Amor Perfeito XIII escrita por Lola


Capítulo 12
Clássico encontro em família


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Encarava aquelas paredes brancas com quadros como se fosse algo novo para mim, mas há cada três meses eu via esse mesmo cenário. Tratava-se do consultório da minha neurologista. Uma mulher linda, no auge da sua carreira e que queria me ter como o primeiro caso resolvido em uma situação complexa nunca vista antes.

 - Alice Montez. - a secretária me chamou e eu olhei minha mãe se levantar.

 - Alice! - o lado positivo de ter o grave problema que eu tinha era desconhecer a impaciência. Levantei suavemente e entrei à sala, cumprimentando a loira que nos esperava com seu jaleco impecável.

 - Você sabe sorrir minha filha? - minha mãe perguntou chamando a minha atenção. Forcei os meus lábios a se abrirem.

 - Temos ótimas notícias. Vamos logo à tomografia. - ela iria dizer toda a introdução que sempre dizia. Não que me afetasse, eu apenas repetia as palavras mentalmente junto a ela. - Como sabemos o complexo amigdaloide, está localizado no ventrículo lateral do lobo temporal, mais especificamente no interior do lobo temporal. Isso quer dizer que faz parte do chamado cérebro profundo, aquele no qual prevalecem as emoções básicas ou o instinto de sobrevivência. Ela é constituída por três núcleos principais e sua principal função é a de integrar as emoções aos padrões de resposta correspondentes em nível fisiológico e comportamental.  Suas conexões produzem uma reação emocional, mas também permitem a inibição de comportamentos devido à sua estreita ligação com o lobo frontal. O distúrbio de Alice é diretamente ligado nessa área do cérebro. Desde que nasceu conseguimos reverter 50% e agora que ela já é uma adolescente temos pouco tempo até a vida adulta para ajustar ao máximo essa porcentagem de reversão. Devemos sempre lembrar que o que ela tem não é um transtorno mental como o caso do pai dela, é uma má formação do cérebro que não deixa que ela tenha a maioria dos sentimentos e algumas emoções. Toda a consulta eu sempre repito o diagnóstico e histórico da doença para vermos o grau de evolução na prática além dos exames. O dia em que ela der qualquer sinal de impaciência por ter que ouvir isso tudo mais uma vez vai ser o dia que os próximos exames serão nível máximo. - ela e minha mãe olharam para mim analisando o meu comportamento. Li sobre emoções estudei e conhecia todas quase de traz para frente. Só não as sentia. Quando meu irmão conta uma piada e todos riem, eu não esboço reação porque o meu cérebro não deixa. Se eu estou correndo perigo eu não consigo sentir medo e isso já me fez parar no hospital.

 - Quais foram às melhoras?

— Essa área - ela a mostrou no exame. - Está totalmente revertida. Talvez ela chore um pouco nos próximos dias ou sinta uma melancolia, será normal. Os remédios vão continuar com a mesma dosagem. Não pode faltar a terapia. Você esta indo direitinho Alice?

— Sim. Apesar dela apenas me perguntar se eu aceitei que nunca vou amar ninguém. Isso é tão importante assim? Posso entender isso? - ela e minha mãe se olharam.

— O máximo de reversão não te trará o funcionamento da área que regula o prazer. O amor é um sentimento diretamente relacionado a essa área. Alice, você veio ao mundo a partir do amor dos seus pais e de um ato envolvendo o prazer, você já tem quatorze anos e sabe como funciona. Você não terá isso na sua vida. Possivelmente vá viver sozinha. Mas isso não é tudo. É parte da vida. E que você pode preencher de outras inúmeras maneiras. A abordagem clínica da sua terapeuta está correta porque essa é a maior sequela do seu problema. E te respondendo, você não conseguirá entender, porque não da para explicar sobre algo emocional de forma unicamente racional.

 - O bom é que ela nunca irá sofrer. - minha mãe comentou.

 - Não. É trágico. Não trate o problema gravíssimo de Alice dessa forma banal. Assim você ofende a mim e as horas que passo pesquisando e estudando sobre tudo relacionado ao caso raro dela.

 - Desculpa. – fiquei olhando para as duas sem entender muito do que se passava ali. Elas disseram mais algumas coisas e fomos embora.

— Vou passar na academia para contar as novidades para o seu pai, quer que eu te deixe em casa antes?

— Não, vou com você.

— Você não gosta de ficar sozinha né? – ela me olhou de relance.

— Não sei se gosto, se não gosto. Gostar é sentimento não é? E eu não tenho sentimentos.

— Qual a sensação que estar sozinha te traz?

— Não tem ninguém falando. Às vezes ninguém falar é legal.

— Por que quase sempre falam sobre o seu problema?

— Talvez. Mas convivo com isso. Alice Apática é o meu codinome.

— Se é legal não ter ninguém falando quando está sozinha porque quis vim comigo? – ela perguntou enquanto estacionava.

— Quero ver o Yuri, ele deve estar aqui esse horário. – pulei do carro e corri até a parte de dentro.

— Minha princesa. – meu pai me pegou no colo e beijou meu rosto. Ele nunca deixava de demonstrar que eu era tudo para ele. Segundo minha médica, quem tinha o mínimo do problema que eu tinha, não amava aos pais e não demonstrava carinho ou qualquer emoção, mas com a minha reversão gradual e a forma do meu pai me tratar desde que nasci fez com que ele fosse correspondido por mim.

— Prima, o que faz aqui, veio me ver né? – Yuri perguntou e riu enquanto minha mãe conversava com o meu pai.

— Bobo. – acho que eu me dava bem com Yuri porque ele era inocente como eu, ele era uma das minhas pessoas preferidas.

— Hoje é o aniversário de quinze anos da Otávia, tá lembrando né?

— Fala dentão. – meu irmão Murilo chegou e cumprimentou Yuri batendo nele.

— Fala invejoso! – meu primo respondeu. – Você inventa apelidos para todos porque nunca vai aceitar os pais ter olhos claros e você não puxar isso. Os homens Montez são lindos, aí veio você! – meu irmão fez uma expressão feia. – Devia culpar Alice, ela que puxou todas as características do seu papai.

— Na verdade foi o seu irmão que fez isso. Ele não puxou, ele roubou.

— Nunca vou entender seu ódio por Arthur.

— O mundo gira em torno dele.

— Não. O mundo gira em torno de Alice. – eles me olharam. – Ela não está vendo sentido nessa conversa, sabe disso né?

— Ela não sente, mas não é burra. Detesto a forma como vocês se referem á minha irmã.

— Vamos filha. – minha mãe chegou e me chamou. Cheguei em casa e fui me arrumar. A festa de Otávia seria algo bem descontraído e eu preferia assim.

 - Que bom que você chegou! – Sofia me puxou assim que sai do carro dos meus pais. Ela iria começar a falar sem parar.

— Soph... – tentei fazer com que ela me largasse.

— Você tem que ver o Arthur, ele está muito gato! A Otávia devia bani-lo por ele roubar toda a atenção apenas para ele.

— Sofia! – quase gritei puxando meu braço e a fazendo parar de andar.

— Deixa de ser retardada garota! – meu irmão chegou e chamou a atenção da nossa amiga. – O meu pai já falou que não quer você arrastando Alice para todo lado.

— Ele tem medo que alguém abuse da filhinha dele que não sente nada.

— Ela não tem instinto de sobrevivência, ela não sente medo, o cérebro dela não vai enviar uma mensagem de PERIGO para que ela se defenda. Que inferno de garota chata. – ele me pegou pelo braço e me levou para dentro do salão de festas.

— Murilo... – ele me olhou e eu apontei para o meu braço.

— Desculpa. – ele soltou e então eu pude ir livre até a mesa dos meus familiares e amigos.

— Minha irmã já estava atrás de você né? – Larissa perguntou assim que cheguei.

— Ela tem que achar alguém que a suporte. Esse alguém, por motivos óbvios, é Alice. – Ryan disse fazendo a maioria das pessoas da mesa rirem, menos eu, claro.

— Olá clã mais perfeito, amo quando todos se reúnem. – Kevin disse ao chegar. Automaticamente meu irmão se colocou ao meu lado em sinal de proteção.

— Não começa com as suas gracinhas. – meu primo Arthur ordenou fazendo o outro rir.

— Rei Arthur. Você manda em todo o seu reino, menos em mim.

— Mandar ele não manda não, já te arrebentar todo... – Alexandre comentou e riu. - Acho melhor ficar na sua se não quer ter uma próxima tatuagem de um olho roxo.

— Mas sai o roxo, não? – Giovanna perguntou fazendo meu irmão bater em sua cabeça e alguns rirem.

— Pai, você sabe que todos só nos aceitam porque você tem dois filhos com Luna né? A gente não é bem vindo entre eles e você deveria ter vergonha na cara e parar de aceitar essa convivência.

— Cala a boca Kevin. – a mãe dele Kira ordenou.

— Ninguém aqui fala a verdade. Só a problemática doente que não tem sentimentos. Por isso ela quase não abre a boca.

— Chama a minha filha de problemática doente de novo e você nunca mais vai estar entre a gente. – meu pai disse em um chiado. Ele fingiu dar um soco em mim.

— Ela não se mexe... Ela é o que? Alguém que está prestes a apanhar e não desvia para mim é problemática.

— Tira esse menino daqui antes eu perca o controle. – Arthur disse olhando para o seu pai Caleb.

— Ele nem gosta de você. – ele disse olhando para o pai que se levantava. – Ele está se formando, pergunte a ele qual curso ele vai fazer. Quer ser engenheiro igual ao padrasto que ele tanto admira. Você é um otário pai. – ele saiu e seu pai foi atrás.

— Um clássico encontro em família! – minha tia Luna disse e olhou Otávia. – Você está tão linda meu amor.


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