele disse que estava feliz em saber que eu me afastei de Kevin.

— Agora ele, Arthur e Murilo andam muito juntos né? Pelo menos tenho visto os três e sua mãe chegou a comentar algo...

— O perdão que ele pediu era verdadeiro pai.

— Não acredito na mudança dele. E o seu irmão já me traz problemas demais, não queria os dois juntos.

— Mas eles sempre foram próximos.

— Não desse jeito. – seu semblante ficou sério. – Pede a ele para tomar cuidado.

— Tá. – respondi um pouco contrariada. – Maísa não recebeu mesmo nenhuma notícia?

— O boletim de informação diário continua quase que o mesmo todos os dias. – ele respirou fundo. – Não sei até quando vamos aguentar.

— Pelo menos estamos todos juntos. – sorri fraco. Ele me abraçou de lado e beijou o topo da minha cabeça. Despedi dele e fui para a minha função. Essa era a única coisa que me distraia nos últimos dias.

Murilo Narrando

Estava picando as cebolas para o jantar quando Kevin apareceu e sentou na bancada. Olhei para ele e depois voltei minha atenção ao que estava fazendo.

— Você acabou de sair do banho, vai ficar cheirando cebola e legumes. – falei olhando a fumaça bem a frente. A parte que estávamos era separada por alguns armários abertos com vasilhas e o fogão ficava muito a frente. Isso era ótimo, porque o calor ali era menor.

— Tanto faz. – ele deu de ombros.

— Segundo a minha irmã o meu pai acha que você vai me influenciar negativamente e que nossa amizade está excessiva... – o olhei. – Vai ser um trabalho árduo você melhorar sua imagem com os adultos.

— Eu estava achando que ser legal era fácil, mas a verdade é que ás vezes é bem cansativo. – ele suspirou e nos olhamos. – O que eu faço?

— Conversa com ele. Seja sincero. O meu pai é... Ele é um filho da puta, mas um filho da puta que consegue reconhecer sentimentos. – ele riu, me fazendo dar um sorriso.

— E ele é um influenciador do caralho. Se ele achar que eu mudei ele convence a todos.

— Herdei isso. Foi assim que te influenciei a querer mudar.

— Pode ser. – ele suspirou e pareceu ficar tenso. – Sobre ontem... – nos olhamos. – Você quer mesmo saber as coisas que não sabe?

— Por que eu dormiria e mudaria de ideia?

— Você estava chapado.

— Ainda era e sou um ser humano. – sorri ironicamente e depois coloquei toda aquela cebola na vasilha e peguei os tomates lavados. – Odeio isso.

— Ser humano? – ele perguntou e riu.

— Não. Esse lugar. Fazer essas coisas. Pareço um retardado.

— Mas você não gosta de cozinhar?

— Não estou cozinhando! Estou picando coisas. Isso é...  Ah! – respirei fundo.

— Você é muito sem paciência. – sua risada fez com que eu ficasse ainda mais irritado. – Tá. Vou ficar calado. – comecei a fazer aquele trabalho inútil, que na verdade era necessário, mas era chato e não era o principal da cozinha. – Quer que eu saia daqui? – continuei calado. – Ameaça enfiar essa faca em meu estômago, mas fala alguma coisa.

— Vocês brincam entre vocês? – o olhei e depois desviei o olhar. – Digo. Nós heteros não podemos brincar, é uma ofensa eu sei, porque soa pejorativo, mas tipo... Vocês dizem essas coisas? – ele franziu a testa e me olhou como se eu fosse louco. – Quero me distrair do que eu estou fazendo. E seria bom se você já começasse a tirar minhas dúvidas. Não?

— Vocês brincam “nossa como você é hetero”?

— Não, mas... – pensei e realmente não fazia sentido. Ele ficou me olhando.

— Não somos bichos no zoológico Murilo. Pode ser diferente da sua realidade, mas não é algo que você tem que tratar como se fosse de outra espécie.

— Caralho! Que interessante, nunca tinha parado pra pensar nisso.

— Claro... Quer que eu diga só o que você pensa? – ele perguntou e riu.

— Tenho tanta coisa para te perguntar.

— Vamos com calma, devagar. Você não vai se desconstruir de repente.

— Mas eu nunca fui preconceituoso. Só não pensei no assunto porque não fazia parte do meu cotidiano. - o olhei sério.

— O que foi? – ele perguntou parecendo assustado.

— Como você descobriu? – ele ficou sem graça. – Sabia! – comecei a rir sem parar. – Eu te fiz virar gay!

— Ninguém faz ninguém virar gay Murilo.

— Tá admitindo? Ah, sou muito gostoso. – peguei uma bandeja de alumínio e fiquei me olhando. – Sério. Essa minha boca. Eu já disse que ela é de outro mundo, não disse?! – o olhei. – É isso que acontece quando os seus pais fazem sexo com amor. Sai isso aqui. – deixei a bandeja e voltei para os tomates.

— Você vai falar disso o resto da vida não vai?

— Eu te fiz virar gay. Dá licença.

— Se quer ser mesmo uma pessoa melhor poderia começar parando de falar essa frase de merda.

— Ah! É tão divertido.

— E idiota.

— Você se apaixonou? – fiz uma expressão triste. – Desculpa ter feito você sofrer.

— A pessoa mais arrogante e exibida que conheço no mundo se chama Murilo.

— Qual era a sua idade?

— Não me apaixonei Murilo. A única coisa que eu senti por você foi atração justamente por causa dessa sua boca de outro mundo. – ele revirou os olhos. Dei uma risada alta. – Mas não é desdenhando, durou bem pouco, foram segundos eu acho. – o olhei desacreditado. – Talvez minutos. Mas não estou mentindo. Não é como com Arthur, que se apaixonou e ficou louco. Esquece. Nunca seria.

— Nunca seria mesmo, porque o mínimo de amor próprio que você tem você acabaria com qualquer sentimento. Minhas atitudes... – dei de ombros.

— Não só por isso. Quando senti essa atração ainda éramos novos, não lembro a idade ao certo, mas era no ensino fundamental. E não era hora pra pensar nisso. Foi uma coisa tão de momento e rápida que eu achei que não era nada sabe? Daí eu fiquei com garotas.

— Não gostou?

— O Caio da outra sala me parecia bem mais atraente. – ele comentou e deu uma risada. Revirei os olhos.

— Estou lembrando que você ficou com a minha irmã. É um escroto mesmo.

— Nunca disse que não era. Iludi Alice ao ponto de ela dizer não ao Arthur e ele já me perdoou por isso. Dá pra você superar?

— Daí você descobriu que não gostava de garotas. E foi difícil?

— Bastante. Porque eu não tinha com quem conversar. Nunca tive amigos e a pessoa mais próxima a mim era você e você só queria saber de estar atrás de garotas e com certeza não me entenderia. Não naquela época. – ele suspirou. – Para alguns é mais difícil que para outros. Tem quem demore anos para se aceitar.

— Mas como você descobriu?

— Essas coisas a gente sente. Senti que era diferente. Desde novo. E a primeira pessoa que eu quis beijar na vida não era uma garota. NÃO SE EXIBA MAIS UMA VEZ pelo amor.

— Calma. Estou quietinho. – levantei as mãos.

— Nunca quis ficar olhando para elas e nem fazer as coisas que vocês geralmente fazem.

— Mas você sempre foi como todos os meninos. – comentei pensativo.

— Por dentro não. Você parece inconformado.

— Não é isso. Estou surpreso desde ontem. Juro que não imaginava.

— Todos sempre falam que sou misterioso, que nunca sabem do que eu gosto, que nunca apareço com ninguém...

— Ah, sobre isso... – o interrompi. – Você tem namorado?

— Como eu imaginei. – ele deu uma risadinha. – Você já foi contar ao Arthur.

— Desculpa. – fiquei muito sem graça. – Desculpa mesmo. É algo que eu não soube lidar sozinho e precisei falar pra ele, porque ele é seu irmão e ele já estava desconfiado e... Não tem desculpas. – respirei fundo. – Pelo menos estou admitindo. Poderia negar e mentir.

— Você sabe que isso dificilmente funcionaria comigo.

— Perdão Kevin. Eu não tinha o direito. Sei o quanto ainda é delicada a relação de vocês. Estou me sentindo muito culpado, não devia ter feito isso.

— Mas fez. – ele pulou da bancada ficando em pé. – Ainda tinha esperança que isso não fosse acontecer. Fui idiota. E esse é o motivo de eu não confiar nas pessoas.

Depois que ele saiu eu senti uma coisa que eu nunca senti antes. Não sei se era exagero comparar o meu peito se dilacerar a aquilo, mas doía tanto. Parecia que faltava ar e o chão iria abrir sob meus pés. Aquilo não podia estar acontecendo. Não fiquei assim por amigo nenhum antes. Talvez seja por temer que ele volte a ser aquele monstro sem sentimentos e não porque sentiria a falta dele se não nos reconciliássemos. Quem eu estava querendo enganar? Mentir para mim mesmo só pioraria as coisas nesse momento.


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