Amor Perfeito XIII escrita por Lola


Capítulo 31
Abrigo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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O fim de semana passou comigo na cama, menti dizendo que ainda estava passando muito mal e meu estômago doía bastante, mas eu estava bem... Quer dizer, fisicamente sim. Emocionalmente um lixo. Tentei não chorar perto das meninas, mas uma hora não deu.

— Hoje é segunda, já são três dias com você nessa cama. E sem comer direito. Não acha que deve voltar ao hospital para fazer mais exames? – Soph perguntou preocupada.

— Péssima ideia. Ela chega lá com um problema e sai com uma doença terminal. Não vê que a Alícia até hoje está bamba? Essa praga é uma maldição. – a irmã discordou dela.

— Mas se ela não for ao hospital vai ficar piorando em casa? Concordo com Sophia. – Gio deu sua opinião.

— Vocês falam demais. – Otávia reclamou. – Ela só precisa de tempo. Alice vai melhorar. Não vai? – ela me olhou e sorriu.

— Claro. – sorri de volta.

— Ela chorou de dor hoje. Se isso é melhorar. – Soph se levantou. – Vou ir continuar ajudando sua mãe a registrar as pessoas. Depois eu volto.

— Temos que ir também. – Lari olhou para Gio e Otávia.

— Não vou deixar Alice sozinha, podem ir. Digam a minha mãe e a tia Raíssa que daqui a pouco eu vou. – elas saíram e Otávia se deitou comigo. – Quando isso tudo passar quero fazer uma tatuagem.

— Qual?

— Não sei ainda, mas algo sobre sobrevivência. Envenenaram minha cidade. E se eu sair viva eu quero registrar pra sempre em minha pele.

— Eu só vou querer esquecer.

— Sei lá... Sinto que tem mais coisa te incomodando... É o Arthur?

— Não. É só dor mesmo. – menti. Tudo que evitei nos últimos dias foi pensar nele e falar dele não ajudaria em nada.

— Ontem Rafael conversou com o pai dele por vídeo chamada. – ela contou e me olhou. – Ele me puxou e brincou que eu era a namorada dele.

— Vocês estão ficando?

— Não! É só mais uma das idiotices dele. E mesmo se estivéssemos conhecer os pais é um passo grande.

— Deve ser.

— O meu irmão está estranho. – ela voltou no assunto. - Não conversa com ninguém. Só fica lá em cima com Alícia agora que não precisa ir mais para obra.

— Dá pra falarmos de outra coisa?

— Não. Eu já o confrontei. Já tentei saber de todas as formas... E nada adianta. Ele te disse por que mudou de opinião sobre você?

— Por favor, Otávia. – comecei um choro sentido.

— Meu Deus Alice, você parece muito magoada. – ela afirmou enquanto me abraçava. – Calma. – ela me olhou e viu o quanto eu não estava nada bem.

— Ei, ei, ei. – Fabiana entrou no meu quarto fechando a porta novamente e vindo até a mim. – Sua mãe está te chamando. – ela avisou a Otávia depois de me abraçar. Pode ir, eu vou ficar com ela.

— Eu volto. – ela passou a mão em meu cabelo e deu um beijo em meu rosto.

— Por que você está chorando tanto? – Fabi perguntou depois de tomar o lugar de Otávia na cama. Não respondi nada, não conseguia. Um bom tempo depois quando me acalmei enxuguei meu rosto, respirei fundo e a olhei.

— Um momento de fraqueza.

— Acho que você notou que eu tenho evitado ficar contigo né?

— Com tudo que está acontecendo eu não ando reparando em nada.

— Sei que você notou, só não quer admitir. E sei que está pensando que é porque estou do lado dele, mas não é isso.

— Por que vocês têm que falar dele?

— Ele te ama. Você gosta dele. Vocês como amigos já era lindo, imagina como um casal. Talvez por que a gente queira ver o bem de vocês dois.

— O bem de nós dois nesse momento é deixar tudo como está.

— Sim, eu sei. Nesse momento sim. Sua tia conseguiu o que tanto queria. - nem insisti em falar daquilo, não valia a pena.

E chegou o grande dia de mudarmos para o abrigo. Achei que assim encontraria com Arthur, mas nem o vi. E isso era ótimo. Ao chegarmos vi de longe o quanto a cúpula era imensa. Gigantesca. Eu havia visto as fotos que Ravi mostrou quando estavam prontas, mas por foto não dava para notar a imensidão. E era difícil imaginar que isso tudo foi feito em apenas algumas semanas. Ela era de vidro e aço branco e haviam vários níveis, inclusive último andar de ferro que parecia ser apenas para observação de todo espaço.

Ficaríamos em dormitórios com camas de concreto alinhadas uma em cima da outra. Eu estava me sentindo em uma prisão. Acho que toda a planta na entrada é para criar uma falsa ilusão de esperança e alegria.

— Quem fez a divisão de quartos? Só tem gente que não conhecemos aqui. – Soph reclamou chegando perto de mim.

— Você pode pegar uma doença e morrer e tá preocupada com quem você conhece em seu quarto? – Fabi me fez concordar. – Já guardou suas coisas? – ela perguntou me olhando. Concordei gestualmente acabando de fechar meu armário em meu dormitório. – Então vem, quero conhecer tudo aqui.

— Ah claro, para saber os cantos que irá transar com Murilo. Já pode começar a demarcar seu território. – Soph provocou e ela nem ligou.

— Alice será que a gente pode conversar? – não demos nem dez passos e Kevin nos parou.

— Vou fazer a tour sozinha. A gente se vê. – Fabiana foi andando e ele me levou para um dos quartos que não tinha quase ninguém, pelo menos estava mais vazio que o corredor.

— Sei de tudo só agora. Você achou que eu tivesse feito algo para atrapalhar você e o Arthur, mas não fiz. A mãe dele pediu ao nosso pai para interferir e de alguma forma ele conseguiu convencê-lo. Por mais que eu tente meu pai não me conta como. – alguma coisa que ele dizia não era verdade. Eu já sabia que Luna realmente tinha a ver com tudo isso, mas talvez ele soubesse como Caleb conseguiu. - Deixa eu te ajudar a consertar as coisas, posso tentar conversar com ele.

— Você? Receberia um soco no rosto e sabe disso. – suspirei. – E eu não quero mais nada com Arthur.

— É sério? – vi que os olhos dele se encheram de expectativa.

— E nem com você Kevin.

— Ah. – ele colocou a mão no peito e fingiu sentir dor. – Posso ao menos continuar sendo seu amigo?

— Ainda não. Você me lembra de tudo que aconteceu e... – sem aviso nem nada ele me pegou pelo rosto e me beijou. Como eu ODIAVA que me beijassem de surpresa. Antes que eu o empurrasse ele mesmo saiu e sorriu, depois vi que seu olhar estava atrás de mim. Eu me virei e vi Arthur. Se ele tinha alguma desconfiança que eu tinha um caso Kevin acabou de tornar isso verdadeira e real. E agora eu não teria apenas que não querer ficar com ele, teria que aceitar, porque nunca mais ficaríamos juntos.

A cúpula com o passar dos dias progredia como uma cidade. Havíamos voltado a estudar, já que reservaram uma sala para o ensino dos adolescentes e uma para o ensino das crianças. E como quase Torres toda estavam ali, isso incluía também os professores.

— Acho inútil isso de eles tentaram dar continuidade ao ensino. Juntaram todo mundo e ficam passando lições para grupos separadamente. Qual a chance de eu aprender alguma coisa? – Sophia reclamou, como sempre.

— Se a minha irmã não é a pessoa mais chata do universo, juro que eu não sei quem é esse ser. – Lari falou e revirou os olhos. – É melhor fazerem isso do que a gente ficar trabalhando vinte e quatro horas. Odeio meu pai.

— Se prepare para odiar mais, pois ele tem um comunicado oficial a fazer e com certeza não é nada bom. – afirmei vendo meu tio Gu a frente de todos no enorme pátio. Ele estava em cima de uma das mesas e portava um microfone. Era a forma de fazer mais de mil pessoas te ouvirem.

— Estamos aqui há quase um mês e nada de nenhuma notícia de melhora da proliferação da doença, pelo contrário, quem optou por continuar lá fora vivendo sua vida normalmente, está no leito de um hospital agora. Diante disso temos que nos preparar para vivermos como cidade aqui dentro. Temos tudo o que precisamos para seis meses, mas já estou ciente que vai ser preciso muita reposição. Isso assusta vocês eu sei. Por isso tomei junto dos idealizadores da cúpula algumas decisões. – meu pai subiu com Ravi, Arthur, Maísa, Caleb, Gael e Natália. Achei que subiriam todos, mas pelo vistos eram apenas as peças mais importantes.

— Como toda cidade isso aqui precisa de regras para funcionar direito. Já começamos a estabelecê-las, então vamos defini-las. - meu pai disse e notei que Arthur olhava algo que parecia ser o mapa da cúpula. – Como vocês já notaram Gustavo é o líder aqui, se fosse lá fora ele seria o prefeito, e nesse momento esperamos que esse esteja trabalhando para que a gente tenha uma cidade segura o quanto antes.

— Duvido muito. – alguém falou e a maioria riu.

— Enfim... Por estar à frente dos negócios da família Montez, ele é bem capaz de liderar qualquer coisa. Isso aqui é fichinha. O que precisarem o procurem.

— Tenho uma dúvida! – alguém levantou o braço. – Você e ele são Montez e o negócio de vocês é literalmente o poder. Se você vive em Torres é provável que saiba disso. Isso tudo aqui é algo que de alguma forma no final vai ser lucrativo para os Montez, já que por gerações essa tem sido a dinastia de vocês, então por que vou seguir essas regras? – meu tio Gu pegou o microfone do meu pai e parecia bem revoltado.

— Por acaso você sabe que a gente financiou mais da metade do custo disso aqui? E você vai seguir as regras porque se não estará fora e não acho que queira viver lá fora usando uma máscara vinte e quatro horas e ainda assim correndo riscos. Mas a escolha é toda sua. – ele ia passar o microfone de volta ao meu pai, mas voltou a falar. – E nunca mais use o sobrenome da minha família de forma leviana.

— O TREM TÁ PEGANDO É FOGO, IEI! – alguém gritou e a forma que falou foi tão engraçada que eu queria rir, mas claro que por ser uma Montez não podia, então fiquei segurando, mas acabei dando uma crise de tosse, chamando a atenção de todo mundo, já que esse era um dos sintomas da doença. Meu pai pulou da mesa com Maísa e veio até a mim. Ela tirou uma mini lanterna ou sei lá o que do bolso e analisou meus olhos. Parei de tossir e os empurrei delicadamente.

— Eu estou bem. Não sinto dor. Não é a doença. – eles suspiraram aliviados. Assim que eles voltaram para onde estavam reparei que Arthur conversava com Ravi algo sobre o mapa e ele me ouviu tossir... Realmente morri para ele. Mas não julgo. Ele também morreu pra mim.

— Continuando... – meu pai tomou a palavra. – Vamos ter punições severas e regras claras. Principalmente para os adolescentes. – eu, meus primos e amigos nos olhamos. – Serei o chefe de segurança. Não vou permitir que façam nada de errado e acho que não vão querer que isso se torne um problema. E não se esqueçam que temos uma policial aqui. – ele apontou para Natália e depois olhou para o lado. – Maísa como todos sabem é médica e aqui ela vai ser responsável por atender quem precisa, junto com Dani que é enfermeira e mais algumas outras profissionais. Temos um pronto socorro para isso. Arthur. – ele estava distraído com alguma coisa e pegou o microfone.

— O pronto socorro fica na ala 12, ao lado da pequena capela. É imaginável que se percam, vão ser feitas placas indicadoras.

— Queria me perder em você, gostoso! – alguma garota falou e ele não esboçou reação. – Nem um sorriso? Ah, que isso, prefiro aquele Montez risonho. – com certeza ela estava se referindo a Yuri ou meu irmão. – Mentira eu prefiro é você GOSTOSO.

— Invés de distribuir regras devia distribuir é vibrador, tá difícil. – outra garota opinou.

— Se acalmem meninas, por favor. – meu pai pediu parecendo um pouco constrangido.

— Se ele vai indicar onde fica cada local não vai dar para acalmarmos. – elas voltaram a babar por ele.

— Pelo visto seu irmão é aclamado na cama de todas. – comentei olhando Otávia. – O que não é nenhuma novidade inclusive.

— É... Mas ele não está passando o rodo como fazia na universidade. Isso é estranho.

— Sua mãe está se dando bem com os pequenos. – mudei de assunto. Observei Luna chegar com as crianças. Ela ajudava as professoras.

— Graças a Deus! O instinto materno dela precisa e deve ser dividido! Eu e meus irmãos merecemos essa paz. – dei uma risada. Meu pai anunciou que Caleb seria um dos soldados e eu não imaginei um mundo que isso seria possível.

— Ele não vai ficar engravatado fazendo qualquer coisa? – perguntei olhando Kevin.

— Parece que não. – vi que ele ficou estranho.

— Para um mau caráter mentiroso você devia ensaiar melhor como reagir quando eu te faço certas perguntas. – falei baixo e ele riu.

— Foi ideia da sua quase ex sogra. Assim ele pode vigiar de perto e vê se você e Arthur estão se encontrando escondido. – revirei os olhos e dei ânsia de vômito.

— Nem em meus piores pesadelos minha tia Luna era assim.

— Algumas pessoas nunca revelam o que realmente são.

— Nisso você pode se orgulhar... – respirei fundo. – Você e seu pai tem uma amizade e tanto hein? Ele parece te contar tudo.

— Tudo o que ele quer. E o que ele não quer eu descubro. – não sei se foi o tom de voz ou o jeito que ele falou ou até mesmo a frase, mas aquilo me fez olhar Kevin e não conseguir desviar o olhar. A boca dele era tão linda, carnuda embaixo e desenhada em cima. E as tatuagens do seu rosto e seu moletom habitual davam a ele um ar incorreto, que fazia com que surgisse uma vontade de querer arriscar e se perder, ao menos uma vez. – As garotas não estão gritando que sou gostoso... – ele disse me olhando de cima, estávamos um ao lado do outro e eu parei de olhar para ele e olhei para frente. – Mas tenho o olhar da garota que eu quero. Quem tem mais sorte eu ou ele?

— Você já transformou isso em uma competição. – revirei os olhos.

— Você estava viajando em mim... Eu quase filmei para ficar assistindo depois. – ele sorriu e mordeu a boca. – Até outro dia você o queria e agora acho mesmo que me quer. Não posso deixar de notar o quanto sou mais sortudo que ele.

— Tá de papinho com esse aí? – Otávia perguntou nos observando. – Daqui a pouco está fazendo coisas erradas e descumprindo leis.

— Também amo você irmãzinha. – ele sorriu para ela e piscou. Antes que ela dissesse que não era irmã dele voltei a prestar atenção no que meu pai dizia. Ele apresentava os engenheiros, entre eles Gael, que eu não via há um tempo apresentou também  Arthur como aspirante.

— Tamara e Otávio são os administradores e irão cuidar de todo o estoque. – ele continuou. – Essa senhora simpática... – ele apontou para minha vó. – Se chama Isadora e é minha mãe, é uma psicóloga inativa e como tal ela se ofereceu para mediar qualquer conflito que venha a surgir. E esperamos que não sejam muitos. Minha esposa Raíssa e meu amigo Jean cuidarão do lazer e Kira e Azura se apresentaram disponíveis para fazerem o que for necessário. Essa é toda a equipe que vocês precisam conhecer e reportar se precisarem. E já sabem qual a função de cada um. Era só isso. – enquanto todos se dispersavam esperei Fabiana que estava vindo até a mim.

— Lê a mensagem que o seu irmão acabou de me enviar. – ela mostrou seu celular e vi escrito “Seria estranho se eu ficasse com Alícia?”.

— Que pergunta imbecil do Murilo! Lógico que seria estranho. Estranho em um nível assombroso. A garota é sua melhor amiga e gosta e deve ficar com o primo dele... – bufei.

— Ela não está ficando com o Arthur não. E conhecendo ela do jeito que eu conheço dar em cima do Muh é uma tentativa de fazer ciúme no Ar.

— Mas ela não pensa em você? Olha o tempo já que você e meu irmão estão envolvidos.

— Fico presa na ideia de que ela é uma boa pessoa e não quero aceitar que a minha amizade com ela é um pouco... Tóxica.

— O que é tóxica? – Alícia chegou perguntando, evitei olhar para ela. – Ah, essa cidade? É sim. Algumas pessoas que a habitam também. Bom... Eu, Arthur e o Rafael estamos planejando uma parada sinistra para essa noite, quando você acabar o papo com a sua amiguinha do olho de cobra você vem encontrar com a gente.

— Olho de cobra? – olhei para Fabiana depois que a outra já havia saído.

— Sim, olhos de cobras são amarelos, igual ao seu. Você só tem um circulo no meio invés de um risco. O apelido faz todo sentido.

— Mas ela usou espinhosamente. Por que ela não disse olho de gato? Muitos gatos têm os olhos amarelos.

— Por que era isso que ela queria, te ver irritada. Vai dar o que ela quer? – respirei fundo. – Respondi seu irmão. Disse que tanto faz pra mim. E quer saber? Vou pegar o Ryan.

— Que? – quase gritei.

— A gente está trabalhando junto na lavanderia. Temos que empilhar algumas coisas nas prateleiras em cima das lavadoras, dai ele fica na escada e eu vou entregando e uma hora quase derrubei o negócio e ele foi pegar e... A gente acabou se beijando.

— Fabiana! – exclamei e coloquei a mão na boca. Otávia iria ficar chateadíssima se soubesse disso. E conhecendo a personalidade dela era bom nem ficar sabendo.


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